segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vaticano condena obra
de religiosa que promove
masturbação, homossexualidade e divórcio



A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) no Vaticano, com a aprovação do Papa Bento XVI, condenou o livro «Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics» (Só Amor: Um marco para a ética sexual cristã) da religiosa Ir. Margaret A. Farley, ex-superiora geral da congregação «Sisters of Mercy of the Americas» (Irmãs da Misericórdia das Américas), no qual se promove a masturbação, os actos homossexuais, as uniões homossexuais e o divórcio.

Eis a nota divulgada pela CDF e assinada pelo seu Prefeito o Cardeal William Levada.

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Nota sobre o livro Just Love.

A Framework for Christian Sexual Ethics,

da Irmã Margaret A. Farley, R.S.M.

Introdução

A Congregação para a Doutrina da Fé, depois de um primeiro exame do livro da Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics (New York: Continuum, 2006), endereçou à autora por meio dos bons ofícios de Irmã Mary Waskowiak, então Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, com carta de 29 de Março de 2010, uma avaliação preliminar abrangente, indicando os problemas doutrinais presentes no texto. A resposta de 28 de Outubro de 2010, enviada pela Irmã Farley, não foi suficiente para esclarecer os problemas indicados. Como o caso se referisse a erros doutrinários presentes num livro cuja publicação se revelara causa de confusão entre os fiéis, a Congregação decidiu empreender um «exame para casos de urgência», segundo o Regulamento para o exame doutrinal (cf. cap. IV, art. 23-27).
A propósito, depois da avaliação feita por uma Comissão de especialistas (cf. art. 24), a Sessão Ordinária da Congregação, em data de 8 de Junho de 2011 confirmou que o livro em questão continha proposições erróneas, e que a sua divulgação implicava riscos de graves danos aos fiéis. Sucessivamente, com carta de 5 de Julho de 2011, foi transmitida à Irmã Waskowiak a lista das proposições erróneas, pedindo que quisesse convidar a Irmã Farley a corrigir as teses inaceitáveis contidas no seu livro (cf. art. 25-26).
Com carta de 3 de Outubro de 2011, a Irmã Patrícia McDermott, que entrementes se sucedera à Irmã Mary Wakowiak como Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, transmitiu à Congregação a resposta da Irmã Farley, acompanhada pelo próprio parecer e do da Irmã Waskowiak, em conformidade com o art. 27 do supracitado Regulamento. Esta resposta, avaliada pela Comissão de especialistas, foi submetida à Sessão Ordinária para discernimento, aos 14 de Dezembro de 2011. Em tal ocasião, considerando que a resposta da Irmã Farley não esclarecia adequadamente os graves problemas contidos no seu livro, tomou-se a decisão de proceder à publicação desta Notificação.
1. Problemas de carácter geral
A Autora não apresenta uma compreensão correcta do papel do Magistério da Igreja como ensinamento autorizado dos Bispos em comunhão com o Sucessor de Pedro, que guia a compreensão sempre mais profunda, por parte da Igreja, da Palavra de Deus, como se encontra na Sagrada Escritura, e transmitida fielmente pela tradição viva da Igreja. Ao tratar de argumentos de carácter moral, Irmã Farley ou ignora o ensinamento constante do Magistério ou, quando o menciona ocasionalmente, o trata como uma opinião entre outras. Uma tal posição não pode ser justificada de modo algum, nem mesmo ao interno de uma prospectiva ecuménica que a Autora deseja promover. Irmã Farley revela outrossim uma compreensão defeituosa da natureza objectiva da lei moral natural, escolhendo antes de argumentar partindo de conclusões selectas de determinadas correntes filosóficas ou com a sua própria compreensão da «experiência contemporânea». Um tal modo de tratar não é conforme à genuína teologia católica.
2. Problemas específicos
Dentre os numerosos erros e ambiguidades do livro, é mister chamar a atenção para as posições a respeito da masturbação, dos actos homossexuais, das uniões homossexuais, da indissolubilidade do matrimónio e do problema do divórcio e das segundas núpcias.
Masturbação
Irmã Farley escreve: «A masturbação (...) geralmente não comporta nenhum problema de carácter moral. (...) Este é sem dúvida o caso de muitas mulheres que (...) encontraram um grande bem no prazer buscado consigo mesmas – e talvez exactamente na descoberta das suas próprias possibilidades em relação ao prazer -, algo que muitas nem tinham experimentado e nem mesmo conhecido no tocante às suas relações sexuais ordinárias com maridos ou amantes. Neste sentido, é possível afirmar que a masturbação de facto favorece as relações muito mais do que as obstaculiza. Por isso a minha observação conclusiva é que os critérios da justiça, assim como os apresentei até agora, pareceriam aplicáveis à escolha de provar prazer sexual auto-erótico somente enquanto esta actividade pode favorecer ou danificar, mantém ou limita, o bem-estar e a liberdade de espírito. E esta resta amplamente uma questão de carácter empírico, não moral» (p. 236).
Estas afirmações não são conformes à doutrina católica: «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana. Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.»1
Actos homossexuais
Irmã Farley escreve: «Do meu ponto de vista (...), as relações homossexuais o os actos homossexuais podem ser justificados, de acordo com a mesma ética sexual, exactamente como as relações e os actos heterossexuais. Por isso, as pessoas com inclinações homossexuais, assim como os seus respectivos actos, podem e devem ser respeitados, indiferentemente de haver ou não a alternativa de serem diferentes» (p. 295).
Tal posição não é aceitável. A Igreja Católica, de facto, distingue entre pessoas com tendências homossexuais e actos homossexuais. Quanto às pessoas com tendências homossexuais, o Catecismo da Igreja Católica ensina que as mesmas devem ser acolhidas «com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta».2 No entanto, quanto aos actos homossexuais o Catecismo afirma: «Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves» a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados».3
Uniões homossexuais
Irmã Farley escreve: «Legislações sobre a não discriminação dos homossexuais, como também sobre os casais de facto, as uniões civis e os matrimónios gay, podem ter um papel importante na transformação do ódio, da marginalização e da estigmatização de gays e lésbicas, o que se reforça ainda hoje com ensinamentos a respeito do sexo «contra a natureza», desejo desordenado ou amor perigoso. (...) Uma das questões mais urgentes do momento, diante da opinião pública dos Estados Unidos, é o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo – equivale a dizer a concessão de um reconhecimento social e de uma qualificação jurídica às uniões homossexuais, sejam masculinas ou femininas, comparáveis às uniões entre heterossexuais» (p. 293).
Tal posição é oposta ao ensinamento do Magistério: «A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade».4 «Em defesa da legalização das uniões homossexuais não se pode invocar o princípio do respeito e da não discriminação de quem quer que seja. Uma distinção entre pessoas ou a negação de um reconhecimento ou de uma prestação social só são inaceitáveis quando contrárias à justiça. Não atribuir o estatuto social e jurídico de matrimónio a formas de vida que não são nem podem ser matrimoniais, não é contra a justiça; antes, é uma sua exigência».5
Indissolubilidade do matrimónio
Irmã Farley escreve: «A minha posição pessoal é que o empenho matrimonial seja sujeito à dissolução pelas mesmas razões fundamentais pelas quais todo empenho permanente, extremamente grave e quase incondicionado, pode cessar de exigir um vínculo. Isto implica que existam de facto situações nas quais as coisas mudaram demais – um ou os dois partner mudaram, a relação entre eles mudou, a razão original do seu compromisso recíproco parece completamente extinta. O sentido de um compromisso permanente é ademais exactamente aquele de vincular a despeito de todas as mudanças que podem aparecer. Mas é possível de sustentá-lo sempre? É possível sustentá-lo apesar de mudanças radicais e imprevistas? A minha resposta é: às vezes não é possível. Às vezes a obrigação pode ser desfeita e o compromisso pode ser legitimamente modificado»(pp. 304-305).
Uma opinião semelhante está em contradição com a doutrina católica sobre a indissolubilidade do matrimónio: «Pela sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade inviolável. Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser «até nova ordem». «Esta união íntima, enquanto doação recíproca de duas pessoas, tal como o bem dos filhos, exigem a inteira fidelidade dos cônjuges e reclamam a sua união indissolúvel». O motivo mais profundo encontra-se na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimónio, os esposos ficam habilitados a representar esta fidelidade e a dar testemunho dela. Pelo sacramento, a indissolubilidade do Matrimónio adquire um sentido novo e mais profundo. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel. E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei. Entre baptizados, o ! matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte»6.
Divórcio e segundas núpcias
Irmã Farley escreve: «Se há filhos do matrimónio, os ex-cônjuges deverão ajudar-se reciprocamente por anos, talvez por toda a vida, no projecto familiar empreendido. De qualquer modo, as vidas de duas pessoas uma vez casadas continuam marcadas pela experiência do matrimónio. A profundidade daquilo que resta admite graus, mas algo resta. No entanto, aquilo que resta impede um segundo matrimónio? Acho que não. Qualquer tipo de obrigação que implique um empenho não deve incluir a proibição de um novo matrimónio pelo menos não tanto quanto a ligação actual entre os esposos resulte numa tal proibição para quem continua vivo depois da morte do cônjuge» (p. 310).
Tal visão contradiz a doutrina católica que exclui a possibilidade de segundas núpcias depois de um divórcio: «Hoje em dia e em muitos países, são numerosos os católicos que recorrem ao divórcio, em conformidade com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova união. A Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo («quem repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério»: Mc 10, 11-12), que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro Matrimónio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objectivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo, ficam impedidos de exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação, por meio do sacramento da Penitência, só pode ser dada àqueles que se arrependerem de ter violado o sinal d! a Aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometerem a viver em continência completa».7
Conclusão
Com esta Notificação, a Congregação para a Doutrina da Fé expressa profundo pesar pelo facto de que um membro de um Instituto de Vida Consagrada, a Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., afirme posições em contraste directo com a doutrina católica no âmbito da moral sexual. A Congregação previne os fiéis de que o livro Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics não é conforme à doutrina da Igreja e portanto não pode ser utilizado como válida expressão da doutrina católica nem para a direcção espiritual e formação, nem para o diálogo ecuménico e inter-religioso. A Congregação deseja além disso encorajar os teólogos a fim de que prossigam na tarefa do estudo e do ensinamento da teologia moral em plena conformidade com os princípios da doutrina católica.
O Sumo Pontífice Bento XVI, durante a Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, em data de 16 de Março de 2012 aprovou a presente Notificação, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação em data de 14 de Março de 2012, e mandou que se publicasse.
Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé,

30 de Março de 2012.
William Cardeal Levada
Prefeito

domingo, 4 de novembro de 2012

Declaração de amor à língua portuguesa


Teolinda Gersão
Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia «ele está em casa», «em casa» era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.«O Quim está na retrete»: «na retrete» é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos «ela é bonita». Bonita é uma característica dela, mas «na retrete» é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.
No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um «complemento oblíquo». Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo «complemento oblíquo», já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, «algumas» é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos «O Zé não foi ao Porto», era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
No ano passado, se disséssemos «A rapariga entrou em casa. Abriu a janela», o sujeito de «abriu a janela» era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em «ampa», isso mesmo, claro).
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção – agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.
João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática).

Partícula de Deus
é uma descoberta emocionante
apesar do nome equivocado

Astrónomo do Vaticano


O sacerdote jesuíta Guy Consolmagno, astrónomo e porta-voz do Observatório Vaticano, assinalou que, apesar de não ter directa relação com a teologia ou a revelação, a descoberta científica chamada por alguns como «a partícula de Deus» é um avanço importante.

Em entrevista com o grupo ACI, o Pe. Consolmagno afirmou que a descoberta científica é «maravilhosa».

O sacerdote jesuíta esclareceu que a descoberta, apesar da sua designação, «não tem nada a ver com teologia ou com Deus», em sentido directo algum.

«O nome ‘partícula de Deus’ foi dado pelo Leon Lederman como uma brincadeira», recordou o astrónomo do Vaticano. «Basicamente é um título provocante para um livro que ele estava a escrever sobre física das partículas».

O Pe. Consolmagno assinalou que Lederman «disse que se houvesse uma partícula que poderia existir, e que possa explicar todas as pequenas coisas que queríamos explicar, isso seria um presente de Deus. É uma metáfora e não tem nada que ver com a teologia».

Em 4 de Julho, a Organização Europeia para Investigação Nuclear (CERN), publicou os resultados das suas experiências subatómicas realizados no seu laboratório de Genebra, que sugerem que encontraram a evasiva partícula do «bosão de Higgs», que poderia explicar a massa física dos objectos no universo.

O Pe. Consolmagno disse que a aparente descoberta do bosão do Higgs é um «deleite» particularmente devido ao progresso gradual da maior parte da investigação científica, e devido aos recursos investidos em pôr em marcha o acelerador de partículas suíço: a construção do Large Hadron Collider (LHC), o acelerador de partículas CERN, custou cerca de 10 mil milhões de dólares.

«É bom ver um passo tão grande que todos podem celebrar», assinalou o astrónomo vaticano, que felicitou os investigadores, que «finalmente conseguiram algum resultado após anos, tempo e esforço que empregaram na tarefa».

Apesar das autoridades da CERN não afirmarem definitivamente que a partícula foi encontrada, o director geral do grupo, professor Rolf Heuer, disse que os investigadores «observaram uma nova partícula consistente com o bosão de Higgs».

Na conferência de imprensa na qual foi anunciada a descoberta , Heuer afirmou que «como um leigo, acredito que nós a encontrámos».

O bosão do Higgs, apelidado «a partícula de Deus» pelo físico Leon Lederman, foi postulado pelo físico britânico Peter Higgs durante a década de 1960 como um componente necessário no «modelo padrão» do universo.

O modelo padrão compreende quatro forças distintas: o electromagnetismo, a «força nuclear forte», a «força nuclear fraca» e a gravidade. Enquanto os cientistas têm feito progressos no entendimento das primeiras três, acredita-se que a compreensão da força de gravidade dependerá do ainda não observado bosão de Higgs.

Acredita-se que os diversos tipos de partículas subatómicas, tais como quarks, leptões, e os assim chamados «portadores de força» constituam o mundo observável, de acordo ao modelo padrão. Enquanto estas partículas representam muitos fenómenos observáveis, acredita-se que o bosão de Higgs é necessário para dar-lhes a sua massa.

Enquanto os resultados recentes do CERN apontam para a descoberta deste componente perdido do modelo padrão, o Pe. Consolmagno indicou que há «um indício de que algo está a acontecer» nos resultados, «o que é sempre emocionante».

sábado, 3 de novembro de 2012

Promotores do aborto indignados com
derrota dos «direitos das mulheres»
na Rio+20


Timothy Herrmann e Stefano Gennarini


Admitindo que sofreram uma derrota dolorosa, líderes políticos juntaram-se aos promotores do aborto e do controle populacional para expressar indignação com a omissão do termo «direitos reprodutivos» do documento final produzido na conferência Rio+20 da ONU sobre desenvolvimento sustentável.

Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, dirigiu-se aos líderes políticos no último dia da conferência referindo-se ao facto. «Embora eu esteja muito contente que o documento final deste ano apoie a saúde sexual e reprodutiva e o acesso universal ao planeamento familiar», declarou ela, «para alcançar as nossas metas no desenvolvimento sustentável temos também de garantir os direitos reprodutivos das mulheres».

Embora a saúde reprodutiva seja mencionada seis vezes e em três parágrafos diferentes, muitos lamentaram que na sua opinião sem uma menção de direitos reprodutivos, um termo que os defensores do aborto usam como sinónimo de aborto, não daria para considerar o documento como uma vitória para os direitos das mulheres ou para a sustentabilidade.

A organização de mulheres que representa mais de 200 grupos diferentes na ONU chegou ao ponto de afirmar que a ausência de direitos reprodutivos significava que «dois anos de negociações culminaram num resultado de Rio+20 que não fez progresso nenhum para os direitos das mulheres e para os direitos das gerações futuras no desenvolvimento sustentável».

Durante a conferência de duas semanas, a Federação Internacional de Planeamento Familiar e outras organizações patrocinaram eventos que ligam explicitamente os direitos reprodutivos e o controle populacional, principalmente nos países em desenvolvimento.

Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-minista da Noruega, foi um dos criadores da noção do desenvolvimento sustentável há vinte e cinco anos e vem de forma despudorada a fazer a conexão, avisando que «a única maneira de responder ao crescente número de seres humanos e falta de recursos é por meio da concessão de mais direitos às mulheres».

Ela também disse: «A omissão de direitos reprodutivos é lamentável; é um retrocesso de acordos anteriores». E concluiu dizendo que «a declaração da Rio+20 não faz o suficiente para ajustar a humanidade num caminho sustentável».

Muitas delegações, com a Santa Sé, repercutiram o alarme sobre a ligação desses termos e com êxito excluíram-nos do documento final. Bruntland disse com frustração que «não podemos dar-nos ao luxo de permitir essa ultrajante omissão, impulsionada por tradições antiquadas, discriminação e pura ignorância», em referência directa à intervenção da Santa Sé.

Quem também criticou a exclusão dos termos foi Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e presidente do Conselho de Líderes Globais para a Saúde Reprodutiva do Instituto Aspen. Ela declarou: «Não pudemos integrar amplamente a questão do planeamento familiar nesta conferência no Rio de Janeiro. Isso é um engano. O crescimento populacional em países pobres tornou-se um problema global, com implicações de longo prazo para a saúde económica, ambiental e política do mundo inteiro».

A saúde materna é mencionada apenas indirectamente no documento, e só num parágrafo. Evidentemente a pressão para promover direitos reprodutivos na conferência não foi tanto sobre a saúde das mulheres quanto foi sobre colocar o aborto e o controle populacional no documento Rio+20 sob o pretexto de desenvolvimento sustentável.

Considerando que a Santa Sé chamou a atenção para essa agenda e várias nações puderam construir o consenso necessário para manter o termo polémico fora do documento, não é de pasmar que os defensores do aborto estejam irados e continuem a ridicularizar o Vaticano como se estivesse a travar uma guerra contra os direitos das mulheres. O lamento real deles é o desmascaramento da sua agenda para promover com pressão o aborto e o controle populacional e terem sido confrontados em flagrante.

domingo, 28 de outubro de 2012

As feridas da Igreja – XIV

José Augusto Santos

Com base na ideia generalizada de que não nos devemos prender a regras rígidas, aceitamos ser flexíveis. Mas como não possuímos uma chave que nos permita aferir em que situações ou momentos podemos ou devemos usar dessa flexibilidade, em eclesiologia corremos o sério risco de com isso abrirmos a porta ao liberalismo doutrinal e teológico.

A pessoa que não vigia atentamente nesse sentido, fica permeável ao erro daí decorrente. É o que acontece hoje com tantos membros da Igreja que, no âmbito do serviço que nela prestam, uma vez neles impressa a ideia da tolerância, seguem a via do facilitismo, fenómeno que parece ter-se institucionalizado e contra cujos erros daí resultantes já a Santa Sé se pronunciou mais do que uma vez, condenando-os.

No que diz respeito à liturgia da palavra, pode dizer-se que assistimos, numas paróquias mais do que noutras, a ensaios permanentes do que consta no guião do "masterplan". Tal como fora planeado, tende a dar-se visibilidade às pessoas e a esfumar-se o sagrado. Ou seja, a atenção acaba por centrar-se no modo como vai vestida a senhora ou a menina, na boa aptidão para a leitura ou completa falta dela, enfim, numa série de factores que acabam por secundarizar a Palavra de Deus, não sendo por isso criadas em nós as condições que nos permitam reter a mensagem.

Nos últimos tempos, parece que o auxílio espiritual para combatermos o pecado tem vindo a depender mais da ascese de cada um. A verificar-se essa lacuna por parte dos curadores de almas, os fiéis ficam praticamente entregues à sua sorte. Assim, ao não sermos fortalecidos contra o espírito do mundo, ficamos permeáveis à sua incisiva e cada vez mais agressiva influência em nós. Deste modo, sem que disso tenhamos clara consciência, determinados conceitos que na vida em sociedade temos como bons, transportamo-los para a forma como vivemos em Igreja. Um facto que não deixa de ser curioso é o de, nesta espécie de retorno, não entrarem as virtudes que a Igreja infundiu na sociedade ao longo dos séculos. Dito por outras palavras, na Igreja recebe-se a regra e o modo como viver em família e em sociedade segundo os valores Cristãos; mas porque nesta o peso dos católicos é cada vez mais diminuto, invisível, inconsequente, já não são os católicos a influenciarem a sociedade, mas a sociedade a influenciar os católicos, na forma como vivem em igreja.

Eis um exemplo simples: há umas décadas atrás, o relacionamento entre as pessoas pautava-se pela prática dos valores que na Igreja lhes eram infundidos. Então ninguém se coibia de demonstrar a um adolescente quão reprovável poderia ser uma sua acção ou comportamento. Estes, vendo-se constrangidos pelo sentimento de vergonha, até o simples acto de fumar um cigarro tinha que ser feito às escondidas de toda a gente. Hoje, ver crianças de onze ou doze anos com um cigarro na mão, e já nessa idade ou pouco mais, em actos de vergonhosa lascívia, tolera-se, ao ponto de termos que lhes pedir licença para nos permitirem a passagem nas escadas ou no passeio onde se encontram em trais preparos... Intervir hoje publicamente contra esta devassidão moral, dizem que colide com a liberdade de cada um, “valor” que compõe a bandeira de uma sociedade “democrática”.

Assim se compreende o teologicamente estranho fenómeno de o conceito de democracia entrar na Igreja, arrastando consigo o lado pernicioso da tolerância, a permissividade, o facilitismo. A crise de fé em que vivemos, tem como causa principal os factores que acabo de referir. Paradoxalmente porém, contra este mal, está a ser usado o remédio que em vez de o combater ainda o potencia... As preocupações de muitos párocos neste sentido, passam pelo uso deste hodierno remédio, adquirido na “feira dos métodos para o sucesso”, sem atender ao que o médico (o sagrado Magistério) tem prescrito para a doença.

Se as orientações nesse sentido lhes chegam dos bispos, então estes devem fazer um retiro a nível de toda a Conferência Episcopal, para redefinirem o itinerário pelo qual o povo é guiado; não um retiro para delinear estratégias, mas um RETIRO ao Coração de Cristo, composto apenas por silêncio e oração, para daí trazerem à Igreja a “Estratégia” do Espírito Santo para o Mundo. Estou certo que, se também os padres tivessem como disciplina este género de retiro aí umas duas vezes por ano, com uma duração mínima de duas ou três semanas, os Frutos do Espírito Santo começariam a surgir nas comunidades. Mas parece que só se preocupam em atraírem fiéis para as suas comunidades, ainda que isso implique ir contra as regras estabelecidas...

Na ausência destas potentes vitaminas do Céu, rápido começam a ser atacados ao nível da visão, até que a miopia se apodera de muitos. Com tal distorção de visão, por terem grande dificuldade em lerem os Documentos da Igreja para por eles se orientarem, assinam todos aqueles que a sociedade moderna vai redigindo em letras grandes e lhes propõe para a vida da Igreja, confiando que assim conseguirão evitar que as celebrações venham a “ficar às moscas”.

Por meio desta tão diferente visão das coisas, como ia dizendo ao início sobre a liturgia da Palavra, os membros do clero contradizem-se a todo o momento. Se por um lado nos falam da importância do alimento que é a Palavra de Deus e por outro a votam ao desprezo, onde está a coerência entre o que dizem e o que praticam?

Ora vejamos: Diz-nos a santa Igreja que os leitores, bem como os que têm outros serviços litúrgicos, devem desempenhar essas funções «com piedade autêntica e do modo que convêm a tão grande ministério e que o Povo de Deus tem o direito de exigir.»1 Diz ainda que é necessário imbuí-los de espírito litúrgico e que tenham a necessária formação para executarem de forma perfeita tão importante ministério (Cf. C. Vat. II, SC, 29).

Perante isto, e comparativamente ao que vemos nas nossas comunidades, não fujo um milímetro à verdade quando digo que os clérigos votam ao desprezo a Palavra de Deus, facto mais notório em determinadas celebrações. Como se constata, se numa Missa é destacado um qualquer acontecimento ao nível da catequese, nem que seja apenas a triste “Festa do Pai-nosso”, para agrado dos familiares, das crianças e dos iludidos catequistas, lá entra a tal regra da democracia e da sociedade moderna, sendo os miúdos a “fazerem as leituras”. Se os escuteiros ou membros de um outro qualquer grupo também gostam de ser vistos, passa então a assistir-se a um constante vaivém para o ambão, Domingo a Domingo. Se isto incomoda alguns leitores, sugiro que voltem a ler o penúltimo parágrafo e nele reflictam, reflexão igualmente proposta ao clero, e principalmente a ele.

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1 Aqueles que ainda pensam que nestes textos o que se destaca são as acusações, se depois desta citação ainda não entenderam as razões que me movem, dificilmente poderão vir ainda a entendê-las.



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Lefevbristas expulsam bispo
que negou o holocausto judeu

A Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX, lefebvristas) decidiu expulsar o controvertido bispo britânico Richard Williamson, conhecido por negar o holocausto judeu, depois da sua reiterada falta de respeito e desobediência aos seus superiores nessa organização.

Num comunicado emitido pela Casa Geral da Fraternidade São Pio X informou-se que Williamson "foi declarado excluído da FSSPX por decisão do Superior-Geral e do Conselho, em 4 de Outubro de 2012".

A medida teve lugar depois do distanciamento de Williamson "da direcção da FSSPX há vários anos, negando-se a manifestar o respeito e a obediência devidos a seus superiores legítimos".

Williamson foi um dos bispos excomungados em 1988 depois de serem ordenados por Dom Marcel Lefebvre sem a autorização do Papa. Ele criticou duramente a FSSPX por se aproximar da Igreja Católica.

O Papa Bento XVI, num gesto magnânimo, havia levantado a excomunhão que pesava sobre os quatro bispos em 2009, entre eles Williamson e o actual Superior Geral da FSSPX, Dom Bernard Fellay.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cardeal Bertone: "O diabo não suporta
a clareza e a purificação
que caracterizam Bento XVI"

O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, lamentou que muitos jornalistas brinquem "a imitar Dan Brown", o autor de O Código Da Vinci, criando intrigas sobre a Santa Sé, como está a acontecer com os casos de documentos privados conhecidos como Vatileaks.
Muitos jornalistas "inventam fábulas e lendas".
O Cardeal Bertone assinalou que isso vem do maligno e explicou que há uma tentativa de despertar "divisões ferozes entre o Santo Padre e seus colaboradores".

Bento XVI:
Desertificação espiritual
ameaça a humanidade

Ano da Fé e 50.º aniversário da abertura do Vaticano II
apelam à redescoberta do legado conciliar
face ao «vazio» da sociedade
Bento XVI desafiou os católicos a enfrentarem o avanço da desertificação espiritual que se espalhou pelo mundo, nas últimas décadas, e reafirmou a actualidade do trabalho realizado no Concílio Vaticano II (1962-1965), inaugurado há 50 anos.
“Qual seria o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, já se podia perceber no tempo do Concílio a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, vemo-lo todos os dias à nossa volta: é o vazio que se espalhou”, alertou o Papa, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, para a inauguração do Ano da Fé, por ele proclamado no 50.º aniversário do Vaticano II.
A intervenção papal aludiu à necessidade de integrar, na acção da Igreja, essa experiência de deserto e vazio para “redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida”.
“No deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança”, acrescentou, destacando que a fé “liberta do pessimismo”.
O Papa falava perante alguns milhares de fiéis e 400 cardeais, arcebispos e bispos, os quais repetiram a procissão na Praça de São Pedro que foi umas das imagens históricas do dia 11 de Outubro de 1962, primeiro do último Concílio.
Bento XVI convidou os presentes a entrarem no “movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II” e disse que há 50 anos se vivia uma “tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé”.
Bento XVI, que participou na maior reunião de bispos da história da Igreja como perito teológico, enquanto jovem padre, convidou a Igreja a regressar à “«letra» do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu verdadeiro espírito”.
“A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrónicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade”.
Em relação ao Ano da Fé, o Papa disse que os católicos devem transmitir a sua mensagem “sem sacrificá-la frente às exigências do presente nem mantê-la presa ao passado”.
“Na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não volta a repetir-se”.
Depois do Ano da Fé convocado por Paulo VI em 1967 e do Grande Jubileu proclamado por João Paulo II em 2000, o actual Papa convida a uma nova iniciativa mundial, para reafirmar que “Jesus é o centro da fé cristã”.
O Papa defendeu, por isso, que a Igreja deve empreender também “uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial”, ou seja, “o evangelho e a fé”.


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Passa a palavra

Pedro Santos Guerreiro, Jornal Negócios

(Ler o nosso comentário no fim)

Há momentos de descontinuidade na percepção da realidade. Como a perda de gravidade acima de uma certa altitude ou o silêncio sepulcral quando se passa a velocidade do som. O "enorme aumento de impostos" de ontem parece um desses momentos. O momento em que se pára. O momento em que já nada se percebe. O momento em que as mil perguntas já não atravessam a barreira dos dentes. Pedem-nos tudo, explicam-nos pouco, prometem-nos nada. E nós, vamos à luta?

É uma ironia cruel: Portugal está a vencer a batalha dos mercados no mesmo passo em que perde a batalha do país. Somos louvados, ganhámos um ano, temos as taxas de juro mais baixas desde o início da intervenção externa. E no entanto, estamos sobre um abismo em cima de cordões de sapatos.

O "aumento brutal de impostos" é uma resposta desesperada de um Governo cuja estratégia falhou e que não teve criatividade nem se preparou para outras medidas. Perante a derrapagem do défice, Passos Coelho perdeu o tino e anunciou a medida estupidamente inteligente da taxa social única, que aniquilou a paz política e arruinou a paz social. Agora, o País está na esquina perigosa entre ser sucesso ou fracasso, Irlanda ou Grécia, singrar ou afundar-se na espiral recessiva. Perante o abismo, o Governo abriu a gaveta das possibilidades e tirou tudo de lá de dentro. Tudo. Caça com cão, com gato, com gão e com cato.

Este aumento de impostos é um grito. Não tem lógica, não tem política, não tem justiça, não tem estudos, não tem regras, não tem sequer coerência ideológica. É uma arma que metralha contra uma selva escura. Impostos, impostos, impostos. E é também uma súplica. Aos portugueses. Porque se as hipóteses de salvação são exíguas, elas serão nulas se o país estiver indisponível. Está o País disponível? Vamos "manter a coesão", como pede Vítor Gaspar?

Eis a grande questão. Saber se estamos para isto. Mais que na falta de criatividade nas medidas, mais que na falta de negociação externa, o Governo falha quando propõe um contrato aos portugueses com base numa única premissa: porque o País é deles. Nosso.

O Governo destratou os portugueses quando criou uma tropa de elite para tratar dos mercados e deixou vazia a cadeira da política, onde se fala ao povo. Agora, o Governo precisa do povo. Mas falha-lhe, não lhe dá o que povo exige. Merece. Precisa.

A mobilização do povo exige premissas simples. Exige que além dos aumentos de impostos haja cortes de despesa no funcionamento do Estado - e o Governo está um ano e meio atrasado nisso. Exige equidade nos cortes, mas as medidas contra os lóbis são tíbias e tardias. Sobretudo: exige um propósito, luz no fundo do túnel, exige confiança. Exige verdade.

Não basta tocar o clarim para que os portugueses voltem para dentro do barco de que foram expulsos com a TSU. Não é possível fazer uma convocatória de um povo mantendo-o na insegurança perpétua e na ignorância permanente.

Como se faz a convocatória de um povo mantendo-o desinformado quanto à vida do seu País e de cada uma das vidas que o habitam? Vítor Gaspar fez anúncios negros repletos de espaços em branco. É preciso preencher esses espaços em branco, há dados fundamentais desconhecidos. Quais são os novos escalões de IRS? Quem vai pagar mais e quanto mais? O que é preciso poupar hoje para compensar mais tarde? Acima de que valor um trabalhador da iniciativa privada perde mais do que um salário em 2013? Qual é o máximo que um funcionário público pode perder? E o mínimo que um pensionista pagará? Quanto se vai pagar de IMI? Que valor de salário vai sobejar depois do fim das deduções fiscais? Em Maio de 2014, quando chegar o acerto do IRS, que surpresas haverá? Como podemos acreditar que há equidade sem dados para percebê-lo? Quanto vão pagar as concessionárias de PPP, se é que vão? Qual é a taxa sobre transacções financeiras? Que "grandes lucros" de empresas vão ser tributados? Qual a dimensão da economia paralela? Como será cortada despesa do Estado em quatro mil milhões de euros, como a troika obriga? Vão despedir militares, polícias? Vão cortar prestações sociais, subsídio de desemprego? Quanto? A quem? Não é uma falácia dizer que os portugueses vão ficar melhor em 2013 do que ficariam com a TSU, quando muitos vão ficar pior que em 2012? Como havemos de acreditar que a economia "só" decresce 1% no próximo ano? O que nos garante que não entramos em espiral recessiva? Por que razão a receita fiscal não quebrará no próximo ano se quebrou neste? Quando acaba afinal esta crise? Em 2014? Em 2018? Em dois mil e nunca? Que ambição podemos ter? Que gerações têm esperança? Que legado deixaremos? Sem respostas, os portugueses não sabem sequer quanto dinheiro vão ter daqui a três meses, quanto mais se acreditam no País.

Faltam cortes de despesa. Não há medidas de incentivo ao crescimento. O aumento do IRS é enorme. A julgar pela incidência, é preciso ganhar cada vez menos dinheiro para ter um "rendimento alto" para o fisco. Estamos mais pobres, mas há cada vez mais ricos.

Há um batalhão de gente neste momento a lutar pelo País mesmo que parte dele não saiba fazê-lo. Cada português tem de decidir se acredita nisto. Se desiste, se se rebela. Ou se acredita, tira o sangue das pedras, paga impostos, luta pela sua vida e pela dos outros. Sim, é uma decisão cada vez mais individual. Porque está a tornar-se uma decisão de fé. Para ocupar com palavras os milhões de espaços em branco.


O NOSSO COMENTÁRIO

Tudo certo. Mas o que poderão os Portugueses fazer se não estiverem organizados?

O derrube do sistema exige organização.

Mas não apenas organização. Para que ao sistema não suceda o mesmo, com outras moscas, é preciso que a organização se estabeleça em torno de princípios da Civilização cristã e de um programa que procure o bem comum.

Se, antes de estarem reunidas as condições para a verdadeira mudança, a classe política dominante for substituída por outra igualmente medíocre, tratar-se-á de mais uma nova mascarada e um novo adiamento da verdadeira solução para Portugal.

As feridas da Igreja - XIII

José Augusto Santos

Como no número anterior não cheguei a abordar a Instrução Inaestimabile Donum, vejamos agora alguns pontos desse documento da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, aprovado e confirmado que fora por João Paulo II.

A começar pelo N.º 17, com grande tristeza para alguns, constata-se hoje que é impossível encontrar em muitas igrejas o silêncio que nos é recomendado nesta Instrução. Toda a gente sabe que na casa de Deus, o silêncio é obrigatório sempre, em todos os momentos, mas sobre aquele que deve ser observado na santa Missa, diz este Documento no ponto 17: «Aos fiéis, recomenda-se que não se omitam em fazer uma apropriada acção de graças depois da Comunhão.» Mas para além desse momento, prejudicado muitas vezes pelo cântico completamente desapropriado e pela qualidade das próprias vozes, diz ainda que pode ser «também depois da celebração, se possível permanecendo em oração por um considerável espaço de tempo.»

Que bom seria, de facto, podermos saborear as graças recebidas pelo Mistério Eucarístico, num encontro pessoal com a Santíssima Trindade, presente na alma daquele que acaba de receber Jesus na Eucaristia!... Quão agradável, isso seria para Deus! Quanto Ele anseia por um momento de intimidade com a nossa alma! Não porque precise de um mimo nosso, mas porque, sendo a nascente de onde brota, luminoso, o Amor, alegra-Se com aquele filho, com aquela filha que nela vai dessedentar-se. Quem d’Ela quiser beber, deve descer suave e docemente à sua consciência, pórtico de entrada da alma, e isso só é possível na ausência de tudo o que impeça o sagrado silêncio.

Só entrando completamente no interior do silêncio se chega ao espaço onde habita a quietude, a serenidade e a paz, meios pelos quais se consegue alcançar a chave que abre o portão da alma. Mas havendo mais do que uma chave, como saber qual é a certa? É muito fácil: é aquela cujo material de que é composta é a oração que fora sujeitada a um banho de amor. Não há, portanto, que confundir com nenhuma outra, porque é feita dessa liga tão primária e tão especial... Mas dado que é uma chave já muito, muito antiga, primeiro tem que se lhe ganhar o jeito. Depois disso, imaginem só, dada a sua forma e composição, é tão eficaz que com ela se consegue ter acesso mesmo ao coração de Deus...

Se estiver atento, constatará que muito dificilmente chega a ter no decorrer da própria celebração um momento que favoreça particularmente esse exultante encontro do seu ser com o Espírito Santo. Até mesmo durante a liturgia eucarística, que seria o tempo por excelência, isso se torna muito difícil, porque até lá, várias “ocupações”, que para o efeito se pode dizer distrações, nos impedem de mergulharmos no grande Mistério eucarístico.

É um encontro com o Mistério de Deus, por isso inexplicável, através do qual se vislumbram espiritualmente os alvores Celestes. Por ele desce sobre nós um gozo, cuja descrição se revela difícil até para os poetas. Nele se sente o efeito daquilo que pedimos na oração ensinada por Jesus, quando dizemos «venha a nós o Vosso reino». Abro aqui um parêntesis para dizer que essa súplica dirigida ao Pai, não é propriamente e apenas para se chegar a esse estado de elevação, mas uma vez alcançado fica-se habilitado a ver o mundo, os outros, como Deus quer que os vejamos, daí resultando o Bem no nosso agir. É esse, e não outro, o sentido do que pedimos no Pai-nosso.

Quem numa tragédia perde todos os bens, não chega a perder tanto como aquele que fica privado da brisa de amor perfumado que o Espírito Santo sopra com divina suavidade na alma que se vê envolta na luz que emana da Sua presença.

Para saborear o sagrado, não bastará, pelo menos para a maioria, essa individual oração em silêncio, mas já seria muito fácil para essa mesma maioria, se nessa desejada elevação fossemos auxiliados por uma suave, belíssima e perfeita harmonia de vozes, ou pelo som magistral do órgão...

Compare agora, caríssimo leitor, uma celebração onde o próprio ar que se respira parece estar impregnado do odor do Espírito Santo, com aquelas que de sagrado só têm o ministro celebrante e a Eucaristia.

Compreende agora o que digo anteriormente sobre a resposta dos fiéis: «ele está no meio de nós»? Se assim fosse, no final da Missa não se verificava aquilo que já parece um ritual, que é o começarem logo os sorrisos, as conversas, os cumprimentos, com respectivos beijinhos e abraços, mal o padre deixa o altar. Se de facto Ele estivesse no meio de nós, ficando cada um em seu recolhimento, todos sentiríamos a irresistível vontade de O adorar, de Lhe agradecer as Graças recebidas. Nesse momento, a única coisa permitida a quebrar o silêncio só pode ser o canto ou as notas do órgão, desde que estejam à altura de nos ajudarem a louvar o Senhor.

Tragicamente, porém, para as nossas almas, tudo acontece em sentido contrário. A casa de Deus é logo transformada num espaço de convívio, e no tocante à beleza do canto, salvo raras excepções, os cantores prestariam um melhor serviço a Deus, se se calassem. Dessa forma ficaríamos, em termos de concentração, mais disponíveis para o Essencial. Mas parece que ninguém entende que a “animação” é um mero acessório e como tal dispensável… Digo mesmo, tão dispensável, que na maioria das paróquias deveria ser proibido. O menos conhecedor sabe que é de paupérrima qualidade aquilo que damos a Deus. Urge, por isso, que as autoridades eclesiásticas tomem as necessárias medidas para que ao Senhor, e só a Ele, seja dado o que de excelso existe no homem.

Em parte isso deixou de acontecer porque, ao nos contaminarem por meio das armas biológico-espirituais que são o relativismo e o modernismo, mal por meio do qual as células do corpo têm atacado a própria cabeça, os inimigos da Igreja planearam o seu desmoronamento contando que os católicos formassem um corpo acéfalo, razão pela qual lhes seria fácil fazerem de nós burros. E a verdade é que, com a conivência de alguns membros do clero e a displicência de outros, só não nos levaram a carregarmos com eles às costas, como bons asininos, porque preferem usar automóvel, caso contrário, em nome de um falso dever de obediência, até isso conseguiriam dos néscios…

Voltando à Inaestimabile Donum, podemos ver ainda na introdução: «Aquele que oferece culto a Deus em nome da Igreja, de modo contrário» às normas estabelecidas, «é culpado de falsificação». E relativamente a isso, diz que «as consequências são o prejuízo da unidade da Fé e Culto na Igreja, incerteza doutrinária, escândalo e confusão entre o Povo de Deus, e em alguns casos, inevitáveis reacções violentas». Em suma, diz a Santa Sé o que o Povo vê e sente...

No N.º 4, determina que «o Per Ipsum (por Cristo, com Cristo…) por si mesmo é reservado somente ao sacerdote», mas há padres que fazem publicamente questão de desobedecerem…

São estas e todas as outras feridas, que impedem cada vez mais baptizados de verem resplandecente o Corpo Místico, razão pela qual a maioria se deixa atrair pelo efémero e enganoso brilho do espírito do mundo, voltando as costas à Igreja. Em graus diferentes, todos somos culpados, daí a responsabilidade de testemunharmos Cristo tanto fora como dentro da própria Igreja.

domingo, 7 de outubro de 2012

De pernas para o ar

Fernanda Leitão

Os dias que desembocaram no 5 de Outubro de 2012 foram um verdadeiro fim de festa, com acontecimentos e pormenores que por muito tempo ficarão na memória do povo.

Começou com António Borges, um homem de mão do Goldman Sachs, a passar rodas de “ignorantes” aos empresários, com a desfaçatez de quem considera Miguel de Vasconcelos um menino de coro se comparado com a sua pessoa. Logo depois Victor Gaspar anunciou medidas de austeridade tais que pulverizam a classe média e empurram Portugal para o abismo. E fê-lo raivosamente, como quem atira pedras aos governados, a dar-se ares de pimpão, respaldado pelo Moedas do Goldman Sachs. Logo depois, no debate parlamentar, quando um deputado do PC lia a carta do líder do CDS aos seus militantes condenando a austeridade excessiva, Passos Coelho e Relvas, ao lado de um Paulo Portas calado e cabisbaixo, e de um Álvaro amarrotado como um papel sem préstimo, riam-se sem pudor nem maneiras. Foi uma cena de inacreditável baixeza.

Chegado o país à última celebração estadual da República, por decisão do governo bota-abaixo que o PSD e o CDS ofereceram a Portugal, a opinião pública ficou a saber que o primeiro-ministro trocava a celebração caseira por uma daquelas reuniões no estrangeiro onde é sempre um verbo de encher. E que o Presidente da República não queria a cerimónia no largo da Câmara de Lisboa, como sempre foi desde 1910, preferindo o escondido recato do Pátio da Galé, e mesmo ali só para convidados. Ao comprimento e à largura de Portugal, foi dito alto e bom som pelo “melhor povo do mundo” que o PR e o governo fugiam às garantidas vaias e apupos.

Umas imagens televisivas da Eslováquia mostraram Passos Coelho e Paulo Portas, caminhando apressados como quem foge da própria sombra, com o dirigente do CDS a declarar que a coligação está firme, “claro”. Não há que ter dúvidas: o país está entregue a uns garotões que mascaram a incompetência e o medo com a tosca desenvoltura da insolência.

Na varanda do município, o PR hasteou a bandeira de pernas para o ar. Pouca sorte a da bandeira verde-rubra: já foi pisada em Londres (1), numa manifestação contra a presença de Marcelo Caetano, já foi arrastada pelo chão em África, na hora derradeira da presença secular de Portugal. E agora, o azar quis que desse ao mundo a imagem de Portugal: virado do avesso. No Pátio da Galé, aconteceu o ponto final: António Costa fez um discurso de PR e o PR fez um discurso descolorido de representante de um governo partidário a desfazer-se em bocados. E, apesar da horda de seguranças, o “melhor povo do mundo”, na pessoa de duas bravas mulheres, deixou os convidados em silêncio atordoado e o PR a engolir em seco: uma senhora de meia -dade que gritava o seu desespero pelo desemprego e uma pensão de 200 euros, que era ali a voz de milhões, e uma jovem cantora lírica que entoou um cântico de resistência e foi ali o prolongamento de toda uma juventude prestes a explodir.

Haverá quem, não se revendo neste regime, se regozije com este descalabro. Eu não me regozijo. Amo demasiado Portugal para não sofrer com toda esta lama que o salpica e com a tremenda desgraça que atinge o povo a que pertenço.

Mas acredito que o “melhor povo do mundo” se levantará como uma só pessoa e salvará Portugal desta vergonha e de uma ditadura. Não há União Europeia nem Merkel, nem o grande raio que parta os que vivem da desgraça alheia, que possa impedir um povo de tomar em mãos o seu futuro.
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(1) Refere-se a um suposto e divulgado acto de Mário Soares em Londres. Isto não corresponde à realidade. Corresponde sim a «críticas» de quem não tem capacidade política para mais nem honestidade intelectual. É daquelas mentiras postas a circular por uma direita estúpida (sim, não é só a esquerda que é estupida!) que, repetidas que são, acabam por fazer fé. E muitas pessoas repetem a mesma história como se fosse verdade, como aqui neste artigo é o caso.
A uma direita consequente não será preciso inventar para criticar Mário Soares. Ou será? A verdade não será suficiente para criticar os socialistas?
É como aquela história de uma suposta carta de Rosa Coutinho a Agostinho Neto, que andou a circular na net. Para criticar esse traste seria preciso inventar? Só a direita estúpida o faria, e ainda por cima com o rabo de fora.
Mais uma vez, sobre o caso, é pena que um bom artigo contenha tal «voz corrente» que já enjoa ouvir.
(Nota da Redacção)


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Papiro sobre «esposa de Jesus»
não afecta o cristianismo,
destaca perito norte-americano

Há dias, os meios de comunicação informaram sobre um papiro que faz referência a uma suposta «esposa de Jesus», uma afirmação que segundo um destacado perito em Bíblia não afecta em nada o cristianismo e a fé católica, nem prova que Jesus tenha sido casado.

O texto em questão é um fragmento de um papiro escrito em idioma copto, no Egipto. O escrito tem 4,5 centímetros de altura por 9 centímetros de comprimento e contém as frases «Jesus disse-lhes: ‘Minha esposa’...» e na seguinte linha supostamente diz «ela poderá ser minha discípula».

A origem do fragmento é desconhecida, mas foi examinado pela primeira vez em 1980. Parece ser do século IV. O seu dono permanece anónimo e tenta vender a colecção à Universidade de Harvard. A historiadora da Divinty School desta universidade norte-americana, Karen L. King, apresentou o papiro em Roma num congresso internacional de estudos coptos.

Mark Giszczak, um perito biblista do Augustine Institute de Denver (Estados Unidos) comentou que este tipo de papiros que são usados para tentar gerar controvérsia sobre se Jesus foi casado ou não «procuram na verdade reviver o fantasma do Código Da Vinci, o romance de Dan Brown».

O catedrático assinalou que o interesse neste tipo de fontes «nasce da obsessão de tentar ver Jesus como alguém que não foi especial, um simples professor humano em vez do próprio Filho de Deus».

«Jesus, o Verbo encarnado, confronta cada nova geração com as suas radicais afirmações sobre ser Deus e ter morrido pelo mundo. A história de sua vida não deve ser reescrita, e sim recebida e crida».

Giszczak explicou ainda que a Igreja Católica desde seus tempos mais remotos nunca ensinou que Jesus esteve casado e que em todo o Novo Testamento não se afirma uma só vez que Ele tenha tido uma esposa.

«Um texto do século IV que afirma que Jesus disse ‘minha esposa’ não muda o que sabemos sobre Jesus no Novo Testamento. Ao contrário, isto mostra-nos que alguns coptos do século IV acreditavam que Jesus era casado, uma crença que contradiz os Evangelhos».

O perito ressaltou que o profeta Jeremias e judeus do século I praticaram o celibato, enquanto o próprio Jesus, no capítulo 19 de Mateus, incentiva a sua prática.

Outros peritos coptos também questionaram a autenticidade do fragmento, informou a agência Associated Press. Criticam a sua aparência, a gramática, a falta de contexto e a sua origem ambígua.

Em declarações ao jornal americano The New York Times, a própria investigadora Karen L. King advertiu que o papiro não deveria ser usado como «prova» de que Jesus foi casado. Entretanto, esse mesmo jornal e outros meios afirmaram que a descoberta poderia «reavivar» o debate sobre se Ele realmente teve esposa ou discípulas.

Mark Giszczak refutou esta perspectiva e explicou que o Novo Testamento mostra que Jesus teve seguidoras que estiveram com ele na crucificação, incluindo Santa Maria Madalena, mas não menciona nenhuma esposa.

Giszczak disse que as pessoas devem estar alertadas perante estas novas descobertas e por isso «devem esperar que todos os factos sejam esclarecidos». Novos textos devem «ser examinados à luz do Novo Testamento e dos ensinamentos da Igreja».

Documentos não canónicos sobre Jesus já foram fonte de sensacionalismo no passado.

Um investigação na National Geographic Society sobre o evangelho de Judas, um texto escrito no século II por uma seita gnóstica herege, foi exibido no Domingo de Ramos de 2008.

O projecto afirmou que o texto mostrava Judas numa perspectiva positiva, mas proeminentes estudiosos criticaram o documentário por promover uma tradução errónea, e acusaram a produção de exploração comercial e imperícia académica.