sexta-feira, 24 de março de 2017

França: Desradicalização de jihadistas é um «Total Fiasco»


Soeren Kern, Gatestoneinstitute, 22 de Março de 2017

  • O relatório conclui que a desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona pelo facto da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.
  • Estima-se que haja em França cerca de 8 250 radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 17 apresentaram a papelada e apenas nove de facto foram até lá. Nenhum dos residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.
  • Ao alojá-los em pavilhões prisionais separados, os islamistas na realidade  tornaram-se ainda mais violentos por se sentirem encorajados pelo que eles chamavam de «efeito grupal», segundo o ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas.
  • «Desradicalizar uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Estas pessoas, às quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado islâmico, não se irão livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo» — senadora Esther Benbassa.
  • «O programa de desradicalização é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado, tudo deve ser redesenhado a partir do zero». — senador Philippe Bas, presidente da comissão do Senado que encomendou o relatório. 
O principal programa do governo francês para desradicalizar jihadistas é um «fracasso total» e deve ser «completamente reconceituado» segundo as conclusões iniciais de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a desradicalização.

O relatório preliminar revela que o governo não tem nada de positivo para mostrar no tocante às dezenas de milhões de euros dos contribuintes gastos ao longo dos últimos anos para combater a radicalização islâmica em França, onde 238 pessoas foram mortas em ataques jihadistas desde Janeiro de 2015. O relatório conclui que a desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona pelo facto da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.

O relatório chamado de «Desdoutrinação, Desrecrutamento e Reintegração de Jihadistas em França e na Europa» (Désendoctrinement, désembrigadement et réinsertion des djihadistes en France et en Europe) — o título evita usar a palavra «desradicalização» por ser considerada por alguns como sendo politicamente incorreta — foi apresentado em 22 de Fevereiro ao comité do Senado para assuntos constitucionais e jurídicos.

O relatório é a versão preliminar de um estudo abrangente que está a ser conduzido por uma task force multipartidária encarregada de avaliar a eficácia dos programas de desradicalização do Governo. O relatório final deverá ser entregue em Julho.

Grande parte das críticas concentra-se num programa de US$42 bilhões para construir 13 centros de desradicalização — conhecidos como Centros de Prevenção, Integração e Cidadania (Centre de prévention, d'insertion et de citoyenneté, CPIC) — um em cada uma das regiões metropolitanas de França, que visa desradicalizar futuros jihadistas.

O plano original apresentado com grande alarde em Maio de 2016, conclamou que cada centro devesse acolher no máximo 25 pessoas com idades entre os 18 e 30 anos, por períodos de dez meses. O Governo comunicou que 3 600 indivíduos radicalizados seriam acolhidos nestes centros de desradicalização nos próximos dois anos.

O primeiro e único centro de desradicalização do Governo existente até agora instalado no Château de Pontourny, uma mansão isolada do século XVIII na região central de França, foi inaugurado em Setembro de 2016.

Quando as senadoras Esther Benbassa e Catherine Troendle, ambas líderes da task force visitaram Pontourny em 3 de Fevereiro, encontraram apenas um residente naquele abrigo. Desde então o referido residente encontra-se preso por ter cometido «actos de violência doméstica».

Depois de apenas cinco meses de trabalho, Pontourny encontra-se vazia, muito embora empregue (27 funcionários, incluindo 5 psicólogos, 1 psiquiatra e 9 educadores, a um custo anual US$2,6 milhões).

«Centro de Prevenção, Integração e Cidadania» Château de Pontourny, em França.
(Imagem: captura de tela de vídeo ARTE − 28 minutos)

Estima-se que haja em França cerca de 8 250 radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 59 pessoas indagaram sobre a possibilidade de irem para Pontourny desde a sua inauguração. Destas, apenas 17 apresentaram a papelada e apenas nove de facto foram até lá. Nenhum dos residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.

Um dos residentes era um jihadista de 24 anos de idade chamado Mustafa S., que foi preso durante uma operação antiterrorista perto de Estrasburgo em 20 de Janeiro de 2017. A polícia disse que ele tinha ligações com um dos autores do ataque jihadista de Novembro 2015 na casa de espectáculos Bataclan em Paris. Mustafa S. foi preso quando estava de licença de Pontourny: ao que tudo indica, ele estava a caminho para se juntar ao Estado islâmico na Síria.

Outro residente de Pontourny era uma mulher de 24 anos de idade, grávida, chamada Sabrina C., que morou no alojamento de 19 de Setembro a 15 de Dezembro. Ela revelou a um jornal local que nunca foi radicalizada, mas aproveitou a oportunidade oferecida por Pontourny para escapar do seu «casulo familiar» e respirar um pouco de «ar fresco»:

«Eu jamais me interessei por qualquer religião. A minha família é católica, não praticante, nós vamos à Igreja de vez em quando, mas não mais do que isso. Meu namorado queria que eu usasse o véu islâmico, mas sempre me recusei a usá-lo».

A mãe de Sabrina disse que o centro de desradicalização «foi a oportunidade para a nossa filha participar na formação profissional, aprender a cozinhar, estar perto dos animais». Por outro lado Sabrina acrescentou que a permanência naquele lugar foi um pesadelo, salientando que: «chorava todas as noites, e não me sentia à vontade. Em Pontourny tratavam-me como uma criminosa». Acredita que a única razão dela ter sido autorizada a ficar no centro foi porque o governo precisava de «mostrar serviço».

O governo também fracassou nos seus programas para erradicar a radicalização islâmica nas prisões francesas. Em Outubro de 2016 o governo voltou atrás sobre a política de alojar presidiários radicalizados em unidades separadas após o aumento de ataques a guardas prisionais.

A ideia original era isolar os islamistas a fim de evitar que eles radicalizassem os outros detidos, mas o ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas reconheceu que ao alojá-los em pavilhões prisionais separados, os islamistas na realidade tornaram-se ainda mais violentos por se sentirem encorajados pelo que eles chamavam de «efeito grupal».

O relatório também denunciou o surgimento de uma «indústria da desradicalização», na qual associações e organizações não governamentais, sem nenhuma experiência em desradicalização, obtiveram contractos lucrativos do Governo. «Várias associações, procurando o financiamento público em períodos de vacas magras, viraram-se para o sector de desradicalização, sem nenhuma experiência», de acordo com a senadora Benbassa.

Benbassa salientou que o programa de desradicalização do Governo foi mal concebido, implantado apressadamente por razões políticas mediante a crescente ameaça jihadista. «O governo estava em pânico em consequência dos ataques jihadistas» assinalou. «Foi o pânico que guiou as acções do Governo. O timing político era curto, era necessário tranquilizar o público em geral.»

O sociólogo franco-iraniano Farhad Khosrokhavar, especialista em radicalização, realçou à France 24 que a única opção do Governo para lidar com os jihadistas violentos é encarcerá-los:

«Há aqueles passíveis de serem desradicalizados, mas nem todos. Isso é impossível com os jihadistas violentos, e totalmente convictos. Os jihadistas com estes perfis são extremamente perigosos, representam cerca de 10% a 15% dos radicalizados. A prisão provavelmente é uma das únicas maneiras de lidar com esses obstinados fiéis».

Em entrevista concedida ao L'Obs, Benbassa indicou que o governo também não teve sucesso quanto à prevenção:

«Jovens candidatos ao jihadismo devem ser socializados.Temos que profissionalizá-los, dar-lhes um acompanhamento individualizado. Isto envolve a ajuda da família, imãs, policiais locais, educadores, psicólogos e líderes empresariais, que também podem colaborar...»

«Eu também acho que os nossos líderes políticos deveriam adoptar um pouco mais de sobriedade e humildade ao abordarem este complexo fenómeno. A tarefa é extremamente complicada. 'Desradicalizar' uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Estas pessoas, às quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado islâmico, não se irão livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo».

O senador Philippe Bas, presidente da comissão do Senado que encomendou o relatório descreveu o programa de desradicalização do Governo da seguinte maneira: «é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado, tudo deve ser redesenhado a partir do zero».


Tradução: Joseph Skilnik





domingo, 19 de março de 2017

Deixemos de brincar ao «faz de conta» com o Islão


William Kilpatrick, The Catholica Thing, 9 de Março de 2017

É lamentável que o tenente-general William McMaster, o novo Conselheiro do Presidente Trump para assuntos de Segurança Nacional, tenha dito que o Estado Islâmico é «não islâmico». Insistiu também que organizações como o Estado Islâmico «utilizam cinicamente interpretações perversas da religião para incitar ao ódio e justificar crueldade horrenda contra inocentes». Em suma, ao que parece, o general considera que o terrorismo não tem nada a ver com o Islão.

Este era o pensamento dominante durante a administração de Obama. E ao longo desses oito anos a ameaça islâmica aumentou exponencialmente. Seria uma pena se uma figura chave da nova equipa de Segurança Nacional perpetuasse tais visões simplistas do terrorismo islâmico.

Muitos dos líderes eclesiais têm visões semelhantes. Ao longo dos últimos quatro anos temos ouvido uma série de pronunciamentos que indicam que existe um sólido muro que separa o Islão da violência.

Aparentemente há quem acredite nestas balelas. Outros talvez as vejam como uma boa estratégia, uma forma de fortalecer o «Islão moderado». Os estrategas gostam de afirmar que a crítica do Islão acaba por conduzir os moderados para o campo dos radicais. Deste ponto de vista, a única forma de promover a mudança no Islão é elogiando-o, na esperança de que isso leve a bom porto.

Mas não é uma grande estratégia. Na realidade, dá vantagem aos radicais. É que se toda a gente, desde os conselheiros para a segurança nacional até ao Papa, diz que o Islão está lindamente como está, então não há qualquer incentivo para mudar. Se não existe qualquer problema com o Islão, mas apenas com grupos extremistas «não islâmicos», estamos a cortar as pernas aos reformadores muçulmanos. Ser um muçulmano moderado já é difícil, porque é que os reformadores hão-de arriscar a pele, sabendo que não terão qualquer apoio de não muçulmanos proeminentes? E porque é que os restantes muçulmanos os hão-de escutar, se tudo está bem como está? Esta estratégia é que afasta os muçulmanos dos moderados e dos reformadores e os conduz para os braços dos imãs radicais.

Partimos do princípio que as mesquitas, as escolas islâmicas e os imãs terão um efeito moderador sobre os muçulmanos, mas a verdade é outra. Cinco estudos independentes (quatro nos Estados Unidos e um no Canadá) revelam que cerca de 80% das mesquitas promovem posições extremistas. A maioria mal pode ser considerada moderada. Por exemplo, quando o Movimento de Reforma Muçulmana enviou uma carta a mais de três mil mesquitas americanas em busca de apoio, receberam apenas quarenta respostas e dessas apenas nove eram positivas, segundo o seu líder Zuhdi Jasser. Talvez tenham visto Jasser na televisão, é a encarnação da moderação e da razoabilidade. Mas a maioria dos líderes muçulmanos não quer ter nada com ele. Aparentemente, eles não acham que exista qualquer razão para reforma.

Noutros países, como já sabemos, as mesquitas são frequentemente locais de recrutamento e radicalização. Às vezes até servem como depósitos de armas. Quando acontece um ataque terrorista em solo islâmico as autoridades respondem fazendo rusgas e fechando mesquitas. Até alguns países ocidentais «iluminados» adoptaram a política de «cherchez la mosquée». Depois de ataques terroristas tanto França como a Alemanha têm levado a cabo numerosas rusgas a mesquitas.

Por isso quando os líderes católicos afirmam existir uma equivalência entre o cristianismo e o Islão – como fazem frequentemente – estão a encorajar os muçulmanos a buscar sentido numa fé que encontra o seu sentido na jihad. O Papa Francisco chegou a dizer a um grupo de migrantes que poderiam encontrar orientações nos seus textos sagrados – a Bíblia para os cristãos e o Alcorão para os muçulmanos. Mas este tipo de conselhos apenas empurra os muçulmanos para os braços de um fundamentalismo que o Papa acredita que é defendido por poucos.

De acordo com a definição ocidental de «fundamentalismo», o Islão é uma religião fundamentalista. A maioria dos muçulmanos lê o Alcorão de forma literal e é assim mesmo que os seus imãs dizem que deve ser feito.

Mas se estamos verdadeiramente interessados em ver o Islão virar-se para um caminho moderado, então temos de deixar de o mimar e começar a criticar. Como escreve a ex-muçulmana Nonie Darwish, «o Ocidente não está a fazer favor algum aos muçulmanos, tratando-os como crianças que devem ser escudadas da realidade.»

A realidade é que há mesmo algo de errado com as duríssimas leis islâmicas contra a blasfémia e a apostasia, o tratamento das mulheres, crianças e minorias, entre muitas outras coisas, incluindo o apelo à jihad.

Chegou a hora de deixar de brincar ao «faz de conta». As nações islâmicas não vão resolver estes problemas enquanto as nações não-islâmicas e os líderes das igrejas não as pressionarem. A Arábia Saudita só aboliu formalmente a escravatura em 1962 por causa da intensa pressão ocidental.

Porquê? Porque, como muitos observadores já afirmaram, as sociedades islâmicas não são dadas à introspecção. Raphael Patai, autor do livro «A Mente Árabe», sugere que a crença islâmica no destino ou na predestinação leva a uma «desinclinação para fazer esforços para mudar ou melhorar as coisas».

Quando os líderes ocidentais dizem aos muçulmanos que a sua religião merece muito respeito isso pode ser bom para a auto-estima e fazer com que os ocidentais se sintam tolerantes, mas não os encoraja a ver que há algo de errado. Em vez disso devíamos estar a dizer aos muçulmanos, da forma mais diplomática possível, que muitos dos aspectos da sua fé são profundamente perturbadores e que enquanto não fizerem nada sobre o assunto teremos de considerar medidas severas, como interromper o diálogo (no que diz respeito à Igreja) ou retirar ajuda externa, aplicar sanções ou desinvestir (no que diz respeito a governos e empresas).

No mínimo, devíamos fechar as nossas portas à imigração dos estados islâmicos mais problemáticos. Algumas pessoas advertem que tal proibição apenas aumentará o ódio dos muçulmanos pelo Ocidente. Talvez isso aconteça com alguns muçulmanos. Mas uma posição firme e decisiva poderá também levar muitos a pensar duas vezes sobre o Islão.

O menino mimado só começa a questionar-se quando os outros meninos deixam de brincar com ele. Depois do 11 de Setembro muitos americanos perguntaram «Porque é que nos odeiam?». Por outras palavras, «O que é que fizemos de errado?». Chegou a altura de o mundo muçulmano começar a fazer a mesma pergunta. Mas nunca o fará enquanto o Ocidente mantiver a sua posição de que está tudo bem com o Islão. 

William Kilpatrick é autor do livro «Christianity, Islam and Atheism: The Struggle for the Sould of the West» e de «The Politically Incorrect Guide to Jihad». Para mais informação sobre a sua obra visitem o site The Turning Point Project.