Na continuação do
texto anterior, onde abordei a forma como foi implementada a Missa que hoje se
celebra, debrucemo-nos hoje sobre o Rito da Comunhão.
Para uma melhor
compreensão do erro aceite pela maioria, também aqui temos que retorceder ao
final da década de sessenta.
Muitos têm a ideia
de que a comunhão na mão vem do C. Vat. II, que a propôs, ordenou ou autorizou.
Nada mais errado! Sabendo que o povo aceita qualquer mudança sem contestação,
alguns teólogos trapaceiros assim nos quiseram fazer crer.
Em nenhuma sessão do
Concílio houve uma tomada de posição a favor desta nova prática. A have-la, a
decisão sairia pela maioria de votos. Mas os Padres Conciliares não se
pronunciaram, porque a questão nunca foi debatida.
Depois do Concílio,
foi o Santo Padre pressionado para que autorizasse a comunhão na mão, com base
numa errada e abusiva interpretação do Artº 50 da Constituição Sacrosanctum
Concílium, que diz sobre os ritos: «…restaurem-se, porém, se parecer oportuno
ou necessário e segundo a antiga tradição dos Santos Padres, alguns que
desapareceram com o tempo.»
Como tinha que dar
uma resposta, o Papa submeteu a questão ao parecer de todos os Bispos da
Igreja, que, por uma larga maioria, se pronunciaram contra a alteração do Rito,
como podemos ver na Memoriale Domini (de 29-5-69), que diz a determinada
altura:
«A partir dessas
respostas, fica claro que a vasta maioria dos Bispos crê que a disciplina actual
não deve ser modificada, e caso viesse, que a mudança seria ofensiva aos
sentimentos e à cultura espiritual desses Bispos e de muitos fiéis.
Portanto, levando em
consideração as observações e o conselho daqueles que “o Espírito Santo
designou para governar” as Igrejas, tendo em vista a gravidade da matéria e a
força dos argumentos postos em evidência, o Santo Padre decidiu não modificar a
maneira existente de administrar a Santa Comunhão aos fiéis».
Ora, se o II
Concílio Vaticano quis manter firmes os princípios do C. Trento, que na Sessão
III deixa muito claro que deve manter-se a então vigente forma de comungar (na
boca, por mãos do sacerdote) 1; se, após o C. Vaticano II, os Bispos de todo o
mundo, juntamente com o Papa, disseram Não à comunhão na mão, como é que, como
um vírus infernal, ela se alastrou a quase toda a Igreja?
Para quem tiver o
mínimo de sinceridade intelectual, torna-se claro que a “autorização” foi
fabricada à revelia da suprema autoridade da Igreja. Portanto, e dado que é uma
“legalização” abusiva, forçada, não querida por Deus, cabe a cada um abandonar
essa prática sacrílega, ou nela continuar sem querer ver que caminha para a sua
condenação.
Aos Bispos, assim
como às Conferências Episcopais, compete promover a unidade, observando sempre
as prescrições da suprema autoridade da Igreja (Cf. CDC, Cân. 755, 2).Acha o
leitor que foi isso que tiveram em conta quantos permitiram esta profanação?
Com isso não fizeram precisamente o contrário, causando a divisão no Corpo
místico de Cristo?
Todo o clérigo que,
conscientemente, opta por seguir esta moda que veio do inferno (a comunhão na
mão), é sacrílego. Comete igualmente sacrilégio todo o leigo que, depois de
alertado para o erro, nele persiste.
Que pena eu tenho de
vários Padres bons que conheço, mas que praticam o erro que lhes é incutido…
Quanto a esta
desastrosa forma de receber Jesus na Eucaristia, não têm faltado profetas a
alertarem-nos, como os incontornáveis Beatos Madre Teresa de Calcutá e João
Paulo II. Mas como padecemos de um mal que só nos permite aceitar tudo quanto
seja coisa nova, a voz de Deus não é por nós acolhida. Se o fosse, geraria
automaticamente em nós a mudança que tanto Ele espera.
Por meio destes e
outros arautos do Senhor, não se tem cansado o Céu de nos dizer o quão trágica
para o mundo é esta falta de respeito para com o Santíssimo Sacramento. Mas,
pelo que se vê, bem pode o Céu falar…
Na Instrução
Inaestimabile Donum, referente ao Culto do Mistério Eucarístico, João Paulo II
não poupa as palavras quando se refere àqueles que seguem por caminhos
contrários aos estabelecidos pela Suprema Autoridae da Igreja: «Aquele que
oferece culto a Deus em nome da Igreja, de um modo contrário ao qual foi
estabelecido pela própria Igreja com a autoridade dada por Deus e o qual é
também a tradição da Igreja, é culpado de falsificação.»
Em 24-2-80, na
Dominicae Cenae, documento dirigido a todos os Bispos da Igreja, salvaguardando
casos pontuais de real necessidade, que não é o caso daquilo que se vê em todas
as igrejas e em todas as Missas, diz o mesmo Papa: «O tocar nas sagradas Espécies e a
distribuição destas com as próprias mãos é um privilégio dos ordenados».
Numa entrevista
concedida a ACI Prensa, o actual Prefeito da Congregação para o Culto Divino e
Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Antonio Cañizares, em resposta à pergunta
sobre a comunhão na mão, disse, creio que em Julho do ano passado: «É
recomendável que os fiéis comunguem na boca e de joelhos».
Questionado sobre os
abusos litúrgicos que se verificam actualmente, disse que é necessário
«corrigi-los, sobretudo mediante uma boa formação: formação dos seminaristas,
formação dos sacerdotes, formação dos catequistas, formação de todos os fiéis
cristãos».
Quando interrogado
sobre o costume instaurado por Bento XVI, de fazer com que os fiéis que recebem
a Eucaristia das suas mãos a recebam na boca e de joelhos, disse que tal se
deve «ao sentido que deve ter a comunhão, que é de adoração, de reconhecimento
de Deus».
Recentemente,
Monsenhor Athanasius Schneider, Bispo auxiliar em duas dioceses do Cazaquistão,
especialista em Patrística e Igreja Primitiva, disse aos microfones da Rádio
Maria (no sul do Tirol) que a comunhão na mão é um costume «completamente
novo», sem raízes nos tempos dos primeiros cristãos, como se tem defendido com
frequência. «Não tem nada a ver com a Igreja primitiva, é de origem
calvinista.»
Em próxima edição
iremos ainda mais fundo, à raiz desta erva daninha que está a sufocar a
«semente lançada à terra».
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1 C. de Trento. Ses.
XIII, c. 8
José Augusto Santos,
As feridas da Igreja – II, in Notícias de Chaves, Nº. 3161