sábado, 17 de julho de 2010

Polémica sobre celibato reside no conflito
com a história e a teologia

O vaticanista Sandro Magister explicou em importante artigo que a "polémica sobre o celibato", que enfrentaram nos meios alguns conhecidos pastores, parte de idéias que estão em conflito com a história e a teologia assim como "uma má compreensão do conceito do celibato do clero".

No artigo intitulado "Eunucos pelo Reino dos Céus. A disputa sobre o celibato", Magister considera que o Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena, "se mostra mais atento às pressões da opinião pública do que aos seus deveres como guia" com a sua "idéia fixa de 'repensar' a disciplina do celibato do clero latino".

Magister recorda que "a 'superação' da disciplina do celibato é há tempos o contrabaixo contínuo da música dos inovadores" e sustenta que "desta música, o que se escuta e entende ordinariamente é um par de coisas".

"A primeira delas é que o celibato do clero é uma regra imposta em séculos recentes só ao clero. A segunda é que os sacerdotes católicos deveriam ter permissão para casar-se como na Igreja primitiva. Infelizmente, estas duas coisas entram em conflito com a história e com a teologia", explica Magister e oferece uma completa recontagem do sustento da disciplina do celibato.

O artigo na íntegra em italiano pode ser visto em:


Bento XVI condena carreirismo no clero

Bento XVI disse que a Igreja conta com a “fidelidade” dos padres, condenando as ambições pessoais e o carreirismo entre o clero.

“Quem aspira ao sacerdócio para um crescimento do seu próprio prestigio pessoal e do próprio poder compreendeu mal na raiz o sentido deste mistério”.

O Papa falava na homilia da Missa de ordenação de 14 novos sacerdotes, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

Em jeito de alerta, Bento XVI defendeu que “o sacerdócio nunca pode representar uma maneira de atingir a segurança na vida ou de conquistar para si uma posição social”.

Para o Papa, a ambição e o sucesso fazem com que o padre seja “sempre escravo de si mesmo e da opinião pública”.

“Para ser considerado deverá adular; terá de dizer aquilo que a gente quer ouvir; terá de se adaptar às modas e às opiniões e assim privar-se-á da relação vital com a verdade, reduzindo-se a condenar amanhã aquilo que terá louvado hoje”.

Bento XVI considera que “um padre que veja nestes termos o próprio ministério, não ama verdadeiramente Deus e os outros, mas apenas a si mesmo e paradoxalmente acaba por se perder a si mesmo”.


A Sede Apostólica Romana
não pode ser julgada por ninguém

Roberto de Mattei

"Prima sedes a nemine iudicatur", "A Sede Apostólica Romana não pode ser julgada por ninguém", estabelece o cânone 1404 do Código de Direito Canónico actualmente em vigor.

As origens deste axioma sobre a impossibilidade de julgar o Papa são antigas e gloriosas. Formulado por São Gregório VII, na Dictatus Papae (1075), contra o cesaro-papismo alemão, ele foi proclamado por Bonifácio VIII na bula Unam Sanctam (1302), contra o galicanismo de Filipe o Belo, e definido pelo Concílio Vaticano I (1870), contra o laicismo liberal. É desta afirmação de princípio que tem de partir uma reacção contra as agressões do relativismo contemporâneo que não queira ser tímida nem pretensiosa.

Não temos de nos esforçar por demonstrar que o Papa está "inocente" das ignóbeis acusações de cumplicidade com os crimes de pedofilia; temos de salientar, antes de mais, que o Papa não pode ser julgado por ninguém e repelir com indignação toda e qualquer tentativa de levar a Igreja a tribunal. Referimo-nos à Igreja e não a bispos ou a sacerdotes individualmente considerados; a Igreja enquanto tal não pode ser responsabilizada por crimes eventualmente cometidos por homens da Igreja, porque é uma sociedade jurídica perfeita, impassível, por natureza, de ser julgada. E contudo, é precisamente este o ponto do ataque em curso.

O que está a passar-se deve levar-nos a reflectir. A 24 de Junho, enquanto a conferência episcopal belga se encontrava reunida em Bruxelas, trinta polícias munidos de uma ordem judicial irromperam pela sede do episcopado adentro e mantiveram presos, durante nove horas, os bispos presentes. Nesse mesmo dia, armados de martelos pneumáticos, os polícias desceram à cripta da Catedral de São Romualdo, em Malines, e profanaram os túmulos dos Cardeais Jozef-Ernest Van Roey e Léon-Joseph Suenens, arcebispos de Malines-Bruxelas, em busca de improváveis "documentos". Além disto, sequestraram os 475 dossiers sobre pedofilia que estavam a ser analisados por uma comissão independente nomeada pela Cúria e, alguns dias mais tarde, revistaram a casa do Cardeal Godfried Danneels, primaz da Igreja belga entre 1979 e 2009, que foi sujeito a um interrogatório de dez horas nas instalações da polícia. É absolutamente claro que, a pretexto de uma investigação sobre casos de pedofilia, aquilo que se pretendia era julgar e desacreditar mediaticamente, não este ou aquele prelado, mas toda a Igreja belga.

Desde os tempos da Guerra Civil de Espanha (1936-1939) que não acontecia nada assim na Europa. Mas o que se passou, poucos dias depois, nos Estados Unidos, é ainda mais preocupante: a 29 de Junho, o Supremo Tribunal retirou a imunidade jurídica à Igreja americana, admitindo que as autoridades do Vaticano possam ser imputadas num processo do Oregon, por abusos sexuais cometidos por um religioso. A Igreja foi assim privada da sua dimensão jurídica supranacional e reduzida a uma associação meramente privada, cujos superiores respondem de forma solidária pelos crimes dos seus dependentes. Teoricamente, este tribunal podia, portanto, confirmar que o processo em causa era imputável ao Papa Bento XVI, ao Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e ao núncio apostólico nos Estados Unidos, o Arcebispo Pietro Sambi. Entretanto, e nas vésperas da viagem de Bento XVI a Inglaterra, alguns militantes ateus apresentaram solicitação idêntica à magistratura daquele país.

Sobre este ponto, impõem-se algumas considerações. Nos anos do Concílio, houve quem dissesse que a Igreja devia abandonar o tom firme com que se expressava, deixar de ter posições intransigentes e procurar o diálogo com o mundo moderno, um mundo que não lhe era nem hostil nem estranho, e do confronto com o qual a Igreja sairia enriquecida. A vanguarda desta nova "pastoral" estava sedeada na Europa Central e tinha como campeão o Cardeal Leo-Joseph Suenens, o primaz da Bélgica, o homem que, em 1968, dirigiu a resistência à Humanae Vitae de Paulo VI; ora, observamos que, nos dias de hoje, a Bélgica – o país mais secularizado da Europa – nem pelo túmulo do cardeal tem respeito.

Os católicos mudaram de atitude relativamente ao mundo, praticando um falso diálogo, mas nem por isso o processo de descristianização foi suspenso. O mundo não se deixou "permear" pela influência da Igreja, antes se organizou contra ela. É impossível negar a existência de uma estratégia anti-cristã coerente e sistemática, que chega ao ponto de pretender retirar os crucifixos de todos os locais públicos!

A 28 de Junho, Bento XVI anunciou a criação de um Conselho Pontifício para a Nova Evangelização dos países europeus que já receberam a fé cristã. As nações "apóstatas" não se pronunciaram, certamente porque a matilha mediática terá visto nesta posição uma declaração de guerra, como sugere Jean Madiran (Présent, 3 de Julho de 2010). Mas já a 24 de Março de 2007 o mesmo Bento XVI tinha usado o termo "apostasia" para referir o recuo que se verifica na Europa dos nossos dias, da fé cristã a um tribalismo dissolvente, em que nada resta dos princípios e das instituições que tornaram grande o nosso continente. Quando os Estados impõem aos seus povos a educação sexual obrigatória, o "casamento" homossexual, o aborto, a eutanásia e a destruição de embriões, mancham-se de apostasia, porque invertem a ordem natural e cristã que lhes foi comunicada pelos primeiros evangelizadores. E tal acontece por respeito a um plano muito específico, promovido pelas centrais anti-cristãs.

Na batalha em curso, a Igreja não dispõe de uma força política, económica ou mediática com que se oponha ao mundo. A única arma de que a Igreja dispõe é a da verdade religiosa e moral de que é a guardiã. Com efeito, e como dizia Pio XII, a Igreja "é uma potência religiosa e moral, cujas competências se estendem a todos os campos religiosos e morais que, por sua vez, abarcam as actividades livres e responsáveis do homem, considerado em si mesmo e na sociedade" (Discurso de 12 de Maio de 1953). A Igreja reivindica, pois, o direito de julgar os homens e a sociedade à luz da lei divina e natural de que é guardiã, mas não pode ser julgada por nenhuma autoridade humana, dado que não há na terra autoridade que lhe seja moral ou juridicamente superior. Definir a verdade e condenar o erro são componentes da sua missão, uma missão que postula a liberdade e a independência do poder civil. No curso da sua história, a Igreja sempre combateu em defesa da própria liberdade, contra as prevaricações dos poderosos. "Ao confiar a sua grei a Pedro, o Senhor não teve a intenção de abrir uma excepção para o rei", observava São Gregório VIII, reivindicando o princípio da suprema e universal jurisdição do Pontífice sobre todos os homens, sem excepção do rei, reafirmado na 19ª proposição da Dictatus Papae.

Num discurso proferido a 29 de Junho, o Papa reivindicou, como São Gregório, a libertas ecclesiae, observando que "se pensarmos nos dois milénios da história da Igreja, observamos que – como tinha anunciado o Senhor Jesus (cf. Mt 10, 16-33) – nunca os cristãos deixaram de sofrer provações que, em alguns períodos e locais, assumiram o carácter de verdadeiras perseguições. Mas estas perseguições, mau grado os sofrimentos que provocam, não constituem o perigo mais grave para a Igreja; com efeito, os maiores danos são os que provêm daqueles que corrompem a fé e a vida cristã dos seus membros e das suas comunidades, atacando a integridade do Corpo Místico, debilitando a sua capacidade de profecia e de testemunho, embaciando a beleza do seu rosto". Existe contudo "uma garantia de liberdade dada por Deus à Igreja, uma liberdade dos laços materiais que tentam impedir-lhe ou coarctar-lhe a missão, mas também dos males espirituais e morais passíveis de a prejudicar na sua autenticidade e credibilidade" (Osservatore Romano, 30 de Junho de 2010).

O que significa que é no interior da Igreja que se têm de procurar os recursos para o seu renascimento. Bento XVI parece estar profundamente convencido disto mesmo. Tal como aconteceu no século XI, a Igreja tem hoje necessidade de uma grande reforma espiritual. Mas, à semelhante da reforma que teve lugar no tempo de Ildebrando de Sovana e de Pedro Damião, também a reforma dos nossos dias tem de ter como fulcro a consciência do primado religioso e moral do Romano Pontífice sobre todas as criaturas.



quarta-feira, 14 de julho de 2010



Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu.

Se alguém tomar a palavra, que seja para transmitir palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o com a força que Deus lhe concede, para que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo.

Caríssimos, não estranheis a fogueira que se ateou no meio de vós para vos pôr à prova, como se vos acontecesse alguma coisa estranha.

                                                                       1 Pedro 4,10-13
 
 

Para a rua, já!

Nuno Serras Pereira

Finalmente veio a público[1] aquilo que de há muito era conhecido de poucos. Foi o Cardeal Karol Wojtyla, futuro Papa João Paulo II, que despoletou aquela mobilização imensa da Igreja, Bispos, Sacerdotes e demais Fiéis - Leigos, Religiosos e Consagrados -, que varreu ou esmagou o assalto ao poder do totalitarismo comunista em Portugal, em 1975. De facto, nesse ano, tendo o, então, Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, ido a Roma como desabafasse com o Cardeal polaco K. Wojtyla sobre a situação política em que o país se encontrava, este, tomando conhecimento detalhado das circunstâncias, logo imperou "Vá para a rua, já!". Regressado a Portugal, de imediato, o Prelado cuidou de suscitar uma grande manifestação, na qual participou. Logo a iniciativa se propagou por várias Dioceses, Braga, Coimbra, Lamego, Leiria – a Igreja, em peso, desde os mais altos dignitários até ao mais simples dos fiéis, permaneceu na rua suscitando uma vaga que vem a culminar na Fonte Luminosa, em Lisboa, com Mário Soares a apropriar-se do movimento genuína e radicalmente católico. Talvez um dia, quando se escrever a história sem preconceitos ideológicos, o seu nome venha a figurar, como um apêndice menor numa nota de rodapé.


É verdade que a Virgem Maria revelou em Fátima que a Rússia poderia vir a espalhar, caso não houvesse verdadeira oração, penitência e conversão os seus tremendos e atrozes erros e pecados pelo mundo como, infelizmente, se veio a verificar. Seguramente, um dos mais graves foi o da legalização/liberalização do aborto, como consequência de uma visão do mundo materialista e ateia. Mas, não é por acaso, que um autor Católico, muito benquisto do vasto espectro de sensibilidades dos fiéis, G. K. Chesterton, adverte e profetiza que o maior dos perigos não vem de Moscovo mas sim de Manhattan (Nova York). A fusão ou “casamento” deste espírito com o de Moscovo gerou a mais hedionda e perigosa das serpes ideológicas ramificada em múltiplas cabeças cheias de perfídia e perversidade.

Supor que a farsa democrática, que se vive actualmente, é menos perigosa e nociva do que a de 1975 é o cúmulo da ingenuidade, ou da estupidez. Hoje, tanto ou mais do que ontem, é necessário ir “para a rua, já!” A começar por suas Excelências Reverendíssimas e suas Eminências, para dar o exemplo e animarem as tropas para o gigantesco combate a que não podemos nem devemos fugir. É tempo de deixarem as sacristias, o conforto dos Paços Episcopais, a letargia anestesiante das falsas amizades lisonjeiras, os silêncios, as ambiguidades e acomodações que bradam aos Céus.

Nem em 1975 se alcançou tanta soma de graves injustiças e de profundos males como nos dias de hoje.

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[1] Helena Matos, Os caixões com armas, Público, 8 de Julho de 2010:

A história é breve e leva-nos ao Portugal de Julho de 1975. O país declarava-se em processo revolucionário e o MFA desvalorizava o resultado das eleições burguesas, contrapondo-lhe a dinâmica da luta de classes. A Igreja Católica não tinha muitas ilusões sobre o que se seguiria, mas a habitual passividade da elite católica portuguesa, a par do receio de se ver conotada com o reaccionarismo, ia deixando os responsáveis eclesiásticos numa expectativa cada dia menos tranquila, mas muito tolhida.

Estava o país nestes transes quando o então bispo de Aveiro, Manuel de Almeida Trindade, se deslocou a Roma. Aí, num encontro com outros bispos, foi dando conta, no tom moderado, quase tímido, que dizem ter sido o seu, do que se passava em Portugal. Fosse por que tanta moderação lhe deu que pensar ou por qualquer outra razão, um dos bispos presentes perguntou ao bispo português se a Portugal já tinham chegado os caixões com armas. Ou seja, se os sectores não comunistas não só já tinham sido acusados de conspirar contra a revolução como de nessa actividade conspirativa terem perdido o respeito pelos mortos, transportando armas em caixões. O bispo de Aveiro respondeu que sim, que de facto os caixões com armas, ou, melhor dizendo, o boato acerca deles, já chegara a Portugal. Ao que o bispo que o interrogara lhe disse peremptoriamente "Vá para a rua, já!"

 homem que tão aguerrido conselho deu ao bispo de Aveiro chamava-se Karol Wojtyla e sabia por experiência própria que a acusação dos caixões com armas era recorrente em todos os processos de conquista do poder pelos partidos comunistas e que seria isso que ia acontecer em Portugal, caso os democratas, e entre eles os católicos, não fossem para a rua defender as suas posições.

Independentemente de Karol Wojtyla ter ou não operado os milagres que aos olhos dos católicos o podem tornar santo, era certamente um homem de grande intuição política e um orador dotado de invejáveis dotes de persuasão, pois a verdade é que o bispo de Aveiro, uma vez regressado a Portugal, se deixou de reservas e foi mesmo para a rua: a 13 de Julho de 1975 teve lugar em Aveiro a grande "Manifestação dos Cristãos" e desde essa data o bispo de Aveiro e boa parte dos dirigentes católicos não mais saíram da rua até Novembro de 1975. As manifestações de católicos repetiram-se em Coimbra, Lamego, Leiria e Braga, tornando-se evidente que a Igreja não estava com o MFA e muito menos com a revolução.

Nos últimos tempos tenho-me lembrado não dos caixões com armas propriamente ditos, se é que eles alguma vez existiram, mas daquilo que eles representam enquanto recurso da agitação e propaganda: um inimigo imaginário que todos os dias é invocado para manter o povo em constante frenesi. Este, entretido nessa verdadeira caça aos gambuzinos, não tem tempo ou sequer a possibilidade de reflectir na catadupa de actos que estão a ser praticados por aqueles que detêm o poder. Vistos à distância, seja esta distância temporal, como acontece com o PREC, ou geográfica, veja-se o caso das diatribes de Chavez na Venezuela, estes procedimentos de agitprop são sempre óbvios e patéticos. Mas para quem vive imerso neles é como se não houvesse tempo ou disponibilidade para mais nada.

Em 1975, em Portugal, faltavam bens essenciais, os serviços públicos funcionavam nos intervalos das greves, a tropa levava o dia em plenários, milhões de cidadãos com nacionalidade portuguesa andavam às voltas em África, mas nada era mais importante que correr atrás dos fascistas. E todos os dias se vislumbravam mais fascistas, pese há meses não se fazer mais nada senão combater os fascistas.

Em 2010, os caixões com armas continuam a andar por aí. Agora não estão ao serviço do capital, pois o socialismo de Estado que nos rege precisa desesperadamente que a actividade privada pague os impostos indispensáveis quer à manutenção da mitologia do Estado providência, quer à prosperidade da oligarquia que faz negócios, gere e manda como se o Estado fosse coisa sua. Neste PREC contemporâneo a igualdade nos bens materiais não é assunto que mobilize as massas, até porque estas foram percebendo, à sua dolorosa custa, que quanto mais igualdade lhes prometem, mais pobres ficam. O homem novo pode ser pobre ou rico, tudo depende da sua relação com o Estado e não com o capital. O desígnio da igualdade transferiu-se do capital para o corpo. E neste novo campo de batalha todos os dias há uma desigualdade que urge exterminar: a humanidade deixou de se dividir nos desigualíssimos homens e mulheres para passarmos todos a pessoas.

Portugal levou os últimos meses pendente desse enorme combate que foi o do fim da desigualdade dos homossexuais que não se podiam casar. Agora que se celebrou o extraordinário cômputo de 18 casamentos entre pares homossexuais já nos foi anunciado que vai ser atacada a enorme desigualdade que recai sobre os casais homossexuais ao não se lhes permitir que se altere a filiação das crianças de modo a que estas tenham dois pais ou duas mães. Como boa parte deste nosso PREC actual é decalcado do espanhol, nomeadamente a governamentalização e controlo pelos partidos socialistas no poder em ambos os países das associações que dizem combater as desigualdades, não é muito difícil perceber o que aí vem: sob o lema da Diversidade Afectivo-Sexual a disciplina de Educação Sexual vai ser palco de inúmeras polémicas nas escolas sobre o modelo de família que se deve apresentar às crianças. Como os tempos vão de crise não teremos por enquanto cursos de masturbação para adolescentes como aconteceu em Espanha, por sinal numa das zonas mais pobres daquele país e em que o desemprego entre os jovens atinge os valores estratosféricos de 44 por cento. Mas teremos certamente uma enorme atenção às pessoas transgénero que agora se descobriu que devem poder mudar de género por via administrativa.

Nada disto se traduz em mais direitos ou mais respeito para com estas pessoas, pela mesma razão por que também não acabámos um país rico em 1975: o que se pretende não é melhorar a vida das pessoas. É sim servir-se delas como se torna óbvio quando alguém um dia cansado de tanta palermice diz em voz alta aquilo que muitos sussurram. Foi isso que aconteceu há 35 anos. Em Novembro de 1975, estávamos nós naquele nunca mais acabar de fascistas, quando o almirante Pinheiro de Azevedo, ao ser apelidado fascista pelos operários que cercavam a Assembleia Constituinte, também ela cheia de deputados ditos fascistas, se saiu com aquele grito de alma do "bardamerda mais o fascista" que deu conta do cansaço de um país onde os fascistas eram ainda mais raros que o bacalhau e o leite, mas onde a troco de tudo e de nada se era chamado fascista. Quando, semanas depois, um golpe militar mandou as armas para os quartéis, as pessoas para casa e os caixões para os cemitérios, o que nos sobrava era um país cheio de gente desejosa de levar uma vida normal e de ser governada por quem se preocupasse em assegurar um futuro melhor ao país e ao povo.

Quando acabar o presente frenesi do combate à desigualdade, à homofobia e a todas as outras fobias e ismos que nos capturam o tempo e a atenção, o que sobrará? Infelizmente não creio que desta vez vá ser tão fácil quanto em 1975. As pessoas e os países recuperam muito rapidamente das convulsões que põem em causa os bens materiais. O mesmo não se pode dizer das medidas de engenharia social que afectam a família.

As crianças que agora andam para aí quais pioneiros na capa da Vida Soviética a ilustrar as maravilhas de terem dois pais, duas mães, apenas pai ou apenas mãe, a serem exibidas no Arraialito Gay e nas capas das revistas como sinal exterior das circunstâncias de vida de quem lhes chama suas como se fossem objectos, um dia vão perguntar-nos o que andávamos a fazer neste início do século XXI. Tanto quanto se sabe, estes ajustes de memória causam dores muito superiores aos de qualquer PREC e não costumam sequer dar histórias que gostemos de ouvir e muito menos de contar.





Dizem que Santa Filomena já não é santa

José Augusto Santos
 
Em termos históricos, o que se sabe sobre Santa Filomena resume-se apenas àquilo que a ciência nos pôde revelar, depois de encontradas as suas relíquias nas escavações das Catacumbas em Roma em 25 de Maio de 1802, de onde se concluiu tratar-se de uma jovem entre 13 e 15 anos que morreu mártir pela Fé.
Fosse apenas esta descoberta arqueológica, e não teríamos mais do que um achado com algum valor historico-religioso, mas querendo Deus que muitas almas fossem favorecidas no chamamento à santidade, permitiu que a Santa aparecesse a três pessoas.
Uma delas, a religiosa Maria Luísa de Jesus, ou Maria Luísa Trichet (beatificada a 16 de Maio de 1993, por João PauloII), foi quem relatou mais pormenorizadamente a vida da Santa, depois de o seu director espiritual lhe ordenar que escrevesse o que nas aparições lhe era revelado. Analisados os relatos pelo Santo Ofício, esta Congregação da Cúria Romana pronunciou-se favoravelmente, concedendo às revelações o Imprimatur para publicação.
Segundo esses relatos, podemos hoje saber que em finais do século III (c. 290), um rei da Grécia e sua esposa, que também era de sangue real, sofrendo por não conseguirem ter filhos, dirigiam constantes preces e ofereciam sacrifícios aos seus deuses. O médico do palácio, de nome Públius, era cristão. Não se resignando com a cegueira espiritual de seus soberanos, inspirado pelo Espírito Santo, falou-lhes da Fé em Cristo, garantindo-lhes que suas preces seriam ouvidas se abandonassem os falsos deuses e abraçassem a Fé Cristã. Impressionados com o que ouviram, e tocados pela Graça, receberam o Baptismo. No dia 10 de Janeiro do ano seguinte nasceu-lhes uma linda menina, à qual deram logo o nome de Lumena, por ter nascido à luz da fé. Na pia baptismal deram-lhe o nome de Filomena, isto é, Amiga da Luz, da Luz que receberam do Altíssimo, do Verdadeiro Deus.
Aos cinco anos de idade, a princesinha recebeu pela primeira vez a Sagrada Comunhão e desde então lhe aumentavam os desejos de íntima união com o Divino Redentor, até que, na idade de 11 anos, a Ele se consagrou por voto de virgindade perpétua.
Estava a jovem Princesa prestes a completar 14 anos, quando sob o reino de seu pai recaía a ameaça do Imperador Diocleciano, o que o levou a Roma para tentar negociar a paz. Ao ver tão bela jovenzinha, encantou-se por ela o imperador e propôs desposá-la em troca de uma paz duradoura.
No regresso a casa, vendo seu pai a oportunidade para não ser esmagado por Roma, bem tentou, com plagentes súplicas a seus pés, fazer ver à princesa o bem que isso representava para o reino, mas como o coração de Filomena já vivia desposado por Jesus e ainda que isso lhe causasse o maior constrangimento, o não poder obedecer a seu amado pai, opôs-se ela irredutivelmente às pretensões de Diocleciano.
Conhecedor dessa recusa, o imperador chamou Filomena a Roma, convencido de que, cortejando-a, a faria mudar de ideias. Porém, a intrépida princesa, manteve-se fidelíssima a seu divino Esposo, e, furioso, o tirano ordenou que fosse encarcerada e flagelada. Tendo sarado miraculosamente do suplício da flagelação, foi mandada lançar ao rio Tibre, com uma âncora amarrada ao pescoço. Entretanto, o Divino Redentor veio em socorro da Sua consagrada: no exacto momento em que a mesma estava sendo atirada ao rio Tibre, dois Anjos apareceram, cortaram a corda que prendia a âncora, e transportaram-na para a outra margem, sem que as águas lhe tocassem sequer as vestes.
Esse grandioso milagre foi presenciado por centenas de pessoas, das quais muitas se converteram, inclusive os soldados que a lançaram ao Tibre. O Imperador, porém, atribuiu o maravilhoso prodígio a algum poder mágico da menina, declarou-a feiticeira e ordenou que fosse arrastada pelas principais ruas da cidade e depois trespassada por setas. Mortalmente ferida, foi abandonada no cárcere como se já estivesse morta. Mas seu Celeste Esposo fê-la cair num sono reparador, do qual despertou completamente curada e mais formosa que nunca.
O cruel tirano ordenou, então, que as setas fossem metidas numa fornalha até ficarem enrubescidas, certo de que dessa forma não sobreviveria aos mortais ferimentos. As setas, porém, voltaram-se contra os próprios arqueiros, causando morte instantânea a seis deles. Temendo o Imperador maiores consequências, e já bastante confuso, ordenou que a Princesa fosse imediatamente decapitada. Mas ainda desta vez nenhum poder teria o tirano, se não fosse a vontade do Altíssimo a permitir a consumação do martírio, a fim de que a "Princesinha do Céu" - conforme a chamara a Virgem Santíssima - pudesse receber na Glória do Paraíso o prémio eterno devido à sua incondicional fidelidade a Cristo Jesus.
Colheu a heróica Filomena a palma do martírio numa sexta-feira, às três horas da tarde, sendo 10 de Agosto o dia.
Conhecida a vida da Princesa Mártir por meio das referidas revelações, muitas foram as almas que dela obtiveram grandes graças. A Venerável Pauline Jaricot, curada miraculosamente, insistiu para que o Papa Gregório XVI, que testemunhara pessoalmente o milagre, iniciasse o exame necessário à canonização da Virgem Mártir, que já estava sendo conhecida como grande taumaturga. Tendo o Romano Pontífice recebido o parecer favorável da Sagrada Congregação dos Ritos, depois de aturados exames, elevou-a à honra dos altares, instituindo ofício próprio para o culto e festa, proclamando-a A Grande Taumaturga do Século XIX, Padroeira do Rosário Vivo e Padroeira dos Filhos de Maria.
O sucessor de Gregório XVI, Pio IX (beatificado por João Paulo II em 3-9-2000), no dia 7 de Novembro de 1849 celebrou a Santa Missa no altar onde estão as Santas Relíquias e, no dia 15 de Janeiro de 1857, concedeu ofício próprio com Missa. Antes de ocupar a Cadeira de Pedro, ele mesmo passou pela extraordinária experiência de ser milagrosamente curado pela “Princesinha do Céu”. Leão XII (dois pontificados anteriores a Gregório XVI − de 1823 a 1829), antes de ser eleito peregrinou por duas vezes ao Santuário de Mugnano, e como Papa fundou a Confraria e Arquiconfraria de Santa Filomena. Leão XIII foi outro peregrino da Santa por duas vezes. E em 1884 aprovou, consagrou e indulgenciou o cordão de Santa Filomena. Também o seu sucessor, São Pio X, respondeu aos mesmos apelos do Espírito, deixando à imagem da Santa um riquíssimo anel.
O amor da “Princesinha do Céu” por Jesus foi tão grande como é o seu poder de intercessão, poder já sentido na terra por muitas almas simples, pelos corações enamorados por Deus, como aconteceu, além dos vários papas, com alguns santos. De entre estes, seus mais memoráveis devotos foram São João Maria Vianney (o Santo Cura d’Ars), Santa Madalena Sofia Barat, São Pedro Chanel, São Pedro Julião Eymard, e o Beato Bártolo Longo.
Tantas e tão grandes maravilhas foram alcançadas no Céu por Santa Filomena em favor dos seus devotos, que Satanás se enfureceu ao ver o elevado número de almas atraídas para o caminho da santidade, e não descansou enquanto não encontrou o meio de impedir esse sentir dos impulsos do Espírito Santo nas almas. Para isso o eterno inimigo de Deus valeu-se do Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, de 14-2-1961, que lhe serviu de passadeira vermelha para apresentar a confusão e o erro, que chegaram de “braço dado”.
Dizia o decreto: "A festa de Santa Filomena, Virgem e Mártir (11 de Agosto), seja eliminada de todos os calendários litúrgicos".
Quanto a mim, esta determinação vem pôr em causa a sobriedade intelectual e a autoridade pastoral de vários Papas, até daqueles que foram miraculados e dos que presenciaram “o grande milagre de Mugnano”, dizendo ainda, de forma implícita, que os vários santos devotos de Santa Filomena também exageraram…
Estando já na altura lançada a luta contra a sã juventude, havia que remover a “Princesinha do Céu” desse trabalho de angariação dos jovens para Deus, por ser uma tão grande referência. Por isso creio que uma mão negra esteve por trás de tão desastroso documento, caso contrário, em vez daquilo que foi feito, por alegada fantasia contida no texto litúrgico, reformulavam-no apenas…
Dada a confusão gerada, o Padre Luís Espósito, antigo reitor do santuário de Santa Filomena em Mugnano, Itália, escreveu em 11 de Agosto de 1974: "Em 1964, com aprovação do Bispo Diocesano, apresentei um pedido de interpretação autêntica desta disposição, perguntando se aquela determinação proibia todo o culto à referida Santa. Recebi esta resposta: 'Foi tirado o culto litúrgico, mas mantém-se, sem alteração, o culto popular. A Santa pode ser venerada e pode ser honrada também com festa externa, com a missa do Comum das Virgens Mártires'".
O actual (?) Reitor do Santuário, Padre João Brachi, mandou esta resposta a pedido da Cruzada: "Pode celebrar-se com tranquilidade de consciência a missa em honra de Santa Filomena, do Comum das Virgens Mártires, e pode expor-se, sem hesitação, nos altares, a sua imagem. A disposição da Santa Sé, de 14 de Fevereiro de 1961, nunca teve a intenção de prejudicar ou eliminar o culto ou devoção popular a Santa Filomena".
O Bispo de Mysore, na Índia, perguntou ao Santo Padre João Paulo II o que havia a este respeito. Recebeu esta resposta: "Pode continuar o culto popular a Santa Filomena".
Muito mais poderia ainda dizer em favor da verdade factual sobre a "Princesinha do Céu", espero porém, que isto seja o suficiente para remover o erro em que muitos bons católicos cairam, mesmo muitos padres, como aquele de quem tive conhecimento de que impediu uma devota de Santa Filomena de levar o andor com a sua imagem na procissão anual da terra, dizendo-lhe que «Santa Filomena não é santa». Que todos aqueles que mais poder de influência têm corrijam esse erro, não impeçam os corações Simples de tê-la como poderosa intercessora, e o Mal verá reduzido o seu poder sobre as almas.

Petição contra a obrigatoriedade
da chamada «educação sexual»
no ensino público

Oponha-se à corrupção das crianças e jovens nas escolas!


http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N2545