Maria Clara
Assunção
Tem-se falado muito do Acordo
Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação,
eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas
realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a
pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser
repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos
estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes
mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se
pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a
fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se
pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não
existem na oralidade.
Outra complicação decorre da
leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode
ter a mesma letra.
Porqe é qe «assunção» se
escreve com «ç» e «ascensão» se escreve com «s»?
Seria muito mais fácil para as
nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o
alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses
deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o «ç».
Por isso, proponho qe o
próximo acordo ortográfico elimine o «ç» e o substitua por um simples «s» o
qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os
«ss» deixariam de ser nesesários já qe um «s» se pasará a ler sempre e apenas
«s».
Esta é uma enorme
simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da
redusão do número de carateres a uzar. Claro, «uzar», é isso mesmo, se o «s»
pasar a ter sempre o som de «s» o som «z» pasará a ser sempre reprezentado por
um «z».
Simples não é? se o som é «s»,
escreve-se sempre com s. Se o som é «z» escreve-se sempre com «z».
Quanto ao «c» (que se diz «cê»
mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de «q») pode, com vantagem, ser
substituído pelo «q». Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo
qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de «k».
Não pensem qe me esqesi do som
«ch».
O som «ch» pasa a ser
reprezentado pela letra «x». Alguém dix «csix» para dezinar o «x»? Ninguém,
pois não? O «x» xama-se «xis». Poix é iso mexmo qe fiqa.
Qomo podem ver, já eliminámox
o «c», o «h», o «p» e o «u» inúteix, a tripla leitura da letra «s» e também a
tripla leitura da letra «x».
Reparem qomo, gradualmente, a
exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea,
maix simplex. Não, não leiam «simpléqs», leiam simplex. O som «qs» pasa a ser
exqrito «qs» u qe é muito maix qonforme à leitura natural.
No entanto, ax mudansax na
ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som «j».
Umax vezex excrevemox exte som qom «j» outrax vezex qom «g». Para qê
qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o «j» para o
som «j» não presizamox do «u» a segir à letra «g» poix exta terá, sempre, o som
«g» e nunqa o som «j». Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.
É impresionante a quantidade
de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe
tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se
qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se
realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?
Outro problema é o dox
asentox. Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o
mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.
A qextão a qoloqar é: á
alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra «a». Umax
vezex lê-se «á», aberto, outrax vezex lê-se «â», fexado. Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á
alternativax.
Vejamox o «o»: umax vezex
lê-se «ó», outrax vezex lê-se «u» e outrax, ainda, lê-se «ô». Seria tão maix
fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o «u»? Para u uzar, não? Se u
som «u» pasar a ser sempre reprezentado pela letra «u» fiqa tudo tão maix
fásil! Pur seu lado, u «o» pasa a suar sempre «ó», tornandu até dexnesesáriu u
asentu.
Já nu qazu da letra «e»,
também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa «é», abertu, pudemux usar u «e».
U mexmu para u som «ê». Max quandu u «e» se lê «i», deverá ser subxtituídu pelu
«i». I naqelex qazux em qe u «e» se lê «â» deve ser subxtituidu pelu «a».
Sempre. Simplex i sem
qompliqasõex.
Pudemux ainda melhurar maix
alguma qoiza: eliminamux u «til» subxtituindu, nus ditongux, «ão» pur «aum»,
«ães» – ou melhor «ãix» - pur «ainx» i «õix» pur «oinx».
Ixtu até satixfax aqeles xatux
purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux
prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e
sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da
ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua
purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.
Será qe algum dia xegaremux
a exta perfaisaum?