segunda-feira, 13 de março de 2017

Embuste do «movimento feminista» prejudica a própria mulher


Mãe e filhas jogando xadrez
(obra de Francis Coates Jones, 1857 – 1932)

Paulo Roberto Campos, IPCO, 11 de Março de 2017

A respeito deste «Dia Internacional da Mulher», textos e mais textos foram publicados ad nauseam em todos os jornais impressos ou online. Tal dia não passa de uma absurda invenção imposta pelo movimento feminista, copiando uma propaganda do regime comunista na antiga URSS. Hoje vemos que realmente o comunismo não morreu — ele «espalhou os seus erros pelo mundo», sendo um deles o chamado «feminismo». E certos media colaboram prematuramente para espalhar tais erros.

Assim, os media repetiram baboseiras infindas e duras críticas a mulheres que se defendem enquanto «rainhas do lar», esposas e mães, como se estes atributos tão nobres e elevados não pudessem ser considerados «direitos da mulher». Para os media esquerdistas e o «movimento feminista», o «direito da mulher» é, por exemplo, o «direito ao aborto» — o direito da mulher matar o próprio filho que está a gestar!

Entretanto, na essência às mencionadas baboseiras, encontrei um texto primoroso. Foi publicado há cinco anos no «Dia Internacional da Mulher» («Folha de S. Paulo», 8-3-12), da autoria da jovem Talyta Carvalho [foto abaixo]. Imagino que este texto foi rasgado, pisado e queimado pelas «feministas» radicais, que, no fundo, desejariam mesmo era «queimar» como «herege» a própria autora, acusando-a de ser contrária ao «apoderamento feminino», à «igualdade de género», à «lei do feminicídio», de ser «politicamente incorreta», «preconceituosa» etc.. Acusações levianas, mas que nos estimulam a divulgar largamente o interessantíssimo artigo, que abaixo transcrevo.

Talyta Carvalho (Filósofa especialista em renascença
e mestre em ciências da religião pela PUC-SP)

Não devemos nada ao feminismo

Talyta Carvalho

As feministas chamaram «libertação» à saída forçada do lar para trabalhar; a sua intolerância tornou constrangedor decidir ser dona de casa e cuidar dos filhos.

Na história da espécie humana, a ideia de que a mulher deveria trabalhar prevaleceu com muito maior frequência do que a ideia de que deveria ficar em casa a cuidar dos filhos.

Não raro, o trabalho que cabia à mulher era árduo e de grande impacto físico. Para a mulher comum na Pré-história, na Idade Média, e até no século XIX, não trabalhar não era uma opção.

Uma das conquistas do sistema económico foi que, no século XX, a produtividade tinha aumentado tanto que um homem de classe média era capaz de ter um bom salário o suficiente para que a sua esposa não precisasse de trabalhar.

No período das grandes guerras e no entreguerras, a inflação, os altos impostos e o retorno da mulher ao mercado de trabalho (que significou um aumento da mão de obra disponível) diminuíram de tal maneira o rendimento do homem comum que já não era mais possível que a maioria das mulheres ficasse em casa.

A este movimento forçado da saída da mulher do lar para o trabalho as feministas chamaram «libertação».

É óbvio que não se está a defender aqui que as mulheres não possam trabalhar, não casar, não ter filhos ou que não possam agir de acordo com as suas escolhas em todos os âmbitos da vida. Não é essa a questão para as mulheres do século XXI pensarem a respeito.

O ponto da discussão é: em que medida a consequência do feminismo, para a mulher contemporânea, foi o estrangulamento da liberdade de escolha?


Explico-me. Por muito tempo, as feministas reivindicaram a posição de luta pelos direitos da mulher, excepto se esse direito for o direito de uma mulher não ser feminista.

Assumir uma posição crítica ao feminismo é hoje o equivalente a ser uma mulher que fala contra as mulheres. Ilude-se quem pensa que na universidade há um ambiente propício à liberdade de pensamento.

Como mulher e intelectual, posso afirmar sem pestanejar: nunca precisei «lutar» contra os meus colegas para ser ouvida, muito pelo contrário. A batalha é mesmo contra as colegas mulheres, intolerantes a qualquer outra mulher que pense diferente ou que não faça da «questão de género» uma bandeira.

Não ser feminista é heresia imperdoável, e a herege deve ser silenciada. Até mesmo porque há muito em jogo: financiamentos, vaidades, disputas de poder, privilégios em relação aos colegas homens — que, se não concordam, são machistas e preconceituosos, claro.

Outro direito que a mulher do século XXI não tem, graças ao feminismo, é o direito de não trabalhar e escolher ficar em casa e cuidar dos filhos — recomendo, sobre a questão, os livros «Feminist Fantasies», de Phyllis Schlaffly, e «Domestic Tranquility», de F. Carolyn Graglia. Na esfera económica, é inviável para boa parte das famílias que a esposa não trabalhe.

Na esfera social, é um constrangimento garantido quando perguntam «qual a sua ocupação?». A resposta «sou só dona de casa e mãe» já revela o alto custo sociopsicológico de uma escolha diferente daquela que as feministas fizeram por todas as mulheres que viriam depois delas.

O erro do feminismo foi reivindicar falar por todas, quando na verdade falava apenas por algumas. De facto, casamento e maternidade não são para todas as mulheres. Mas a nova geração deve debater estes dogmas modernos sem medo de fazer perguntas difíceis.

Da minha parte, afirmo: não devo nada ao feminismo.





O hábito e o monge


Plinio Corrêa de Oliveira, IPCO, 12 de Março de 2017

Parece acentuar-se em alguns meios a incompreensão quanto ao uso da batina por sacerdotes e religiosos. A sabedoria da Santa Igreja, entretanto, não falha. E é iniludível a sua preferência pela batina.

Não parecerá irrelevante o assunto? «Aquila non capit muscas». A Igreja não se preocupa com ninharias. E se toma posição em face da questão é porque esta não é supérflua nem vazia.

* * *

Para compreendermos o pensamento da Igreja, devemos subir a considerações mais gerais.

Está na ordem natural das coisas que o homem espelhe a sua alma na fisionomia, na voz, na atitude, nos movimentos. E como o traje deve revestir o corpo humano, é natural que o homem se sirva também dele como elemento de expressão. Tanto mais que o traje a isto se presta eximiamente.

Ora, a necessidade da expressão da alma é uma consequência imperiosa do instinto de sociabilidade. De onde, recusar ao homem esta possibilidade é, em si, falsear o próprio modo de ser da alma.

Por isto, os costumes sociais consagraram em todos os tempos e lugares certos trajes como característicos de profissões ou estado de vida, que exijam uma conformação da alma muito peculiar. E sempre se entendeu, com razão, que o traje profissional auxilia o homem a realizar inteiramente a sua mentalidade. De um militar que tivesse antipatia à farda, de um juiz que tivesse ódio à toga, nada se auguraria de bom. Como, pelo contrário, negar respeito ao clérigo que ama a sua batina, e dela se ufana? Se um exército suprimisse o uso do uniforme, não levaria um profundo golpe no seu espírito?

Dizer-se, pois, que o hábito não faz o monge, ou a farda não faz o herói, é e não é verdade. Com efeito, o homem não se torna monge, ou militar, autêntico só por adoptar o traje próprio a tal estado. Mas o hábito monástico facilita ao homem de boa vontade tornar-se bom monge. E o mesmo se pode dizer da farda.

* * *

Como ilustrar, dentro dos estilos desta secção, o efeito da indumentária sobre o estado de espírito de um homem?

Para não melindrar ninguém, abstemo-nos de exemplos muito recentes. E tomamos como material de estudo uma figura histórica que já começa a imergir na névoa de um passado remoto. Trata-se de Guilherme II, Rei da Prússia e Imperador alemão: o Kaiser, na linguagem caseira dos poucos brasileiros que ainda se ocupam dele.

Seria impossível contestar que Guilherme II foi militar até a medula da alma. Não foi grande general, nem era esta a sua função. Mas a sua mentalidade, o seu estilo de vida, o seu estilo de governo provam que como homem, como chefe de família, como soberano, o Kaiser foi sempre e antes de tudo um militar.


Ei-lo num campo de parada, a transmitir o bastão de comando a uma alta patente. Esplendidamente fardado, montando com uma naturalidade cheia de garbo o seu corcel, o Imperador sente-se visivelmente no seu elemento, numa situação em que se desdobra com segurança, com amplitude, com brilho e com toda a sua personalidade. O rosto, o porte, o gesto, manifestam a paixão militar que, quanto mais se externa tanto mais se afirma.

* * *

Pelo contrário, em traje civil dir-se-ia que nem é o mesmo homem. A sua personalidade parece desbotada e a sua atitude forçada. As suas qualidades militares transparecem na medida do suficiente para contrastar com a indumentária. Se o Kaiser e todas as suas tropas tivessem de usar tal traje civil, o exército alemão teria sido o que foi?

Evidentemente que não. Porque, se a farda não faz o bom soldado, ajuda muito o militar a adoptar o espírito da sua classe…

E porque não valeria para o clero, mutatis mutandis, o mesmo princípio?





domingo, 12 de março de 2017

A maçonaria quer mesmo destruir a Igreja ou os papas exageraram ao condená-la?



Gelsomino Del Guercio, Aleteia, 5 de Janeiro de 2016

Fala a historiadora Ângela Pellicciari: os maçons estudaram estratégias subversivas para acabar com o poder eclesiástico

A Maçonaria tentou destruir a religião em Itália?

Agiu para extinguir a acção e a existência da Igreja católica
naquele país?

A resposta de Ângela Pellicciari, italiana historiadora do «Risorgimento» e professora de História da Igreja, é positiva: desde o seu nascimento, a Maçonaria propôs-se acabar com o poder da Igreja mediante acções subversivas, em geral subtis, que foram vigorosamente denunciadas e repudiadas pelos papas.

Ângela explica para a Aleteia: «A Maçonaria moderna nasceu em Londres em 1717. A Igreja emitiu a primeira das suas centenas de condenações e excomunhões em 1738, com a carta apostólica ‘In Eminenti’, do Papa Clemente XII. ‘Cheios de certa aparência afectada de honradez natural’, escreve o Papa sobre os maçons. E o Papa tem razão: a Maçonaria sempre tem nos lábios a palavra ‘moral’, mas a moral a que se refere não é a moral revelada».

A perseguição anti-religiosa

Ângela Pellicciari destaca uma afirmação feita em 1853 por J.M. Ragon, autoridade da Maçonaria francesa: «A Maçonaria não recebe a lei; é ela mesma quem a estabelece». E a historiadora segue em frente: «Pio IX e Leão XIII, os papas que assistem [na Itália] ao desmantelamento de todas as ordens religiosas católicas (apesar de o catolicismo continuar a ser a religião de Estado), à perseguição contra bispos e sacerdotes, à redução da maioria da população [italiana] à pobreza absoluta, obrigada à emigração massiva, identificam no ódio maçónico e protestante a origem anticatólica e, portanto, anti-italiana, de tanta violência e decadência».

Como foi o caso de França durante a revolução e durante o império do maçom Napoleão, ou ainda na América Latina, em Portugal e em Espanha, a Maçonaria é uma sociedade revolucionária que os príncipes apoiam «sem se darem conta de que estão assinando a sua própria ruína», sentencia a historiadora. «Os papas lançam o alerta com frequência, mas não são ouvidos. Sob o pontificado de Gregório XVI, a polícia descobre uma documentação de grande interesse sobre os carbonários (uma sociedade secreta de derivação maçónica) que mostra como o ódio contra a Igreja é acompanhado pelo ódio à família».

De facto, o sectário conhecido pelo pseudónimo de «Piccolo Tigre» [«Pequeno Tigre»] escreve aos seus companheiros de seita: «O essencial é isolar o homem da família, é fazê-lo perder os seus costumes […] Quando tiverdes insinuado em alguma alma o desgosto pela família e pela religião (e uma é quase sempre a continuação da outra), deixai cair alguma palavra que provoque o desejo de filiar-se à loja [maçónica] mais próxima […] O fascínio pelo desconhecido exerce sobre o homem tal poder que ele prepara-se a tremer para as fantasmagóricas provas da iniciação e dos banquetes fraternos».

A advertência de Pio VII

Em 1821, Pio VII escreve a propósito dos carbonários: «Eles simulam um singular respeito e um certo zelo extraordinário pela religião católica», mas «não são nada mais que dardos disparados com mais firmeza por homens astutos para ferir os incautos; estes homens apresentam-se como cordeiros, mas são lobos vorazes».

Segundo Pellicciari, um documento de 1819, conhecido com o nome de «Instrução permanente», ensina aos carbonários: «Deveis apresentar-vos com todas as aparências do homem sério e moral. Uma vez estabelecida a vossa boa reputação nos colégios, nas universidades e nos seminários, uma vez captada a confiança de professores e estudantes, fazei que procurem a vossa companhia principalmente os envolvidos na milícia clerical […] Trata-se de estabelecer o reino dos eleitos sobre o trono da prostituta da Babilónia: que o clero marche sob a vossa bandeira sem nunca duvidar de estar a marchar sob a das chaves apostólicas».

«Enterraremos a Igreja»

Os carbonários pretendiam infiltrar-se no clero. Em 18 de Janeiro de 1822, o «Piccolo Tigre» escreveu aos filiados da região italiana de Piemonte: «Servindo-vos do pretexto mais fútil, mas nunca político ou religioso, criai vós mesmos, ou ainda melhor, fazei com que sejam criadas por outros, associações que tenham como fim o comércio, a indústria, a música, as belas- artes. Reuni num lugar qualquer, inclusive nas sacristias e nas capelas, os vossos seguidores que ainda não sabem de nada; ponde-os sob a guia de um sacerdote virtuoso, conhecido, mas crédulo e fácil de enganar; infiltrai o veneno nos corações eleitos, infiltrai-o em pequenas doses e como que por casualidade; a seguir, vós mesmos vos surpreendereis com o vosso êxito».

Alguns anos mais tarde, o «primo» Vindice sintetiza assim o objectivo dos carbonários: «Começamos uma corrupção em grande escala, a corrupção do povo através do clero e a do clero por o nosso meio, a corrupção que, sem dúvida, nos levará um dia a sepultar a Igreja».

«Segredo, juramento, nenhum escrúpulo no uso de qualquer meio (porque, para eles, o fim justifica os meios), calúnia, mentira, homicídio, são as armas a que as associações secretas recorrem para levar os seus planos a termo», afirma a especialista. O juramento, em particular, acompanha todos os avanços nos graus maçónicos. No momento da entrada na loja como aprendiz, o candidato jura assim: «Prometo não revelar jamais os segredos da Livre Maçonaria; não dar a conhecer a ninguém o que me será exposto, sob pena de me cortarem a garganta, me arrancarem o coração e a língua, me rasgarem as entranhas, cortarem o meu corpo em pedaços, queimarem-no e reduzirem-o a pó a ser espalhado ao vento para execrada memória e eterna infâmia».

A denúncia dos papas

Começando por Clemente XII, todos os papas denunciam com firmeza, coragem, patriotismo e mediante análises filosóficas e históricas detalhadas os propósitos revolucionários das lojas que, exaltando a «liberdade», procuram a liberdade apenas para si próprias, formando dentro dos países uma espécie de «Estado no Estado», que dita por lei todos os aspectos da vida pública.

Em 1864, pouco depois do mérito «grandioso» que as lojas atribuem a si mesmas por terem desencadeado o maior ataque contra a Igreja católica na sua pátria de eleição (Roma e a Itália), os artigos 3 e 7 das constituições da Maçonaria italiana estabelecem: «Art. 3. Sua finalidade [da Maçonaria] directa e imediata é concorrer eficazmente à realização progressiva destes princípios na União, para que se tornem gradualmente lei efectiva e suprema de todos os actos da vida individual, doméstica e civil»; «Art. 7. A última meta dos seus trabalhos é a de reunir todos os homens livres numa grande família, que possa pouco a pouco suceder a todas as seitas fundadas na fé cega e na autoridade teocrática, todos os cultos supersticiosos, intolerantes e inimigos entre si, a fim de construir a verdadeira e única igreja da humanidade».

«Personificação permanente da revolução, [a Maçonaria] constitui uma espécie de sociedade ao contrário, cujo fim é um predomínio oculto sobre a sociedade visível e cuja razão de ser consiste na guerra contra Deus e a sua Igreja», escreve Leão XIII em 1902, pouco antes de morrer.

«A firme condenação da Igreja contra a Maçonaria», conclui Pellicciari, «contra todo o tipo de maçonaria vale até hoje, como recordou explicitamente o cardeal Ratzinger na declaração sobre a Maçonaria, de 1983».