segunda-feira, 13 de junho de 2016
Hoje celebra-se o Anjo de Portugal
Hoje celebra-se o Anjo de Portugal, que apareceu aos pastorinhos preparando a aparição de Nossa Senhora.
Tudo indica ter-se tratado de São Miguel Arcanjo.
domingo, 12 de junho de 2016
Por acaso, um acaso sem acaso algum
Helena Matos, Observador, 9 de Junho
de 2016
Alexandra Leitão, a secretária de Estado Adjunta e da
Educação, declarou que as suas filhas «por acaso não estudam» numa escola
pública. Mas qual acaso? Não vejo nisso acaso algum mas sim uma escolha.Alexandra
Leitão, a secretária de Estado Adjunta e da Educação foi entrevistada
pela Visão. A dado momento da entrevista afirma o jornalista a
propósito das filhas de Alexandra Leitão: «Não lhe vou perguntar se elas estudam numa escola pública…»
Há anos que entre nós vigora este paradoxo jornalístico:
sendo o jornalista por definição alguém que faz perguntas, em Portugal não se
pergunta em que escolas estão inscritos os filhos de quem nos governa,
sobretudo se esse alguém defender as causas queridas da comunicação social e
disser aquelas coisas redondas sobre as maravilhas da escola pública. Contudo é
aí que está o busílis da questão, como bem se percebe pela resposta da senhora
secretária de Estado que, perante o interdito do jornalista, avança
prontamente: «Mas eu respondo: por acaso não estudam (risos). As minhas
filhas fizeram o jardim-de-infância e a primária numa escola pública. E agora
estão na Escola Alemã.»
De que rirá a senhora secretária de Estado? Certamente da
papalvice do país que não estranha aquele «por acaso». Mas qual acaso? Estarão
as filhas da senhora secretária de Estado numa escola que sorteia vagas nos
pacotes de cereais? Iam as filhas da senhora secretária de Estado pela Segunda
Circular e aquele boneco que está plantado no telhado da Escola Alemã
perguntou-lhes «Passaram aqui por acaso? Então saiam na primeira à direita
porque ganharam o direito a frequentar esta escola!»Vai desculpar-me a senhora
secretária de Estado mas não vejo aqui acaso algum. Vejo sim uma escolha, muito
louvável até, de uma das mais reputadas escolas de Portugal. Mas detalhemos então
o «acaso» que levou as filhas da senhora secretária de Estado Adjunta e da
Educação a uma escola muito diferente daquela que o Ministério de que ela é
secretária de Estado promove: «A opção pela Escola Alemã tem a ver com a opção por um
currículo internacional. Para mim era importante que elas tivessem uma educação
com duas línguas que funcionem quase como maternas, digamos assim. Se assim não
fosse, andariam obviamente numa escola pública.»
Francamente, senhora secretária de Estado, há inúmeras
escolas neste país em que se falam duas ou mais línguas. Por exemplo, em
algumas escolas da Amadora fala-se português e crioulo. Eu percebo que a
senhora secretária de Estado prefira o alemão ao crioulo como segunda língua
para as suas filhas. Mas isto, sou eu a falar. Eu, cujos filhos frequentaram
escolas públicas e privadas nada por acaso mas simplesmente porque em cada
momento se procurou escolher o que seria melhor para eles. Por exemplo, se eu
escolhesse a Escola Alemã para os meus filhos nunca o faria para que eles
dominassem o alemão – a facilidade com que as crianças e os jovens aprendem
línguas dispensava-me desse esforço financeiro – mas sim por causa do rigor,
dos métodos de trabalho e da disciplina que ali são incutidos. Mas claro isto
sou eu de novo a falar e eu como se sabe faço parte daquelas pessoas que acham
que todos temos de ter o direito a escolher a escola dos nossos filhos sem
termos de inventar moradas para que eles vão para uma boa escola pública ou
argumentos politicamente correctos que justifiquem a opção por uma boa escola
privada.
Este sistema escolar que a senhora secretária de Estado
defende – com os filhos dos outros nas escolas públicas e os nossos numa escola
privada por causa de uma circunstância que não suscita polémica como os
horários ou a segunda língua – tornou-se em Portugal um mecanismo que não só
reproduz como acentua as fragilidades e as vantagens comparativas do meio de
origem dos alunos. E foi nesta engrenagem que, qual grão de areia, entraram os
contratos de associação.
O que está em causa, o que irrita nos contratos de
associação é que milhares de famílias viram naqueles contratos algo em que
muitos já desistiram de acreditar na rede pública: a escola enquanto factor de
inclusão e ascensão social. Por outras palavras, eles não podem colocar os
filhos na Escola Alemã mas também não os querem nas madrassas do senhor
Nogueira. Querem apenas, dentro de um reduzido lote de escolas, escolher aquela
em que os seus filhos vão fazer a escolaridade obrigatória. Mas o que a senhora
secretária de Estado diz é que, além da escolaridade obrigatória, os filhos dos
outros, para mais devidamente arrumadinhos socio-geograficamente pelos
critérios de matrícula nas escolas públicas (para quando a discussão sobre
esses critérios?), têm ainda o dever de frequentar obrigatoriamente as escolas
da rede pública. Pois, senhora secretária de Estado, aquelas escolas onde
passar de uma má para uma boa é o que de mais difícil existe em Portugal para
aquelas famílias que não têm contactos, nem são filhos de alguém…
Mouraria ou Chinatown?
Maria João Marques, Observador, 8 de Junho de 2016
Já estamos em boa hora de começar a ver uma expropriação de propriedade privada como o último recurso de qualquer problema. E de fazermos t-shirts com o slogan «nem mais um metro quadrado para a CML».
Fernando Medina – presidente da Câmara de Lisboa em punição por todos os pecados da capital – é o político socialista exemplar. «Inimigo dos automobilistas e voraz com os recursos dos lisboetas» seria um bom mote para a sua campanha de 2017.
Fernando Medina – presidente da Câmara de Lisboa em punição por todos os pecados da capital – é o político socialista exemplar. «Inimigo dos automobilistas e voraz com os recursos dos lisboetas» seria um bom mote para a sua campanha de 2017.
Já muita gente escreveu sobre a mesquita que a CML entendeu por bem tomar as dores de construir e a hipocrisia flagrante de pretender defender o Estado laico radical, rasgando contratos de associação livremente estabelecidos pelo Estado para poupar as susceptíveis criancinhas à exposição ao ópio do povo por um lado, e, por outro, correr a substituir-se à comunidade islâmica na construção de uma mesquita. E se calhar atrás da mesquita vem a madrassa e a querida câmara socialista de Lisboa é bem capaz de decidir – para mostrar como somos tolerantes, multiculturais e essas virtudes teologais do credo esquerdista – contribuir financeiramente para a catequese muçulmana dos alunos da mesquita da Mouraria. Depois, claro, de ter protegido as crianças portuguesas – mesmo as das famílias ignaras que até queriam e gostavam – da exposição a essa praga maior da vida portuguesa que é o cristianismo.
Para os argumentos sobre laicidade dirijam-se se faz favor aos textos de João Miguel Tavares e Sebastião Bugalho. Eu gostava de acrescentar outro argumento: o Estado devia (como quase sempre) estar quieto. Ao contrário do que dizem os fãs do projecto – e até João Miguel Tavares – não faz qualquer sentido construir naquela zona uma mesquita. Porque há vários séculos aquela zona era habitada por islâmicos devemos agora lá construir uma mesquita? Porque se abriram lá lojas de proprietários paquistaneses e bangladechianos temos de lhes oferecer um local de culto? E a população chinesa da zona, que é pelo menos tão numerosa e visível? Está já em estudo pelos assessores dilectos de Medina a construção de um templo a Confúcio? Outro a Mêncio? Foi encomendada alguma estátua da bodhisattva Guanyin?
E que dizer da injustiçada população hindu que durante muitos anos habitou e trabalhou naquela mesmíssima zona? Nunca dei por nenhum canto – menos ainda construção de três milhões de euros a expensas do contribuinte da praxe – evocativo de Shiva. Ou – para ser visualmente ainda mais apelativo – um altar a Ganesh, o deus elefante. Mas devo estar a ser injusta: provavelmente foi algum temor de Kali, a destruidora, que impediu os socialistas lisboetas, tão amantes do culto alheio, de assim ignorarem os justos anseios religiosos dos muitos hindus que já passaram pela Rua da Palma.
Por várias razões conheço bem a zona de Lisboa onde se pretende construir a mesquita. Uma delas foi ter morado uns anos um bocado mais para cima na encosta e mais para o lado. Recuperei uma casa por lá quando ainda toda a gente me olhava com ar de «já tomaste os comprimidos?» quando lhes dizia que ia morar para o meio da Lisboa antiga – e, então, muito desmazelada.
Foi uma epopeia. Os vizinhos, uns velhotes reformados e outros possivelmente recebedores do RSI e permanentemente desocupados, tinham como entretenimento diário chamarem a polícia municipal para vasculharem as obras que fazia (isto depois de um tempo longo à espera da aprovação do projecto de arquitetura e das especialidades e da emissão da licença de obras). O gabinete técnico claramente via como missão civilizacional dificultar de formas imaginativas a recuperação de um apartamento. Havia que defender uma zona com população envelhecida e habitações degradadas da intromissão de pessoas de vinte anos que lá queriam residir. Que lata (a minha, obviamente).
Entretanto estes cenários persecutórios já se alteraram. O licenciamento ficou mais fácil – e as loucuras dos arquitectos camarários que pretendiam pôr as pessoas a viverem naqueles prédios como se vivia em 1795, a bem da pureza arquitectónica da zona, foram contidas. Eu, às tantas, mudei-me.
Vieram os paquistaneses e os chineses. Depois vieram os turistas e, também, mais gente nova que, como eu, aprecia casas antigas restauradas e as vistas deslumbrantes de Lisboa. Há mais jardins (aqui aplaude-se a CML) e os prédios têm vindo a ser recuperados – por privados. Os problemas de estacionamento continuam por resolver (assim vão ficar, que a prioridade do PS são ciclovias, que ninguém usa, espalhadas pela cidade) e, sobretudo, os prédios propriedade da CML estão sem obras, velhos, estragados.
Conto isto para mostrar que aquela zona é dinâmica – também graças aos imigrantes que lá se instalaram, que dão colorido, movimento e interesse. A população tem tido alterações nos últimos anos e não cabe à CML cristalizar o bairro com uma mesquita como se os muçulmanos que vivem em Lisboa lá fossem sempre ficar.
E se se fizer mesmo questão de fornecer um local para uma mesquita naquela zona? Há soluções muito melhores e mais baratas: é conceder à comunidade islâmica o uso por n anos de um dos prédios decrépitos da CML na zona. Já estamos em boa hora de começar a ver uma expropriação de propriedade privada como o último recurso de qualquer problema. E de fazermos t-shirts com o slogan «nem mais um metro quadrado para a CML».
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