quarta-feira, 24 de maio de 2017

Anda um pai a criar uma filha para isto…


Laurinda Alves, Observador, 23 de Maio de 2017

Estes rapazes e raparigas terão os seus filhos e as filhas, e uma das grandes interrogações também passa por saber como agiriam se soubessem que as suas próprias filhas se vendem por um par de shots.

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segunda-feira, 22 de maio de 2017

Quando Reagan disse que os pastorinhos eram mais poderosos que o seu exército

Quando Reagan disse que os pastorinhos eram mais poderosos que o seu exército

Filipe d’Avillez, 11 de Maio de 2017

O Presidente dos Estados Unidos evocou o exemplo dos pastorinhos de Fátima quando discursou no Parlamento, em Lisboa, em 1985.

Quando os deputados portugueses se sentaram na Assembleia da República para ouvir discursar Ronald Reagan, em 1985, poucos esperariam uma referência a Fátima e aos pastorinhos. Mas foi isso que aconteceu.

Já na fase final do seu discurso, Reagan abordou a dimensão religiosa do homem. «A nossa reivindicação de liberdade humana e a nossa sugestão de que os direitos inalienáveis vêm de alguém maior do que nós estão ancoradas no transcendente», disse, para depois evocar João Paulo II, seu amigo e aliado na luta contra o comunismo.

«Ninguém fez mais para recordar o mundo da verdade da dignidade humana, bem como do facto de que a paz e a justiça começam com cada um de nós, que aquele homem especial que veio a Portugal há uns anos depois de ter sofrido um terrível atentado. Veio cá, a Fátima, o local do vosso grande santuário, movido pela sua especial devoção a Maria, para pedir pelo perdão e pela compaixão entre os homens, para rezar pela paz e o reconhecimento da dignidade humana através do mundo», disse Reagan.

Mas o mais surpreendente ainda estava para vir. «Quando me encontrei com o Papa João Paulo II, no ano passado, no Alasca, agradeci-lhe pela sua vida e pelo seu apostolado. Atrevi-me a sugerir que o exemplo de homens como ele e nas orações de pessoas simples em todo o mundo, pessoas simples como os pastorinhos de Fátima, reside mais poder do que em todos os grandes exércitos e estadistas do mundo.»

Reagan concluiu então, dizendo que apesar de ele ser Presidente de uma das duas superpotências mundiais, vinha a Portugal também para aprender sobre o poder. «Isto também é algo que os portugueses podem ensinar ao mundo. Porque a grandeza da vossa nação, como a de qualquer nação, reside no vosso povo. Pode ser vista no seu dia-a-dia, nas suas comunidades e vilas, e sobretudo nas igrejas simples que pontuam a vossa terra e que dão testemunho de uma fé que justifica todas as reivindicações de dignidade e liberdade dos homens.»

«Digo-vos que é aqui que está o poder, aqui se encontra a realização final do sentido da vida e do propósito da história e aqui se encontra a fundação para uma ideia revolucionária – a ideia de que os homens têm o direito de determinar o seu próprio destino.»

A história deste discurso foi revelada num artigo escrito pelo historiador Paul Kengor, na revista Crisis. O autor recorda que Tony Dolan, o principal autor dos discursos de Reagan, era um católico devoto que conhecia bem Fátima. Dolan confirmou a Kengor que o Presidente, apesar de não ser católico, estava a par do fenómeno.

«Ele sabia de Fátima. Fátima era uma parte importante do movimento anticomunista. O movimento de Fátima era algo que ele teria conhecido e, para além disso, ele tinha uma vertente mística muito forte.»

Por isso Dolan incluiu a frase no discurso: «Eu sabia que ele ia gostar e que a iria usar. Tinha a certeza. Foi muito atrevido».

Mas o interesse de Reagan por Fátima não se ficou por aí. Em 1987 o Presidente ia novamente encontrar-se com o Papa, em Roma, e sabendo da importância de Fátima para João Paulo II quis inteirar-se totalmente sobre o assunto. O homem encarregue de o fazer foi o embaixador dos EUA junto da Santa Sé, Frank Shakespeare, que, por coincidência, tinha sido embaixador em Lisboa antes de ser colocado no Vaticano.

«Falei com o Reagan sobre Fátima na viagem, tanto no avião como no carro. E ele escutou com muita, muita atenção – estava muito atento. Estava mesmo muito interessado», recorda Shakespeare, em conversa com Kengor.

A julgar por estes testemunhos, dos líderes mundiais da altura, não era apenas o Papa João Paulo II que Fátima tinha um papel importante a desempenhar na luta contra o comunismo.




domingo, 21 de maio de 2017

Mais real que a pedra


José Maria C.S. André, Correio dos Açores, 21 de Maio de 2017
Verdadeiro Olhar,  ABC Portuguese Canadian Newspaper,  Spe Deus, Clarim, O Alcoa,

Correu nestes dias, nos meios de comunicação social, uma polémica muito «século XIX», acerca da natureza das aparições de Fátima. Uns 100 anos antes de Nossa Senhora aparecer em Fátima, estava no auge o esforço de classificação teológica, como se houvesse o intuito de fazer concorrência à matemática. Os manuais de doutrina cristã muito «século XIX» pareciam listas meticulosas de virtudes, de vícios, de graças ...enumerações de tudo! Felizmente, essa época chegou ao fim e não há entusiasmo para repetir a experiência. Fátima, que pertence já ao século XX, fica a anos-luz das alíneas de um catálogo.


Em primeiro lugar, apresenta-se com uma exigência invulgar. Não propõe uma religião anti-stress, em ritmo «Zen», mas fala de realidades extremas, como a vida e a morte, o Inferno e o Paraíso, num desafio sublime: «quereis oferecer-vos a vós mesmos?...», «quereis consolar o vosso Deus?...». Até onde vai o radicalismo do vosso amor?

Em face disto, discutir a classificação, ou as circunstâncias é ficar completamente aquém.

As aparições põem diante de nós um outro mundo, tão real como aquele que respiramos, mas diferente. Os Anjos não têm corpo. No entanto, os Pastorinhos viram e ouviram um Anjo. Em Fátima, em 1917, também outras pessoas, sem terem visto o Anjo ou Nossa Senhora, viram brilhos invulgares, viram os ramos das árvores vergar-se ao peso de um corpo invisível. Como é ver um Anjo? Explicar demasiado só acrescenta palavras à constatação.


Os corpos gloriosos têm igualmente o seu próprio mistério. A Bíblia apresenta-nos as aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos e o mistério desses encontros. Algumas vezes, Jesus atravessou as paredes de uma casa fechada. Outras, tinha o aspecto habitual... mas era diferente. Pensaram numa fantasia e Jesus teve de comer com eles para lhes mostrar que era real. Para não parecer talvez um sósia estranho, foi preciso Jesus mostrar-lhes as feridas da crucifixão. Depois de uma pescaria impressionante, os apóstolos reconheceram que era Ele, mas não exactamente como antes, como quando se revê uma pessoa depois de muitos anos. Os dois discípulos de Emaús acompanham-no uma tarde inteira e só ao jantar O reconheceram e – de repente –, quando o reconhecem, desaparece da sua presença. Maria Madalena, dirige a palavra a Jesus junto do sepulcro, mas só percebe com quem está a falar quando Lhe ouve a voz e Jesus a chama pelo nome. O corpo ressuscitado de Jesus ou o corpo de Maria mudaram, mas não deixaram de ser reais.

S. Paulo encontrou uma maneira acertada de falar da ressurreição: semeia-se nesta terra uma semente terrena e encontraremos no Céu uma árvore frondosa. A árvore e a semente são a mesma planta, apesar de não parecerem. Quando ressuscitarmos continuaremos a ser nós próprios, ainda que agora não se consiga imaginar como seremos. Cada um é distinto em bebé, em adolescente, ou na idade adulta, mas é sempre a mesma pessoa. Assim também no Céu.


O real não se esgota no comum e Deus pode alargar a realidade que a vista alcança. Habitualmente, não vemos Anjos, nem vemos Jesus ou os Santos, tal como os Pastorinhos de Fátima também não viam habitualmente senão realidades comuns. No entanto, por momentos, apareceu-lhes o que não costuma ver-se nem ouvir-se.

Nas aparições de Fátima, Nossa Senhora brilha, como uma luz transparente, de uma beleza deslumbrante. Se é tão difícil descrever uma paisagem ou uma fisionomia comum, quanto mais difícil é falar do Céu e de pessoas que ressuscitaram.


Às vezes, proponho-me o desafio descrever aquele grupo escultórico que está no meio das rochas, na Loca do Cabeço, representando o Anjo e os três Pastorinhos. É pedra, bem sei, mas as figuras transparecem uma tensão calma, uma concentração interior que não cabem nas minhas palavras. Onde é que a Maria Amélia Carvalheira foi buscar a inspiração? Só uma escultora genial consegue captar uma realidade tão complexa e «extrair vida» de um bloco de pedra. Depois, tento imaginar a realidade. Porque, a realidade do Anjo e de Nossa Senhora é de ainda outra ordem, nada se lhe compara em brilho, em beleza, ou em importância. Se fosse imaginação, a mensagem de Fátima seria parecida ao relaxamento da música «Zen», mas é mais real que a pedra.