sexta-feira, 12 de setembro de 2014


O Próximo-Oriente sem cristãos?


Pedro Vaz Patto

Os Cristãos do Oriente Vão Desaparecer? Com este título foi publicado em França em 2008 (Ed. Salvador) um livro da autoria da investigadora e jornalista Annie Laurent. A emigração crescente e a fuga de guerras e perseguições já então justificava esse receio. Um receio que atinge agora o seu cume com o êxodo da comunidade assíria da região iraquiana de Mossul, colocada pelo Exército Islâmico do Iraque e do Levante perante as alternativas da conversão ao Islão, do pagamento de um imposto de valor incomportável para a grande maioria, ou da morte. As propriedades deixadas desocupadas pelos que fogem são marcadas com a letra inicial da palavra «nazareno» (nome por que são designados os cristãos no Alcorão), sinal que permite o confisco das mesmas.


A presença do cristianismo nesta região remonta ao século II (muito antes do Islão) e os cristãos iraquianos, como outros cristãos do Próximo-Oriente, são de cultura árabe (não ocidental) e, ao longo da história, muito têm feito para valorizar essa cultura (foram cristãos os autores dos primeiros dicionários de árabe moderno, por exemplo).

...

Annie Laurent, autora do livro acima referido, numa entrevista recente, vai mais longe e afirma, a respeito do papel das minorias cristãs no Próximo-Oriente: «podem trazer o progresso, a abertura, os valores do Evangelho – o perdão, por exemplo, o sentido da gratuidade, ou ainda o do bem comum»«são uma minoria, mas as suas escolas, hospitais e obras socias são abertos a todos»; «o elemento cristão serve a unidade do Próximo-Oriente».







quarta-feira, 10 de setembro de 2014


Baldes genocídas


Nuno Serras Pereira

Não saberei dizer por que carga d’água andam, ao que consta, milhões de pessoas, num frenesim confrangedor, despejando águas glaciais em si próprias, que exibem vaidosamente na Inter-rede e em outros meios exibicionistas de massa.

Alguns, suspeito, arguir-me-ão de idiota, o que sou levado a concordar, ou, pior ainda, de coração empedernido, alheio à solidariedade, à compaixão, carente de um mínimo de misericórdia. Como se eu não soubera ou fosse indiferente a que tudo se destina à investigação médico-científica, no intuito de encontrar tratamento e cura para um enfermidade tremenda, a saber, a Esclerose Lateral Amiotrófica[1].

A verdade, porém, é que sei muito bem a finalidade do dinheiro arrecadado e não sou, graças a Deus, insensível às vítimas dessa terrível doença, que gostaria e espero que seja erradicada.

O problema é que essa tal «investigação científica» não passa de um disfarce para interesses inconfessáveis que nada têm a ver com esse flagelo. De facto, a tal «investigação» não passa de experimentações letais, homicidas, feitas em pessoas humanas no início das suas vidas, destinadas a sucumbir como cobaias animais. Acresce que até hoje nunca as células estaminais arrebatadas a centenas de milhares de pessoas embrionárias, assim liquidadas, conseguiram algum resultado proveitoso para a medicina, para ajudar a saúde. Pelo contrário, as consequências têm sido catastróficas. Pelo contrário, as células estaminais adultas ou as células estaminais pluripotentes induzidas (iniciais em inglês: iPSCs), que não envolvem nenhum ataque à vida nem à integridade de qualquer ser humano, sendo por isso, ao contrario das outras, eticamente aceitáveis e mesmo recomendáveis, constituem um caminho que já deu provas em tantas ocasiões e se apresenta como promissor no que a esta enfermidade diz respeito.

Como é que é possível então que não haja ninguém com ascendência e responsabilidade que denuncie esta barbaridade, que faz cruelmente, com aparências hipócritas de civilidade e solidariedade, muitíssimo mais vítimas que o auto-intitulado califado islâmico? Em Roma, sabe-se isto muito bem e, no entanto, o silêncio impera. Medem-se então as pessoas aos palmos?! A Igreja que tanto prega a Misericórdia não tem uma palavra, um gesto, uma atitude que ajude a pôr cobro a esta infâmia ignóbil. Será que há pessoas humanas que são mais ou menos que as outras conforme os aplausos e as conivências daquele mundo subjugado pelo diabo? Não têm direito aquelas pessoas, até sacerdotes!, que arrastam as suas ovelhas, de boa-fé, a cumpliciarem-se com os tiranos sanguinários, de escutarem uma palavra de esclarecimento e de denúncia que ponha cobro a esta abominação?

Peço instantemente a Deus, que não permita que eu venha a ganhar o cheiro das ovelhas e que me conceda a Graça de me perfumar com o Seu cheiro para que o comunique a todas aquelas com que tenha contacto, e desse modo espalharmos a Sua fragrância de Santidade que dê remédio ao fedor fétido e nauseabundo que impregna os dias de hoje. À honra de Cristo, do Seu Sagrado Coração e do Coração Imaculado de Maria. Ámen.


[1] Devo dizer que estou de tal modo habituado a que me zurzam violentíssimas bastonadas por tudo aquilo que digo ou escrevo que, numa primeira fase, se foi formando em mim uma carapaça de tal modo sólida e consistente que me insensibilizou a qualquer golpe; mas que, de um modo inesperado, desapareceu deixando-me vulnerável, padecendo tudo com enorme gozo e verdadeira letícia (alegria).






segunda-feira, 8 de setembro de 2014


Vandalismo


Gonçalo Portocarrero de Almada

Do alto da coluna que lhe serve de pedestal, temo que Afonso de Albuquerque esteja preocupado. Não pelo calor estival, que o não incomoda, nem pelo seu vizinho, o inquilino oficial do palácio de Belém, a quem dá as costas, não por desrespeito com o dito, mas para poder estar de frente para o Cristo-Rei que, da outra margem do Tejo, saúda e benze a capital. Outra é a eventual preocupação do «terríbil»: a sua sobrevivência está em causa com a retirada, da Praça do Império, dos símbolos heráldicos dos mundos que Portugal deu ao mundo.

A supressão dos brasões das antigas possessões ultramarinas, mais do que a razões económicas, obedece a motivações políticas. Entendem alguns que estão fora de moda. Mas não o estão menos o mosteiro dos Jerónimos, a torre de Belém ou o padrão dos Descobrimentos. Pela mesma razão, o próprio Afonso de Albuquerque, tão politicamente incorrecto, deveria ser apeado e saneado, à moda do PREC.

Uma parelha de vândalos.

Poucos são os países europeus que têm uma história tão antiga como a portuguesa, ou que se podem orgulhar de uma gesta comparável aos nossos descobrimentos. Contudo, há quem, em Portugal, esteja empenhado em destruir o que resta dessa gloriosa memória, esquecendo que esses marcos históricos definem, com a nossa língua e o restante património artístico nacional, a nossa identidade como nação.

Há vandalismo em destruir ou danificar os monumentos históricos, mas também o há em apagar, das nossas praças, as poucas expressões que ainda recordam o nosso império. Se o buxo não compensa, gravem-se em pedra esses escudos, que não são apenas os nossos anéis, mas os nossos braços e mãos. Mais do que meras evocações da passada grandeza nacional, são penhor da nossa esperança. Mais alto do que o Albuquerque, «levantai, hoje de novo, o esplendor de Portugal!»