D. Nuno Brás lamenta que os europeus se preocupem mais com a possibilidade de acabar a moeda única do que com a sua própria existência e futuro. Só assim entende que em vários países se esteja a liberalizar cada vez mais quer o aborto quer a eutanásia.
«Não deixa de ser interessante quando estamos muito aflitos que o euro vai desaparecer, ou que a União Europeia vai desaparecer, depois não ficamos nada aflitos, antes pelo contrário, fazemos estas leis e estas normas. Eu creio que aqui se vê muito bem o que é que conta para a Europa neste momento - é o dinheiro, é o ter, os valores estão completamente invertidos», refere o bispo-auxiliar de Lisboa.
Para D. Nuno Brás a Europa tem de alterar o rumo porque corre o risco de desaparecer: «Eu espero que Portugal e a Europa toda, a dada altura, ponham a mão na consciência e percebam que assim caminhamos para o desaparecimento da Europa. Agora, não me parece que seja inevitável. Espero eu, quando chegar aos 70 anos, que já existam leis que proíbam claramente a eutanásia e o aborto. Espero que sim, que a humanidade seja capaz de caminhar para uma viragem de razoabilidade. Temos de ser pessoas de esperança».
Já a jornalista Aura Miguel considerou particularmente alarmante, e um sinal evidente da decadência da Europa, o caso holandês onde a legislação desvaloriza cada vez mais a vida na sua fase final: «na Holanda, como sabem, agora é de tal maneira liberalizada a eutanásia que muitos idosos estão a fugir para lares na Alemanha porque têm medo de entrar no Hospital e matarem-nos. Andam com cartões a dizer: por favor não me matem».
A questão do aborto e da eutanásia foi levantada no debate desta quarta-feira à noite, na Renascença, a propósito da «Cimeira Global Pró-Vida» que sexta-feira e sábado vai reunir, em Lisboa, responsáveis de vários países. Portugal estará representado no encontro pela Comissão Nacional Pró-Referendo à Vida que já reuniu quase metade das 75 mil assinaturas necessárias para convocar uma consulta popular visando o «reconhecimento da inviolabilidade da vida humana, desde a concepção até à morte natural».
O juíz Pedro Vaz Patto, outro dos participantes no debate, admitiu que Portugal até possa vir a referendar de novo o aborto, mas para isso são necessárias algumas garantias: «Embora os referendos que houve não sejam vinculativos, por questões políticas, é natural que a lei em vigor só possa vir a ser alterada por outro referendo. Esta iniciativa é de saudar na medida em que representa uma reacção a esta ideia de resignação, de que não há nada a fazer. Agora, a mim parece-me que para além de requerer o referendo é necessário que haja garantias de que o resultado não seja igual ao último, a começar pela indiferença das pessoas que levou muitos a nem sequer votar».
«Garantir que o resultado seja diferente supõe uma mudança de mentalidade que infelizmente eu ainda não vejo na sociedade portuguesa», acrescentou.
O Juiz Vaz Patto recorreu, ainda, ao exemplo da Polónia para mostrar que não há leis irreversíveis: «Neste âmbito da legislação relativa ao aborto tem-se um bocadinho a ideia de que há uma irreversibilidade, quando há uma alteração no sentido da liberalização não se volta atrás, mas não tem sido assim em todos os países. A Polónia, por exemplo, onde no tempo do comunismo o aborto foi banalizado ao extremo, hoje tem uma lei bastante restritiva e ainda recentemente foi feita uma proposta no sentido da proibição total do aborto que por muito pouco não foi aprovada».
No debate, moderado pela jornalista Ângela Roque, falou-se ainda do encontro da Pastoral da Saúde, a decorrer em Fátima, dos últimos dados do desemprego em Portugal, do 1º de Maio e da polémica campanha de uma cadeia de supermercados que arrastou milhares de portugueses para as compras no Dia do Trabalhador.
Lembrou-se ainda o primeiro aniversário da beatificação de João Paulo II e a perseguição aos cristãos que fez novas vítimas no Quénia e na Nigéria.