Rui Pedro Antunes, Diário de Notícias, 17 de Setembro de 2013
Eleições. As duas maiores obediências maçónicas
nacionais têm mais candidatos do que várias forças políticas inscritas no
Tribunal Constitucional. Há 24 «candidatos irmãos» à presidência de autarquias,
20 a vereadores, 31 à assembleia municipal e 6 a juntas de freguesia.
Por muito que os grão-mestres insistam que a
maçonaria não se intromete na política, o que é certo é que há forças políticas
com menos candidatos às próximas eleições autárquicas do que as duas principais
obediências nacionais. São mais de 80 os maçons que vão tentar conquistar
cargos autárquicos em 43 autarquias um pouco por todo o País (incluindo ilhas)
entre candidatos a presidentes de câmara, vereadores, deputados municipais e
presidentes de junta. Há 24 maçons que concorrem mesmo à presidência de
autarquias maioritariamente em listas do PS e do PSD, mas também como
independentes. Existem igualmente casos em que «irmãos» da mesma loja se
enfrentam em listas contrárias dos partidos do «centrão» e favoritas à vitória.
Ou seja: PS e PSD podem não ter representantes na gestão da autarquia, mas é
quase garantido que a loja maçónica local terá.
A solidariedade maçónica até já fez uma baixa, e
logo ao mais alto nível, durante o período eleitoral: levou à demissão do
presidente do Conselho Nacional de Eleições (CNE). Tudo começou com a tentativa
de impugnação da candidatura de Francisco Moita Flores – que pertence à Loja
Acácia do Grande Oriente Lusitano (GOL) – à Câmara Municipal de Oeiras. Os seus
opositores alegavam que havia atingido o limite de mandatos e o caso foi – como
muitos outros – parar a tribunal.
Até aqui tudo normal, não fosse Moita Flores
contratar Nuno Godinho de Matos – advogado de profissão e «irmão» do GOL – para
o defender, tendo este confidenciado ao DN que aceitou o pedido sem pensar duas
vezes. O problema é que Godinho de Matos (Loja Liberdade e Justiça) era também
presidente da CNE e, como não podia deixar de representar o seu amigo e
cliente, demitiu-se da presidência da CNE. Godinho de Matos sofreu críticas do
seu partido (o PS) por defender e pôr-se em xeque pelo candidato do PSD. Porém,
a solidariedade maçónica e a amizade falaram mais forte. Ao DN, Godinho de
Matos admite que «o facto de sermos os dois irmãos da maçonaria e sermos amigos
há muitos anos pesou muito na minha decisão de o defender». Mas prontamente
acrescenta: «A principal razão que me levou a representar Moita Flores foi ver
que ele tinha carradas de razão e que alguém estava a querer ganhar eleições na
secretaria. Achei incrível e reagi epidermicamente. Decidi defendê-lo sem
pensar no problema ético que daí advinha.»
A candidatura à Câmara de Oeiras é, aliás, um campo
de batalha entre as duas principais obediências nacionais, o GOL e a Grande
Loja Legal de Portugal (GLLP). Candidato do PSD, Moita Flores é do GOL e tem
trocado tentativas de impugnação com a candidatura de Paulo Vistas (Isaltino
Oeiras Mais à Frente), o delfim de Isaltino Morais, que é figura de proa da
maçonaria regular e, embora detido, chegou ser indicado candidato à Assembleia
Municipal (foi travado pelo Constitucional). A entourage da
candidatura de Paulo Vistas conta até com um antigo adversário de Isaltino e
«irmão» da GLLP: Emanuel Martins. O agora administrador de uma empresa municipal
em Oeiras foi candidato do PS contra Isaltino, mas aliou-se ao adversário (e
«irmão»), tendo perdido confiança dos socialistas.
O PS não fica, porém, sem maçons nas suas fileiras,
equilibrando as contas com dois conceituados membros do GOL na disputa pela
autarquia. O candidato do PS à Assembleia Municipal de Oeiras é nada mais nada
menos que o antigo secretário-geral da UGT João Proença (Loja Montanha), e o
mandatário da candidatura é o ex-ministro e figura de destaque do GOL Rui
Pereira (Loja Luís Nunes de Almeida).
Estas guerras de forças vão-se repetindo por
diversas câmaras. Estão em causa autarquias e lugares importantes. Se ganhassem
a contenda, os maçons conseguiriam ter 24 presidentes de câmara, 20 vereadores
(incluindo cinco «vices») e 31 deputados municipais (incluindo 10 presidentes).
Só em Lisboa, os maçons do GOL e da GLLP tentam conquistar 12 lugares.
Viseu é um dos exemplos em que há dois «irmãos» da
mesma loja em candidaturas distintas. Tanto o candidato do PSD à presidência da
autarquia, Almeida Henriques, como o candidato do PS à Assembleia Municipal,
Ribeiro de Carvalho pertencem à Alberto Sampaio, a loja maçónica do GOL
instalada em terras de Viriato.
Na Figueira da Foz, a história das batalhas
maçónicas repete-se. O candidato do PSD, Miguel Almeida (Loja Madrugada),
enfrenta nas urnas Carlos Monteiro (Loja Coerência), que é o actual
vice-presidente da autarquia e volta a ser o n.° 2 na lista do PS à autarquia.
Os socialistas contam ainda com João Moura Portugal, que pertence à GLLP, e
José Guedes Correia, do GOL, como candidatos a vereadores.
Além de Lisboa, existem ainda outras grandes
autarquias «atacadas» por maçons. No Porto, Ricardo Almeida surge bem
posicionado como candidato a vereador na lista de Luís Filipe Menezes, contando
com o apoio do «irmão» de obediência e mandatário da candidatura: o ex-líder da
JSD Pedro Duarte. Carlos Carreiras, em Cascais, João Nunes em Loures (GOL, Loja
liberdade e Justiça), Manuel Machado, em Coimbra (GOL, Loja a Revolta), Almeida
Henriques, em Viseu, Moita Flores, em Oeiras, Júlio Meirinhos (vice-grão-mestre
da GLLP), em Bragança, Elísio Summavielle (GOL, Loja Sympatia e União), em
Mafra, ou Fernando Anastácio (GOL, Loja Utopia) em Albufeira mostram que os
candidatos da maçonaria concorrem em autarquias grandes e que, muitos deles,
são os mais bem posicionados para vencer.
«Irmãos» concorrem a lugares na capital
São pelo menos 12 os maçons que concorrem a lugares
autárquicos em Lisboa, que sempre teve uma tradição de ter «irmãos» na gestão.
A cidade, que até já teve dois presidentes de câmara maçons (Aquilino Ribeiro
Machado e João Soares), terá provavelmente agora pelo menos um vereador bem
colocado. As candidaturas dos dois maiores partidos – António Costa, pelo PS, e
Fernando Seara, pelo PSD – têm, curiosamente, maçons na mesma posição: o sexto
lugar, que é perfeitamente elegível, pelo menos para quem vencer as eleições de
29 de Setembro.
Do lado da candidatura laranja trata-se de Cal
Gonçalves, da Loja Prometeu (GLLP), que até já esteve na autarquia como chefe
de gabinete de Carmona Rodrigues, que, embora «profano» (não-maçon), recebeu
nessa altura uma distinção maçónica da maçonaria regular. Já do lado do PS, o
«candidato da maçonaria» é Duarte Cordeiro, que, ao contrário da esmagadora
maioria dos socialistas maçons, não é do GOL, pois pertence à mesma obediência
de Cal Gonçalves: a GLLP.
Duarte Cordeiro é, aliás, da mesma loja de Rui
Paulo Figueiredo, que é o venerável mestre da loja e vice-presidente da
obediência, sendo também o primeiro nome do PS na lista à Assembleia Municipal
de Lisboa (AML). Rui Paulo Figueiredo só fica atrás de Helena Roseta na lista à
AML – primeira da lista que entra na «quota» da plataforma de cidadãos que a
arquitecta dirige – tendo a companhia dos «irmãos» Diogo Campos Rodrigues,
Manuel Lage, Miguel Teixeira, Ricardo Saldanha e José Manuel Rosa do Egipto,
este último como suplente. O PSD aqui perde na contenda tendo apenas Rodrigo
Gonçalves da Silva como candidato à AML, embora posicionado num relevante quarto
lugar.
Há ainda quatro candidatos a presidentes de juntas
de freguesia do concelho de Lisboa que são maçons. O social-democrata Nuno
Jordão (Loja Nova Luz, da GLLP) é candidato a presidente da junta de freguesia
da Ajuda. Por sua vez os golistas Miguel Coelho (Loja Liberdade e Cidadania) e
Dimas Pestana (Loja Século XXI), candidatam-se às juntas de Santa Maria Maior e
Santo António, respectivamente.
Também do Grande Oriente
Lusitano é o músico Carlos Mendes, que, embora não seja candidato, é o mandatário
da candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara de Lisboa, liderada por um dos
líderes do partido: João Semedo. Independentemente de quem vença a corrida aos
órgãos autárquicos na capital, é certo que haverá maçons nas sessões da
assembleia e do executivo.