Visão
de São João
I
Os livros santos que entram em tantos detalhes sobre o homem do pecado, fazem-nos conhecer um misterioso agente de sedução que lhe submeterá a terra.
Este agente, ao mesmo tempo um e múltiplo, é, segundo São Gregório, uma espécie de corpo ensinante que propagará por toda a parte as perversas doutrinas da Revolução.
O Anticristo terá os seus ajudantes da ordem e os seus generais; possuirá um inumerável exército. Mal se ousa compreender (tomar ao pé da letra) o número que São João nos dá falando da sua cavalaria (Ap 9, 16). Mas ele terá sobretudo ao seu serviço falsos profetas como ele, iluminados do diabo, doutores de mentiras; inimigo pessoal de Jesus Cristo, macaqueará o divino Mestre, cercando-se de apóstolos ao contrário.
Falemos então, segundo São João, destes doutores ímpios que chamaremos pregadores do Anticristo.
II
São
João, no capítulo XIII do seu Apocalipse, descreve uma visão parecida com a de
Daniel. Ele vê surgir do mar um monstro único, reunindo em si mesmo uma horrível
síntese de todos os caracteres das quatro bestas vistas pelo profeta.
Este
monstro parece o leopardo; tem pés de urso, goela de leão; tem sete cabeças e
dez chifres.
Ele
representa o império do Anticristo, formado por todas as corrupções da humanidade.
Ele representa o próprio Anticristo que é o nó de todo esse conjunto violento
de membros incoerentes e díspares.
Chega-se
a ver o impostor, com o cortejo de cristãos apóstatas, muçulmanos fanatizados,
judeus iluminados, que o seguirão por todo o lado.
Ora,
enquanto São João considerava esta Besta, viu uma das cabeças ferida de morte;
depois a chaga mortal foi curada. E toda a terra se maravilhou com a Besta. Os
intérpretes vêm nisto um dos falsos prodígios do Anticristo; um dos seus
principais ajudantes da ordem ou talvez ele mesmo, aparecerá ferido gravemente,
acreditar-se-à que morreu, quando de repente, por um artifício diabólico, se
recuperará cheio de vida. Esta impostura será celebrada por todos os jornais,
muito crédulos nesta ocasião; o entusiasmo irá ao delírio.
«Então,
continua São João, os homens adorarão o dragão que deu o poder à Besta,
dizendo; quem é semelhante a ela, e quem poderá pelejar contra ela?».
Assim,
tanto o diabo será adorado como o Anticristo; e não será um duplo culto, o
primeiro sendo adorado no segundo. São João faz-nos assistir em seguida à
perseguição contra a Igreja.
«E foi
dada à Besta uma boca que proferia coisas arrogantes e blasfémias; e foi-lhe
dado o poder de fazer a guerra durante quarenta e dois meses».
Esta é
a mesma palavra de Daniel e designa o tempo da perseguição no seu paroxismo.
Quarenta e dois meses, é exactamente três anos e meio.
«E
abriu a sua boca em blasfémias contra Deus para blasfemar o seu nome, o seu
tabernáculo e os que habitam no céu».
«E
foi-lhe permitido fazer a guerra aos santos e vencê-los. E foi-lhe dado poder
sobre toda a tribo, povo, língua e nação».
«E
adoraram-na todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos no
livro da vida do Cordeiro, que foi imolado desde o princípio do mundo».
«Se
alguém tem ouvidos, ouça!».
«Aquele
que levar para o cativeiro, irá para o cativeiro; aquele que matar à espada,
importa que seja morto à espada. Aqui está a paciência e a fé dos santos». (13,
3-11).
É
assim que o apóstolo bem amado descreve a terrível perseguição. A todas as
ameaças juntam-se todas as seduções; disto resultará um fanatismo delirante que
lançará o mundo inteiro aos pés da Besta. Mas todos os assaltos do inferno
fracassarão diante da «paciência e a fé dos santos».
III
São
João descreve-nos em seguida o grande agente da sedução que dobrará os
espíritos dos homens ao culto da Besta.
«E vi
outra besta que subia da terra e que tinha dois chifres semelhantes aos de um
cordeiro, mas que falava como o dragão».
«E ela
exercia todo o poder da primeira besta na sua presença; e fez com que a terra e
os que a habitam adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal tinha sido
curada».
«E realizou
grandes prodígios, de maneira que até fez descer fogo do céu sobre a terra à
vista dos homens».
«E
seduziu os habitantes da terra com os prodígios que lhe foi permitido fazer
diante da besta, persuadindo os habitantes da terra que fizessem uma imagem da
besta, que tinha recebido um golpe de espada e conservou a vida».
«E
foi-lhe concedido animar a imagem da besta, de modo que falasse; e obrigar
todos os homens, sob pena de morte, a adorar a besta».
«E
fará que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tenham
um sinal na sua mão direita, ou nas suas frontes; e que ninguém possa comprar
ou vender, excepto aquele que tiver o sinal ou o nome da besta, ou o número do
seu nome».
«É
aqui que está a sabedoria. Quem tem inteligência, calcule o número da besta.
Porque é número do homem; e o número dela é seiscentos e sessenta e seis». (Ap
13, 11-18).
Tal é
a segunda parte da profecia de São João. São Gregório interpreta esta
misteriosa passagem no sentido, como dissemos, de que o Anticristo terá o seu
colégio de pregadores e de apóstolos ao contrário. E esses doutores da mentira
serão qualquer coisa como os nossos sábios modernos, misto de mágico ou
espírita.
Eles
terão a aparência do Cordeiro. Adoptarão na aparência as máximas evangélicas de
paz, de concórdia, de liberdade, de fraternidade humana; e debaixo dessas
aparências propagarão o ateísmo mais desavergonhado.
Eles
terão a aparência do Cordeiro. Apresentar-se-ão como agentes de persuasão,
respeitosos para com as consciências; e depois, farão morrer entre tormentos
aqueles que se recusarem a ouvi-los.
«Os seus
ouvintes, diz fortemente São Gregório, serão todos (réprobos) banidos; a sua táctica,
diz ele ainda, consistirá em proclamar que o género humano, durante as épocas
de fé, estava mergulhado nas trevas; e saudarão o advento do Anticristo como a
aparição do dia e o despertar do mundo» (Mor. in Job. lib. XXXIII).
Essas
pregações serão apoiadas por falsos prodígios. Instruídos pelo diabo e por o seu
agente a respeito de segredos naturais ainda desconhecidos, os missionários do
Anticristo espantarão e seduzirão as multidões com toda a espécie de
sortilégios; farão descer fogo do céu, e farão falar as imagens do Anticristo
que terão erigido.
Mas
isso não é tudo. Forçarão os homens, sob pena de morte, a adorar essas imagens
falantes. Obrigarão os homens a levarem na mão direita ou na testa, o número do
monstro. E aquele que não tiver esse número não poderá nem comprar nem vender.
Aí
aparece o terrível requinte da suprema perseguição. Aquele que não levar a
estampilha do monstro estará por isso mesmo fora da lei, fora da sociedade,
passível de morte.
Mas não vemos desde o presente se desenhar alguns ensaios dessa tirania?
O que são todos esses mestres do ensino sem Deus, senão os precursores
do Anticristo? A Revolução quer ter o seu corpo ensinante, encarregado
oficialmente de descristianizar a juventude, e de imprimir na testa de todos,
pequenos e grandes, pobres e ricos, a estampilha do Deus-Estado. O ensino
obrigatório e leigo não tem outro fim. Já se preparam leis para interditar a
entrada nas carreiras públicas de quem não tenha recebido a assinatura das
escolas do Estado. No dia em que essas leis abomináveis passarem, pode-se pôr
luto pela liberdade humana. Estaremos sob uma tirania sombria, sufocante,
infernal. O Anticristo poderá chegar.
Esperemos, a consciência pública é ainda bastante cristã e não suportará
tal tortura. Também procura-se, de todas as maneiras possíveis, adormecê-la.
Além disso, que os fiéis se consolem! Todos esses extremos só servirão,
nos desígnios de Deus, ao brilho da paciência e fé dos santos.
(In O
Drama do Fim dos Tempos – Pe. Emmanuel André – Pags. 20-24)