sábado, 23 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

La Repubblica associa resignação papal
a «relatório demolidor»

Pedro Duarte no Diário Económico21.02.2013

O diário italiano «La Repubblica» noticia hoje que na base da renúncia de Bento XVI estará um relatório sobre a corrupção na Igreja.

No passado dia 17 de Dezembro, Bento XVI terá recebido um «relatório demolidor» de 300 páginas, elaborado por três dos mais experientes cardeais do Vaticano, relativamente à investigação sobre os documentos roubados da residência do Sumo Pontífice, adianta a edição de hoje do «La Repubblica».

Segundo o jornal, o documento diria que poderão ser revelados muitos escândalos sobre as lutas de poder dentro da Cúria romana, desvios de dinheiro e a verdadeira força do poder do «lobby gay» na Igreja, informações que seriam tão «demolidoras» que convenceram o Papa a decidir que o melhor caminho a seguir seria o de deixar o cargo, de modo a permitir que um Pontífice mais novo e enérgico tome o poder no Vaticano e leve a cabo uma «limpeza profunda» da Igreja.

«Tudo gira em torno da observação do sexto e sétimo mandamentos: não cometerás actos impuros e não roubarás», disse ao periódico uma fonte «muito próxima» dos autores do relatório.

O «La Repubblica» recorda um escândalo que estalou em 2010, quando foi descoberto que um membro do coro da Capela Musical da Basílica Papal de São Pedro no Vaticano, o nigeriano Chinedu Eheim, oferecia serviços sexuais com menores, incluindo seminaristas, e que estes tinham lugar tanto em Roma como dentro das paredes do próprio Vaticano.

«Existe uma rede transversal unida pela orientação sexual. Pela primeira vez, a palavra ‘homossexualidade' foi pronunciada e lida em voz alta a partir de um texto no apartamento de Ratzinger. E pela primeira vez foi falado, embora em Latim, sobre a palavra ‘chantagem'(‘Influentiam')», lê-se no texto do jornal, que cita as revelações que os cardeais teriam feito ao Papa durante a apresentação secreta das suas conclusões finais.

Como consequência, prossegue o «La Repubblica», Bento XVI decidiu demitir-se, afirmando que «este relatório deve ser entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera».


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Socialistas catalães querem a resignação
do rei Juan Carlos


O responsável do Partido Socialista Catalão (PSC), Pere Navarro, defende que o rei Juan Carlos abdique e que o seu filho, o Príncipe das Astúrias, o substitua liderando o que denominou de «segunda transição».

«Seria uma transição tranquila e que responderia às necessidades do nosso tempo», afirmou Navarro, para quem Felipe de Borbón poderia encabeçar as «profundas mudanças e modernização» que, considerou, Espanha precisa.

«Caso contrário, muitos cidadãos poderiam achar que a alternativa seria mudar o próprio sistema monárquico, e penso que não lhes faltaria razão se não houver uma reacção a tempo», afirmou, perante uma centena de empresários na Câmara de Comércio de Barcelona.

De recordar que Iñaki Urdangarin, marido da infanta Cristina, é acusado de usar a sua influência na família real para negócios particulares. Uma troca de «mails», entretanto divulgada pela comunicação social espanhola, parece deixar claro que o próprio rei estaria ao corrente dos negócios do genro.


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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Fraco consolo: O buraco da agulha

Pedro Mexia

Vem em todos os sinópticos, mas escolho o de Mateus, cobrador de impostos: «E eis que se aproximou dele um jovem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? Respondeu-lhe ele: (...) guarda os mandamentos. (...) Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me. Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste; porque possuía muitos bens. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E outra vez vos digo que é mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus».

Tive uma educação católica, e nunca me esqueci desta passagem. Nos últimos tempos, penso nela com frequência. Porque temos visto o dinheiro, que é uma coisa, tornar-se um deus. É cómodo acusar «o capitalismo» desse endeusamento, mas escritores de todas as épocas e de todas as sociedades, incluindo as pré-capitalistas e as anticapitalistas, contam que o dinheiro é um obstáculo à vida recta. Não me refiro ao dinheiro enquanto fonte de sustento, conforto, gozo, o dinheiro que todos queremos ter, porque precisamos dele; estou a pensar no dinheiro das fortunas, aquele que mantém uma relação umbilical com a cupidez e a avareza.

Quando o jovem rico pergunta a Jesus como fazer para ganhar o Céu, Jesus diz-lhe que siga os mandamentos, e acrescenta um último mandamento, que completa os outros. Os discípulos, escreve Mateus, «ficaram grandemente maravilhados» com esta resposta. Pedro pergunta: e quem seguiu Jesus e deixou tudo para trás, será recompensado? Jesus garante: «(...) todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna. Entretanto, muitos que são primeiros serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros». É uma recompensa material, multiplicadora, e uma recompensa espiritual, eterna. Mas o mais importante não é isso, são as últimas palavras, que têm perturbado tantos crentes e não-crentes: «muitos que são primeiros serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros».

O dinheiro é o combustível de uma mentalidade mal crismada como darwinismo (porque não é de todo devida ao naturalista britânico). Uma mundividência estritamente competitiva que decreta que apenas os primeiros são primeiros, estando por isso dispensados de empatia face aos segundos e aos últimos. Crimes recentes cometidos por «ricos» (gestores, banqueiros, oligarcas), mostram-nos que eles não pertencem a uma espécie diferente, mas que foram tomados por aquele frenesim de quem vive apenas da compra e venda, de acções e obrigações, dividendos e mais-valias. Não é preciso subscrever os ideais marxistas para verificar como são lúcidas as páginas dos «Manuscritos Económico-Filosóficos» em que Marx estuda o dinheiro enquanto «fetiche» que corrói as relações humanas, na medida em que lhes atribui um valor, ou antes, um preço. E isso aconteceu inclusive em sociedades socialistas, porque o dinheiro, o dinheiro-fortuna, dificulta a noção de comunidade e a compreensão de uma igual dignidade humana.

É por isso que a Bíblia está cheia de advertências quanto ao dinheiro: o sermão que declara os pobres bem-aventurados, o episódio da redenção de Zaqueu, e, claro, os paradoxos de uma divindade nascida de um carpinteiro. Em vinte séculos, essa suspeita face ao dinheiro não resistiu a grandes incoerências, mas também deu azo a propostas ousadas como o monaquismo, o franciscanismo, a condenação da usura. Há pouco mais de cem anos, surgiu mesmo um elaborado pensamento de justiça social que religa o dinheiro, enquanto bem individual, a um bem-comum. Esse corpo de doutrinas, confesso, soou-me diversas vezes demasiado pio e ingénuo; mas sinto falta dele agora, de tal forma se perdeu a vergonha face à desigualdade.

Toda a questão é, aliás, bastante teológica. A famosa divisa «greed is good» transforma-se facilmente em «greed is god». Porque o dinheiro, explicou Georg Simmel na sua «Filosofia do Dinheiro» é fungível, e portanto vale mais do que todos os bens que pode adquirir. O dinheiro desmaterializa-se, como se fosse um espírito, e reina sobre tudo. Dos galeões que se afundavam no regresso das Américas com excesso de metais preciosos aos credit default swaps, as pessoas fizeram e fazem o possível por adorar um deus muito além das suas necessidades. Porém, o actual ódio aos ricos é tanto uma forma de ressentimento como de optimismo moral: os cidadãos revoltam-se contra uns terem muito e outros pouco, e atribuem aos ricos fraquezas que são na verdade forças do dinheiro. O dinheiro, que nem sempre é uma queda, é sempre uma vertigem. Vários homens ricos perderam essa batalha com a sua consciência, mas quem garante que a ganhava?

Para o bem e para o mal, a minha educação católica tem-me ajudado a manter viva uma desconfiança face ao dinheiro, ao dinheiro-fortuna, o dinheiro que se torna um «espírito» e que faz das pessoas coisas. É impossível que Jesus usasse por acaso uma imagem tão desapiedada e brutal: um animal que tenta em vão passar pelo buraco da agulha.


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O ministro da Defesa
e os sátrapas modernos

João J. Brandão Ferreira

No dia 14 de Fevereiro o Senhor MDN deu uma entrevista à Judite de Sousa, na TVI, que não passou de uma réplica, de afogadilho, ao programa do Prof. M. Carreira, sobre as Forças Armadas (FAs), três dias antes, onde figurou o Gen. Loureiro dos Santos. Aproveitou ainda para enviar umas indirectas ao Gen. P. Ramalho, que também dera uma curta entrevista à TVI onde criticava o corte de 8.000 efectivos e outras barbaridades.
O ministro que só deve ter ouvido falar em FAs e militares quando – distraidamente – folheava uma revista, já em idade púbere, trincando um queque na Foz do Douro, veio à liça com ar indignado de virgem ofendida.
Então ele era lá capaz de afrontar as FAs, logo ele, um imaculado sátrapa, perdão ministro?![1]
Marcou S. Exª a entrevista fazendo amarra num ponto: a imaculada intenção (só falta virem para as entrevistas vestidos de branco e com asinhas), de que o objectivo da reforma (?) – palavra que é a matriz do constante desatino em que sucessivos governos têm posto as FAs – é a operacionalidade da tropa!
A tristeza da argumentação deste pedaço da humana cidadania, em exercício de poder, seria apenas deplorável caso não se esmerasse na insistência de nos tratar como parvos.
Usando uma lógica barata de advogado caro o Sr. Ministro sofisma, actividade que, pelos vistos, é a única que domina, pois nem um simples silogismo é capaz de desenvolver.
Vejam esta pérola: defende o coitado, ser necessário reduzir os efectivos (que devem ser imensos, subentendendo-se da palração), para permitir reduzir custos na área do pessoal a fim de aumentar a verba para a operação e treino das tropas. Tal é baseado na premissa de que se gasta mais de 80% do orçamento na rúbrica do pessoal.
O Sr. (ainda) Ministro deve estar a mangar com a gente. Só pode.
Então, não vislumbrará tão iluminada inteligência, que até se poderia gastar 100%?[2]
Bastava que, o senhor e o patético e aldrabão governo de que faz parte, destinasse verba que apenas correspondesse às necessidades da despesa com o pessoal…
Por acaso o pessoal apareceu na vida militar por obra e graça do Espirito Santo?
Por acaso «alguém» pode pegar no pessoal e eliminá-lo? Quer gastar algumas munições (olhe que se arrisca a esgotá-las – e não é por «eles» serem muitos, mas por «elas» serem poucas…) a fuzilá-los?
O que fizeram os seus antecessores nos últimos 20 anos até agora? Não foi o de andarem a reduzir constantemente os efectivos? Por acaso as verbas destinadas a operações e treino aumentaram?
O senhor não me tire do sério e evite cruzar-se comigo na rua!
E no meio desta publicidade enganosa vem afirmar que poupa 218 milhões? Mas então onde é que está o ganho para a operacionalidade das FAs, partindo do princípio que o sátrapa Gaspar fica com a poupança?
Você – termo pelo qual o passarei a tratar – enxergue-se e enxergue-nos![3]
Com o maior dislate, ainda, vem dizer que não senhor, o Gen. L. dos Santos (de quem não sou defensor oficial nem oficioso), não tem razão em acusar o governo de andar com o «carro à frente dos bois» por estar a querer reduzir os efectivos antes de se rever o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), pois tal está a ser tratado e ficará pronto em Março.
Mas não afirmou na mesma que ia reduzir os efectivos e que se saiba ainda estamos em Fevereiro…Você, por acaso deu-lhe uma fézada ou consulta videntes?
Pergunto ainda, algum governo já elaborou um CEDN que servisse para orientar fosse o que fosse? Alguma vez ligaram pevide ao que lá estava escrito? Alguma vez foi elaborado um conceito estratégico que não fosse o militar (CEM), dele derivado?
Já agora, o CEM também vai estar pronto em Março? É que segundo parece (a gente já não sabe o que está em vigor dada a volatilidade com que tudo muda e as emendas sobre as emendas que se vão acumulando), as Missões, Conceito de Acção, Ameaças, Dispositivo e Sistema de Forças, relativos às FAs, derivam primariamente do CEM, não do CEDN…
E o pessoal em serviço nas FAs é para dar corpo e consubstanciar o atrás apontado…
E o que é que um ministro tem que andar a sugerir coisas sobre um documento que tem a classificação de «secreto»?
Vem dizer, defendendo-se das críticas de militares, que os estudos para que aponta são também feitos por militares e que as competências são idênticas. Duvido.
Indique-me, se for capaz, o nome deles, pois eu conheço-os a quase todos. E diga-me se estão no activo.
E partindo do silogismo incompleto e manhoso, utilizado, pode adiantar se as intenções também serão idênticas?
Você sabe Sr. Ministro, que já Camões dizia que «em Portugal também alguns traidores houve, algumas vezes…» Não referiu o grande poeta – que começou por ser soldado – se algum deles era militar. Se calhar (na altura) ainda não teria havido nenhum.
Há poucos meses escrevemos um artigo em cujo título se questionava o MDN se tinha ensandecido.
Creio que agora já dá para não ter dúvidas sobre a resposta.
Portugal apesar de estar cheio de sátrapas, ainda não virou uma Satrapia.
Sobretudo uma Satrapia do Grupo de Bildelberg.

[1] No antigo Império Medo/Persa – já lá vão uns anitos – os territórios ocupados pela expansão do mesmo, eram divididos em Satrapias, à frente das quais se colocava um sátrapa, o qual respondia directamente ao soberano. Fui ao dicionário e copiei: «sátrapa» – governador de Província entre os antigos Persas; grande dignatário; homem despótico, rico e voluptuoso; homem efeminado; déspota (Eduardo Pinheiro, Livraria Figueirinhas, Porto. De harmonia com o Decreto-Lei n.º 35.228, de 8/12/1944.
[2] Se fosse vivo, o saudoso Cor. Homero de Matos, possivelmente diria uma das suas frases lapidares, «que tem a luminosidade de uma vela de sebo dentro de um corno de carneiro»…
[3] O termo «você» vem do antigo, elegante e estimável termo «Vossa Mercê», que deu, por corruptela, na linguagem popular, o vocábulo «Vossemecê» o qual «escorregou» para «você» num linguajar mais boçal. Por vezes admissível no tratamento de superior para inferior, de conhecedor para ignorante ou de mais velho para mais novo.

Assumo o plebeísmo. As circunstâncias apetecem.


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