Matthew Hanley
Frequentemente aparecem estudos que contradizem aquilo
que se pensava – até há pouco tempo – ser mais benéfico para a saúde. Quem é
que consegue acompanhar as indicações sobre a quantidade ideal de café,
colesterol e exercício? Chegámos a uma situação em que mais vale a atitude de
Santo Inácio de Loyola, de indiferença para com os bens deste mundo, como a
saúde e a riqueza. Mas a indiferença para com a saúde por parte das autoridades
de saúde não é desse género.
Numa edição recente do New England Journal of Medicine
encontra-se um artigo que vem no seguimento de vários num caso já conhecido
como «as guerras das mamografias». Essencialmente, conclui que os programas de
rastreio mamográficos fazem mais mal que bem e que mais vale acabar com eles do
que manter o status quo.
Um conselho médico na Suíça analisou as provas e chegou a esta conclusão.
A primeira coisa que notaram foi que os estudos
actualmente usados estão ultrapassados. O tratamento também melhorou imenso ao
longo das últimas décadas, eliminando as vantagens modestas que se pensava que
as mamografias ofereciam.
Depois, há efeitos secundários do procedimento, sobretudo
os que se devem ao sobre-diagnóstico. O termo técnico é cancro «dormente», que
é detectado pelas mamografias mas que na verdade não constituem ameaça.
Um estudo canadiano recentemente publicado, com casos
seguidos ao longo de 25 anos, descobriu que quase 22% dos cancros detectados por mamografias eram
sobre-diagnósticos, que deram origem a tratamento desnecessário, incluindo
cirurgia, radioterapia e quimioterapia, ou combinações dos mesmos. Os
académicos canadianos concluíram também que as mamografias anuais não reduzem
os índices de mortalidade.
Estas conclusões serão surpreendentes para muitos,
sobretudo porque as mulheres, no geral, tendem a sobrestimar radicalmente os
benefícios dos rastreios mamográficos. Um estudo em larga escala determinou que
as mulheres sobrestimavam oito vezes as vantagens dos rastreios e achavam que
as mortes devidas à ausência de rastreio são 32 vezes superiores ao que
realmente são.
A equipa suíça confessou que as suas conclusões têm sido
recebidas com alguma hostilidade, mas contrapõem que sim, «é verdade que as
conclusões alarmam as mulheres, mas tendo em conta as provas que encontrámos,
não sabemos como é que podemos deixar de as alarmar».
Nem toda a gente concorda e o debate prossegue. Mas
parece justo concluir que as vantagens das mamografias parecem ser,
actualmente, marginais. Para as mulheres de certas idades e para os seus
médicos, compreende-se que seja um dilema complicado. É preciso avaliar os prós
e contras e nem toda a gente chegará às mesmas conclusões.
Mas há uma coisa sobre a qual todos concordam, porque
todos defendem os seus pontos de vista com base na ideia de que as mulheres
merecem a informação mais rigorosa. Mas há uma excepção a este princípio, ainda
por cima num tema que, ao contrário das mamografias, tem o potencial de
diminuir os casos de cancro: a relação entre o aborto induzido e o cancro da
mama.
Que bases é que existem para esta ligação? A esmagadora
maioria dos estudos, desde 1957, indicam uma relação de causa-efeito. Todos os
estudos estatisticamente significativos indicam uma ligação positiva e todos os
que sugerem uma associação negativa são estatisticamente insignificantes.
Uma meta-análise, composta por 36 estudos efectuados em
14 províncias da China até 2012, revelou conclusões muito significativas. As
mulheres com um historial de aborto provocado tinham um risco 44% superior de
desenvolver cancro da mama em comparação com mulheres que não tinham esse
factor de risco. Isto é, se o risco de se desenvolver um cancro da mama ao
longo da vida toda for, digamos, de 10%, a realização de um aborto provocado
faz aumentar o risco para 14,4%.
O estudo chinês confirma uma outra meta-análise que
revelou um aumento de 30%. Mas é ainda mais grave. Não só existe um risco
moderadamente maior como emergiu uma clara relação de «dose-efeito». Isto
significa que os riscos aumentam na medida em que aumenta a exposição à ameaça.
A existência da relação de «dose-efeito» é tida como dando mais peso a uma
teoria plausível. Esses estudos determinaram que o risco aumenta para 76% em
mulheres que tenham feito dois abortos provocados e 89% em mulheres com três.
São dados significativos, mas não chegam para provar
nada. Para isso precisamos de determinar um mecanismo fisiológico de acção. Mas
também o temos. No fundo tudo se resume à exposição a estrogénio: quanto mais
houver, maior o risco. Nas primeiras fases de uma gravidez a mulher está
exposta a doses maciças de estrogénio, que espoletam a proliferação de um tipo
de lóbulo mamário que é mais susceptível ao cancro. É por isso que as mulheres
que dão à luz prematuramente, antes das 32 semanas, têm duas vezes maior risco
de desenvolver cancro do peito. É só nas últimas semanas de uma gravidez típica
que as outras hormonas começam a ajudar a transformar esses lóbulos vulneráveis
em lóbulos resistentes ao cancro. Dar à luz, e isto ninguém contesta, é
benéfico para a saúde.
Qualquer epidemiologista sério dirá que esta combinação
de factores merece ser levado a sério. Mas em detrimento da honestidade
intelectual as autoridades têm-se desdobrado em esforços para esconder a
relação. Uma das formas de o fazer é misturar os abortos provocados com os
espontâneos, que não são um factor de risco.
Em vez de esconder a verdade para não «alarmar» as
mulheres, seria muito melhor corrigir este escândalo. As autoridades estão a
enganar as mulheres quando dizem que, de acordo com os números, o aborto
provocado não acarreta um risco acrescido de adoecer.
Matthew Hanley é investigador sénior no Centro Nacional
de Bioética Católica. Matthew Hanley é autor, juntamente com Jokin de Irala, de
«Affirming Love,
Avoiding AIDS: What Africa Can Teach the West», que foi recentemente premiado como melhor livro pelo
Catholic Press Association. As opiniões expressas são próprias, e não da NCBC.