sexta-feira, 2 de março de 2012

Deus maiúsculo ou jornalismo minúsculo?


P. Gonçalo Portocarrero de Almada










Num artigo publicado recentemente num jornal de referência, diz-se que Deus não merece maiúscula, porque mais não é do que um substantivo masculino. Salvo melhor opinião, Deus é, na realidade, um nome próprio, como Moisés, Jesus ou Maomé. O correspondente substantivo abstracto é «divindade» que, esse sim, se pode grafar com minúscula. Mas não Deus, que é alguém e não alguma coisa, uma entidade real subjectiva e não um objecto, nem muito menos uma mera ideia ou vaga suposição.

Não obstante a despromoção divina, admite-se nesse mesmo texto o uso da maiúscula quando o contexto o exija, ou seja, quando se citam crentes ou para eles se destina o texto, mas não quando quem escreve é assumidamente ateu ou escreve para não-crentes, em cujo caso deve prevalecer a minúscula. De adoptar este relativismo, a grafia deverá corresponder ao grau de adesão à realidade significada. Poder-se-ia assim enriquecer a sabedoria popular com mais um provérbio: diz-me que maiúsculas escreves e dir-te-ei quem és!

Se a descrença do jornalista justifica o uso da minúscula no santo nome de Deus, é óbvio que se o dito não acreditar no Butão, nem no Burkina Faso, países que suponho que nunca terá visto, como nunca viu Deus, também deverá escrever com minúsculas as iniciais desses países, não menos abstractos para o seu entendimento do que a sua muito abstracta noção de Deus.

Se pega a moda de uma escrita personalizada à medida dos caprichos do freguês, os monárquicos deverão escrever em minúsculas as iniciais dos nomes dos presidentes da República; os ateus deverão fazer o mesmo com os nomes dos santos; etc., o que permitirá a milagrosa multiplicação da nossa língua: português-republicano, português-monárquico, português-cristão, português-pagão, português-comunista, português-fascista, etc.

A favor desta esquizofrenia ortográfica, invoca-se muito despropositadamente um poeta. Esquece-se, contudo, que não colhe aplicar ao jornalismo as regras que são próprias da escrita literária pois, caso contrário, as crónicas dos jornais deveriam também rimar e cumprir os outros cânones da poética. O jornalista está para o facto relatado como o fotógrafo para a realidade retratada: comparar-se aquele com o literato é tão absurdo como permitir ao retratista as geniais divagações de um Picasso.

Como convém a um texto muito politicamente correcto, apela-se à laicidade para fundamentar um pretenso direito a não acreditar em Deus. É evidente que qualquer cidadão tem todo o direito de acreditar, ou não, em quem quiser, mas não de impor as suas crenças ou descrenças.

Ou seja, mesmo não concordando com quem subscreve tão peregrinas teses, não me é lícito desrespeitar o seu nome, nomeadamente grafando-o com minúsculas, porque uma tal atitude não releva uma legítima expressão de são pluralismo, mas um insulto à dignidade da pessoa referida. O mesmo se diga, por maioria de razão, do nome de Deus: o desrespeito ortográfico não é mais do que uma gratuita ofensa ao próprio e a quantos n’Ele crêem. Essa opção gráfica não se funda na laicidade, mas na intolerância de quem impõe aos outros as suas próprias opiniões ideológicas, porque é incapaz de aceitar e respeitar a diferença. O dogmatismo deste laicismo, que mais não é do que a expressão de uma ignorância – pois a descrença é um não-conhecimento – não é apenas uma ofensa a Deus e à religião, mas também à democracia e à liberdade.

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, um jornalista é uma «pessoa que trabalha no domínio da informação […] e cuja actividade consiste em redigir artigos, fazer entrevistas, moderar debates, participar na elaboração dos jornais». Ao jornalista pede-se, portanto, que informe com verdade e objectividade sobre a realidade social, política, religiosa, etc., mas que não se disfarce de improvisado teólogo ou pseudo-filósofo de miudezas, sob pena de ofender o Deus maiúsculo e de se converter num jornalista minúsculo.

Mensagem do Senhor


Ismael Ferreira
O Senhor disse-me, a mim, seu servo, de meu nome Joaquim Ismael Vital Ferreira, o seguinte: vai e fala a esta casa rebelde:

Ai do coração arrogante e do olhar altivo.

Ai dos que decretam leis injustas e dos que escrevem hipocrisia para prejudicarem os pobres em tribunal e para arrebatarem o direito dos aflitos do povo.

O Senhor dos Exércitos arruinará os que são gordos e debaixo da vossa glória ateará um incêndio, um fogo que consumirá os espinheiros.

O Senhor desbastará os ramos com violência, e os de alta estatura serão cortados, e os altivos serão abatidos.

Mas o Senhor diz: não temas meu povo quando a vara os ferir porque dai a pouco se consumará a minha indignação e a minha ira, mas o Senhor será a fortaleza do pobre e a fortaleza do necessitado na sua angústia.

Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões.

Que tendes vós que afligir meu povo, moer as faces do pobre e enganar os quietos?

Ai dos que armam laços ao que repreende à porta e os que põem de parte o justo sem motivo

Se consumirão os que zombam e todos os que se dão a fazer o mal.

Ai dos filhos rebeldes, que tomaram conselho, mas não de mim .

Ai do ganancioso, não mais se dirá que é generoso.

Ai do egoísta que procura destruir os mansos com palavras falsas.

O que fareis no dia da assolação que há-de vir? Onde conseguireis socorro, onde deixareis a vossa glória sem que cada um se abata entre os presos e caia entre os mortos?

Eis que o Nome do Senhor vem de longe ardendo na sua fúria; os seus lábios estão cheios de indignação, e a sua língua é como um fogo consumidor; e a sua respiração é como um rio transbordante que chega até ao pescoço, a fim de peneirar as nações com peneira de vaidade.

Deixem-se de empresas de imagem, deixem-se de dinheiros estranhos em fundações obscuras, deixem-se de apoios e subsídios a coisas inúteis, a marchas populares e não só, deixem-se de festas e preparem-se para guardar os recursos e apoiarem os aflitos e necessitados no tempo de miséria que aí vem. Deixem-se de avenças, ordenanças, homenagens e vaidades, deixem-se de maçonarias e ordens secretas pois plano é o caminho do justo. 

Ai dos que querem esconder o seu propósito do Senhor e fazem suas obras às escuras dizendo: ninguém nos conhece e quem nos vê?

Na cidade que pula de prazer o seu ruído cessará.

Sou o mensageiro do Senhor. Assim ele diz: agora me levantarei a mim mesmo, e os espinhos cortados arderão no fogo, os pecadores se assombrarão, o temor surpreenderá os hipócritas.

O que anda em justiça e fala com rectidão, que se afasta do ganho de opressões, que foge de todos os presentes, esse habitará nas alturas.

E não verá mais este povo de língua tão estranha que não se pode perceber.

A injustiça que reina em Portugal chegou ao Céu com estrondo e O Senhor ouviu o clamor do povo oprimido.

Mas venho dizer-vos: a indignação do Senhor está hoje sobre muitas nações, a sua espada se embriagará e os céus se enrolarão como se fossem um rolo.

O Senhor Deus quer que os governantes responsáveis sejam responsabilizados e devolvam o que furtaram nas costas do povo, sim, o Senhor está contabilizando prejuízos, senão morte e doença haverá sobre eles.

Assim diz o Senhor: Conheço as coisas que vos sobem ao espírito. Multiplicastes os vossos mortos nesta terra, destes ímpio conselho. A espada Eu trarei sobre vós, e vos entregarei na mão de estranhos, e exercerei os meus juízos entre vós e esta Terra não vos servirá de panela. E sabereis que eu sou o Senhor, porque nos meus estatutos não andastes.

Mas a um resto de vós darei um coração igual e um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra e vos darei um coração de carne, para que andem nos meus estatutos e guardem os meus juízos, e serão meu povo, e Eu serei o vosso maravilhoso sinal.

Uma voz de grande rumor virá da cidade, uma voz do templo, a voz do Senhor, que dá o pago aos seus inimigos.

Três abominações ofendem ao Senhor neste País além destas injustiças. O casamento homosexual. Pela porta de onde entrou deverá sair. As fundações intocadas que beneficiam os poderosos e os banqueiros que nada fazem para o desenvolvimento do País e apenas o roubam. Os preços dos combustíveis incomportáveis.

Três vezes ferirá o Senhor esta casa rebelde de governação. Três anos sem chuva sobre esta Terra. Doença e morte haverá nesta casa rebelde. E conflitos sociais haverá. Após os 3 anos saberão que o Senhor falou através de um mensageiro nesta Terra, com o braço estendido e a mão firme do Senhor.

Um alerta é dado. Haverá guerra. Não será longa, mas o suficiente para o preço dos combustíveis aumentar muito, e, se não forem contidos, a economia sucumbirá. Portugal deve ainda sair da Nato afim de que as suas acções em palco de guerra não sejam odiadas por Deus.

Ó Portugal, bendito és porque o Senhor enviou a ti, um mensageiro, e lhe diz: « diz a este povo que eu sou o Senhor e com ele sou, desbastarei os espinhos e darei frutos às suas árvores, derribarei o opressor, apascentarei os mansos e o liderarei à Terra Santa» onde diante do Senhor se dobrará todo o joelho.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Elba Ramalho: Testemunho a favor da Vida


    


Primeira República e Igreja Católica



O livro «Primeira República Portuguesa e Igreja Católica», de monsenhor João Gonçalves Gaspar, vai ser lançado a 8 de Março no salão nobre do Teatro Aveirense.

A investigação editada pela diocese de Aveiro, de que o autor é vigário geral, será apresentada às 18h30 pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente, que assina o prefácio.

Prefácio

Agradecemos a Monsenhor João Gonçalves Gaspar mais este trabalho histórico-religioso, de grande oportunidade e valia.

Mais este, porque vem de longe o seu interesse pela temática, bem evidenciado em vários e preenchidos escritos, com especial relevo para os três volumes que dedicou ao Bispo Lima Vidal. De grande oportunidade é o presente estudo, na esteira das comemorações do centenário da implantação da República, que deu azo a muitas publicações sobre o assunto.

Graças a estas publicações, temos hoje uma visão muito mais pormenorizada e circunstanciada do que sucedeu em Portugal nas primeiras décadas do século passado. Pormenorizada, porque se evidenciaram ou releram fontes fundamentais ou particulares que nem sempre apareciam, ou eram ignoradas do grande público; circunstanciada, porque essas mesmas leituras ou releituras, em geral serenas e equilibradas, souberam situar melhor os depoimentos e as intervenções dos protagonistas de então.

Também aqui este trabalho de Monsenhor Gaspar nos dá boas contribuições, com referências documentais que não conhecíamos ou precisavam de integração. E podemos dizer que o equilíbrio dos seus comentários coincide geralmente com o resultado geral das referidas publicações do centenário.

E é esta, muito especialmente, a sua valia. Não nos interessam ajustes de contas com o passado, mas ajustar o presente à sua memória mais correta. Memória que, mesmo sendo «colectiva», conjuga sempre realidades marcadamente pessoais. Quanto à liberdade e à responsabilidade, referem-se sempre a alguém, que pensou e agiu desta ou daquela maneira, por esta ou aquela razão e a partir desta ou daquela posição, motivada por estas ou aquelas influências.

Se isto é verdade em geral, muito mais o é no que à 1ª República concerne. Talvez nunca na história portuguesa se tenham entrechocado tantos, dentro de ideários mais próximos do que pareciam: – Quem não queria, por exemplo, «regenerar» Portugal, de 1820 a 1910 e ainda depois? - Não era isso mesmo que o hino adotado e ainda cantado pretendia, para «levantar hoje de novo o esplendor de Portugal»? Monárquicos ou republicanos, socialistas ou mesmo anarquistas, entre todos se aspirava a uma nova alvorada pátria. O problema estava em defini-la: - Voltando à monarquia tradicional, anterior a 1820-1834, ou aprofundando a constitucional, aliando melhor monarquia e democracia, como em Inglaterra e noutros reinos? - Com uma república municipalista e federal, como na Suíça, ou unitária e centralizada, para levar por diante as mudanças requeridas, vencendo resistências e oposições?

De tudo isto se falava e com tudo isto se esgrimia. Mais ainda quando a vontade de mudança ou alteração profunda das coisas consentia perspectivas demasiado distintas: - Importava retomar a «alma» portuguesa na sua conotação religiosa e católica, mesmo na aplicação social que o pontificado de Leão XIII (1878-1903) lhe dera, ou, muito pelo contrário, havia de se afastar de vez tal conotação, em obediência à marcha «positivista» da história, que reduzia cada vez mais a religião ao íntimo da consciência de cada um, sem qualquer transposição pública da crença?

E quanto ao Estado, na sua relação com a Igreja: - Devia continuar-se em regime público-eclesiástico, com a definição religiosa do país e a quase integração da vida eclesial na administração civil, ou, como o liberalismo católico pretendia desde os anos vinte em França e depois pela Europa e além dela, era necessário «libertar» a Igreja da tutela estatal, mesmo que tal levasse à «separação» das duas esferas?

Estas e outras polémicas eram muito transversais a todo o campo político, antes e depois de 1910. Havia no «movimento católico português», sobretudo depois de 1870, quem subscrevesse mais ou menos pontos do liberalismo católico; e houve no republicanismo triunfante quem defendesse a supervisão estatal da vida católica, como era o caso do próprio Afonso Costa e da «sua» Lei da Separação… Assim como houve no campo católico figuras importantes que, mesmo antes de 1910, insistiam na atenção às ciências e aos «progressos do século» (Sena Freitas, Gomes dos Santos e tantos mais).

Louvo e agradeço o trabalho de Monsenhor Gaspar, pelo manancial de factos e figuras que muito bem conjuga e pelo tom geral com que os aprecia e apresenta. É um bom contributo para nos revermos e perspectivarmos, em sociedade e Igreja.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Senhor disse a Moisés



«Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo.

Não furtareis, não mentireis, nem enganareis em detrimento de um compatriota.

Não jurareis falso, em meu nome; desse modo profanareis o nome do vosso Deus. Eu sou o Senhor.

Não roubarás nem furtarás nada ao teu próximo; o salário do jornaleiro não passará a noite em teu poder até à manhã seguinte.

Não insultarás um surdo, não colocarás tropeços diante de um cego. Teme o teu Deus. Eu sou o Senhor.

Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não prejudicarás o pobre, nem serás complacente para com o poderoso. Julgarás o teu compatriota com imparcialidade.

Não semearás o mal no meio do teu povo. Não peças o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor.

Não odiarás o teu próximo no teu coração; mas repreende o teu compatriota para não caíres em pecado por causa dele.

Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.»

Levit. 19,1-2.11-18.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Conferência sobre o aborto

«Aborto, e Agora o que Fazer ?  Testemunhos e Caminhos»


Dia 1 de Março na Universidade Católica de Lisboa
Conferência organizada pelo Núcleo Universitário Católica Pró-Vida, com o apoio do Lobby Pela Vida.

Testemunhos de:
-- Dra. Maria Durão (do PAV -- Ponto de Apoio à Vida, que apoia a Vida incondicionalmente)
-- Dra. Leonor Ribeiro e Castro (da Missão Mãos Erguidas, que ajuda as mulheres na iminência de abortar a tomar consciência da verdade da Vida)
-- Dra. Maria José Vilaça (da Vinhas de Raquel, que ajuda as mulheres que já abortaram a superar a dor do arrependimento) .

Deus não é para o bico da ciência


Henrique Raposo

Antony Flew (1923-2010) não foi um ateu de garagem. Flew foi o Dawkins do século XX, o líder do ateísmo que se julgava legitimado pela ciência. É por isso que a sua conversão foi um acontecimento tão polémico. Deus existe é a explicação dessa polémica descoberta. O grande motor da mudança? A teoria do Big Bang. Steiner diz, algures em Gramáticas da Criação, que a teoria do Big Bang é a tradução científica do livro do Génesis. Flew navegou por águas similares. Para este filósofo britânico, a teoria do Big Bang fornece a prova científica para aquilo que São Tomás de Aquino considerava inacessível ao conceito de prova: o começo do universo. Enquanto pensou que o universo era apenas um espaço ilimitado mas atemporal (sem um começo), Flew encarou o dito universo como um conjunto de factos fechado e à mercê de uma ciência toda-poderosa. Mas tudo mudou com o Big Bang. Se o universo teve um começo, então, a pergunta é inevitável: o que produziu esse começo? Quem deu o primeiro pontapé na bola cósmica?

O que torna Flew num caso subversivo para o ateísmo hegemónico não é a mera conversão à ideia de Deus. A subversão está na forma, porque Flew chegou a Deus através da ciência, e não através da fé. Flew atingiu Deus através da física e da cosmologia. O ex-papa dos ateus pegou nos dados científicos, e Eureka: há um Deus subjacente à racionalidade da natureza e do universo. Tudo bem? Tudo mal. Deus não é um assunto científico. Deus não se prova ou desprova cientificamente. Deus é um salto de fé abraâmico, kierkegaardiano. Se Dawkins está errado, Flew também não está certo.

Sim, Dawkins tem direito ao seu ateísmo, mas já não tem direito a pensar que esse ateísmo tem certificado científico. A ciência não prova a não-existência de Deus. Deus é um assunto não-científico por excelência, porque Deus não está ao alcance do método científico. Mais: quando afirma que o seu ateísmo darwinista é a única resposta aceitável, Dawkins deixa de lado qualquer ceticismo em relação à sua própria teoria, acabando por esquecer que a ciência não anda à procura da verdade redentora. Todo o conhecimento científico assenta nesta arquitectura céptica: só podemos ter estabilidades teóricas, e nunca certezas teóricas; todas as teorias têm de ser falsificáveis, logo, todas as teorias são apenas possivelmente verdadeiras. Sem este mar de dúvidas, o espírito científico não sobrevive. Preso na fúria de negar Deus em nome da ciência, Dawkins acaba por desrespeitar a própria ciência.

Ora, se não prova a não-existência de Deus desejada por Dawkins, a ciência também não prova a existência de Deus. Flew diz que esta foi uma peregrinação da razão: «segui a razão até onde ela me levou. E ela levou-me a aceitar a existência de um Ser auto-existente, imutável, imaterial, omnipotente e omnisciente». Problema? Apesar das diferenças a jusante, Flew partilha com Dawkins um erro a montante: encara Deus como um desafio científico. Sucede que Deus e a fé não são assuntos empíricos, não são temas para o bico da ciência. Deus não se esconde na relação gravitacional entre planetas, mas na relação moral entre homens. Deus é um salto de fé ético, e não uma descoberta com tubos de ensaio. Flew percebeu que o ateísmo não era a resposta, mas teve medo de atravessar o deserto.