quarta-feira, 16 de maio de 2012

Conferência Episcopal americana critica
apoio de Obama a «casamento»
entre homossexuais



O Presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América (USCCB) criticou o Presidente norte-americano Barack Obama, que esta quarta-feira assumiu uma posição pessoal favorável ao «casamento» entre pessoas do mesmo sexo.

Para o cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova Iorque, as declarações de Obama são profundamente «entristecedoras».

«Não podemos calar-nos perante palavras ou acções que possam minar a instituição do casamento, a verdadeira pedra angular da nossa sociedade», assinala o cardeal, num depoimento publicado pelo site da USCCB.

D. Timothy Dolan revela não ter ficado surpreendido, acusando a administração de Obama de «ignorar o significado único do casamento» enquanto «união de um homem e uma mulher».

«Para mim, é importante dizer, a título pessoal, que penso que os casais do mesmo sexo devem poder casar-se», afirmou Barack Obama, em entrevista ao canal televisivo ABC.

Cardeal Ravasi - Homilia em Fátima


Caros irmãos e irmãs,

Há muitos anos, na minha juventude, estava também eu aqui no meio da grande multidão dos peregrinos numa jornada luminosa como esta. Sinto-me também hoje próximo de cada um de vós, com o olhar simples e espantado dos três pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, dirigido para a Mãe do Senhor, na escuta da sua voz. Ela envia-nos para a Palavra de Deus que ressoou agora nos nossos ouvidos e nos nossos corações, nesta solene liturgia. Escolhemos para a nossa reflexão um único símbolo que possa recolher na unidade a multiplicidade dos temas, dos pensamentos, das imagens que as três passagens bíblicas nos ofereceram [Apocalipse 21, 3-4, Romanos 12, 1-2, Mateus 12, 46-50].

É São Paulo que o propõe no fragmento da sua obra-prima teológica, a carta aos Romanos, acabado de proclamar. O Apóstolo diz literalmente, em grego: «Oferecei os vossos sómatas, [os vossos] corpos a Deus». Eis o grande símbolo que está em nós e ao nosso lado, antes, que somos nós próprios e os nossos irmãos e irmãs. De facto, o corpo não é só um aglomerado de células, um organismo biológico, mas é a sede da nossa alma, da consciência, da mente; é a via para comunicar a alegria e o amor mas também a dor e o ódio; é «o templo do Espírito Santo», como dirá aos cristãos de Corinto o mesmo Paulo (1 Cor 6, 19), mas é também um santuário que pode ser dessacralizado pelo pecado.

Infelizmente, na sociedade contemporânea, são os corpos sem alma a dominar, tornando-se carne sem espírito, ora adorada ora desprezada. Tinham razão os indígenas brasileiros que disseram ao escritor alemão Michael Ende: «nestes últimos tempos, andamos para a frente tão rapidamente como progresso que temos de parar um pouco para permitir às nossas almas atingir-nos». Ora bem, o corpo é uma arquitectura admirável que tem sobretudo no rosto a via para se abrir ao mundo e ao próximo. Procuremos, então, contemplar o rosto em alguns dos seus traços essenciais.

O apóstolo Paulo, seguindo sempre as suas palavras gregas originais, introduz logo a seguir o nous, isto é a mente que tem na fronte e no cérebro a sua representação física. É o pensamento, a razão, o conhecimento. Como dizia o grande crente, filósofo e cientista Pascal, é esta a nossa dignidade mas também o nosso risco. Escrevia: «Dois são os excessos: excluir a razão, admitir apenas a razão». E continuava: «Empenhar-se em pensar bem é este o princípio da moral... Mas o último passo da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam».

Na cultura contemporânea, que é muitas vezes fluida, inconsistente, semelhante a uma neblina que não conhece pontos firmes morais e luzes de verdade, o Apóstolo convida-nos a não nos «conformarmos com este mundo», navegando na superfície, à deriva, sem reflectir e interrogar, sem procurar e julgar. Paulo, ao contrário, exorta-nos a «transformar-nos», tende a mente fixa no que «é bom, agradável a Deus e perfeito».

No rosto brilham os olhos: eles aparecem no texto fulgurante do Apocalipse que escutamos. A cena é emocionante e João retira-a do profeta Isaías: na cidade da esperança, a nova Jerusalém, Deus passará diante de todos os homens e mulheres e, quando vir as lágrimas descer dos seus olhos, irá ele mesmo enxugá-las. E das estradas daquela cidade logo fugirão todas as tristes presenças que infelizmente neste momento se alojam ainda em Fátima, em todas as cidades e vilas de Portugal, nas nações das quais provêm os peregrinos, nas extremas terras desoladas da Ásia ou da África, nas metrópoles caóticas.

Estes terríveis habitantes chamam-se «Morte, Luto, Lamento, ânsia». Muitos de nós viemos aqui com olhos velados de choro. Um antigo poeta grego, Ésquilo, exclamava: «Infinita é a respiração da dor que sobe da terra ao céu. Existirá um Deus que a recolha?». A sua pergunta céptica não tinha resposta: Nós, ao contrário, apresentamos a nossa secreta bagagem de sofrimentos, de doenças, de mal, de pecado, de solidão, de incompreensões a Maria para que a entregue ao seu Filho. E Ele descerá ainda ao meio de nós para cancelar, certamente alguma lágrima, mas sobretudo para trazer sobre si connosco este peso, caminhando ao nosso lado pelas estradas da nossa vida quotidiana.

Muitas vezes cobrimos a cara com as mãos para esconder o choro ou a vergonha ou para nos isolarmos na meditação. Ora bem, depois de mente e dos olhos, as mãos são o terceiro sinal corporal que encontramos na Palavra de Deus desta liturgia. É na cena evangélica que mostra, quase escondida entre a multidão a escutar Jesus, também a sua mãe Maria. Cristo estende a mão para os discípulos e define o vínculo íntimo que o une à sua mãe e a todos nós. É o enlaçar das mãos. E logo a seguir afirma: «Quem faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe».

«Fazer», operar é o verbo típico das mãos. Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra: para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso? Um autor espiritual, Thomas Merton, afirmava: «A vida escapa-nos das mãos, pode escapar como areia árida ou como semente fecunda de obras justas». O aperto de mãos que nos daremos como sinal de paz seja a promessa de fraternidade operativa, cumprindo «a vontade do Pai que está nos céus». Fazendo assim, daremos a nossa mão ao próprio Deus e, como dizia o escritor francês Julien Green, «quando se dá a mão a Deus, ele não larga facilmente a presa».

O corpo, a mente, os olhos, as mãos: estes símbolos que estão em nós próprios falem sempre aos nossos corações e orientem a nossa vida, sob o olhar de Maria e do seu Filho Jesus. Lembremo-nos uns dos outros, unidos na mesma fé e na comunhão de afectos, para além das distâncias e das dificuldades das línguas. Esta noite, regressado a Roma, da minha janela que dá para a basílica e a cúpula de São Pedro e para a residência do Papa Bento XVI, do qual sou colaborador, confiarei a Deus o nosso encontro. Ele, que conhece cada rosto das suas criaturas, vos abençoe e ponha ao vosso lado um «anjo da guarda à noite transparente», como cantava de Fátima o vosso poeta Vitorino Nemésio. E, a cada um de vós, Maria refaça a promessa dirigida à Lúcia: «Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus».


As feridas da Igreja VIII



Há vários anos, depois de ter assistido à exaltação de Lutero (feita por uma formadora de catequistas!...), escrevi no jornal da Paróquia (então sob a minha responsabilidade) um artigo cujo conteúdo ia contra a corrente dominante em alguns sectores da Igreja, onde se encontram enganados muitos fiéis, ao ponto de alguns até admitirem que o senhor Martinho Lutero deveria ser reabilitado pela Santa Sé... Hoje em dia, não nos deve estranhar o facto de encontrarmos bons Católicos que tenham sido levados a ver Lutero com alguma simpatia, pois, se até altos membros do clero já lhe têm tecido públicos elogios...

Uma dessas tomadas de posição mais impactantes foi a do Cardeal Willebrands (pioneiro do ecumenismo e do diálogo inter-religioso) em 16 de Julho de 1970, quando, na qualidade de Presidente do Conselho Pontifício para a unidade dos cristãos, na Assembleia da Federação Luterana Mundial, em Evian (França), disse: «O Concílio Vaticano II acolheu exigências que já tinham sido expressadas em seu tempo por Lutero, por meio das quais há aspectos da Fé cristã que se expressam actualmente mais claramente e melhor do que antes. Lutero mostrou de uma maneira extraordinária para a sua época o arranque da Teologia e da vida cristã».

Que grande bofetada para tantos vultos da Fé que tanto combateram esta praga nascida na Seara de Cristo… Que ultraje para o Seu Corpo Místico, que traição, feita por estes novos Judas…

Exaltar assim, quem disse que Cristo cometeu adultério por mais do que uma vez; quem, num panfleto de Março de 1545, intitulado «Contra o pontificado romano fundado pelo diabo», ao falar do Papa, se refere a ele, não como Papa, nem muito menos como Santo Padre, mas como «infernalíssimo»; louvar quem, a propósito das sangrentas perseguições movidas por Henrique VIII aos católicos ingleses, escreve a Melanchton, seu correligionário e «sucessor»: «É lícito encolerizar-se quando se sabe que espécie de traidores, ladrões e assassinos são os papas, seus cardeais e seus delegados. Deus se comprazeria que vários reis de Inglaterra se empenhassem em acabar com eles…» E incita ainda a que «agarrem o Papa, os cardeais e toda a pandilha da Sodoma romana e lavemos as mãos com o seu sangue». (1)

Os católicos cujo liberalismo os levou a tornarem-se numa espécie de «catolicoluteranos», certamente que desconhecem aquela sua outra face que muitos autores sempre esconderam. Não acredito que católico algum, do mais liberal ao mais conservador, continua-se a «luteranizar-se» se conhecesse aquele senhor completamente. Como é possível continuar a ser «catolicoluterano» (atenção que o termo não existe…), a partir do momento que se conhece o seu «lado de trás» (como por vezes digo quando me refiro à parte não visível da coisa)?

Continuando pois, na análise desse lado oculto, contrariamente à Teologia Católica, que nos diz que pela Graça a consciência nos indica o sentido do bem e do mal, o senhor Lutero diz que a voz da consciência é a do demónio... Aplaudir, portanto, este senhor, ou é cegueira ou estupidez. Mas prefiro acreditar que seja por puro desconhecimento do que nunca nos fora revelado. Senão, como poderia aplaudir-se quem, numa outra carta a Melanchton, datada de 1-8-1521, escreve: «Sê pecador e peca fortemente… durante a vida presente, devemos pecar… ainda que cometamos mil homicídios e mil adultérios por dia.»

Assim falava quem desprezava a importância das obras. E para esconder o peso da culpa, que derivava das suas «boas obras» (como aquelas que resultaram em sete filhos…), proclamou a tese em que diz que para salvar-se basta a fé em Cristo… Sob o efeito de tamanha diarreia mental, volta a escrever: «Todo o Decálogo (a Lei dada por Deus a Moisés) se deve apagar de nossos olhos e de nossa alma…».

E para que a Bíblia não lhe servisse de travão a tanta loucura, refugia-se no que ele chama de inspiração interior, que permite a cada um interpretar a Palavra de Deus segundo essa «inspiração». Mas como há textos na sagrada Escritura demasiado objectivos, demasiado claros, ele rejeita-os (pois claro!): as Epístolas de S. Tiago, S. Judas, 2ª de S. Pedro, 2ª e 3ª de S. João, e Hebreus. Ri-se de Eclesiastes, e diz que Job é uma fábula (2) (livros que hoje compõem as Bíblias protestantes).

A rejeição da 3.ª Carta de S. João, terá sido por se rever no papel de Diótrefes, a avaliar pelo que, em seu desvario, chegou a dizer dele mesmo: «Não vos parece este Lutero um homem extravagante? Para mim tenho-o como Deus. Senão, como poderiam ter os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, e asnos em doutores...?» (3)
De entre os vários textos da Sagrada Escritura que ele rejeitou, vejamos o que mais poderia pesar, e de que maneira, ao Sr. Martinho:

«De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo?» (Tg 2, 14). «Todo aquele que passa adiante e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus consigo; mas aquele que permanece na doutrina, esse tem em si o Pai e o Filho. Se alguém vier até vós e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa nem o saudeis, pois quem o saúda torna-se cúmplice das suas más obras» (2Jo 1, 9-11).

Demasiado óbvia, pois claro, para que o Sr. Lutero pudesse contorná-la... Lendo a 2.ª Carta de S. Pedro, verá o leitor a razão pela qual Lutero tinha que se esquivar àquele «estadulho a cair-lhe pelas costas abaixo»...

Com base nas mais do que insuspeitas fontes, espero, pelo menos, levar a uma séria reflexão tantos bons Católicos que, sem que disso se deiam conta, estão a prestar culto a Deus de uma forma muito protestantizada...
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(1) ”Propos de Table”, Nº 1472, ed. de Weimar II, 107. Citado por Funck Brentano em «Luther», 7a ed. Crasset-Paris. Publicado ainda pelo Boletim “Covadonga Informa”, Nº 77 (artigo do Prof. Plínio Correia de Oliveira).
(2) S. Francisco de Sales, Meditações sobre a Igreja, p. II, c. 1,4 BAC-1985
(3) Textos de diversos autores, recolhidos pelo Pe. Leonel Franca S.J., em A Igreja, a Reforma e a Civilização, 3ª ed. Rio de Janeiro, 1934.    


José Augusto Santos, As feridas da Igreja – VIII, in Notícias de Chaves, Nº 3168, p. 17 (11-5-2012)