sábado, 10 de novembro de 2012

Os «crimes» de Isabel Jonet

Heduíno Gomes


Ao contrário de muitos católicos de poltrona, Isabel Jonet faz uma coisa útil: dá de comer a muita gente que tem fome. Quanto a mim, se alguma coisa lhe há a apontar, é meter na lista dos necessitados alguns que o não são de facto. O seu conceito de pobreza é demasiado lato segundo o meu gosto, demasiado generoso para o homo sapiens sapiens. Numa reunião onde estivemos, já tive ocasião de lhe assinalar a sua demasiada generosidade. Sou dos que pensam que até o consumismo de gadgets invadiu o conceito de pobreza, mimando-o e aburguesando-o. E não sabia eu nessa altura de alguns truques de uns chicos espertos para sacar comida ao Banco Alimentar sem terem necessidade absolutamente nenhuma.

Mas afinal a senhora, ao ouvirmos os telejornais, programas tipo tablóide e na net, seria uma criminosa!
Por ter dito umas verdades sobre Portugal e a sua vida económica, cai o Carmo e a Trindade. Na realidade, todo este alarido nada é pelo que Isabel Jonet disse.
Esmiuçando, trata-se de uma demagogiazita da esquerda cuja ideologia política se choca com os valores do cristianismo: a caridade, aqui no caso de Isabel Jonet, é crime! Porquê? Porque a caridade atrasa a revolução… (não estou a inventar nada, pois está nos manuais dos clássicos marxistas!). Isabel Jonet luta contra a fome. E o que essa gente quer é que haja fome para haver revolução.
O «crime» da Isabel Jonet é, pois, ser uma sabotadora da revolução. E assim, toda a esquerdalha que por aí há junta-se em coro contra uma organização que mata a fome. Está lá a Isabel Jonet e pedem a sua demissão. Se lhes fizessem a vontade, amanhã pediriam a demissão de quem lhe sucedesse.
Mas a esquerdalha não é tudo. Tendo Isabel Jonet o azar de ser cristã, vai daí, esta onda de contestação é retransmitida e ampliada por outra espécie de iluminados, sempre à coca de atacar o cristianismo e as pessoas que, na sociedade, se afirmam e agem como tal.
Que excelente ocasião para os iluminados, aproveitando o movimento da esquerdalha, poderem atacar o cristianismo!
Repare-se nisto. Quando veio a público a corrupção à volta do SIS e da maçonaria, foi logo à televisão o iluminado António Arnaut dizer que a maçonaria é muito boazinha, que até tem obras de bem-fazer. Como é engraçado ninguém piar sobre este facto, por vir de outro lado que não dos cristãos! Só é pena que a maçonaria tenha tão poucas dessas obras, certamente louváveis, das quais só veio à cabeça do ex-Grão Mestre do GOL um único exemplo para citar. No fundo, a questão é esta: se vier da esquerda ou da maçonaria, é «solidariedade» e «humanismo». Se vier da Isabel Jonet, é «caridadezinha» e «hipocrisia».
Força, Isabel Jonet! Não desista!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O liberalismo na educação

Inês Teotónio Pereira

Não é por acaso que filhos de pais liberais – da geração que cresceu ao som do slogan sexo, drogas e rock´n roll – são os maiores betinhos

O liberalismo na educação é, antes de mais, uma fantasia. Não existe. Ninguém no seu juízo perfeito é um liberal convicto na educação dos seus filhos. Na educação, só se é liberal por desleixo e/ou comodismo. Podemos ser adeptos fervorosos da privatização da Caixa Geral de Depósitos, podemos ser contra todas as entidades reguladoras do mundo, podemos lutar incansavelmente contra os impostos, o Estado e o seu centralismo, podemos defender com a própria vida os contratos de associação com as escolas privadas e a liberdade de escolha mas, quando entramos em casa, estas meritórias convicções ficam do lado de fora. Não entram.

Liberalismo e filhos: duas palavras que não podem estar na mesma frase. Nem falo na parte financeira e económica do tema, onde é óbvia a ausência do cariz liberal. Pois, em qualquer família, impera como modelo económico o socialismo no seu estado mais puro e fedorento. Senão vejamos, em qualquer família de direita ou de esquerda, católica ou calvinista, conservadora ou anarca, os pais (ou seja, o Estado) determinam o que os filhos (cidadãos) comem, vestem e a que horas apagam a luz, repartem equitativamente todos os bens e o seu usufruto pelos filhos, ignorando a sua produtividade (todos jantam quer tenham boas ou más notas), o seu talento ou as suas diferenças. Os pais tratam todos os filhos por igual e chegam mesmo a endividar (tal como o Estado com as PPP) os netos quando compram casas a 50 anos e carros a crédito «para o bem da família»...

Mas esta vertente marxista das famílias é ainda mais visível quando analisamos, não o seu funcionamento ou a sua forma de sustento, mas sim a educação. Não é por acaso que filhos de pais liberais – do tipo geração que cresceu ao som do slogan «sexo, drogas e rock’n’roll» – são os maiores betinhos da história contemporânea. São os yuppies dos anos 90 e os quadros deste milénio.

E porque é que isto é assim? Porque sim. Porque não podia ser de outra maneira. Um pai tem de ser socialista e controlador de tudo o que mexe se quiser desempenhar com sucesso as suas funções de pai. Na economia, já vimos que não pode ser de outra maneira. Quanto aos princípios, é fácil concluir o mesmo. Senão vejamos este exemplo: nenhum pai consegue assistir com a filha, que tenha uma idade compreendida entre os 10 e os 30 anos, a um episódio da Gabriela sem se sentir, vá, pouco à vontade. Nenhum pai nesta circunstância, com a filha ao lado, consegue rir com a greve das quengas no Bataclan de Ilhéus como deve ser. Na proporção exacta que a situação exige.

Nestes últimos dias, dias em que as quengas estão de greve e em que a Gabriela tem tomado banho de cinco em cinco minutos, como se estivesse a gravar um filme para a «Playboy», compreendi a sorte que tenho pelo facto de os meus filhos ainda não terem idade para ver televisão àquela hora. Mas imagino as perguntas que fariam se eu não tivesse o poder de os mandar para a cama: «Ó mãe, porque é que os coronéis não deixam as senhoras seguir na procissão? O que é uma quenga?» Gostava de ver um liberal a explicar todos estes constrangimentos das quengas com a mesma clareza com que defendem as virtudes da privatização da CGD.

É por estas e por outras que, em qualquer casa de família, qualquer um dos 200 canais de televisão é como a RTP, ou seja, tem tutela.

Um pai, por mais liberal que seja nos seus costumes, nos seus princípios, não o é enquanto educador. No fundo, não é. No fundo, é um ditador, um Mao camuflado. No fundo, cora e incomoda-se. No fundo, acha que a emancipação sexual e as drogas livres não condizem com a sua filha nem com o seu filho. Por isso, controla, condiciona e filtra o que chega aos olhos e aos ouvidos dos filhos. E, se não o faz, gostava de o ter feito.

Plataforma do Partido Democrata nos EUA
apoia aborto e uniões gay

 
A plataforma do Partido Democrata nos Estados Unidos, a que pertence o presidente Barack Obama, adoptou formalmente no dia 4 de Setembro uma plataforma política que apoia o aborto, as uniões homossexuais e os anticoncepcionais.

A plataforma, que estabelece as prioridades partidárias, com Obama ganhando ou não as eleições, foi adoptada oficialmente na Convenção Nacional Democrata que está sendo realizada em Charlotte.

O texto expressa o seu apoio à «igualdade do matrimónio», frase usada por quem promove a legalização das uniões de casais do mesmo sexo. É a primeira vez que um partido político importante nos Estados Unidos expressa formalmente o seu apoio à redefinição do matrimónio.

A plataforma também insiste em rejeitar totalmente a lei de 1996 (Defense Marriage Act) que define o matrimónio como a união de um homem e de uma mulher, e que protege este conceito nos estados perante as pressões de alguns sectores para aprovar as uniões gay.

Sublinhando o seu apoio ao aborto sem restrições, a redefinição do matrimónio e dos anticoncepcionais, o Partido Democrata assinala que está comprometido com a «obtenção de políticas que realmente valorizem as famílias».

A plataforma originalmente extirpou qualquer referência a «Deus» embora admitisse que as organizações de distintos credos tiveram um papel «central» na história dos Estados Unidos. Perante as críticas provenientes dos republicanos, os democratas decidiram finalmente, no meio de protestos e depois de três votações, inserir um item em que expressam a sua fé em Deus.

O texto também expressa o seu apoio ao mandato abortista da administração Obama que violenta a liberdade religiosa e de consciência ao obrigar às organizações religiosas a adquirir planos de saúde que cubram pílulas abortivas, a esterilização e os anticoncepcionais. Os bispos do país opuseram-se em bloco e de maneira muito clara a este mandato.

O Partido reiterou o seu compromisso com o «aborto legal e seguro, sem considerar a capacidade de pagamento» e expressou a sua oposição a qualquer tentativa de «debilitar ou minar esse direito».

A plataforma também apoia a eliminação de restrições às pesquisas com embriões humanos para obter células estaminais, assim como uma «adequada educação sexual», embora não determine a que se refere com este último conceito.

«O Presidente Obama e o Partido Democrata estão comprometidos com o planeamento familiar em todo o mundo», afirma e destaca a decisão do mandatário de reverter a política conhecida como Cidade do México, que proíbe os Estados Unidos de financiar grupos que promovam ou realizem abortos. 

Também insiste em que «os direitos gay são direitos humanos» e salienta a decisão da Secretaria de Estado de financiar actualmente «um programa que sustenta às organizações de direitos gay» e exorta a «combater activamente» as acções de outras nações que consideram que estão comprometidas com a «discriminação».

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Vietnam permite marcha de orgulho gay
mas continua perseguindo católicos


O regime comunista do Vietnam permitiu recentemente a realização da marcha do orgulho gay, mas ao mesmo tempo mantém um férreo controle contra os opositores políticos e contra os fiéis católicos que são presos injustamente.

«Os missionários estrangeiros têm proibida qualquer actividade evangelizadora no país. O padre Peter Nguyen Khan, ordenado clandestinamente e que vive actualmente em Roma para fugir da perseguição do governo, assinalou recentemente que os ‘católicos são considerados cidadãos de segunda classe em todas as zonas do Vietnam, e são objecto de discriminação no tratamento legal’», informou o portal www.infocatolica.com.
Em contrapartida, indicou o portal, o Governo permitiu que no dia 5 de agosto se realizasse a marcha na qual participaram mais ou menos cem membros do colectivo gay onde fizeram coro e lemas a favor das uniões homossexuais.

Esta permissão formaria parte de uma política, depois de que no mês de Julho o ministro da Justiça Ha Hung Cuong afirmasse que já é hora que o Vietnam favoreça as uniões de pessoas do mesmo sexo.
«Acho que, no referente aos direitos humanos, é hora de que consideremos esta realidade. O número de homossexuais aumentou para centenas de milhares. Não é uma cifra pequena. Vivem juntos sem registrar um matrimónio. Podem ter propriedades. É obvio, temos que tratar estes assuntos do ponto de vista jurídico», expressou.

www.infocatolica.com lembrou que o catolicismo está presente no Vietnam desde o século XV e que a escrita do idioma local foi desenvolvida pelos missionários portugueses e franceses nos séculos XVI e XVII, como uma ferramenta de evangelização. Além disso, a igreja conta com 26 dioceses e mais de duas mil paróquias.
Apesar disto, assinalou, o Governo comunista continua colocando entraves aos mais de seis milhões de vietnamitas católicos.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Voluntários do Greenpeace:
«Viva o aborto, somos pró-morte»!


Depois de sofrer ameaças e insultos de voluntários da multinacional ecologista Greenpeace, os jovens do Crossroads, que peregrinam pela Espanha defendendo o direito à vida humana e manifestando-se contra o aborto, denunciaram que essas e outras agressões que sofreram acontecem porque são «católicos, pró-vida e jovens com princípios».
Os jovens do Crossroads denunciaram que no dia 9 de agosto, depois de chegar à localidade de León, encontraram-se com um grupo de ecologistas que os insultaram fortemente, ameaçaram-nos gestualmente e gritaram «viva o aborto! Somos pró morte»!.

Os voluntários do Greenpeace insultaram gravemente aos jovens com palavras de baixo nível que não as reproduzimos aqui.
Em declarações ao grupo ACI, Jaime Hernández, porta-voz do Crossroads, lamentou que o Greenpeace tenha negado a agressão quando se comunicou com a imprensa local e culpou aos jovens pró-vida, dizendo que eles os agrediram enquanto tentavam conseguir sócios.

«No seu comunicado eles falam que 5 dos seus membros que foram denunciados desmentem tudo e que fomos nós os que lhes provocamos, insultamos, etc. Quer dizer, que tentam virar o jogo e se fazem de vítimas».
Hernández desmentiu ao Grenpeace e assinalou que o que aconteceu «está provado graças às testemunhas».

O porta-voz do Crossroads disse que eles ainda não fizeram nenhuma denúncia contra o Greenpeace, mas se a multinacional ecologista não se desvincula dos jovens agressores, a denúncia será feita.
«O certo é que os que estão sendo denunciados são os dois membros do Greenpeace, e os que tivemos que chamar à polícia por segurança própria fomos nós», assinalou.

Hernández também disse que a polícia local revelou «que não era a primeira vez que tinha problemas com voluntários do Greenpeace».
«Nós não causamos nenhum problema nas cidades onde passamos. Fomos sempre atacados por ser católicos, pró-vida e jovens com princípios», disse.

Por sua parte, Ignacio Arsuaga, presidente do grupo espanhol pró-vida HazteOír, lamentou que «os pró-abortistas às vezes mostram seu verdadeiro rosto intolerante e agressivo».
«Os voluntários do Greenpeace não puderam tolerar que um grupo de jovens repartisse informação objetiva sobre o aborto. Por isso recorreram ao insulto e à agressão física», assinalou.

Arsuaga também expressou sua surpresa porque «Greenpeace negou os fatos e, portanto não pediram perdão».
«Como podem estar a favor do meio ambiente e não condenar a agressão contra pessoas concretas, contra os jovens do Crossroads e contra os seres humanos que ainda não nasceram?», questionou

Unanimidade homicida?


Nuno Serras Pereira


Depois da apresentação, por parte dos partidos políticos com assento na assembleia da república, de projectos de lei distintos, díspares mesmo contraditórios entre si eis que, após amenas conversas em plenário, votaram por unanimidade a «lei» nº 25/2012, de 16 de Julho, que «regula as directivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde e cria o registo nacional de testamento vital (rentev)». O nome traz já em si todo um programa necrófago (sim, necrófago porque esta gente alimenta-se de morte), que é confirmado quer pelo conchavo extraordinário daqueles cujo objectivo continuado sempre foi a fractura, e a devastação ou aniquilamento da pessoa humana, abominando qualquer conciliação; quer pela interpretação ambígua a que a «lei» propositadamente se presta. Aliás foi essa mesma ambigenia que ocasionou a unanimidade, uma vez que por ela se abrirá a porta à eutanásia – primeiro, por omissão, em seguida, pela acção.
 
Uma vez formada e lançada a bola de neve inevitavelmente se seguirá o alude. Quando, em nome do consenso se barganham os princípios e valores inegociáveis o resultado só pode ser uma catástrofe.

Relvas Tour


Carta de um militante do CDS-PP
a Paulo Portas






A propósito da afirmação do Dr. Paulo Portas «de que é injusto responsabilizar na mesma medida sectores público e privado».

Caro Dr. Paulo Portas,
1. Injusto é não obedecermos à lei quando ela não nos convém (Vide Decisão do Tribunal Constitucional sobre os subsídios de férias e de Natal).

2. Injusto é obedecermos escrupulosamente à lei quando ela é eticamente intolerável (Vide a decisão do Ministro Relvas sobre a sua licenciatura).

3. Injusto é nunca ter ouvido de si uma palavra sobre o afogamento económico que tem sido determinado às famílias com filhos: o CDS/PP fez campanha com slogan pela agricultura, pelos idosos, pela classe média. E agora acanha-se quando se trata de fazer campanha pela família com filhos?

4. Injusta é a diferença cada vez maior entre o actual discurso político e a dura luta pela sobrevivência económica.

Um abraço.

José Luís Vaz e Gala

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vaticano condena obra
de religiosa que promove
masturbação, homossexualidade e divórcio



A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) no Vaticano, com a aprovação do Papa Bento XVI, condenou o livro «Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics» (Só Amor: Um marco para a ética sexual cristã) da religiosa Ir. Margaret A. Farley, ex-superiora geral da congregação «Sisters of Mercy of the Americas» (Irmãs da Misericórdia das Américas), no qual se promove a masturbação, os actos homossexuais, as uniões homossexuais e o divórcio.

Eis a nota divulgada pela CDF e assinada pelo seu Prefeito o Cardeal William Levada.

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Nota sobre o livro Just Love.

A Framework for Christian Sexual Ethics,

da Irmã Margaret A. Farley, R.S.M.

Introdução

A Congregação para a Doutrina da Fé, depois de um primeiro exame do livro da Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics (New York: Continuum, 2006), endereçou à autora por meio dos bons ofícios de Irmã Mary Waskowiak, então Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, com carta de 29 de Março de 2010, uma avaliação preliminar abrangente, indicando os problemas doutrinais presentes no texto. A resposta de 28 de Outubro de 2010, enviada pela Irmã Farley, não foi suficiente para esclarecer os problemas indicados. Como o caso se referisse a erros doutrinários presentes num livro cuja publicação se revelara causa de confusão entre os fiéis, a Congregação decidiu empreender um «exame para casos de urgência», segundo o Regulamento para o exame doutrinal (cf. cap. IV, art. 23-27).
A propósito, depois da avaliação feita por uma Comissão de especialistas (cf. art. 24), a Sessão Ordinária da Congregação, em data de 8 de Junho de 2011 confirmou que o livro em questão continha proposições erróneas, e que a sua divulgação implicava riscos de graves danos aos fiéis. Sucessivamente, com carta de 5 de Julho de 2011, foi transmitida à Irmã Waskowiak a lista das proposições erróneas, pedindo que quisesse convidar a Irmã Farley a corrigir as teses inaceitáveis contidas no seu livro (cf. art. 25-26).
Com carta de 3 de Outubro de 2011, a Irmã Patrícia McDermott, que entrementes se sucedera à Irmã Mary Wakowiak como Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, transmitiu à Congregação a resposta da Irmã Farley, acompanhada pelo próprio parecer e do da Irmã Waskowiak, em conformidade com o art. 27 do supracitado Regulamento. Esta resposta, avaliada pela Comissão de especialistas, foi submetida à Sessão Ordinária para discernimento, aos 14 de Dezembro de 2011. Em tal ocasião, considerando que a resposta da Irmã Farley não esclarecia adequadamente os graves problemas contidos no seu livro, tomou-se a decisão de proceder à publicação desta Notificação.
1. Problemas de carácter geral
A Autora não apresenta uma compreensão correcta do papel do Magistério da Igreja como ensinamento autorizado dos Bispos em comunhão com o Sucessor de Pedro, que guia a compreensão sempre mais profunda, por parte da Igreja, da Palavra de Deus, como se encontra na Sagrada Escritura, e transmitida fielmente pela tradição viva da Igreja. Ao tratar de argumentos de carácter moral, Irmã Farley ou ignora o ensinamento constante do Magistério ou, quando o menciona ocasionalmente, o trata como uma opinião entre outras. Uma tal posição não pode ser justificada de modo algum, nem mesmo ao interno de uma prospectiva ecuménica que a Autora deseja promover. Irmã Farley revela outrossim uma compreensão defeituosa da natureza objectiva da lei moral natural, escolhendo antes de argumentar partindo de conclusões selectas de determinadas correntes filosóficas ou com a sua própria compreensão da «experiência contemporânea». Um tal modo de tratar não é conforme à genuína teologia católica.
2. Problemas específicos
Dentre os numerosos erros e ambiguidades do livro, é mister chamar a atenção para as posições a respeito da masturbação, dos actos homossexuais, das uniões homossexuais, da indissolubilidade do matrimónio e do problema do divórcio e das segundas núpcias.
Masturbação
Irmã Farley escreve: «A masturbação (...) geralmente não comporta nenhum problema de carácter moral. (...) Este é sem dúvida o caso de muitas mulheres que (...) encontraram um grande bem no prazer buscado consigo mesmas – e talvez exactamente na descoberta das suas próprias possibilidades em relação ao prazer -, algo que muitas nem tinham experimentado e nem mesmo conhecido no tocante às suas relações sexuais ordinárias com maridos ou amantes. Neste sentido, é possível afirmar que a masturbação de facto favorece as relações muito mais do que as obstaculiza. Por isso a minha observação conclusiva é que os critérios da justiça, assim como os apresentei até agora, pareceriam aplicáveis à escolha de provar prazer sexual auto-erótico somente enquanto esta actividade pode favorecer ou danificar, mantém ou limita, o bem-estar e a liberdade de espírito. E esta resta amplamente uma questão de carácter empírico, não moral» (p. 236).
Estas afirmações não são conformes à doutrina católica: «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana. Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.»1
Actos homossexuais
Irmã Farley escreve: «Do meu ponto de vista (...), as relações homossexuais o os actos homossexuais podem ser justificados, de acordo com a mesma ética sexual, exactamente como as relações e os actos heterossexuais. Por isso, as pessoas com inclinações homossexuais, assim como os seus respectivos actos, podem e devem ser respeitados, indiferentemente de haver ou não a alternativa de serem diferentes» (p. 295).
Tal posição não é aceitável. A Igreja Católica, de facto, distingue entre pessoas com tendências homossexuais e actos homossexuais. Quanto às pessoas com tendências homossexuais, o Catecismo da Igreja Católica ensina que as mesmas devem ser acolhidas «com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta».2 No entanto, quanto aos actos homossexuais o Catecismo afirma: «Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves» a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados».3
Uniões homossexuais
Irmã Farley escreve: «Legislações sobre a não discriminação dos homossexuais, como também sobre os casais de facto, as uniões civis e os matrimónios gay, podem ter um papel importante na transformação do ódio, da marginalização e da estigmatização de gays e lésbicas, o que se reforça ainda hoje com ensinamentos a respeito do sexo «contra a natureza», desejo desordenado ou amor perigoso. (...) Uma das questões mais urgentes do momento, diante da opinião pública dos Estados Unidos, é o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo – equivale a dizer a concessão de um reconhecimento social e de uma qualificação jurídica às uniões homossexuais, sejam masculinas ou femininas, comparáveis às uniões entre heterossexuais» (p. 293).
Tal posição é oposta ao ensinamento do Magistério: «A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade».4 «Em defesa da legalização das uniões homossexuais não se pode invocar o princípio do respeito e da não discriminação de quem quer que seja. Uma distinção entre pessoas ou a negação de um reconhecimento ou de uma prestação social só são inaceitáveis quando contrárias à justiça. Não atribuir o estatuto social e jurídico de matrimónio a formas de vida que não são nem podem ser matrimoniais, não é contra a justiça; antes, é uma sua exigência».5
Indissolubilidade do matrimónio
Irmã Farley escreve: «A minha posição pessoal é que o empenho matrimonial seja sujeito à dissolução pelas mesmas razões fundamentais pelas quais todo empenho permanente, extremamente grave e quase incondicionado, pode cessar de exigir um vínculo. Isto implica que existam de facto situações nas quais as coisas mudaram demais – um ou os dois partner mudaram, a relação entre eles mudou, a razão original do seu compromisso recíproco parece completamente extinta. O sentido de um compromisso permanente é ademais exactamente aquele de vincular a despeito de todas as mudanças que podem aparecer. Mas é possível de sustentá-lo sempre? É possível sustentá-lo apesar de mudanças radicais e imprevistas? A minha resposta é: às vezes não é possível. Às vezes a obrigação pode ser desfeita e o compromisso pode ser legitimamente modificado»(pp. 304-305).
Uma opinião semelhante está em contradição com a doutrina católica sobre a indissolubilidade do matrimónio: «Pela sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade inviolável. Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser «até nova ordem». «Esta união íntima, enquanto doação recíproca de duas pessoas, tal como o bem dos filhos, exigem a inteira fidelidade dos cônjuges e reclamam a sua união indissolúvel». O motivo mais profundo encontra-se na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimónio, os esposos ficam habilitados a representar esta fidelidade e a dar testemunho dela. Pelo sacramento, a indissolubilidade do Matrimónio adquire um sentido novo e mais profundo. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel. E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei. Entre baptizados, o ! matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte»6.
Divórcio e segundas núpcias
Irmã Farley escreve: «Se há filhos do matrimónio, os ex-cônjuges deverão ajudar-se reciprocamente por anos, talvez por toda a vida, no projecto familiar empreendido. De qualquer modo, as vidas de duas pessoas uma vez casadas continuam marcadas pela experiência do matrimónio. A profundidade daquilo que resta admite graus, mas algo resta. No entanto, aquilo que resta impede um segundo matrimónio? Acho que não. Qualquer tipo de obrigação que implique um empenho não deve incluir a proibição de um novo matrimónio pelo menos não tanto quanto a ligação actual entre os esposos resulte numa tal proibição para quem continua vivo depois da morte do cônjuge» (p. 310).
Tal visão contradiz a doutrina católica que exclui a possibilidade de segundas núpcias depois de um divórcio: «Hoje em dia e em muitos países, são numerosos os católicos que recorrem ao divórcio, em conformidade com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova união. A Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo («quem repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério»: Mc 10, 11-12), que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro Matrimónio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objectivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo, ficam impedidos de exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação, por meio do sacramento da Penitência, só pode ser dada àqueles que se arrependerem de ter violado o sinal d! a Aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometerem a viver em continência completa».7
Conclusão
Com esta Notificação, a Congregação para a Doutrina da Fé expressa profundo pesar pelo facto de que um membro de um Instituto de Vida Consagrada, a Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., afirme posições em contraste directo com a doutrina católica no âmbito da moral sexual. A Congregação previne os fiéis de que o livro Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics não é conforme à doutrina da Igreja e portanto não pode ser utilizado como válida expressão da doutrina católica nem para a direcção espiritual e formação, nem para o diálogo ecuménico e inter-religioso. A Congregação deseja além disso encorajar os teólogos a fim de que prossigam na tarefa do estudo e do ensinamento da teologia moral em plena conformidade com os princípios da doutrina católica.
O Sumo Pontífice Bento XVI, durante a Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, em data de 16 de Março de 2012 aprovou a presente Notificação, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação em data de 14 de Março de 2012, e mandou que se publicasse.
Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé,

30 de Março de 2012.
William Cardeal Levada
Prefeito

domingo, 4 de novembro de 2012

Declaração de amor à língua portuguesa


Teolinda Gersão
Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia «ele está em casa», «em casa» era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.«O Quim está na retrete»: «na retrete» é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos «ela é bonita». Bonita é uma característica dela, mas «na retrete» é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.
No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um «complemento oblíquo». Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo «complemento oblíquo», já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, «algumas» é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos «O Zé não foi ao Porto», era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
No ano passado, se disséssemos «A rapariga entrou em casa. Abriu a janela», o sujeito de «abriu a janela» era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em «ampa», isso mesmo, claro).
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção – agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.
João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática).