Jimmy Akin
Se admitiu, o que é que vai fazer com ele?
O Papa Francisco foi recentemente notícia ao,
aparentemente, reconhecer a existência de um «lóbi gay» no
Vaticano. O que foi que disse?
O que é que quis dizer? O que é que vai fazer no
futuro?
Eis 10 coisas para saber e partilhar...
1. O que o Papa Francisco
disse?
Segundo a imprensa, o Papa disse recentemente:
Na cúria há gente santa, é verdade, há gente
santa.
Mas também há uma corrente de corrupção, também
há, é verdade.
Fala-se do «lobby gay», e é verdade, está aí…
temos de ver o que podemos fazer…
2. Quando e onde o disse?
De acordo com Rocco Palmo:
Estes comentários foram supostamente feitos
durante a audiência de uma hora que o Papa concedeu na 5.ª Feira (6 de Junho)
a responsáveis da «Confederación Latino Americana y Caribeña de Religiosas
y Religiosos» (CLAR).
Uma síntese não assinada do
encontro – coligindo uma selecção de citações fortes, mas sem ser uma
transcrição integral – foi dada, em exclusivo, e publicada no Domingo à
tarde por Reflexión y Liberación, um site dedicado a temas da
Igreja e com uma abordagem próxima da teologia da libertação.
Não se tratou, pois, de
declarações públicas, o que levanta a questão da sua autenticidade.
3. Mas terá mesmo
dito o que dizem que disse?
A minha impressão é que sim. As citações têm
muito o aspecto de serem do Papa Francisco, abordam os seus temas típicos, e
mostram uma franqueza desarmante que é muito dele.
Além disso, a Sala Stampa do Vaticano fez aquilo
que, na gíria do Watergate, se pode chamar uma «confirmação
não-confirmativa». Rocco aponta:
Chamado a reagir e comentar, o porta-voz do
Vaticano padre Federico Lombardi declarou à CNN que «foi uma reunião privada.
Não tenho comentário a fazer».
ACTUALIZAÇÃO
Está a ser noticiado que o site que originalmente publicou a conversa está a «demarcar-se» da parte relativa ao lóbi gay. Pode ler mais sobre isso aqui.
Com efeito foram acrescentadas algumas nuances, no entanto a demarcação não foi total. Alegadamente a conversa foi transcrita de memória e não a partir de qualquer gravação, por isso diz-se que as expressões «não se podem atribuir ao Santo Padre, com segurança» (o itálico é meu).
Está a ser noticiado que o site que originalmente publicou a conversa está a «demarcar-se» da parte relativa ao lóbi gay. Pode ler mais sobre isso aqui.
Com efeito foram acrescentadas algumas nuances, no entanto a demarcação não foi total. Alegadamente a conversa foi transcrita de memória e não a partir de qualquer gravação, por isso diz-se que as expressões «não se podem atribuir ao Santo Padre, com segurança» (o itálico é meu).
Isto não nega ou retira
veracidade à história. Não dizem que ele não disse.
Dizem que se baseia na
memória e, por tanto, não é 100% fiável (particularmente quanto às palavras exactas), mas não é a mesma coisa que
dizer que a afirmação nunca foi feita.
Pessoalmente, sempre imaginei que o relato era
baseado na memória e não numa gravação, e dado que a fonte é a memória de
várias testemunhas que estiveram presentes, a minha convicção é que a
afirmação foi feita, mesmo que persista a
interrogação sobre quais as palavras exactas que empregou.
4. O que quis dizer com «lóbi
gay»?
Não é claro.
Qualquer grupo considerável de pessoas pode ter
pessoas que têm atracção pelo mesmo sexo (SSA – same sex attraction) e uns
poucos dentre essas que actuam conduzidos por essa atracção.
Tais pessoas podem ter sabido da existência de
outras nas mesmas condições e terem formado uma rede de algum tipo.
Mas uma rede assim não
é a mesma coisa que um «lóbi».
Uma rede de conhecimentos só é um «lóbi» quando tenta influenciar
decisões de algum modo. Se o que fizessem fosse usar o conhecimento
recíproco para obter relacionamentos sexuais, isso não faria deles um «lóbi».
5. O que poderia um «lóbi»
tentar fazer?
Um objectivo óbvio de longo prazo seria tentar
influenciar o ensinamento da Igreja sobre o comportamento homossexual.
Se é esse o seu objectivo,
então não estão a ter grande êxito. A Igreja tem sido muito firme
sobre esse assunto.
A Congregação para a Doutrina da Fé
publicou vários documentos que abordam o tema mantendo o ensinamento
tradicional da Igreja, apesar da crescente oposição cultural.
Também podem tentar influenciar procedimentos
como, por exemplo, os relativos à admissão ao sacerdócio de pessoas com
orientação homossexual.
Se é isso que pretendem, também aí não tiveram
grande êxito.
Pouco depois de ter sido eleito Bento XVI, a Santa Sé fixou como guia que pessoas com orientação homossexual
estável e profundamente radicada não devem ser admitidas ao sacerdócio.
Um campo onde podem ter tido algum êxito é
através da influência sobre a trajectória de casos individuais – p. ex.
ajudando-se reciprocamente, procurando mutuamente a subida na carreira,
procurando colocar os seus membros em posições de influência, procurando trazer
pessoas que conhecem fora para dentro do Vaticano, e actuando para colocar
homossexuais em posições influentes fora do Vaticano.
6. Que dimensão tem o «lóbi
gay»
Como dissemos, qualquer grupo considerável de
pessoas tem dentro de si pessoas que sentem atracção por pessoas do mesmo sexo
(SSA), assim como qualquer grupo considerável de pessoas inclui uns poucos que
serão alvo de alguma tentação.
Se o grupo for de tamanho suficientemente
considerável, haverá sempre alguém que cede à tentação.
O Estado da Cidade do
Vaticano emprega cerca de 2.000 pessoas, e num grupo com essa dimensão, é inevitável que haja pessoas com
SSA, incluindo algumas que actuaram ou actuam nesse sentido.
«Quantos» é uma pergunta interessante, mas não há
grande maneira de saber.
Em todo o caso, não devemos assumir que seja um
número massivo.
Afinal, o Papa Francisco disse:«Na cúria há gente santa, é verdade, há gente
santa.»
Depois, anotou:
Mas também há uma corrente de corrupção, também
há, é verdade.
Esta «corrente de corrupção» é, aparentemente,
na sua perspectiva, menor do que o grupo de pessoas santas.
Então, aparentemente dentro da «corrente da corrupção»,
acrescentou:
Fala-se do «lóbi gay», e é verdade, está aí…
Isto sugere que o «lóbi gay» pode ser apenas uma
parte da «corrente de corrupção», que em si pode ser pequena em comparação
com o grupo muito maior de pessoas santas que trabalha na cúria.
Portanto, não devemos
entrar em pânico.
7. «Onde é que eu já ouvi
isto antes?»
Um possível membro do «lóbi gay» foi tirado do armário pelos media italianos em 2007.
Foi rapidamente demitido
das suas funções.
Mais recentemente, na esteira do escândalo
VatiLeaks, o Papa Bento nomeou uma comissão de três
cardeais para realizar uma investigação, e nas vésperas do recente conclave a
imprensa italiana começou a relatar que a comissão tinha encontrado provas de «lóbi gay» dentro do Vaticano.
Na época, havia rumores de que este lóbi teve
alguma coisa a ver com a renúncia do Papa Bento XVI.
Observadores do Vaticano pensam que é improvável
que tenha tido qualquer papel directo.
O Papa Bento XVI indicou que a sua renúncia se
devia à falta de energia necessária para governar a Igreja do modo que ele
pensava justo, e não há razões para duvidar disso.
É possível, porém, que os resultados da
investigação dos cardeais tenha sido um factor que contribuiu para a convicção
de que fazia falta um Papa com maior vigor para enfrentar a magnitude dos
desafios que se apresentam.
8. Onde teve o Papa Francisco
informação sobre o «lóbi gay»?
Provavelmente, encontrou-a
nas 300 páginas do relatório que se diz ter sido preparado pela comissão
de cardeais criada por Bento XVI.
Antes do conclave, havia dúvidas sobre se os
resultados do relatório seriam partilhados com os cardeais eleitores.
O relatório completo, ao que parece, não foi,
mas o relatório foi
aparentemente entregue ao Papa Francisco, após a sua eleição, e é sem
dúvida uma das suas fontes de informação.
9. E agora, o que é que vai
acontecer?
Estamos para ver. Segundo os
comentários que ele próprio fez:
«temos de ver o que podemos fazer…»
O simples facto de ter
feito estes comentários pode ser visto como um primeiro passo para resolver a
situação.
Ao fazer estes comentários, o Papa Francisco pode
ter previsto que acabariam por se tornar públicos, e pode ter pretendido que
fosse como uma espécie de tiro de aviso
ao «lóbi gay».
Por outras palavras: amigos, basta. Comecem a tirar o cavalo da chuva.
Isto pode ser entendido tanto quanto à actividade
sexual ilícita por membros da rede como qualquer tentativa de influenciar a
partir dela.
Mas há mais coisas que podem ser feitas.
10. Que mais se pode fazer?
Não é de esperar (em
circunstâncias normais) que a Santa Sé venha publicamente demitir os membros
desta rede, indicando a razão, tendo em conta a vaga de publicidade negativa
que isso iria causar.
No entanto, pode
bem decidir desmontar a rede removendo ou reafectando os seus membros, sem
declarar publicamente as razões.
O facto de o Papa Francisco estar a preparar uma
grande limpeza interna e provavelmente uma reestruturação da Cúria Romana (os
departamentos que o ajudam a governar a Igreja) seria uma excelente
oportunidade para executar esse plano.