sexta-feira, 16 de março de 2012

As feridas da Igreja




A Igreja, contrariamente à opinião de muitos que nela militam, sofre de grave enfermidade. Não no seu Espírito, mas no seu corpo.

De cabeça, na pessoa do Sumo Pontífice e de todos os bispos a ele unidos, não podia estar melhor, mas nos restantes membros deste corpo místico de Cristo que é constituído por todos os fiéis, ordenados e leigos, sofre de vários e graves achaques.

Tratando-se de matéria tão vasta, debrucemo-nos um pouco apenas sobre a liturgia da Missa, descendo à origem do Novus Ordo Missae, dada a importância em sabermos como foi «cozinhado».

A Missa que hoje se celebra teve como responsável Monsenhor Annibale Bugnini. Como colaboradores, imaginem só, ainda que, formalmente, na qualidade de observadores, chamou os doutores Geoges, Jasper, Sephard, Konneth, Smith e Max Thurian, seis protestantes representando o Conselho ecuménico das igrejas cismáticas anglicana, luterana, e os monges de Taizé.

Do trabalho desta equipa resultou um tipo de missa que podia servir para o culto de alguns protestantes, sem se verem feridos no seu «credo».

Julien Green, anglicano convertido, definiu o novo rito como «uma imitação bastante grosseira do serviço anglicano».(1)

Por ter ido muito além do que era suposto, foi a reforma litúrgica sujeita a apreciação em sínodo dos Bispos, em Outubro de 1967, como «Missa Normativa». Do pronunciamento dos Bispos resultou uma votação de 72 votos a favor e de 104 contra. Rejeitada, portanto! Mas como os filhos das trevas sempre arranjam estratagemas para levarem a sua avante, conseguiram que, dois anos depois o Novus Ordo Missae fizesse lei, e em 3 de Abril de 1969, Paulo VI promulga a Constituição Apostólica Missale Romanum.

Escandalizados com esta reforma que abria as portas à introsão do protestantismo, um grupo de teólogos, liturgistas e pastores de almas, do qual fizeram parte os cardeais Alfredo Ottaviani, Pro-Prefeito da Sagrada Congregação do Santo Ofício, e Bacci, escreveram ao Papa uma carta datada de 25/9/69. Tratava-se de uma breve análise crítica à Nova Missa elaborada pela equipa de Monsenhor Bugnini.

Além de outras considerações, nela diziam:
«O Novus Ordo Missae representa um distanciamento, de maneira impressionante, tanto em seu conjunto como em detalhe, da teologia católica da santa Missa, tal como ela foi formulada na sessão XXII do Concílio de Trento. Os cânones do Rito definitivamente fixados naquele concílio, constituem uma barreira incontornável contra toda a classe de heresias, que atentava contra a integridade da Santa Missa».

Este breve exame fez com que, em 20/10/69, saísse um documento que retardava em dois anos a entrada em vigor da Nova Missa (de 30/11/69 a 28/11/71). Mas não tinham ainda decorrido quatro meses, quando aparece uma nova Apresentação do Novo Missal. Nela se vêem corrigidos alguns artigos para terem um sentido mais conforme com a Doutrina Católica. No entanto, os novos ritos da Missa, inexplicavelmente, permanecem…

Perante o escândalo, Paulo VI extinguiu a Congregação do Culto Divino e afastou Monsenhor Bugnini de Roma, mandando-o para o Irão. Mas o mal já estava feito…

Já no pontificado de João XXIII o Arcebispo Bugnini tinha sido expulso por este da Cátedra da Sagrada Liturgia, mas como astúcia é coisa que nunca faltou aos impostores, conseguiu tomar as rédeas da reforma litúrgica com Paulo VI…

Como sofreu o Santo Padre, ao ver-se rodeado de vários inimigos da Santa Igreja vestidos de cardeais, que, juntamente com outros bispos, sobre ele exerceram fortes pressões.

Vendo depois em que se traduziram tais pressões, lamentou-se em 1976: «Reduzem a Missa ou os Sacramentos a uma celebração da própria vida, da própria luta, ao símbolo da sua fraternidade… esvaziando a liturgia do seu conteúdo e criando uma nova “gnose”, introduzindo na Igreja uma espécie de livre exame».

Por outras palavras podemos nós dizer que o protestantismo alemão e o modernismo (2) assentaram arraiais no coração da própria Igreja, desnaturalizando a sua essência. Em seu lamento, disse ainda o Santo Padre que «o fumo de Satanás entrou na Igreja».

Para melhor falarmos sobre uma determinada obra, importa que primeiramente conheçamos o seu autor. E o responsável desta, ainda que exteriormente se revestisse da dignidade episcopal, era na verdade um inimigo da Santa Igreja, um lobo em pele de cordeiro.

Como afirma sem temor Tito Casini em seu livro «O fumo de Satanás» (Florência, 1975, pg. 150), Monsenhor Annibale Bugnini ingressou na Maçonaria em 23-4-1963, na loja Grande Oriente d’Itália, com o número de matrícula 1365/75 e sob o nome de código BUAN.

Não pense, porém, o leitor, que é caso único. A revista “Bouletin de L’Ocident Chretien”, no seu Nº 12, de Julho de 1976, num extenso artigo intitulado “Mações”, apresenta uma relação de 125 Cardeais, Bispos e Padres filiados na maçonaria, com a correspondente data de ingresso na mesma.

Quando tantas vezes ouvimos dizer a alguém que não vai à Missa porque não lhe diz nada, quando nós mesmos tantas vezes de lá vimos com a sensação de um vazio que esperávamos preencher quando íamos para a igreja, é por causa deste esvaziamento do sagrado a que se chegou na Liturgia e nos Ritos.

Em próxima edição exporei aqui outras feridas do corpo místico de Cristo, e os males que a nós mesmos cabe corrigir.
___________
(1) Julien Green, «Ce qu’il faut d’amour à l’homme».
(2) Movimento surgido nos finais do séc. XIX,  que procura adaptar a doutrina e a vida da Igreja às correntes de pensamento do tempo. O papa S. Pio X condenou este movimento na Encíclica Pascendi (1907), chegando mesmo a impôr o «juramento antimodernista» a todos os que pretendessem assumir algum dos relevantes serviços na Igreja.

José Augusto Santos, As feridas da Igreja I - in Notícias de Chaves, Nº. 3160

O acordo ortográfico e o futuro
da língua portuguesa


Maria Clara Assunção






Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.

Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.

É um fato que não se pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.

Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.

Porqe é qe «assunção» se escreve com «ç» e «ascensão» se escreve com «s»?

Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o «ç».

Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o «ç» e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.

Como consequência, também os «ss» deixariam de ser nesesários já qe um «s» se pasará a ler sempre e apenas «s».

Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, «usar», é isso mesmo, se o «s» pasar a ter sempre o som de «s» o som «z» pasará a ser sempre reprezentado por um «z».
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é «z» escreve-se sempre com «z».

Quanto ao «c» (que se diz «cê» mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de «q») pode, com vantagem, ser substituído pelo «q». Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de «k».

Não pensem qe me esqesi do som «ch».

O som «ch» pasa a ser reprezentado pela letra «x». Alguém dix «csix» para dezinar o «x»? Ninguém, pois não? O «x» xama-se «xis». Poix é iso mexmo qe fiqa.

Qomo podem ver, já eliminámox o «c», o «h», o «p» e o «u» inúteix, a tripla leitura da letra «s» e também a tripla leitura da letra «x».

Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex. Não, não leiam «simpléqs», leiam simplex. O som «qs» pasa a ser exqrito «qs» u qe é muito maix qonforme à leitura natural.

No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.

Vejamox o qaso do som «j». Umax vezex excrevemox exte som qom «j» outrax vezex qom «g». Para qê qomplicar?!?

Se uzarmox sempre o «j» para o som «j» não presizamox do «u» a segir à letra «g» poix exta terá, sempre, o som «g» e nunqa o som «j». Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.

É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?

Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam!

Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.

A qextão a qoloqar é: á alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.

É o qazo da letra «a». Umax vezex lê-se «á», aberto, outrax vezex lê-se «â», fexado. Nada a fazer.

Max, em outrox qazos, á alternativax.

Vejamox o «o»: umax vezex lê-se «ó», outrax vezex lê-se «u» e outrax, ainda, lê-se «ô». Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o «u»? Para u uzar, não? Se u som «u» pasar a ser sempre reprezentado pela letra «u» fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u «o» pasa a suar sempre «ó», tornandu até dexnesesáriu u asentu.

Já nu qazu da letra «e», também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa «é», abertu, pudemux usar u «e». U mexmu para u som «ê». Max quandu u «e» se lê «i», deverá ser subxtituídu pelu «i». I naqelex qazux em qe u «e» se lê «â» deve ser subxtituidu pelu «a».
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex.

Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u «til» subxtituindu, nus ditongux, «ão» pur «aum», «ães» – ou melhor «ãix» - pur «ainx» i «õix» pur «oinx». Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.

Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.

Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?

terça-feira, 13 de março de 2012

A Igreja e os pecados dos seus filhos


Pedro Vaz Patto








Realizou-se em Fevereiro no Vaticano um simpósio sobre as consequências dos abusos sexuais de crianças e adolescentes perpetrados por sacerdotes, com o objectivo de «escutar, compreender e agir para curar e reabilitar as vítimas». Depois de vários representantes de igrejas locais terem descurado, de forma grave e censurável, o bem destas vítimas, este simpósio revela como a Igreja tem hoje uma postura diferente, de grande solicitude para com elas e de grande cuidado na prevenção deste crime. A ponto de haver quem tenha apontado esta atitude como um exemplo para muitas outras instituições que, de uma ou de outra forma, se deparam com este fenómeno. Porque os abusos sexuais de crianças e adolescentes não são, obviamente, e contra o que uma leitura apressada dos media talvez pudesse levar a crer, uma particularidade da Igreja católica: são uma chaga do quotidiano dos tribunais.

Particularmente impressionante e elucidativo foi o testemunho apresentado nesse simpósio (e divulgado na internet) de uma dessas vítimas, Marie Collins, acompanhado dos comentários da sua terapeuta, Sheila Hollins. Nele transparece como as sequelas de agressões sofridas na adolescência podem prolongar-se durante muitos anos, a ponto de afectar gravemente até a vida conjugal e familiar. Particularmente danosas são as situações em que a vítima não é reconhecida como tal, em que não é dado crédito à sua versão dos factos, e em que ela chega até a ser culpabilizada.

Deste testemunho podem retirar-se outras conclusões importantes.

A negação ou desvalorização destas situações por parte de responsáveis da Igreja, porventura com o intuito de preservar a reputação da instituição, levou a que – afirmou Marie Collins – «ao procurar salvar do escândalo», se tenha provocado «o maior dos escândalos, permitindo que se continuasse a praticar o mal e se destruísse a fé das vítimas». O bem da Igreja nunca poderá assentar no sacrifício da verdade (a verdade liberta – diz o Evangelho), da justiça e do bem das vítimas de crimes.

Por outro lado, como já o afirmara a propósito Bento XVI aquando da sua visita a Portugal, o perdão não dispensa a justiça (já o afirmara também João Paulo II na sua mensagem para o dia mundial da Paz de 2002: «o perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada, mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranquilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação de hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações»). No seu testemunho, Marie Collins referiu que a confissão do crime por parte do seu agressor foi um passo importante no seu processo terapêutico, e que foi a partir dessa confissão que conseguiu perdoar.

O testemunho de Marie Collins também é elucidativo a respeito das consequências da prática destes crimes por sacerdotes na fé das vítimas. Impressionante a sua referência ao facto de «as mãos que a agrediram» serem as mesmas que «ofereciam o Santo Sacramento». O abuso do poder espiritual dos sacerdotes que praticaram os crimes, mas também a indiferença para com as vítimas por parte das autoridades que os protegeram, abalou em muitas destas, talvez nem sempre a fé em Deus, mas quase sempre a fé na Igreja. Como o simples conhecimento destes factos pode abalar a fé na Igreja de muitas pessoas, mesmo que não sejam vítimas.

Ao longo da História da Igreja, sempre nela a santidade conviveu com o pecado, e nunca os erros dos seus filhos, por mais graves que fossem, e até em períodos mais «negros» do que o actual (como o que conduziu ao cisma protestante, por exemplo) impediram que Deus continuasse, com o Seu Espírito, a assisti-la. Houve até quem (incluindo alguns santos), ao longo da História, com razão tenha concluindo que só a assistência de Deus, nunca as qualidades dos seus membros, explica que a Igreja tenha sobrevivido e resistido a séculos dos mais variados erros e pecados, o que não sucedeu a qualquer outra instituição humana. É também a assistência de Deus que, neste caso, leva hoje a Igreja a reconhecer humildemente os erros e pecados dos seus filhos, a pedir desculpa às vítimas e a fazer o que está ao seu alcance para reparar os danos por estas sofridos.

A lógica da decadência


D. Nuno Brás







Não gosto de ser «profeta da desgraça» mas, infelizmente, creio que nem é preciso ser profeta. Basta, simplesmente, darmo-nos conta da realidade. No mundo ocidental, vivemos numa clara «lógica da decadência». Em todos os âmbitos e de há vários anos a esta parte.

Na economia, a «ciência das ciências» sem a qual parece que ninguém pode sobreviver, o que importa são os números, as estatísticas, e particularmente o crescimento da riqueza. De tempos-a-tempos vem uma crise, uns quantos declaram falência, outros passam por momentos mais difíceis, mas como, depois, o mecanismo se reajusta por si mesmo, tudo parece acabar bem, como num qualquer romance cor-de-rosa. Só nos esquecemos dos dramas humanos que, entretanto, foram vividos, e daqueles outros criados pela nova situação.

Na vida social, impôs-se o «politicamente correcto» ditado pelos telejornais e respectivos comentadores. Basta que cada um viva de acordo com os padrões estéticos (muito mais importantes hoje que os valores éticos), tenha dinheiro suficiente, gaste bastante em roupa e produtos tecnológicos, e possa viver como egoisticamente lhe apetece. Deixámos de ser uma sociedade, para sermos um conjunto de indivíduos que vivem ao lado uns dos outros, na esperança que ninguém retire ao outro o sossego que lhe é devido. E o direito passou a tutelar esse modo de viver. A família deixou de ter qualquer valor. Tanto dá que possa ou não ser o berço da vida. A lei só tem que defender o egoísta e aquilo que lhe apetece no momento.

Aliás, há muito que a vida humana deixou, efectivamente, de contar. Somos capazes de defender com tenacidade a vida das baleias, dos golfinhos e das plantas raras ou em vias de extinção; mas só em Portugal o Estado patrocinou cerca de 80.000 abortos (80.000 portugueses que foram mortos com a cobertura da lei e das instituições, sem terem cometido qualquer crime), mesmo que, depois, se mostre preocupado com a crescente diminuição da população portuguesa. Não tardará a que surjam opiniões nacionais a defender, como aconteceu numa recente revista britânica, que é perfeitamente legítimo matar recém-nascidos que não se integrem nos padrões decididos pela sociedade.

A própria fé não raras vezes é olhada como sendo demasiado exigente. Por isso, cada um faz os «descontos» que lhe apraz – cada crente (infelizmente, mesmo alguns sacerdotes) acha que a deve viver de uma forma mais suave (leia-se: menos exigente), até para que não o chamem de «fundamentalista» (pecado mortal numa sociedade em decadência e onde tudo vale), e as suas incapacidades, pecados e falta de coragem se vejam pretensamente justificados aos olhos de Deus.

E poderíamos continuar… Mas recuso-me a ser profeta da desgraça. Até porque é neste mundo, que se encaminha a passos largos para a decadência, que Deus nos enviou a proclamar com ousadia a Boa Nova do Evangelho. E essa propõe a todos uma vida nova, «radicalmente nova» – ou seja, nova de raiz, não a partir do homem mas de Deus. Ou melhor, a partir de Jesus de Nazaré.

A desmistificação de uma contradição

Gonçalo Portocarrero de Almada











1. Todas as pessoas são livres de opinar sobre o que quiserem, mas só algumas têm a competência necessária para dirimirem, com autoridade, uma questão polémica. A Maçonaria talvez possa permitir que os seus súbditos sejam católicos, mas não que os cristãos sejam maçons, porque só a Igreja, pela voz autorizada do seu magistério e da sua hierarquia, é apta para decidir se um fiel pode, ou não, pertencer à Maçonaria.

2. Sobre esta matéria, a verdade é que a Igreja não tem sido omissa. Já em 1738, com a Constituição Apostólica In eminenti, de Clemente XII, a Maçonaria foi formal e expressamente proibida aos católicos, sob pena de excomunhão. Desde então, todos os papas confirmaram a radical e insolúvel incompatibilidade entre as duas instituições. Leão XIII, na Encíclica Humanum genus, de 1884, reafirmou a interdição dos fiéis aderirem à Maçonaria e, em mais 225 documentos, reiterou até à saciedade esta condenação. O diagnóstico foi sempre o mesmo: são duas visões insanavelmente divergentes no que respeita a Deus, ao homem, à verdade e à liberdade. Também os papas actuais, nomeadamente o beato João Paulo II e Bento XVI, mantiveram o mesmo veredicto que, portanto, se deve considerar doutrina definitiva e irreformável da Igreja. Pelo menos enquanto a Igreja e a Maçonaria forem o que são.

3. Também, do ponto de vista canónico, não há lugar para dúvidas. O anterior Código, de 1917, previa a pena máxima, ou seja, a excomunhão automática, para o católico que se inscrevesse numa qualquer loja maçónica. O Código actual, de 1983, embora não imponha de forma imediata essa sanção, que contudo também não exclui, esclarece que um cristão que pertença à Maçonaria fica, ipso facto, em situação de pecado grave ou mortal e, em consequência, privado da comunhão sacramental.

4. Como entender, então, que alguém se afirme publicamente como católico e maçon? A expressão, contraditória nos seus termos, só admite duas possíveis explicações.

A primeira hipótese é a de que o dito crente ignore, de boa-fé, a doutrina da Igreja sobre o particular, bem como a natureza intrinsecamente anticristã da Maçonaria.

Alguns cristãos - crianças, analfabetos, etc. - talvez desconheçam esta incompatibilidade, mas seria estranho que entre os maçons, uma elite supostamente tão ilustrada, se desse uma tal ignorância. É, no mínimo, curioso que, em pleno séc. XXI, haja ainda intelectuais, como os ditos pedreiros-livres, que desconheçam uma doutrina reafirmada repetidamente, há quase três séculos, pela Igreja, e atestada por nada menos do que 598 declarações unânimes do seu magistério!

Se a boa-fé for autêntica e tão crassa a ignorância, o crente maçon é inocente de uma tal incoerência. Mas deixará de o ser se, esclarecido sobre a impossibilidade de pertencer às duas entidades, não deixar a Maçonaria.

5. A outra hipótese é a de que o cristão, que publicamente se diz maçon, aja de má-fé. Com efeito, um fiel que, conhecendo minimamente a doutrina cristã, adere consciente e voluntariamente a uma ideologia que sabe ininterrupta e fundadamente proibida por todos os papas, de fiel só tem o nome. De facto, um soldado, que desobedece a quase seiscentas ordens dos seus legítimos superiores, não é apenas um refractário, mas um desertor, ou um traidor. Talvez fosse pensando nestes tais «cristãos» que Paulo VI afirmou que o fumo de Satanás se infiltrou na Igreja de Deus...

Quem, de forma tão acintosa, desrespeita um mandato formal da máxima autoridade religiosa e disso faz público alarde, ofende gravemente a Igreja, que devia amar e servir. Aliás, estes «cristãos», que são tão solícitos no apoio à «sua» Maçonaria, nunca vêm a público defender a Igreja, ou o seu magistério, que amiúde contradizem. Não em vão Cristo disse que é pelas obras que se conhecem os seus verdadeiros discípulos e, ainda, que ninguém pode servir a dois senhores.

6. Talvez seja esta a prova que faltava para poder concluir, na verdade da caridade, que a Maçonaria - não obstante a eventual boa-fé, por ignorância invencível, de alguns dos seus membros - continua fiel, apesar das suas campanhas de desinformação e de branqueamento do seu passado, ao seu ideário anticristão e anticlerical.

Afinal de contas, «católico maçon» não é apenas uma contradição, mas uma dupla mentira: nem católico... nem pedreiro!

Porque é que o bebé há-de viver?


Pedro Vaz Patto








Muita polémica e indignação gerou a publicação de um artigo numa revista de ética médica (Journal of medical ethics), da autoria de Alberto Giubilini e Francesa Minerva, com o título O aborto pós- natal; porque é que o bebé há-de viver?. Nele se defende a tese de que é lícito matar um bebé recém-nascido. Não se fala em infanticídio, mas em aborto pós- natal, porque o bebé recém-nascido, como o embrião e o feto, não tem o estatuto moral de pessoa. Não basta ser humano para ter direito a viver. Só tem o estatuto de pessoa e o direito a viver quem é capaz de atribuir valor à sua existência porque formula objetivos («aims») para o futuro dessa existência e tem, por isso, interesse em viver. Quem não tem essa capacidade (como sucede com o recém-nascido, mas já não com alguns animais não humanos), não sofre qualquer privação ou dano quando morre. Pode um recém-nascido sofrer um dano quando a morte lhe causa dor. E pode ele ter algum valor moral quando os pais querem que ele viva. Mas se isso não acontecer, nada obsta a que se mate um recém-nascido, não só quando ele padeça de alguma deficiência (o que já sucede na Holanda, onde é, nesse caso, lícita a chamada eutanásia pós-natal) e a vida possa ser, supostamente, para ele um fardo; mas também quando ele, por qualquer motivo, represente um fardo, psicológico e económico, para os pais e a sociedade. Os interesses destes (pessoas actuais) prevalecem sempre sobre os de quem ainda não é pessoa e só o será potencialmente. Nas primeiras semanas após o nascimento, a criança não tem capacidade de ter objectivos («aims») para a sua vida. E mesmo quando, pouco depois, começa a ter essa capacidade de forma incipiente, esta ainda deve ceder perante a capacidade que têm os adultos de formular planos desenvolvidos para as suas próprias vidas. A morte da criança poderá, para os seus pais, ser menos traumatizante do que a autorização de adopção, porque neste caso a aceitação da realidade da perda definitiva pode ser mais difícil, pois não há a certeza da irreversibilidade e permanece a esperança do retorno. Quando assim for, é preferível matar a criança.

A tese não é inteiramente inovadora (já havia sido defendida pelos influentes académicos Michael Tooley e Peter Singer), mas ainda não tinha sido exposta com tanta crueza, nem levada a consequências que muitos considerarão tão arrepiantes.

Deve reconhecer-se a coerência da tese: entre o embrião, o feto e o recém- nascido não há uma diferença de natureza, qualitativa ou substancial. A criança antes e depois do nascimento não é substancialmente diferente. Estamos apenas perante fases distintas de um processo de evolução contínuo. Mas isso deve servir para estender a ilegitimidade do infanticídio à ilegitimidade do aborto, não para estender a pretensa legitimidade do aborto à pretensa legitimidade de infanticídio. Até porque também não há saltos de qualidade no processo de evolução contínuo que vai do nascimento à idade adulta.

A repulsa que espontaneamente tem causado esta tese (que revela como, apesar de tudo, permanece viva uma sensibilidade marcada pela cultura judaico-cristã e valores humanistas) quase dispensaria a tentativa de a refutar no plano racional. Estamos perante uma tese que é, antes de mais, contra-intuitiva. Mas não deixa de ser útil proceder a tal refutação.

Em coerência, a tese levaria ao absurdo de considerar que a perda da vida (como de outros direitos) não representa um dano para quem não tem consciência do mesmo, por estar temporariamente inconsciente (a dormir, por exemplo). Os autores do estudo respondem à objecção dizendo que nestes casos não há uma verdadeira incapacidade, mas uma simples privação temporária. Só que não se compreende a relevância dessa diferença. Será diferente ter a possibilidade de readquirir a consciência umas horas depois (como sucede com quem está a dormir), ou de a vir a adquirir alguns meses depois (como sucede com um recém-nascido)?

Ao pôr termo à vida de um feto ou de um recém-nascido não se está a privar estes de um interesse explícito e actual em viver, mas está-se a impedir (o que não é menos grave) que eles venham a adquirir esse interesse no futuro, como viriam a adquirir se não fosse impedido o seu natural desenvolvimento (nenhum de nós estaria hoje vivo se tivesse sido impedido esse natural desenvolvimento, o que representaria um inegável dano). A esta objecção, respondem os autores do estudo com um raciocínio falacioso, que assenta numa petição de princípio: dizem que quem ainda não tem o estatuto de pessoa (o que está por demonstrar), quem ainda não existe (o que não é seguramente verdade), não pode sofrer qualquer dano, e, por isso, os interesses das pessoas actuais prevalecem sempre sobre os interesses das pessoas potenciais. Mas o embrião, o feto e o recém-nascido, não existem apenas em potência, são já actuais, embora não tenham ainda actualizadas todas as suas potencialidades (o que sempre se verifica com a pessoa até à idade adulta, e até ao fim da vida).

A vida é o maior dos bens humanos e o primeiro dos direitos humanos, o pressuposto de todos os outros bens e de todos os outros direitos. Este é um dado objectivo. É assim mesmo que o seu titular não tenha consciência disso e disso não se aperceba. Se isso sucede, tal verifica-se porque há alguma debilidade devida à idade (do embrião, do feto, do recém-nascido, da criança), à doença ou à deficiência em graus extremos. Não é por causa de uma qualquer incapacidade ou debilidade que a pessoa perde dignidade, valor moral ou direitos. Pelo contrário, é precisamente nos casos de maior debilidade ou incapacidade que mais se justifica eticamente o cuidado dos outros e a tutela da ordem jurídica. Quem mais precisa de ser defendido é quem não é capaz de se defender por si próprio. É nesses casos que vale especialmente a advertência evangélica sobre o amor ao «mais pequeno dos meus irmãos». E também a regra de ouro comum a todas as religiões e correntes éticas laicas: «não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti» (a ti, que já fostes um feto ou um recém-nascido e a quem ninguém impediu o natural desenvolvimento). Ou a advertência da nota, publicada a propósito deste estudo, do Centro de Bioética da Universidade Católica italiana del Sacro Cuore: «se não formos capazes de tutelar quem não é capaz de se auto-tutelar poremos fim à própria ideia de democracia tal como a reconstruímos depois das violências totalitárias».

Petição online


Acabei de ler e assinar esta petição online: 

«Em defesa do tratamento adequado de todos os doentes com Esclerose Múltipla em Portugal» 
Se também quiser subscrever:   

Agradeço a bondade de a divulgar

Obrigado.
Infovitae

segunda-feira, 12 de março de 2012

Qual é a presa favorita do diabo?


Entrevista em vídeo ao Pe. Amorth, exorcista

O Pe Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma, luta todos os dias directamente com o diabo.

A sua experiência está contida no livro «O último exorcista» escrito juntamento com o jornalista de Foglio, Paolo Rodari.

Numa entrevista em vídeo concedida a tempi.it , o padre Amorth explica as razões do mal e como combatê-lo: «O diabo move-se na dissimulação, evita ser descoberto porque Jesus diz no Evangelho: "Quem não é comigo é contra mim ". Não há terceira via: quem não está com Cristo é contra Cristo ».

Qual é a presa favorita do diabo?

«O diabo tenta todos, sem excepção. Na verdade quem tem mais poder é uma presa tentadora para Satanás. Mesmo na hierarquia da Igreja ninguém está a salvo da tentação e não descarto que alguém tenha caído.»

Mas não me escandalizo, porque a Igreja avança pela força da presença de Cristo e sempre se fará sentir o odor de enxofre na casa do Senhor.

O diabo tenta as pessoas no topo, porque assim não pesca à linha, mas pesca com rede: líderes governamentais, responsáveis da economia, do desporto, do entretenimento e todos os sacerdotes; imagine-se como lhe há-de interessar também o Vaticano, cume do antisatanismo".

Um papel importante na luta contra Satanás assumiu o pontificado de Karol Wojtyla, «O diabo disse-me um dia que João Paulo II era péssimo, mas o Papa actual era pior. As palavras do diabo foram um elogio para Bento XVI. »

O exorcista da diocese de Roma, sobre um diálogo com o diabo, relata: «Se fôssemos visíveis aos olhos, escureceríamos o sol», disse Satanás, «mas - diz o padre Amorth - os anjos são muito mais, são milhões e vencem a presença satânica. Nesta luta, devemos fazer a nossa parte. Jesus claramente diz no Evangelho: precisamos de fé ».

O exorcista recomenda a aproximação ao sacramento da confissão: «Os pecados, depois da Reconciliação, são destruídos, deixam de existir. Acontece por vezes que o diabo, durante os exorcismos, diz a lista das faltas das pessoas presentes, mas não pode dizer os erros já confessados, porque deles já não há nenhum vestígio, Deus, na sua misericórdia, cancelou-os.»

Entrevista em:

«Gostam de ocupar o primeiro lugar
nos banquetes e os primeiros assentos
nas sinagogas.»



Mateus 23,1-12.

Naquele tempo, Jesus falou assim à multidão e aos seus discípulos:
«Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés.
Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem.
Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar.
Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens. Por isso, alargam as filactérias e alongam as orlas dos seus mantos.
Gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas.
Gostam das saudações nas praças públicas e de serem chamados 'mestres’ pelos homens.
Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos.
E, na terra, a ninguém chameis 'Pai’, porque um só é o vosso 'Pai’: aquele que está no Céu.
Nem permitais que vos tratem por 'doutores’, porque um só é o vosso 'Doutor’: Cristo.
O maior de entre vós será o vosso servo.
Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado.

Papa lamenta «analfabetismo religioso»


Visita de Bento XVI à paróquia romana de São João Baptista de La Salle

Bento XVI afirmou hoje em Roma que os católicos devem empenhar-se para “superar o analfabetismo religioso” que classificou como um dos maiores problemas da sociedade actual.

O Papa falava na visita à paróquia de São João Baptista de La Salle, na região sul da capital italiana, o seu primeiro compromisso público após uma semana de retiro quaresmal, no Vaticano.

Manifestando «grande alegria» por ver tantas crianças nesta comunidade católica, o Papa recordou, na homilia da missa a que presidiu, a missão de cada família na educação para a fé.

O Papa centrou a sua reflexão nas leituras bíblicas proferidas na celebração, afirmando que Deus «não quer a morte, mas a vida» e que cada pessoa está «no coração» desse mesmo Deus, que ofereceu o seu filho Jesus à humanidade.

«Ninguém nos poderá separar do seu imenso amor», declarou.

Bento XVI falou ainda de uma «estrada de amor luminoso que vence as trevas», através do dom total de si mesmo.

«É o êxodo definitivo que nos abre a porta para a liberdade e a novidade da ressurreição, da salvação do mal; temos necessidade disso no nosso caminho quotidiano, muitas vezes marcado também pela escuridão do mal», disse ainda.

Já de regresso ao Vaticano, para a recitação da oração do Angelus, o Papa regressou a este tema, referindo que «Jesus é a noite que nunca se apaga, mesmo na noite mais escura».

«Caros irmãos e irmãs, todos nós temos necessidade de luz interior para superar as provas da vida», observou, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

Em francês, Bento XVI desafiou os presentes a não terem «vergonha» de ser cristãos e a viver a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa que a Igreja Católica está a assinalar, em todos os seus «lugares de vida».

Antologia de textos
de Maria de Lourdes Pintasilgo


Heduíno Gomes



A esquerda que actua no seio da Igreja portuguesa procedeu à edição de uma antologia de textos de um dos seus mitos, Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004), «um peixinho vermelho em água benta», como Salazar a qualificou.

Esta antologia tem prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e posfácio de Maria João Seixas, e é apresentada por Maria de Belém. O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e a agência Ecclesia participam na festa.

Registe-se.

Onde está a surpresa?


Nuno Serras Pereira










Pela forte bátega de mensagens-e, de gente estupefacta e «incrédula», que recebi a propósito da notícia «Matar um bebé é o mesmo que fazer um aborto», dizem estudiosos, dei como infrutífero o penosíssimo trabalho a favor do Evangelho da vida a que me tenho dedicado progressiva e arduamente desde há trinta e quatro anos. Não saberei dizer se vos parece pouco e uma sem-razão quer o empenho quer o queixume. Por isso acrescentarei que estar continuamente estudando, escrevendo, alertando, insistindo, rezando, pregando, explicando, teimando, descrevendo, coisas tão sórdidas como o aborto provocado, a matança de embriões humanos e eutanásia, contra quase todos, a condenação de muitos, a incompreensão geral e a marginalização sistemática, é uma agonia, uma exaustão que me deixa literalmente esbodegado. Não que me arrependa ou sequer o lamente, de modo nenhum, tanto mais que no meio de tanta cruz lá se encontra a ressurreição e o amparo fiel de uma porção significativa de amigos formidáveis.


Mas custa a crer que tantos não tenham entendido que a morte provocada de uma pessoa no estado embrionário, fetal, recém-nascida, criança, adolescente, adulta, anciã, saudável, enferma, deficiente ou moribunda constitui, objectivamente, um assassinato. E que a gravidade de tal acto se torna tanto maior quanto mais vulnerável é a pessoa eliminada. Por isso, como lembra o Beato João Paulo II, o Vaticano II designa como crimes abomináveis quer o infanticídio quer o aborto. Mas, para que entendamos bem não somente a semelhança entre um e outro, mas também a diferença no grau de gravidade logo afirma sem titubeações: «A gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme (indefeso, desarmado), e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à protecção e aos cuidados daquela que o traz no seio. E todavia, às vezes, é precisamente ela, a mãe, quem decide e pede a sua eliminação, ou até a provoca.» (João Paulo II, Evangelium vitae, 58). Daqui a conclusão: «De entre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente perverso e abominável.» (Idem). Torno a repetir, como já o fiz num texto anterior, que isto foi escrito por um Papa que antes de o ser passou pelos terrores e horrores quer do nazismo quer do comunismo.

Constitui para mim uma enorme perplexidade como, aqui em Portugal, se branqueia e se censura esta Encíclica que João Paulo II considerava central no seu Magistério: «Desejo, antes de tudo, agradecer … o facto de terem pensado e organizado esta Jornada comemorativa do quinto aniversário da publicação da Encíclica Evangelium vitae. … Documento, que considero central no conjunto do Magistério do meu Pontificado (sublinhado meu) e em ideal continuidade com a Encíclica Humanae vitae do Papa Paulo VI, de venerada memória.» (João Paulo II, Discurso no 5º aniversário da Evangelium Vitae).

Quantas conferências, entrevistas, palestras, reportagens, livros sobre este Papa e o seu Pontificado, realizadas pelas mais graúdas sumidades da Igreja em Portugal e nem uma palavra, uma referência, uma atenção a este ponto nuclear do seu Magistério. A Humanae vitae e a Evangelium vitae geram paralisia mental nesses Prelados e Fiéis Leigos subidamente qualificados.

Em verdade vos digo que a não haver intervenção Divina não tardará muito a termos professores na ucp (universidade católica portuguesa) e comentadores na rr (rádio renascença) que advogam o infanticídio, o eugenismo, a eutanásia, o suicídio assistido, como hoje lá temos os que propagandam o aborto, a selecção embrionária, a clonagem e outras atrocidades ignominiosas.