sexta-feira, 16 de março de 2012

As feridas da Igreja




A Igreja, contrariamente à opinião de muitos que nela militam, sofre de grave enfermidade. Não no seu Espírito, mas no seu corpo.

De cabeça, na pessoa do Sumo Pontífice e de todos os bispos a ele unidos, não podia estar melhor, mas nos restantes membros deste corpo místico de Cristo que é constituído por todos os fiéis, ordenados e leigos, sofre de vários e graves achaques.

Tratando-se de matéria tão vasta, debrucemo-nos um pouco apenas sobre a liturgia da Missa, descendo à origem do Novus Ordo Missae, dada a importância em sabermos como foi «cozinhado».

A Missa que hoje se celebra teve como responsável Monsenhor Annibale Bugnini. Como colaboradores, imaginem só, ainda que, formalmente, na qualidade de observadores, chamou os doutores Geoges, Jasper, Sephard, Konneth, Smith e Max Thurian, seis protestantes representando o Conselho ecuménico das igrejas cismáticas anglicana, luterana, e os monges de Taizé.

Do trabalho desta equipa resultou um tipo de missa que podia servir para o culto de alguns protestantes, sem se verem feridos no seu «credo».

Julien Green, anglicano convertido, definiu o novo rito como «uma imitação bastante grosseira do serviço anglicano».(1)

Por ter ido muito além do que era suposto, foi a reforma litúrgica sujeita a apreciação em sínodo dos Bispos, em Outubro de 1967, como «Missa Normativa». Do pronunciamento dos Bispos resultou uma votação de 72 votos a favor e de 104 contra. Rejeitada, portanto! Mas como os filhos das trevas sempre arranjam estratagemas para levarem a sua avante, conseguiram que, dois anos depois o Novus Ordo Missae fizesse lei, e em 3 de Abril de 1969, Paulo VI promulga a Constituição Apostólica Missale Romanum.

Escandalizados com esta reforma que abria as portas à introsão do protestantismo, um grupo de teólogos, liturgistas e pastores de almas, do qual fizeram parte os cardeais Alfredo Ottaviani, Pro-Prefeito da Sagrada Congregação do Santo Ofício, e Bacci, escreveram ao Papa uma carta datada de 25/9/69. Tratava-se de uma breve análise crítica à Nova Missa elaborada pela equipa de Monsenhor Bugnini.

Além de outras considerações, nela diziam:
«O Novus Ordo Missae representa um distanciamento, de maneira impressionante, tanto em seu conjunto como em detalhe, da teologia católica da santa Missa, tal como ela foi formulada na sessão XXII do Concílio de Trento. Os cânones do Rito definitivamente fixados naquele concílio, constituem uma barreira incontornável contra toda a classe de heresias, que atentava contra a integridade da Santa Missa».

Este breve exame fez com que, em 20/10/69, saísse um documento que retardava em dois anos a entrada em vigor da Nova Missa (de 30/11/69 a 28/11/71). Mas não tinham ainda decorrido quatro meses, quando aparece uma nova Apresentação do Novo Missal. Nela se vêem corrigidos alguns artigos para terem um sentido mais conforme com a Doutrina Católica. No entanto, os novos ritos da Missa, inexplicavelmente, permanecem…

Perante o escândalo, Paulo VI extinguiu a Congregação do Culto Divino e afastou Monsenhor Bugnini de Roma, mandando-o para o Irão. Mas o mal já estava feito…

Já no pontificado de João XXIII o Arcebispo Bugnini tinha sido expulso por este da Cátedra da Sagrada Liturgia, mas como astúcia é coisa que nunca faltou aos impostores, conseguiu tomar as rédeas da reforma litúrgica com Paulo VI…

Como sofreu o Santo Padre, ao ver-se rodeado de vários inimigos da Santa Igreja vestidos de cardeais, que, juntamente com outros bispos, sobre ele exerceram fortes pressões.

Vendo depois em que se traduziram tais pressões, lamentou-se em 1976: «Reduzem a Missa ou os Sacramentos a uma celebração da própria vida, da própria luta, ao símbolo da sua fraternidade… esvaziando a liturgia do seu conteúdo e criando uma nova “gnose”, introduzindo na Igreja uma espécie de livre exame».

Por outras palavras podemos nós dizer que o protestantismo alemão e o modernismo (2) assentaram arraiais no coração da própria Igreja, desnaturalizando a sua essência. Em seu lamento, disse ainda o Santo Padre que «o fumo de Satanás entrou na Igreja».

Para melhor falarmos sobre uma determinada obra, importa que primeiramente conheçamos o seu autor. E o responsável desta, ainda que exteriormente se revestisse da dignidade episcopal, era na verdade um inimigo da Santa Igreja, um lobo em pele de cordeiro.

Como afirma sem temor Tito Casini em seu livro «O fumo de Satanás» (Florência, 1975, pg. 150), Monsenhor Annibale Bugnini ingressou na Maçonaria em 23-4-1963, na loja Grande Oriente d’Itália, com o número de matrícula 1365/75 e sob o nome de código BUAN.

Não pense, porém, o leitor, que é caso único. A revista “Bouletin de L’Ocident Chretien”, no seu Nº 12, de Julho de 1976, num extenso artigo intitulado “Mações”, apresenta uma relação de 125 Cardeais, Bispos e Padres filiados na maçonaria, com a correspondente data de ingresso na mesma.

Quando tantas vezes ouvimos dizer a alguém que não vai à Missa porque não lhe diz nada, quando nós mesmos tantas vezes de lá vimos com a sensação de um vazio que esperávamos preencher quando íamos para a igreja, é por causa deste esvaziamento do sagrado a que se chegou na Liturgia e nos Ritos.

Em próxima edição exporei aqui outras feridas do corpo místico de Cristo, e os males que a nós mesmos cabe corrigir.
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(1) Julien Green, «Ce qu’il faut d’amour à l’homme».
(2) Movimento surgido nos finais do séc. XIX,  que procura adaptar a doutrina e a vida da Igreja às correntes de pensamento do tempo. O papa S. Pio X condenou este movimento na Encíclica Pascendi (1907), chegando mesmo a impôr o «juramento antimodernista» a todos os que pretendessem assumir algum dos relevantes serviços na Igreja.

José Augusto Santos, As feridas da Igreja I - in Notícias de Chaves, Nº. 3160

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