quinta-feira, 2 de junho de 2011

Não se deixem enganar por Passos Coelho

Gil Serras Pereira

Hoje assistimos, nesta abjecta campanha eleitoral, ao episódio mais demagógico que alguma vez se pudesse imaginar. O senhor Passos Coelho em entrevista à Rádio Renascença afirmou que a Lei do Aborto devia ser reavaliada e, eventualmente, dever-se-ia realizar um novo referendo sobre o assunto. Disse, e passo a citar, o seguinte:

“passados quatro anos sobre a entrada em vigor do último diploma sobre a interrupção voluntária da gravidez, é altura de ver o que correu bem e o que correu mal, com vista a eventuais alterações”

“Eu acho que precisamos fazer, tal como, de resto, estava previsto, uma avaliação dessa situação. Eu estive, há muitos anos, do lado daqueles que achavam que era preciso legalizar o aborto – não era liberalizar o aborto, era legalizar a interrupção voluntária da gravidez. Porque há condições excepcionais que devem ser tidas em conta e não devemos empurrar as pessoas que são vítimas dessas circunstâncias para o aborto clandestino. Mas não fui favorável a esta última alteração, na medida em que me pareceu que o Estado tinha obrigações que não cumpriu”

Ora estas afirmações feitas numa rádio de inspiração católica cheiram-me a esturro.

Talvez as pudesse entender se ele tivesse explicado o que é que vai avaliar na actual Lei! O que é que pode correr bem ou mal numa Lei que permite que se matem crianças no ventre das mães? Está preocupado, exactamente, com o quê? com a saúde das mães ou com a Vida das crianças?


Qual é a diferença fundamental que o senhor vê entre legalizar ou liberalizar o aborto? Quer-me parecer que este senhor acha que só se podem matar crianças em situações excepcionais! o que me deixa muito mais sossegado... deve ser porque há crianças que merecem mais do que outras!

Ironia à parte, ao que parece este assunto é importante para o senhor Passos Coelho, como deveria ser para todos. No entanto, nada consta no programa eleitoral do PSD. Só é abordado, de forma hipócrita, numa rádio de inspiração Católica para agradar a uma audiência específica, supostamente mais à “direita” e mais “conservadora”. Ou seja é a forma mais demagógica de enganar as pessoas na busca de mais uns votos.

Eu, espero sinceramente, que a audiência da RR e o eleitorado que defende a Vida não vá neste tipo de demagogia bacoca. Estas pessoas não são parvas!

Já lhe tínhamos conhecido outras artimanhas quando, por exemplo, na apresentação de um novo livro de Santana Castilho, depois de ouvir criticas ao seu programa eleitoral, afirmou que iria alterar as suas posições.

Que confiança nos merece uma pessoa assim, com este carácter mole e gelatinoso?

Queremos mudar de primeiro ministro para um outro com o mesmo tipo de atitudes?

Não se deixem enganar, mais uma vez, por um outro tipo “igual” ao anterior...

 
 
 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A moral viscosa de Passos Coelho

Bernardo Motta, Espectadores

É de se pasmar...

Passos Coelho, aquando da promulgação da Lei do Aborto, manifestou publicamente o seu apoio à dita. Agora, em entrevista dada recentemente à Rádio Renascença, mostra uma posição mais ambígua...


«O presidente do PSD recorda que esteve “há muitos anos do lado daqueles que achavam que era preciso legalizar o aborto - não era liberalizar o aborto, era legalizar a interrupção voluntária da gravidez -, porque há condições excepcionais que devem ser tidas em conta” e não se deve “empurrar as pessoas que são vítimas dessas circunstâncias para o aborto clandestino”.»

Está à vista a estratégia: Passos Coelho quer puxar para o PSD alguns votos do CDS. Mas os eleitores dotados de valores morais que estejam indecisos entre PSD e CDS não se podem deixar enganar. Passos Coelho, procurando passar a imagem de preocupação pela manifesta generalização ("liberalização") do aborto, pelos vistos insiste na sua legalização. Ou seja, insiste na ideia insana de quem um crime pode ser legal. Já para não falar nas famigeradas "condições excepcionais", pois se matar um ser humano inocente é um acto claramente imoral, não se vê onde estão as ditas condições de excepção, ou seja, não se entende quais são as circunstâncias que tornam legítimo matar um ser humano inocente.

Os eleitores não se podem deixar enganar. A moral de Passos Coelho é a mesma de José Sócrates. São políticos profissionais, relativistas, que consideram que a moral se define por consensos alargados e por referendos. Refugiam-se em chavões ambíguos, procuram ao mesmo tempo parecer modernos e responsáveis, e acabam por não ser nem uma coisa nem outra.

E, finalmente, fazem-nos de parvos. Ao que parece, segundo Passos Coelho, algumas mulheres, antes da famigerada lei de 11 de Fevereiro de 2007, eram "empurradas" para o aborto clandestino. Ou seja, não viam outra alternativa para as suas gravidezes senão a de as destruir, matando os seus filhos. E o Estado, que deve fazer, segundo Passos Coelho? Ora é claro: ajudá-las a matar os seus filhos. Isso sim, é serviço público. Não um aborto clandestino, um aborto sem o preenchimento do formulário DS-1845, um aborto sem a assinatura de uma junta médica, sem o carimbo da clínica da Yolanda. Um aborto decente tem todas essas formalidades e mais algumas. Isso é que é um aborto decente.

Assim, que deve o Estado fazer às mulheres que se sentem "empurradas" para o aborto? Ora, deve "empurrá-las" para o aborto legal! Está fora de questão prestar apoio à gravidez e à maternidade! Está fora de questão ajudá-las em questões jurídicas (quando são ameçadas por namorados, familiares ou patrões), ou dar-lhes fraldas e papa para o bebé. Isso não é moderno. Essas tarefas de apoio à maternidade ficam para aqueles grupos de extremistas católicos, para os "talibans da vida".

O Estado presta um nobre serviço: o aborto legal! A destruição legal de seres humanos inocentes, em ambiente hospitalar controlado, e tudo pago pelos contribuintes. Isso é que é modernidade! Mas Passos Coelho, o pós-moderno, para além de querer esse aborto moderno, quer regulamentá-lo mais um bocadinho. Torná-lo um bocadinho menos chocante para os eleitores mais sensíveis, talvez trocando alguns abortos à oitava semana com Mifepristone (RU-485) por abortos à primeira ou segunda semana com Levonorgestrel (vulgo, "pílula do dia seguinte")... Mas sobretudo, o que Passos Coelho quis, com esta entrevista calculista na Rádio Renascença, foi enganar uns quantos potenciais eleitores do CDS, levando-os a votar, de forma incauta, no PSD. Apesar de as sondagens o sugerirem, nem todos os eleitores são parvos.