Gil Serras Pereira
Hoje assistimos, nesta abjecta campanha eleitoral, ao episódio mais demagógico que alguma vez se pudesse imaginar. O senhor Passos Coelho em entrevista à Rádio Renascença afirmou que a Lei do Aborto devia ser reavaliada e, eventualmente, dever-se-ia realizar um novo referendo sobre o assunto. Disse, e passo a citar, o seguinte:
“passados quatro anos sobre a entrada em vigor do último diploma sobre a interrupção voluntária da gravidez, é altura de ver o que correu bem e o que correu mal, com vista a eventuais alterações”
“Eu acho que precisamos fazer, tal como, de resto, estava previsto, uma avaliação dessa situação. Eu estive, há muitos anos, do lado daqueles que achavam que era preciso legalizar o aborto – não era liberalizar o aborto, era legalizar a interrupção voluntária da gravidez. Porque há condições excepcionais que devem ser tidas em conta e não devemos empurrar as pessoas que são vítimas dessas circunstâncias para o aborto clandestino. Mas não fui favorável a esta última alteração, na medida em que me pareceu que o Estado tinha obrigações que não cumpriu”
Ora estas afirmações feitas numa rádio de inspiração católica cheiram-me a esturro.
Talvez as pudesse entender se ele tivesse explicado o que é que vai avaliar na actual Lei! O que é que pode correr bem ou mal numa Lei que permite que se matem crianças no ventre das mães? Está preocupado, exactamente, com o quê? com a saúde das mães ou com a Vida das crianças?
Qual é a diferença fundamental que o senhor vê entre legalizar ou liberalizar o aborto? Quer-me parecer que este senhor acha que só se podem matar crianças em situações excepcionais! o que me deixa muito mais sossegado... deve ser porque há crianças que merecem mais do que outras!
Ironia à parte, ao que parece este assunto é importante para o senhor Passos Coelho, como deveria ser para todos. No entanto, nada consta no programa eleitoral do PSD. Só é abordado, de forma hipócrita, numa rádio de inspiração Católica para agradar a uma audiência específica, supostamente mais à “direita” e mais “conservadora”. Ou seja é a forma mais demagógica de enganar as pessoas na busca de mais uns votos.
Eu, espero sinceramente, que a audiência da RR e o eleitorado que defende a Vida não vá neste tipo de demagogia bacoca. Estas pessoas não são parvas!
Já lhe tínhamos conhecido outras artimanhas quando, por exemplo, na apresentação de um novo livro de Santana Castilho, depois de ouvir criticas ao seu programa eleitoral, afirmou que iria alterar as suas posições.
Que confiança nos merece uma pessoa assim, com este carácter mole e gelatinoso?
Queremos mudar de primeiro ministro para um outro com o mesmo tipo de atitudes?
Não se deixem enganar, mais uma vez, por um outro tipo “igual” ao anterior...