quarta-feira, 20 de julho de 2016
O episódio arrepiante
que marcou a vida de Fernando Santos
Mariana Albuquerque, Buzztimes, 15 de Julho de 2016
Há quase 20 anos, o seleccionador nacional viveu um momento que viria a mudar, para sempre, a sua forma de encarar o dia a dia.
Portugal observou-o atentamente durante o Campeonato Europeu de Futebol. De poucos sorrisos e com a típica racionalidade de um engenheiro, liderou a equipa portuguesa batalha após batalha, revelando, por diversas vezes, uma fé inabalável na vitória. Muitos foram os que questionaram a razão de tamanha crença. Como é que Fernando Santos conseguia afirmar, com tanta certeza, que só voltaria para casa com a taça na mão? Onde terá ele ido buscar esta coragem?
Pois bem, há um episódio, vivido há anos pelo treinador, que o ensinou a jamais duvidar daquilo em que acredita. No dia em que realizou o exame da 4.ª classe, o pai do seleccionador ofereceu-lhe uma prenda especial: um conjunto de canetas Parker, em aço inoxidável, pretas, com o seu nome gravado a branco. Por azar, pouco tempo depois, Fernando viria a perder a esferográfica, ficando com o conjunto incompleto. Bem, nada a fazer. De nada valia «chorar sobre o leite derramado».
O pai do treinador tinha um papel fundamental na sua vida e isso é que era importante. Em 1997, Francisco Santos («Chico», como o seleccionador português se refere, carinhosamente, ao progenitor) faleceu. Na época seguinte, Fernando foi campeão pelo FC Porto e teve a certeza de que o seu pai nunca deixou de acompanhar o seu percurso, estivesse onde estivesse. Na altura, o técnico dedicou o triunfo ao pai e a Deus.
No dia seguinte à conquista, enquanto se deslocava à Igreja para a habitual ida à missa, pediu com todas as suas forças que o pai lhe desse um sinal da sua alegria. Quando chegou à porta da Igreja das Antas, foi abordado por um pedinte (que conhecia de vista) e que lhe disse ter uma lembrança para lhe oferecer. O que era o presente? Uma esferográfica de aço inoxidável preta com o seu nome gravado a branco. O episódio foi contado, de forma emocionada, por Fernando Santos à revista Flash.
A partir desse momento, o engenheiro soube que nunca esteve sozinho e que ainda voltaria a dar motivos de orgulho ao seu Chico. E assim foi, no passado domingo, com Portugal a sagrar-se campeão da Europa, contra todas as expectativas.
domingo, 17 de julho de 2016
Com a Fé não se brinca
Manuel Serrão, Jornal de Notícias, 13 Julho de 2016
1. Com a Fé não se brinca em serviço. Com a Fé não se brinca. Muito menos em serviço. Acreditar em Deus é fácil. Levar essa Fé a sério é que já é mais difícil. Afirmar o catolicismo, num país católico como o nosso, é o pão nosso de cada dia. Ser um católico praticante sem concessões são outros «quinhentos».
Um apóstolo da Fé é alguém que teve essa felicidade de acreditar e tem a
capacidade de contagiar os outros com a sua Fé. Que não precisa de fazer
da sua Fé um espectáculo, mas que tem uma vida espectacular por causa dela.
Viver
a Fé não é uma experiência pontual que se possa esgotar aos domingos e dias
santos, ou invocar quando dá jeito ter um ombro piedoso ou uma «mãozinha» por
baixo.
Por
isso, a Fé não se compra nem se vende, não se negoceia nem se transaciona, não
se aliena nem nos aliena.
Ter Fé
é ser testemunha de um milagre. É inexplicável, mas ajuda a explicar muita
coisa. Por isso, ter Fé é saber muito mais de nós do que os outros sabem, mas
também é saber muito mais dos outros do que os outros são capazes de saber de
si.
2. Com
o futebol também não!
Com o
futebol não se brinca. Muito menos em serviço.
Acreditar
que vamos ganhar um Euro é fácil. Levar essa Fé a sério é que já é muito mais
difícil.
Afirmar
o patriotismo num país de patriotas, como o nosso, é o pão nosso de cada dia.
Ser capaz de nunca abandonar o «barco» das nossas ideias e convicções, quando
ao nosso lado os ratos estão todos a fugir e a berrar impropérios, é que já é
obra.
Um
treinador a sério é alguém que teve essa visão de vitória, que tem na cabeça o
caminho que falta percorrer em conjunto e que é capaz de comandar os seus
homens na direcção prevista e sem acidentes de percurso. Que não precisa de
fazer de cada jogo um espectáculo, mas que tem resultados espectaculares por
causa disso.
A
certeza da vitória é um triunfo íntimo, que nos preenche de força o interior,
mas que só alguns treinadores conseguem passar para o grupo sem necessidade de
manifestações ridículas, ataques soezes ou dispensas inimagináveis. A união
nunca nasce da divisão, mas sim da comunhão.
Um
treinador que acredita firmemente na vitória não tem dias na sua convicção.
Cada jogo e cada fase, cada oitavo, cada quarto e cada meia é isso mesmo,
apenas uma parte da vitória final. Que se quer inteira e por isso em que o
treinador acredita inteiramente.
No
futebol, por vezes, acontecem milagres. Mas esses golos milagrosos, essas
substituições milagrosas, esses postes que se colocam milagrosamente entre a
bola e o golo, geralmente só aparecem a quem tem a certeza que vai ganhar.
Porque tem uma fé inabalável na vitória.
Por
isso, um treinador destes sabe muito mais de si do que os outros julgam que
sabem e sabe mais dos outros do que o que eles pensam que sabem deles próprios.
O
Fernando Santos é um treinador destes. E é também um homem de Fé. Não é para se rirem. É para aprenderem.
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