domingo, 17 de julho de 2016


Com a Fé não se brinca


Manuel Serrão, Jornal de Notícias, 13 Julho de 2016

1. Com a Fé não se brinca em serviço. Com a Fé não se brinca. Muito menos em serviço. Acreditar em Deus é fácil. Levar essa Fé a sério é que já é mais difícil. Afirmar o catolicismo, num país católico como o nosso, é o pão nosso de cada dia. Ser um católico praticante sem concessões são outros «quinhentos».

Um apóstolo da Fé é alguém que teve essa felicidade de acreditar e tem a capacidade de contagiar os outros com a sua Fé. Que não precisa de fazer da sua Fé um espectáculo, mas que tem uma vida espectacular por causa dela.

Ter Fé é uma vivência íntima, que preenche totalmente o interior, mas que só alguns privilegiados conseguem transformar em força exterior sem caírem em demonstrações ridículas.

Viver a Fé não é uma experiência pontual que se possa esgotar aos domingos e dias santos, ou invocar quando dá jeito ter um ombro piedoso ou uma «mãozinha» por baixo.

Por isso, a Fé não se compra nem se vende, não se negoceia nem se transaciona, não se aliena nem nos aliena.

Ter Fé é ser testemunha de um milagre. É inexplicável, mas ajuda a explicar muita coisa. Por isso, ter Fé é saber muito mais de nós do que os outros sabem, mas também é saber muito mais dos outros do que os outros são capazes de saber de si.

2. Com o futebol também não!

Com o futebol não se brinca. Muito menos em serviço.

Acreditar que vamos ganhar um Euro é fácil. Levar essa Fé a sério é que já é muito mais difícil.

Afirmar o patriotismo num país de patriotas, como o nosso, é o pão nosso de cada dia. Ser capaz de nunca abandonar o «barco» das nossas ideias e convicções, quando ao nosso lado os ratos estão todos a fugir e a berrar impropérios, é que já é obra.

Um treinador a sério é alguém que teve essa visão de vitória, que tem na cabeça o caminho que falta percorrer em conjunto e que é capaz de comandar os seus homens na direcção prevista e sem acidentes de percurso. Que não precisa de fazer de cada jogo um espectáculo, mas que tem resultados espectaculares por causa disso.

A certeza da vitória é um triunfo íntimo, que nos preenche de força o interior, mas que só alguns treinadores conseguem passar para o grupo sem necessidade de manifestações ridículas, ataques soezes ou dispensas inimagináveis. A união nunca nasce da divisão, mas sim da comunhão.

Um treinador que acredita firmemente na vitória não tem dias na sua convicção. Cada jogo e cada fase, cada oitavo, cada quarto e cada meia é isso mesmo, apenas uma parte da vitória final. Que se quer inteira e por isso em que o treinador acredita inteiramente.

No futebol, por vezes, acontecem milagres. Mas esses golos milagrosos, essas substituições milagrosas, esses postes que se colocam milagrosamente entre a bola e o golo, geralmente só aparecem a quem tem a certeza que vai ganhar. Porque tem uma fé inabalável na vitória.

Por isso, um treinador destes sabe muito mais de si do que os outros julgam que sabem e sabe mais dos outros do que o que eles pensam que sabem deles próprios.

O Fernando Santos é um treinador destes. E é também um homem de Fé. Não é para se rirem. É para aprenderem.





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