quinta-feira, 14 de julho de 2016
A nova parábola dos talentos
Laurinda Alves, Observador, 12 de Julho de 2016
Mesmo os cépticos militantes e os cínicos mais incorrigíveis sabem que nestes momentos há uma matemática infalível: a da confiança que gera sempre mais confiança. Foi essa a lição de Fernando Santos.
E agora, que já todos conseguimos dormir umas horas seguidas, e os 23 rapazes mais o seu Mister também já voltaram a pousar a cabeça nas suas almofadas, depois de tocarem o céu e atravessarem oceanos de multidões dentro e fora dos estádios, agora sim, estamos em condições de retomar certas rotinas com mais alegria e confiança.
A vitória da Selecção não resolve nenhum dos nossos problemas, é certo, mas ajuda-nos a viver. Nem sabemos exactamente de que forma nos ajuda a enfrentar a vida, só sabemos que esta grande vitória nos resgata para o dia-a-dia tantas vezes previsível e chato. Faz-nos mais leves e torna-nos mais unidos, mesmo que a união seja efémera, e ao fim do dia cada um vá para seu lado. Acredito que hoje todos voltamos a ser quem éramos, excepto na alegria. E numa certa leveza.
Falo do alívio que resulta de não termos perdido perante adversários tão arrogantes e territoriais como os franceses. É impossível ser insensível à absurda presunção de superioridade de comentadores obliterados pelos nervos das vésperas da grande final. O alívio também nasce da certeza de que a vida nem sempre é justa e raras vezes evolui numa lógica de merecimento. Merecíamos ganhar, mas podia não ter acontecido. A bola podia não ter batido na trave. Mais, podíamos ter quebrado quando Payet tentou e conseguiu derrubar Ronaldo. Podíamos ter ficado derrotados logo ali, podíamos ter-nos revoltado, redobrado a agressividade ou, até, termos ficado para sempre desorganizados. Aquilo que aparentemente nos fragilizaria, foi o que nos tornou mais fortes.
Sei, e sabemos todos, de equipas inteiras que não teriam sobrevivido a uma baixa tão colossal como a saída do Cristiano Ronaldo, a pouco mais de vinte minutos de jogo. O alívio que gera leveza, emoções transbordantes e certezas crescentes é este mesmo, de sabermos tudo o que nos podia ter acontecido por sucessivos cúmulos de azar, mas felizmente não aconteceu. Tudo graças a uma incrível união que gerou uma incrível força. E, claro, porque felizmente o Éder estava lá e tinha a crença de que faria o golo. E tal como disse Pepe, «man of the match», na sua entrevista final: «Deus só dá grandes batalhas aos grandes soldados».
A Taça é nossa e foi inteiramente merecida. Desejada e sonhada, foi ganha com lucidez e garra, esforço e sacrifício, inteligência e humildade. Nunca será demais sublinhar a humildade inteligente dos jogadores e do Selecionador, aliás. A mim enche-me de orgulho esta atitude de uns e outros, pois detestaria torcer por uma selecção que não soubesse estar à altura dos acontecimentos. Custa sempre ver uma falta grave não assinalada, especialmente quando arruma com um grande jogador prévia e oficialmente proclamado como «alvo a abater». Mas custar-me-ia ainda mais se os nossos jogadores tivessem optado por retaliar, se tivessem desatado a jogar numa lógica «olho-por-olho» ou tivessem perdido a cabeça, pois na verdade perderam o seu maior general na batalha mais decisiva da campanha.
Gosto de gente de coração inteligente. Nunca ninguém nos pediu nem pedirá para sermos bons e parvos, muito pelo contrário! Do outro lado do campo havia jogadores apostados em derrubar a qualquer preço, mas deste lado todos se aguentaram nos embates e todos tiveram tamanho para os adversários. Dá gosto perceber a estatura moral dos homens, quando são postos à prova. E Ronaldo foi atingido no joelho mas não na alma. Assim como Éder, o novo herói galáctico, também não se deixou vencer por comentários daninhos e alcunhas feias. Ou Fernando Santos não perdeu o nervo nem deixou de defender cada um dos seus jogadores do primeiro ao último dia. E por aí adiante, porque cada jogador deu realmente o seu melhor e foi isso que festejamos torrencialmente na noite de domingo, foi isso que continuamos a celebrar massivamente durante todo o dia de ontem e é isso que mantém o nosso coração em festa hoje.
Fernando Santos impressiona pela fortaleza de carácter e pela convicção de aço. Lúcido e discernido, manteve a palavra até ao fim. Livre, muito livre na sua fé, não desperdiçou nem um segundo a disparar argumentos ou tácticas contra trincheiras inimigas. Fez o seu silêncio interior diário de reflexão, oração e comunhão para poder focar no seu círculo (ou perímetro, como tanto gostam de dizer os comentadores desportivos), mantendo-se firme na aposta de multiplicar os talentos dos homens que escolheu. Assim como o fiel jardineiro dobra os joelhos sobre a terra para a cuidar e adubar, também Fernando Santos cultivou pacientemente nos seus rapazes a confiança, a coesão e a união.
Presumo que mesmo os cépticos militantes e os cínicos mais incorrigíveis sabem que nestes momentos há uma matemática infalível: a da confiança que gera sempre mais confiança. Foi essa a lição de Fernando Santos, o homem que sabe que o fundamental não é cada homem acreditar em Deus, mas cair na conta de que Deus acredita em cada homem. Santos esforçou-se por traduzir esta verdade bíblica à letra e conseguiu. Não fingiu ser Deus, mas agiu à maneira de Deus: acreditou profunda e radicalmente em cada um dos seus eleitos. E transformou o tempo do Europeu num tempo de oportunidades. Sem queixas nem lamentos, sem acusações nem censuras, juntou as pedras que outros foram atirando e colocou-as longe do caminho.
O tempo do Europeu não era apenas um tempo de competição e rivalidades. Fernando Santos sabia isso e agiu em conformidade. Tratava-se de trabalhar muitas outras coisas ao mesmo tempo na equipa, mas também nos portugueses: projectar confiança, trabalhar a competência, conter os excessos da agressividade, combater o negativismo, elevar o moral de uma nação inteira, reforçar a união e… fazer a força. Na terminologia cristã, tão cara a Fernando Santos, este tempo serviu para juntar pedras e fazê-las desaparecer, pois foram lançadas pedras suficientes e este era, para ele, o tempo de nos aproximarmos, de criarmos união e proximidade.
Numa era de excessos e provocações, num mundo de «irracionalismo, relativismo pós-modernista e fundamentalismo religioso», para usar as palavras de Bento XVI, na célebre conferência de Regensburg, não é fácil ser cristão e começar um discurso final, transmitido à escala planetária, por agradecer a Deus. Fernando Santos começou e acabou a falar de um Deus que lhe pede para pôr os seus talentos a render ao serviço dos outros, mas também para multiplicar os talentos dos que estão à sua volta. E deu a entender que é a centralidade de Deus na sua vida que gera nele a urgência de fazer mais e melhor. A sua missão foi conduzir a Selecção (e todos os portugueses!) à vitória, mas não se esgota aqui. Fernando Santos trouxe muito mais que uma Taça para casa. Encheu-nos de certezas sobre as nossas capacidades, fez-nos transbordar de emoção e orgulho, mas também nos deixa agora a responsabilidade individual de não deixarmos que outros nos derrubem. Ou pior, que nos tornem duros como pedras por frustrações, desavenças, desilusões mútuas ou ofensas não perdoadas.
O rastilho da alegria que explodiu no domingo e mantém o País em festa desde o fabuloso petardo de Éder, não se pode apagar. Cabe a cada um de nós tentar manter a chama acesa, pois graças a esta vitória milhões de portugueses espalhados pelo mundo acordam e adormecem mais felizes e, acima de tudo, mais confiantes nas suas capacidades. E muitos milhares de emigrantes chegam aos seus empregos mais orgulhosos da sua identidade.
No final da campanha, podemos dizer deste Fernando o que o seu homónimo poeta escreveu na Mensagem:
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma
quarta-feira, 13 de julho de 2016
Carácter português supera
a fragilidade francesa
Portugal e os Portugueses vistos por um estrangeiro, por ocasião
da vitória de Portugal sobre a França na final do Euro 2016.
(Original em inglês)
. . . . .
(Tradução automática)
Carácter português supera
a fragilidade francesa
Uma equipe tinha a vontade de vencer.
O outro teve apenas je ne sais quoi.
Tunku Varadarajan
CET 7/11/16, 01:04
Actualizada 7/11/16, 14:01 CET
O simplista e superficial será tentado a descartar as
finais do Euro 2016 como um final monótono a um torneio monótona
e pobre. Eles vão
estar faltando uma enorme ponto sobre finais de campeonatos - e cerca de futebol em
si.
Portugal derrotou a França por
1-0, e a modéstia do placar obscurece uma infinidade de coisas: drama,
fortaleza, pungência, perversidade, resistência e determinação. O que não
obscurecer o fato de que esta foi a maior conquista de Portugal como nação
desde o dia em que foi admitido na Comunidade Económica Europeia em 1986.
Com todos os pré-match falar deste jogo sendo uma colisão
de frente entre as estrelas as duas equipes "- Antoine Griezmann e
Cristiano Ronaldo - que era fácil esquecer que o futebol é um jogo de
equipa. Um lembrete de que a verdade veio cruelmente aos 25 minutos,
quando Ronaldo estava maca para fora do campo.Portugal, você teria pensado, era
agora uma equipa órfão. O que seria dos homens deixados no campo, sem o
seu jogador da estrela, sua cintilante talismã?
Ronaldo tinha sido ferido no 8º minuto depois de um
robusto, mas não extravagante, resolver por Dimitri Payet. Seu joelho
dobraram e ele caiu no relvado, provocando uma luta grotesca de vaias dos
torcedores franceses. Ele saiu a coxear do campo para o tratamento, então
mancou de volta novamente, apenas para diminuir para o relvado mais uma
vez. Os fãs franceses repetiu sua erupção de vaias - cacophonic e
implacável, uma forma hedionda para tratar um homem ferido; mas o
cavalheirismo não é a força de multidões franceses, que poderia aprender uma
coisa ou duas a partir de alguns dos fãs que estiveram em seu meio de mais
nações desportivas.
Era um paradoxo, mas Portugal cresceu em força com a
saída de Ronaldo; e a França, que parecia invencível até aquele momento,
parecia ter o ar sugado para fora dela. Era como se a partida de seu maior
inimigo tinha deixado sem pistas sobre quem o adversário era agora.
Portugal malha-se em cota de malha; e como o francês
disparou suas flechas, eles não conseguiram furar a defesa Português. O
heróico Rui Patrício, na baliza, era como um personagem de Os Lusíadas.
O futebol era raramente muito, exceto quando Éder marcou
magicamente no minuto 110; e não foi sempre edificante. Em momentos
como este, especialmente nos finais de grandes torneios, é melhor não pensar do
jogo puramente como o futebol. Pense nisso, em vez disso, como um drama
humano mais amplo, um teste de caráter, e de todas as habilidades e artes de
sobrevivência e de penetração.
Então eu não acho que de Pepe - Doughty, vilão,
desconexo, Pepe histriônica - apenas como um jogador de futebol empacotamento
backline de Portugal. Eu o vi como um soldado, um sobrevivente, um
repulsor de hordas que avançavam. Eu não acho que de Nani -
insatisfatórios, muitas vezes decepcionante Nani - como a frente mais provável
para marcar um golo para Portugal; Eu pensava nele como o batedor que
forayed profundamente em território inimigo em busca de fendas e caminhos.
O francês entrou em campo, deve-se dizer, com um certo
suporte, intitulada, e sentia-se, a meio do jogo, que eles estavam indo para
uma punição. Eles desperdiçaram oportunidades em abundância, e Didier
Deschamps vai lamentar sua má gestão de Paul Pogba e sua desconfiança de
Anthony Martial. Ele também vai lamentar, eu suspeito, a ausência de Karim
Benzema, excluído do elenco por razões morais blousy. França perdeu a
agitação da Big Benz; França perdeu a sua vanguarda.
O Português, por sua vez, jogou fiel ao tipo nacional e
histórico. Deles é uma terra que sempre usou seus escassos recursos com
sabedoria, astuciosamente, esticando-os ao máximo grau. Como poderia um
pedaço de terra no extremo ocidental da Europa continental construir para si um
império de tal magnitude. Há uma dourness de determinação, uma fortaleza
defensiva, uma obstinação incansável ao Português que lhes serviu bem no
império e os serviu no campo de futebol na noite de domingo.
Este, lembre-se, foi a última potência européia para
produzir a independência às suas colónias africanas. Houve uma obstinação
para a sua longevidade colonial, assim como houve uma obstinação de seu futebol
na noite passada. A bela francesa, com suas habilidades e emoções e seus
pavão-jogadores, não poderia quebrar o espírito do Português. A equipe
francesa não tem a determinação para uma sucata prolongado. Seu desejo de
"ganhar muito" era muito sufocante.
A final será lembrado mais longo em Portugal, onde ele
será lembrado por uma eternidade. O resto de nós faria bem para admirar os
vencedores para a sua vontade de vencer. Afinal, isso é o que cada equipe
veio fazer no Euro 2016.
Será que gosto de cada equipa a jogar futebol a forma
como esta equipa Português faz? Certamente não. Mas não gostaríamos
cada equipe querer ganhar tão mal como Ronaldo e seu bando de homens
fizeram? Eu acho que o que fazemos.Certamente que fazemos.
Reportagem adicional de Satya Varadarajan.
A carta em que Fernando Santos
antecipadamente agradece a Deus a vitória
Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida. Deixar uma palavra especial ao presidente, dr. Fernando Gomes, pela confiança que sempre depositou em mim. Não esqueço que comecei com um castigo de oito jogos pendentes.
A toda a direcção e a todos os que viveram comigo estes meses. Aos jogadores, dizer mais uma vez que tenho um enorme orgulho em ter sido o seu treinador. A estes e aqueles que aqui não puderam estar presentes. Também é deles esta vitória. O meu desejo pessoal é ir para casa. Poder dar um beijo do tamanho do mundo à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos, ao meu neto, ao meu genro e à minha nora e ao meu pai, que junto de Deus está certamente a celebrar.
A todos os amigos, muitos deles meus irmãos, um abraço muito apertado pelo apoio mas principalmente pela amizade. Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome.
(Marcoussis, 18 de Junho)
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