sábado, 14 de dezembro de 2013

A ponte (poço) Vasco da Gama…
vale a pena ler



Poço Vasco da Gama


Paulo Morais

A construção da Ponte Vasco da Gama, a primeira parceria público-privada, foi um negócio ruinoso para o Estado português.

A participação privada na nova travessia do Tejo nasceu de um embuste, a tese de que o Estado não teria dinheiro para construir a infra-estrutura e recorria ao apoio dos privados, a quem mais tarde pagaria determinadas rendas. Nada mais errado! Até porque os privados entraram com apenas um quarto dos 897 milhões de euros em que orçava o investimento. O restante foi garantido pelo Estado português, através do Fundo de Coesão da União Europeia (36%), da cedência da receita das portagens da Ponte 25 de Abril (6,0%), e por um empréstimo do Banco Europeu de Investimentos (33%). O verdadeiro investidor foi o Estado português, que assim garantiu a privados uma tença milionária ao longo de anos. Só em 2010, as receitas das portagens atingiram quase 75 milhões de euros.

Ao mesmo tempo, os privados eliminavam a concorrência, pois garantiam que ninguém poderia construir uma nova travessia no estuário do Tejo sem lhes pagar o respectivo dízimo.

Para piorar a situação, o Estado negociou, ao longo de anos, sucessivos acordos para «a reposição de reequilíbrio financeiro», através dos quais se foram concedendo mais vantagens aos concessionários. Ainda antes da assinatura do contrato de concessão, já o Estado atribuía uma verba de 42 milhões de euros à Lusoponte para a compensar por um aumento de taxas de juro. Mas os benefícios de taxas mais baratas, esses reverteram sempre e apenas para a Lusoponte. Sem razão aparente, o Estado prolongou ainda a concessão por sete anos, provocando perdas que foram superiores a mil milhões. E muito mais… um poço sem fundo de prejuízos decorrentes de favorecimentos à Lusoponte.

Aqui chegados, só há agora uma solução justa: a expropriação da Ponte Vasco da Gama, devolvendo aos privados o que lá investiram. As portagens chegam e sobram para tal. Não se pode é continuar a permitir que, por pouco mais de duzentos milhões de euros, uns tantos senhores feudais se tornem donos de uma ponte que não pagaram, cativem as receitas da «25 de Abril» e sejam donos do estuário do Tejo por toda uma geração.





quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Universidade Católica na Ucrânia
declara desobediência civil

Num comunicado, a universidade afirma que, com a repressão violenta da noite de Terça-Feira e madrugada de Quarta-Feira, Viktor Yanukovych perdeu a legitimidade enquanto Presidente.


Filipe d’Avillez

A Universidade Católica da Ucrânia lançou um apelo à desobediência civil perante o Governo de Viktor Yanukovych, depois da repressão violenta das manifestações na noite de Terça-Feira e madrugada de Quarta-Feira, em Kiev.

«A comunidade da Universidade Católica da Ucrânia declara desobediência civil contra o Presidente e o seu Governo e, juntamente com a Euromaiden [nome que se tem dado a actual onda de protestos] e – acreditamos – com toda a população da Ucrânia, pede a demissão imediata do actual Governo», lê-se na nota, aprovada numa assembleia geral da universidade.

O documento lamenta o recurso à violência contra manifestantes desarmados: «A noite passada, em Kiev, voltou-se a derramar sangue humano. Invasores brutais voltaram a atacar manifestantes pacíficos. O dia dos Direitos Humanos tornou-se o dia da crueldade contra pessoas pacíficas».

«Depois desta noite, seguir as ordens do Governo seria contrário à consciência humana. No momento em que dezenas de pessoas foram levadas em carrinhas policiais para destinos incertos, o Presidente Yanukovych deixou de ser o Presidente da Ucrânia», conclui.

Após vários dias de protesto contra o Governo pela aproximação política à Rússia (em substituição do processo de negociação com a União Europeia), a polícia de choque recorreu à força para tirar os manifestantes, fazendo muitos feridos e dezenas de detenções.

Esta não foi a primeira vez que o Governo tinha recorrido à força para acabar com manifestações e o Presidente já tinha pedido desculpas públicas pela violência. A Universidade Católica considera agora que Yanukovych já não tem legitimidade para governar.

Os católicos são cerca de 15% da população da Ucrânia e na sua esmagadora maioria são de rito oriental. A Igreja Greco-Católica foi violentamente oprimida durante o regime soviético, com a cumplicidade da Igreja Ortodoxa Russa, que lhe ficou com todas as propriedades, tendo-se recusado a devolver muitas delas, mesmo depois da queda do regime.

Ao longo das manifestações a Igreja Ortodoxa da Ucrânia – Patriarcado de Kiev, que rompeu com a Igreja Ortodoxa Russa, tem estado também ao lado dos manifestantes. Já a Igreja Ortodoxa Russa, que conta ainda com cerca de 30% da população, incluindo Yanukovych, tem feito apelos à paz mas não se tem desmarcado do Governo.

Depois da violência que marcou a noite de Terça-Feira e madrugada de quarta-Feira, esta manhã a polícia retirou-se do centro de Kiev, dando liberdade de mobilidade aos manifestantes, que não desistiram da sua luta.

Segundo o comunicado da Universidade Católica, estes manifestantes «defenderam a honra e a dignidade da Ucrânia. Obrigado!»





Gramática moderna...
«Setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito!»


(Teolinda Gersão publicou ontem este texto no Facebook)

Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles. Aqui ficam, e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças disto.

Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia «ele está em casa», «em casa» era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito. «O Quim está na retrete» : «na retrete» é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos «ela é bonita». Bonita é uma característica dela, mas «na retrete» é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.

No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um «complemento oblíquo».

Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo «complemento oblíquo», já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, «algumas» é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.

No ano passado se disséssemos «O Zé não foi ao Porto», era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.

No ano passado, se disséssemos «A rapariga entrou em casa. Abriu a janela», o sujeito de «abriu a janela» era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?

A professora também anda aflita. Pelos vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12.º ano estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer, dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em «ampa», isso mesmo, claro.)

Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero. E pronto, que se lixe, acabei a redacção – agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.

E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8.º ano, setôra, sem ofensa  para si, que até é simpática.»





terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Google Maps oferece trajecto virtual
pelas catacumbas de Roma


O Google criou um mapa digital de duas grandes catacumbas em Roma para mostrar aos usuários a beleza dos lugares históricos e despertar a curiosidade para aprender mais sobre eles.

A Catacumba de Priscila foi utilizada como cemitério cristão desde os finais do século II até ao século IV, e compõe-se de um grande número de murais de santos e símbolos cristãos, alguns dos quais encontram-se actualmente em restauração.

Catacumba de Priscila
Acredita-se que o nome da catacumba se deve a uma mulher chamada Priscila, de quem se acreditava que era a esposa de um homem que se converteu ao cristianismo e foi condenado à morte pelo imperador Domiciano.

Até agora, as Catacumbas de Priscila e de Dino Companion são as únicas disponíveis no Google Maps.







domingo, 8 de dezembro de 2013

Vladimir Putin proíbe a promoção do aborto



Vladimir Putin assinou no fim de Novembro uma série de emendas à legislação sobre a protecção da saúde pública, entre a qual a proibição da publicidade a favor dos serviços de aborto.

«Os serviços médicos de interrupção voluntária de gravidez foram adicionados à lista de publicidade proibida pela lei federal sobre a publicidade. A lei impõe igualmente restrições à promoção da medicina tradicional e à distribuição de amostras publicitárias de medicamentos contendo substâncias narcóticas e psicotrópicas», anunciou a administração presidencial.