quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Universidade Católica na Ucrânia
declara desobediência civil

Num comunicado, a universidade afirma que, com a repressão violenta da noite de Terça-Feira e madrugada de Quarta-Feira, Viktor Yanukovych perdeu a legitimidade enquanto Presidente.


Filipe d’Avillez

A Universidade Católica da Ucrânia lançou um apelo à desobediência civil perante o Governo de Viktor Yanukovych, depois da repressão violenta das manifestações na noite de Terça-Feira e madrugada de Quarta-Feira, em Kiev.

«A comunidade da Universidade Católica da Ucrânia declara desobediência civil contra o Presidente e o seu Governo e, juntamente com a Euromaiden [nome que se tem dado a actual onda de protestos] e – acreditamos – com toda a população da Ucrânia, pede a demissão imediata do actual Governo», lê-se na nota, aprovada numa assembleia geral da universidade.

O documento lamenta o recurso à violência contra manifestantes desarmados: «A noite passada, em Kiev, voltou-se a derramar sangue humano. Invasores brutais voltaram a atacar manifestantes pacíficos. O dia dos Direitos Humanos tornou-se o dia da crueldade contra pessoas pacíficas».

«Depois desta noite, seguir as ordens do Governo seria contrário à consciência humana. No momento em que dezenas de pessoas foram levadas em carrinhas policiais para destinos incertos, o Presidente Yanukovych deixou de ser o Presidente da Ucrânia», conclui.

Após vários dias de protesto contra o Governo pela aproximação política à Rússia (em substituição do processo de negociação com a União Europeia), a polícia de choque recorreu à força para tirar os manifestantes, fazendo muitos feridos e dezenas de detenções.

Esta não foi a primeira vez que o Governo tinha recorrido à força para acabar com manifestações e o Presidente já tinha pedido desculpas públicas pela violência. A Universidade Católica considera agora que Yanukovych já não tem legitimidade para governar.

Os católicos são cerca de 15% da população da Ucrânia e na sua esmagadora maioria são de rito oriental. A Igreja Greco-Católica foi violentamente oprimida durante o regime soviético, com a cumplicidade da Igreja Ortodoxa Russa, que lhe ficou com todas as propriedades, tendo-se recusado a devolver muitas delas, mesmo depois da queda do regime.

Ao longo das manifestações a Igreja Ortodoxa da Ucrânia – Patriarcado de Kiev, que rompeu com a Igreja Ortodoxa Russa, tem estado também ao lado dos manifestantes. Já a Igreja Ortodoxa Russa, que conta ainda com cerca de 30% da população, incluindo Yanukovych, tem feito apelos à paz mas não se tem desmarcado do Governo.

Depois da violência que marcou a noite de Terça-Feira e madrugada de quarta-Feira, esta manhã a polícia retirou-se do centro de Kiev, dando liberdade de mobilidade aos manifestantes, que não desistiram da sua luta.

Segundo o comunicado da Universidade Católica, estes manifestantes «defenderam a honra e a dignidade da Ucrânia. Obrigado!»





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