sábado, 27 de setembro de 2014


Qual é o objectivo?


Anthony Esolen

Foi W. H. Auden quem disse que todos os críticos deviam mostrar as suas credenciais antes de escrever sobre literatura. Mas as credenciais a que se referia nada tinham a ver com a formação académica ou bibliografia. Auden dizia que eles deviam confessar aos seus leitores qual era a sua visão do paraíso.

Penso que este requisito devia aplicar-se também a todos os críticos sociais e a todos os que propõem alterações fundamentais às leis ou aos costumes. A todos os que se identificam como progressistas, a pergunta evidente é: «Para onde vamos? E porque é que queremos chegar aí?»

Deixemos de lado, por um momento, o facto de não ser possível um paraíso sobre a terra, pois isso implicaria a perfeição das virtudes entre homens decaídos. Nas palavras de Solzhenitsyn, no coração de cada homem trava-se uma batalha entre o bem e o mal.

Deixemos de lado aquela confiança vã de que podemos chegar à terra prometida se seguirmos a estrada mágica da «ciência» ou da «democracia», ou da «igualdade» ou da «liberdade sexual», e que tudo estará bem.

Deixemos de lado os meios para chegar a essa terra prometida. A questão que se coloca aos progressistas é: «Que terra é esta que nos prometem? Porque é que é esse o vosso destino? Como é que é? Como é que imaginam o paraíso?»

Para o verdadeiro conservador a questão é menos agressiva e urgente, uma vez que o verdadeiro conservador não acredita no paraíso sobre a terra. «Como é que seria um paraíso? Dadas as fragilidades da natureza humana, que pálido reflexo desse paraíso é que os nossos antepassados, ou nós mesmos, já garantimos? Se já perdemos parte dessa boa realidade, como é que a podemos reaver?»

Esta questão tem implicações sobre o grande debate do nosso tempo, o da chamada «libertação sexual». Por isso coloquemos aos progressistas esta questão: Qual é a vossa ideia de paraíso? Para onde nos estão a conduzir?

É uma terra em que a maioria das pessoas no auge das suas vidas são casadas? Pelo que os homens e as mulheres dedicam a maior parte do seu tempo a dedicar-se à disciplina edificante e unificadora da vida familiar?

É uma terra em que praticamente nenhum casamento termina em divórcio?

É uma terra em que praticamente não nascem crianças fora do porto seguro do casamento e de votos de estabilidade e perpetuidade?

É uma terra cuja cultura popular celebra aquilo que há de mais nobre na humanidade e não aquilo que é rude, ordinário e egoísta? Uma terra em que os rapazes e as raparigas aprendem que é errado levar uma vida de hedonismo?

É uma terra em que a pornografia é considerada lixo porque conspurca o corpo e a mente?

É uma terra em que os homens têm muita coisa boa para dizer sobre as mulheres e as mulheres muita coisa boa para dizer sobre os homens?

É uma terra em que os casamentos são tão fortes que aqueles que sucumbem às tentações do mau comportamento podem contar com assistência pronta dos seus vizinhos e familiares?


É uma terra cujas igrejas se enchem ao domingo?

É uma terra cujas famílias são tão estáveis e tão presentes na vida local que os políticos, os professores e os homens de negócios precisam de contar com elas? Uma terra em que as famílias supervisionam as escolas e onde os professores são vistos como representantes dos pais, nomeados à sua discrição?

É uma terra cuja vida familiar é tão produtiva e vibrante que em vez de vermos entretenimento massificado a ser bombeado para dentro das casas, existe uma verdadeira cultura popular a florescer dentro de casa?

É uma terra em que se honram as virtudes que fortalecem e protegem as famílias? Uma terra em que a castidade não é desprezada por ser uma forma de puritanismo mas louvada como forma de autodisciplina que respeita a beleza da sexualidade e a santidade do casamento?

É uma terra em que a primeira prioridade da economia é o bem do lar? Uma terra em que as leis e os costumes fortalecem a vida familiar, aumentando as probabilidades de as crianças passarem a maior parte do tempo em casa na companhia de pelo menos um dos seus pais? Uma terra de vizinhança e não de mera proximidade, onde as famílias que vivem nos mesmos bairros se conhecem ao ponto de formar uma espécie de família alargada em que as crianças podem brincar à vontade, sempre debaixo do olhar de alguém de confiança?

É uma terra em que os Governos podem dedicar-se aos seus afazeres, porque quase todos os assuntos verdadeiramente importantes já são tratados pelos lares, os bairros e as paróquias?

É uma terra em que as crianças não são precocemente sexualizadas, tendo assim tempo para aprender a ser rapazes e raparigas antes de entrar na fase da puberdade? Uma terra em que alguém que expressasse a vontade de se insinuar sexualmente nos desejos sexuais de uma criança seria visto como monstruoso? Uma terra em que um pervertido sexual e uma fraude como Alfred Kinsey não seria celebrado?

Nesta terra poderíamos ter uma parada anual para festejar aqueles que celebram os 40 anos de casados, na companhia dos seus filhos e netos? Uma terra em que a palavra «puro» não é usada como gozo e «decadente» não é considerado um elogio?

A todos os que defendem o absurdo biológico de um homem se poder casar com outro homem, perguntamos: «Essa terra que nos propõem é uma onde seriam felizes? Vocês querem que acreditemos que vos podemos conceder esta coisa que desejam sem termos de abdicar de todas as outras coisas que as pessoas comuns sempre quiseram e das quais tantas vezes puderam gozar. Mas essa não é uma mentira? Não é antes verdade que não querem nenhuma dessas outras coisas?

Para onde nos querem levar? Porque é que havíamos de querer ir convosco?


(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 20 de Agosto de 2014
em The Catholic Thing). Tradução de Filipe d'Avillez.





quinta-feira, 25 de setembro de 2014


Dois amigos provocam os invertidos


João Silveira (do Facebook)


Estes senhores chamam-se Travis Mcintosh e Matt McCormick, e são os dois melhores amigos de infância neozelandeses que decidiram casar. Não porque se sintam especialmente atraídos um pelo outro (ambos gostam de mulheres) nem porque queiram constituir família (como se isso fosse possível) mas para ganhar uma viagem até à final do Campeonato do Mundo de Rugby que se irá realizar em Inglaterra em 2015, num concurso promovido pela estação de rádio «The Edge».

Perante isto as associações LGBT ficaram com os cabelos em pé: dizem que este casamento é um insulto e que eles não têm direito a casar-se porque, apesar de serem dois homens, não são gays.

Não deixa de ser irónico que quem se diz defensor do direito de cada pessoa a poder casar-se com quem quer venha agora manifestar-se contra estes dois velhos amigos que apenas querem fazer uma viagem juntos, ver rugby e divertir-se um bocado.

Na prática este casamento vale o mesmo de que qualquer outro casamento entre duas pessoas do mesmo sexo: vale zero! O casamento só existe entre um homem e uma mulher, sempre foi assim e sempre será. Não foi criado por nenhuma cultura em especial, nem é fruto de nenhum preconceito, nasceu da natureza humana.

Quando se quer pegar nesta instituição importantíssima para a humanidade e transformá-la numa fantochada, como tem acontecido em vários países «civilizados» nos últimos anos, as consequências são imprevisíveis e cheias de episódios caricatos, como é o caso destes dois simpáticos barbudos.





quarta-feira, 24 de setembro de 2014


A promoção dos abortistas

pelos catolicozinhos


José Lemos

É assim que eles conquistam a sociedade: conquistando posições de influência. Pior é quando certos católicos lhes oferecem de bandeja essas posições de influência.

É o caso do abortista Miguel Oliveira e Silva, obstetra (!) que militou pela liberalização do aborto. Agora foi nomeado director clínico do Centro Hospitalar Lisboa-Norte (Santa Maria e Pulido Valente) pelo catolicozinho ministro Paulo Macedo.






terça-feira, 23 de setembro de 2014


Revista Fortune desmente mito

das «grandes riquezas» do Vaticano


A revista norte-americana Fortune, especializada em temas económicos, desmentiu o mito das «grandes riquezas» do Vaticano, e informou que se a Santa Sé fosse uma corporação, nem sequer chegaria perto das 500 mais ricas da sua famosa lista Fortune 500.

No seu artigo intitulado «This pope means business» («Este Papa leva a sério»), a Fortune indicou que «frequentemente é assumido que o Vaticano é rico, mas se fosse uma companhia, não chegaria nem perto da lista Fortune 500».

A Fortune assinalou que o orçamento operacional do Vaticano é de apenas 700 milhões de dólares, e «em 2013 registou um pequeno superávit global de 11,5 milhões de dólares».

A revista estadunidense assinalou, além disso, que a maioria dos activos mais valiosos do Vaticano, «alguns dos maiores tesouros de arte do mundo, estão praticamente sem avaliação e não estão à venda».

«A Igreja Católica é altamente descentralizada financeiramente. Em termos de dinheiro, o Vaticano basicamente está por conta. Essa é uma importante razão pela qual as suas finanças são muito mais frágeis e a sua situação económica é muito mais modesta que a sua imagem de luxuosa riqueza».

O Vaticano, indicou a revista económica, não tem acesso ao dinheiro nem das dioceses nem das ordens religiosas.

Explicou que «cada diocese», em termos económicos, «é uma corporação separada, com os seus próprios investimentos e orçamentos, incluindo as arquidioceses metropolitanas».

A Fortune assinalou que as dioceses de todo o mundo «mandam quantidades importantes de dinheiro para o Vaticano todos os anos, mas a maior parte deste dinheiro é destinada ao trabalho missionário ou às doações de caridade do Papa».

O Vaticano, indicou, «paga salários relativamente baixos, mas oferece benefícios generosos de saúde e aposentadoria».

«Os cardeais e bispos das congregações e dos conselhos muitas vezes não recebem mais de 46 mil dólares por ano».

«Os empregados leigos do Vaticano têm emprego vitalício, e praticamente ninguém se aposenta antes da idade», assinalou.





segunda-feira, 22 de setembro de 2014


O que a guerra é realmente


Robert Royal

Tem surgido alguma ambiguidade, tanto no Vaticano como na Casa Branca, sobre o que se deve fazer acerca da barbaridade que está a ocorrer no Médio Oriente e que tem chocado todo o mundo. Nem se sabe bem o que se lhe deve chamar.

Começou com um artigo escrito pelo Pe. Luciano Larivera, S.J., no La Civiltà Cattolica (uma revista jesuíta publicada em Roma e que é considerada uma referência, se bem que indirecta, do pensamento do Papa): «Obviamente, para promover a paz é necessário saber o que a guerra é na realidade, e não aquilo que gostaríamos que fosse. É fundamental estudar e perceber como é que o Estado Islâmico luta. A sua é uma guerra de religião e aniquilação».

Isto é simples realismo cristão e a mais pura verdade sobre o actual conflito, que os nossos líderes americanos parecem recusar-se a aceitar. Mas depois de muitas distorções nos media, o padre Antonio Spadaro, SJ, o editor chefe do Civiltà, explicou: «O Estado Islâmico pensa que é uma ‘guerra de religião’, mas nós devemos ter o cuidado de não pensar dessa forma».

Tudo bem. Há muito que o cristianismo abandonou a ideia de que é legítimo o uso da força para promover a fé – como Bento XVI sublinhou no seu discurso profético em Ratisbona. Mas não deixamos de ter a responsabilidade de dizer a verdade sobre o que se está a passar bem como encarar a questão de como responder a uma força agressiva que mata os inocentes, escraviza sexualmente as mulheres, decapita ocidentais em público e declara ter como objectivo a imposição, pela força das armas, da sua religião aos não-crentes.

Entramos aqui num terreno sempre polémico: onde é que deixamos os princípios morais absolutos – que são a primeira competência da Igreja – e entramos na aplicação prudente desses princípios, em contextos complicados. Excepto em casos de agressão injusta, o juízo sobre o uso legítimo da força cabe aos líderes seculares e não aos papas nem aos bispos.

O mundo secular raramente compreende a distinção. No voo de regresso da Coreia, em meados de Agosto, o Papa disse: «É lícito travar um agressor injusto. Sublinho o verbo: travar. Não digo bombardear nem fazer guerra, digo impedir de alguma maneira».

Os media seculares, e mesmo alguns órgãos católicos, reagiram mal: Se não é para bombardear, então qual é a estratégia do Papa? Como se o Sumo Pontífice tivesse de ter uma estratégia militar, qual presidente dos EUA. A minha aposta é de que o Papa estava a afirmar a necessidade de agir – naturalmente através do uso da força –, mas deixando claro que, apesar do horror da violência do Estado Islâmico, não cabe ao Papa defender os bombardeamentos americanos nem as decisões práticas de qualquer outra nação.

Mas na semana passada disse à Comunidade de Sant’Egidio: «A guerra nunca é uma forma satisfatória de corrigir injustiças... A guerra conduz as pessoas a uma espiral de violência que se torna difícil de controlar. Destrói aquilo que levou gerações a estabelecer e abre caminho a conflitos e injustiças ainda piores».

«Diálogo» ao estilo do Estado Islâmico

Calculo que na emoção do momento, como tende a fazer, Francisco foi um bocadinho mais longe do que queria. O pensamento moral católico há muito que aceitou que as autoridades católicas têm por vezes a responsabilidade de recorrer à força. E temos exemplos de guerras boas, como a derrota dos nazis pelos aliados. Como explica o Catecismo da Igreja Católica:

[2307] Cada cidadão e cada governante deve trabalhar no sentido de evitar as guerras.

Apesar desta admoestação da Igreja, por vezes torna-se necessário usar a força para obter os fins da justiça. Este é um direito, e o dever, de todos os que têm responsabilidade pelos outros, tal como líderes civis e forças policiais. Enquanto os indivíduos têm o direito de renunciar a toda a violência, aqueles que preservam a justiça não o podem fazer, embora deva ser sempre um último recurso, «falhados todos os esforços de paz».

É claro que existem os limites das condições sobre a decisão de ir para a guerra (ius in bellum) e o comportamento durante o combate (ius in bello). O juízo prudente dos líderes civis nestas matérias é, justamente, alvo de escrutínio cuidadoso. Em retrospectiva, muitos dos que acreditavam que Saddam Hussein possuía armas de destruição maciça vieram mais tarde a concluir que a decisão do presidente Bush de atacar o Iraque foi um erro. Da mesma forma, muitos consideram agora que a decisão de Obama de retirar as tropas do Iraque foi um erro e que, por isso, ele depara-se agora com limites à sua acção contra o Estado Islâmico que podem bem tornar a sua estratégia inútil. Este é um problema grave, uma vez que um dos critérios para a guerra justa é a existência de uma possibilidade razoável de sucesso, que é como quem diz, a existência de um benefício proporcional na decisão de matar pessoas e partir coisas.

É claro que o Papa sente a tragédia de todas as guerras e o pecado que está por detrás delas: «ganância, intolerância, sede de poder... Estes motivos estão por detrás da decisão para ir para a guerra e, demasiadas vezes são suportadas por uma ideologia; mas em primeiro lugar há uma paixão ou um impulso distorcidos. A ideologia é apresentada como justificação quando não existe qualquer ideologia, mas apenas a resposta de Caim: ‘Que me interessa isso? Serei eu o guarda do meu irmão?’»

Noutras alturas, porém, ele e a Igreja reconhecem que o «uso justo da força» – caso queiram evitar a palavra «guerra», como parece ser a vontade da Casa Branca – serve precisamente para podermos ser os «guardas do nosso irmão». Talvez seja necessário recordar o Vaticano disso. Irmãos cristãos, yazidis, curdos e muçulmanos de várias confissões, foram expulsos das suas casas, mortos ou marcados para genocídio. Não é possível negociar com os agressores. Não há diálogo ao alcance dos homens que seja capaz de fazer a menor diferença na mortandade.

Podemos preferir que não fosse assim. Podemos lamentar a herança da história e da violência do passado. Podemos reconhecer os nossos próprios pecados e pedir a Deus uma solução que não somos capazes de encontrar sozinhos. Mas entretanto temos apenas os meios ao nosso alcance e não podemos demitir-nos da responsabilidade de proteger aqueles que sofrem agressões.

Mesmo que não possamos fazer nada, podemos pelo menos dizer a verdade, porque: «para promover a paz é necessário saber o que a guerra é na realidade, e não aquilo que gostaríamos que fosse».


(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing.
Tradução de Filipe d'Avillez)