D. Nuno Brás
Não gosto de ser
«profeta da desgraça» mas, infelizmente, creio que nem é preciso ser profeta.
Basta, simplesmente, darmo-nos conta da realidade. No mundo ocidental, vivemos
numa clara «lógica da decadência». Em todos os âmbitos e de há vários anos a
esta parte.
Na economia, a
«ciência das ciências» sem a qual parece que ninguém pode sobreviver, o que
importa são os números, as estatísticas, e particularmente o crescimento da
riqueza. De tempos-a-tempos vem uma crise, uns quantos declaram falência,
outros passam por momentos mais difíceis, mas como, depois, o mecanismo se
reajusta por si mesmo, tudo parece acabar bem, como num qualquer romance
cor-de-rosa. Só nos esquecemos dos dramas humanos que, entretanto, foram
vividos, e daqueles outros criados pela nova situação.
Na vida social,
impôs-se o «politicamente correcto» ditado pelos telejornais e respectivos
comentadores. Basta que cada um viva de acordo com os padrões estéticos (muito
mais importantes hoje que os valores éticos), tenha dinheiro suficiente, gaste
bastante em roupa e produtos tecnológicos, e possa viver como egoisticamente
lhe apetece. Deixámos de ser uma sociedade, para sermos um conjunto de
indivíduos que vivem ao lado uns dos outros, na esperança que ninguém retire ao
outro o sossego que lhe é devido. E o direito passou a tutelar esse modo de
viver. A família deixou de ter qualquer valor. Tanto dá que possa ou não ser o
berço da vida. A lei só tem que defender o egoísta e aquilo que lhe apetece no
momento.
Aliás, há muito que
a vida humana deixou, efectivamente, de contar. Somos capazes de defender com
tenacidade a vida das baleias, dos golfinhos e das plantas raras ou em vias de
extinção; mas só em Portugal o Estado patrocinou cerca de 80.000 abortos
(80.000 portugueses que foram mortos com a cobertura da lei e das instituições,
sem terem cometido qualquer crime), mesmo que, depois, se mostre preocupado com
a crescente diminuição da população portuguesa. Não tardará a que surjam
opiniões nacionais a defender, como aconteceu numa recente revista britânica, que
é perfeitamente legítimo matar recém-nascidos que não se integrem nos padrões
decididos pela sociedade.
A própria fé não
raras vezes é olhada como sendo demasiado exigente. Por isso, cada um faz os
«descontos» que lhe apraz – cada crente (infelizmente, mesmo alguns sacerdotes)
acha que a deve viver de uma forma mais suave (leia-se: menos exigente), até
para que não o chamem de «fundamentalista» (pecado mortal numa sociedade em
decadência e onde tudo vale), e as suas incapacidades, pecados e falta de coragem
se vejam pretensamente justificados aos olhos de Deus.
E poderíamos
continuar… Mas recuso-me a ser profeta da desgraça. Até porque é neste mundo,
que se encaminha a passos largos para a decadência, que Deus nos enviou a
proclamar com ousadia a Boa Nova do Evangelho. E essa propõe a todos uma vida
nova, «radicalmente nova» – ou seja, nova de raiz, não a partir do homem mas de
Deus. Ou melhor, a partir de Jesus de Nazaré.
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