No dia 14 de Fevereiro o Senhor MDN deu uma
entrevista à Judite de Sousa, na TVI, que não passou de uma réplica, de
afogadilho, ao programa do Prof. M. Carreira, sobre as Forças Armadas (FAs),
três dias antes, onde figurou o Gen. Loureiro dos Santos. Aproveitou ainda para
enviar umas indirectas ao Gen. P. Ramalho, que também dera uma curta entrevista
à TVI onde criticava o corte de 8.000 efectivos e outras barbaridades.
O ministro que só deve ter ouvido falar em
FAs e militares quando – distraidamente – folheava uma revista, já em idade
púbere, trincando um queque na Foz do Douro, veio à liça com ar indignado de
virgem ofendida.
Marcou S. Exª a entrevista fazendo amarra num
ponto: a imaculada intenção (só falta virem para as entrevistas vestidos de
branco e com asinhas), de que o objectivo da reforma (?) – palavra que é a
matriz do constante desatino em que sucessivos governos têm posto as FAs – é a
operacionalidade da tropa!
A tristeza da argumentação deste pedaço da
humana cidadania, em exercício de poder, seria apenas deplorável caso não se
esmerasse na insistência de nos tratar como parvos.
Usando uma lógica barata de advogado caro o
Sr. Ministro sofisma, actividade que, pelos vistos, é a única que domina, pois
nem um simples silogismo é capaz de desenvolver.
Vejam esta pérola: defende o coitado, ser
necessário reduzir os efectivos (que devem ser imensos, subentendendo-se da
palração), para permitir reduzir custos na área do pessoal a fim de aumentar a
verba para a operação e treino das tropas. Tal é baseado na premissa de que se
gasta mais de 80% do orçamento na rúbrica do pessoal.
O Sr. (ainda) Ministro deve estar a mangar
com a gente. Só pode.
Bastava que, o senhor e o patético e aldrabão
governo de que faz parte, destinasse verba que apenas correspondesse às
necessidades da despesa com o pessoal…
Por acaso o pessoal apareceu na vida militar
por obra e graça do Espirito Santo?
Por acaso «alguém» pode pegar no pessoal e
eliminá-lo? Quer gastar algumas munições (olhe que se arrisca a esgotá-las – e
não é por «eles» serem muitos, mas por «elas» serem poucas…) a fuzilá-los?
O que fizeram os seus antecessores nos
últimos 20 anos até agora? Não foi o de andarem a reduzir constantemente os
efectivos? Por acaso as verbas destinadas a operações e treino aumentaram?
O senhor não me tire do sério e evite
cruzar-se comigo na rua!
E no meio desta publicidade enganosa vem
afirmar que poupa 218 milhões? Mas então onde é que está o ganho para a
operacionalidade das FAs, partindo do princípio que o sátrapa Gaspar fica com a
poupança?
Com o maior dislate, ainda, vem dizer que não
senhor, o Gen. L. dos Santos (de quem não sou defensor oficial nem oficioso),
não tem razão em acusar o governo de andar com o «carro à frente dos bois» por
estar a querer reduzir os efectivos antes de se rever o Conceito Estratégico de
Defesa Nacional (CEDN), pois tal está a ser tratado e ficará pronto em Março.
Mas não afirmou na mesma que ia reduzir os
efectivos e que se saiba ainda estamos em Fevereiro…Você, por acaso deu-lhe uma
fézada ou consulta videntes?
Pergunto ainda, algum governo já elaborou um
CEDN que servisse para orientar fosse o que fosse? Alguma vez ligaram pevide ao
que lá estava escrito? Alguma vez foi elaborado um conceito estratégico que não
fosse o militar (CEM), dele derivado?
Já agora, o CEM também vai estar pronto em
Março? É que segundo parece (a gente já não sabe o que está em vigor dada a
volatilidade com que tudo muda e as emendas sobre as emendas que se vão
acumulando), as Missões, Conceito de Acção, Ameaças, Dispositivo e Sistema de
Forças, relativos às FAs, derivam primariamente do CEM, não do CEDN…
E o pessoal em serviço nas FAs é para dar
corpo e consubstanciar o atrás apontado…
E o que é que um ministro tem que andar a
sugerir coisas sobre um documento que tem a classificação de «secreto»?
Vem dizer, defendendo-se das críticas de
militares, que os estudos para que aponta são também feitos por militares e que
as competências são idênticas. Duvido.
Indique-me, se for capaz, o nome deles, pois
eu conheço-os a quase todos. E diga-me se estão no activo.
E partindo do silogismo incompleto e manhoso,
utilizado, pode adiantar se as intenções também serão idênticas?
Você sabe Sr. Ministro, que já Camões dizia
que «em Portugal também alguns traidores houve, algumas vezes…» Não referiu o
grande poeta – que começou por ser soldado – se algum deles era militar. Se
calhar (na altura) ainda não teria havido nenhum.
Há poucos meses escrevemos um artigo em cujo
título se questionava o MDN se tinha ensandecido.
Creio que agora já dá para não ter dúvidas
sobre a resposta.
Portugal apesar de estar cheio de sátrapas,
ainda não virou uma Satrapia.
Sobretudo uma Satrapia do Grupo de
Bildelberg.
[1] No antigo Império Medo/Persa – já lá vão uns anitos – os territórios ocupados pela expansão do mesmo, eram divididos em Satrapias, à frente das quais se colocava um sátrapa, o qual respondia directamente ao soberano. Fui ao dicionário e copiei: «sátrapa» – governador de Província entre os antigos Persas; grande dignatário; homem despótico, rico e voluptuoso; homem efeminado; déspota (Eduardo Pinheiro, Livraria Figueirinhas, Porto. De harmonia com o Decreto-Lei n.º 35.228, de 8/12/1944.
[2] Se fosse vivo, o saudoso Cor. Homero de Matos, possivelmente diria uma das suas frases lapidares, «que tem a luminosidade de uma vela de sebo dentro de um corno de carneiro»…
[3] O termo «você» vem do antigo, elegante e estimável termo «Vossa Mercê», que deu, por corruptela, na linguagem popular, o vocábulo «Vossemecê» o qual «escorregou» para «você» num linguajar mais boçal. Por vezes admissível no tratamento de superior para inferior, de conhecedor para ignorante ou de mais velho para mais novo.
Assumo o plebeísmo. As circunstâncias apetecem.
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