Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 11 de Agosto de 2014
Já aparecem pintados de negro Portugal e Espanha,
esse Al-Andaluz que sempre fascinou os árabes e agora alimenta a cobiça dos
jihadistas. E também a Grécia, o resto dos Balcãs e até a Áustria. É um mapa
que mostra tanto as ambições como a ignorância do Estado Islâmico, o grupo que
controla muito da Síria e do Iraque e que nestes dias ganhou ainda pior fama
por ameaçar exterminar os cristãos e outras minorias.
Comecemos pela ambição: liderado por um
autoproclamado califa, o Estado Islâmico é um fenómeno com meses, que
aproveitou a guerra civil na Síria e o caos pós-Saddam para conquistar
território nos dois lados da fronteira e tomar Mossul, a segunda cidade do Iraque.
E se uma coligação entre os curdos e os xiitas iraquianos, agora com cobertura
aérea da América, o impede de marchar sobre Bagdad, a verdade é que a recente
mudança de nome, cortando de Estado Islâmico do Iraque e do Levante a parte que
limitava os seus horizontes, denuncia uma estratégia.
O Médio Oriente é pequeno para Abu Bakr
al-Baghdadi; o objectivo é conquistar parte da Europa, metade de África e toda
a Ásia até ao rio Indo. E aqui entra a ignorância, apesar de os escassos dados
biográficos sobre o líder do Estado Islâmico o dizerem doutorado: no mapa a
circular na net, e que os espanhóis do ABC mostraram na edição online,
surgem territórios que chegaram a ser islamizados durante séculos como a
Península Ibérica ou os Balcãs, mas onde hoje são escassos os seguidores do
islão. Contudo, esquece uma Índia onde a minoria muçulmana supera os 150
milhões e até o Bangladesh, tão fiel a Alá, que já se chamou Paquistão
Oriental.
E inclui a Áustria (que repeliu os dois cercos
otomanos a Viena), excluindo, porém, a Sicília, durante 200 anos muçulmana, ou
Malta, cuja língua deriva do árabe do ano 1000.
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