Soeren
Kern, Gatestoneinstitute, 22 de Março de 2017
- O relatório conclui que a desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona pelo facto da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.
- Estima-se que haja em França cerca de 8 250 radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 17 apresentaram a papelada e apenas nove de facto foram até lá. Nenhum dos residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.
- Ao alojá-los em pavilhões prisionais separados, os islamistas na realidade tornaram-se ainda mais violentos por se sentirem encorajados pelo que eles chamavam de «efeito grupal», segundo o ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas.
- «Desradicalizar uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Estas pessoas, às quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado islâmico, não se irão livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo» — senadora Esther Benbassa.
- «O programa de desradicalização é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado, tudo deve ser redesenhado a partir do zero». — senador Philippe Bas, presidente da comissão do Senado que encomendou o relatório.
O principal programa do
governo francês para desradicalizar jihadistas é um «fracasso total» e deve ser
«completamente reconceituado» segundo as conclusões iniciais de uma comissão
parlamentar de inquérito sobre a desradicalização.
O relatório preliminar
revela que o governo não tem nada de positivo para mostrar no tocante às
dezenas de milhões de euros dos contribuintes gastos ao longo dos últimos anos
para combater a radicalização islâmica em França, onde 238 pessoas foram mortas
em ataques jihadistas desde Janeiro de 2015. O relatório conclui que a
desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona
pelo facto da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.
O relatório chamado de
«Desdoutrinação, Desrecrutamento e Reintegração de Jihadistas em França e na
Europa» (Désendoctrinement, désembrigadement et réinsertion des djihadistes
en France et en Europe) — o título evita usar a palavra «desradicalização»
por ser considerada por alguns como sendo politicamente incorreta — foi
apresentado em 22 de Fevereiro ao comité do Senado para assuntos
constitucionais e jurídicos.
O relatório é a versão
preliminar de um estudo abrangente que está a ser conduzido por uma task
force multipartidária encarregada de avaliar a eficácia dos programas
de desradicalização do Governo. O relatório final deverá ser entregue em Julho.
Grande parte das
críticas concentra-se num programa de US$42 bilhões para construir 13
centros de desradicalização — conhecidos como Centros de Prevenção, Integração
e Cidadania (Centre de prévention, d'insertion et de citoyenneté, CPIC)
— um em cada uma das regiões metropolitanas de França, que visa desradicalizar
futuros jihadistas.
O plano original apresentado com grande alarde em Maio de 2016,
conclamou que cada centro devesse acolher no máximo 25 pessoas com idades entre
os 18 e 30 anos, por períodos de dez meses. O Governo comunicou que 3 600
indivíduos radicalizados seriam acolhidos nestes centros de desradicalização
nos próximos dois anos.
O primeiro e único
centro de desradicalização do Governo existente até agora instalado no Château
de Pontourny, uma mansão isolada do século XVIII na região central de França,
foi inaugurado em Setembro de 2016.
Quando as senadoras
Esther Benbassa e Catherine Troendle, ambas líderes da task force visitaram
Pontourny em 3 de Fevereiro, encontraram apenas um residente naquele abrigo.
Desde então o referido residente encontra-se preso por ter cometido «actos de violência
doméstica».
Depois de apenas cinco
meses de trabalho, Pontourny encontra-se vazia, muito embora empregue (27 funcionários, incluindo 5
psicólogos, 1 psiquiatra e 9 educadores, a um custo anual US$2,6 milhões).
«Centro de Prevenção, Integração e
Cidadania» Château de Pontourny, em França. (Imagem: captura de tela de vídeo ARTE − 28 minutos) |
Estima-se que haja em França cerca de 8 250
radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 59 pessoas indagaram sobre a
possibilidade de irem para Pontourny desde a sua inauguração. Destas, apenas 17
apresentaram a papelada e apenas nove de facto foram até lá. Nenhum dos
residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.
Um dos residentes era um
jihadista de 24 anos de idade chamado Mustafa S., que foi preso durante uma operação antiterrorista
perto de Estrasburgo em 20 de Janeiro de 2017. A polícia disse que ele tinha
ligações com um dos autores do ataque jihadista de Novembro 2015 na casa de
espectáculos Bataclan em Paris. Mustafa S. foi preso quando estava de licença
de Pontourny: ao que tudo indica, ele estava a caminho para se juntar ao Estado
islâmico na Síria.
Outro residente de
Pontourny era uma mulher de 24 anos de idade, grávida, chamada Sabrina C., que
morou no alojamento de 19 de Setembro a 15 de Dezembro. Ela revelou a um jornal local que nunca foi
radicalizada, mas aproveitou a oportunidade oferecida por Pontourny para escapar
do seu «casulo familiar» e respirar um pouco de «ar fresco»:
«Eu jamais me interessei
por qualquer religião. A minha família é católica, não praticante, nós vamos à
Igreja de vez em quando, mas não mais do que isso. Meu namorado queria que eu
usasse o véu islâmico, mas sempre me recusei a usá-lo».
A mãe de Sabrina disse que o centro de desradicalização «foi a
oportunidade para a nossa filha participar na formação profissional, aprender a
cozinhar, estar perto dos animais». Por outro lado Sabrina acrescentou que a
permanência naquele lugar foi um pesadelo, salientando que: «chorava todas as
noites, e não me sentia à vontade. Em Pontourny tratavam-me como uma
criminosa». Acredita que a única razão dela ter sido autorizada a ficar no
centro foi porque o governo precisava de «mostrar serviço».
O governo também
fracassou nos seus programas para erradicar a radicalização islâmica nas
prisões francesas. Em Outubro de 2016 o governo voltou atrás sobre a política de alojar presidiários
radicalizados em unidades separadas após o aumento de ataques a guardas
prisionais.
A ideia original era
isolar os islamistas a fim de evitar que eles radicalizassem os outros detidos,
mas o ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas reconheceu que ao alojá-los em pavilhões prisionais
separados, os islamistas na realidade tornaram-se ainda mais violentos por se
sentirem encorajados pelo que eles chamavam de «efeito grupal».
O relatório também denunciou o surgimento de uma «indústria da
desradicalização», na qual associações e organizações não governamentais, sem
nenhuma experiência em desradicalização, obtiveram contractos lucrativos do
Governo. «Várias associações, procurando o financiamento público em períodos de
vacas magras, viraram-se para o sector de desradicalização, sem nenhuma
experiência», de acordo com a senadora Benbassa.
Benbassa salientou que o
programa de desradicalização do Governo foi mal concebido, implantado
apressadamente por razões políticas mediante a crescente ameaça jihadista. «O
governo estava em pânico em consequência dos ataques jihadistas» assinalou. «Foi o pânico que guiou as acções do
Governo. O timing político era curto, era necessário
tranquilizar o público em geral.»
O sociólogo
franco-iraniano Farhad Khosrokhavar, especialista em radicalização, realçou à France 24 que a única opção do
Governo para lidar com os jihadistas violentos é encarcerá-los:
«Há aqueles passíveis de
serem desradicalizados, mas nem todos. Isso é impossível com os jihadistas
violentos, e totalmente convictos. Os jihadistas com estes perfis são
extremamente perigosos, representam cerca de 10% a 15% dos radicalizados. A
prisão provavelmente é uma das únicas maneiras de lidar com esses obstinados
fiéis».
Em entrevista concedida ao L'Obs, Benbassa
indicou que o governo também não teve sucesso quanto à prevenção:
«Jovens candidatos ao
jihadismo devem ser socializados.Temos que profissionalizá-los, dar-lhes um
acompanhamento individualizado. Isto envolve a ajuda da família, imãs,
policiais locais, educadores, psicólogos e líderes empresariais, que também
podem colaborar...»
«Eu também acho que os
nossos líderes políticos deveriam adoptar um pouco mais de sobriedade e
humildade ao abordarem este complexo fenómeno. A tarefa é extremamente complicada.
'Desradicalizar' uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Estas pessoas, às
quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado
islâmico, não se irão livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo».
O senador Philippe Bas,
presidente da comissão do Senado que encomendou o relatório descreveu o programa de desradicalização do
Governo da seguinte maneira: «é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado,
tudo deve ser redesenhado a partir do zero».
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