segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Bento XVI:
Desertificação espiritual
ameaça a humanidade

Ano da Fé e 50.º aniversário da abertura do Vaticano II
apelam à redescoberta do legado conciliar
face ao «vazio» da sociedade
Bento XVI desafiou os católicos a enfrentarem o avanço da desertificação espiritual que se espalhou pelo mundo, nas últimas décadas, e reafirmou a actualidade do trabalho realizado no Concílio Vaticano II (1962-1965), inaugurado há 50 anos.
“Qual seria o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, já se podia perceber no tempo do Concílio a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, vemo-lo todos os dias à nossa volta: é o vazio que se espalhou”, alertou o Papa, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, para a inauguração do Ano da Fé, por ele proclamado no 50.º aniversário do Vaticano II.
A intervenção papal aludiu à necessidade de integrar, na acção da Igreja, essa experiência de deserto e vazio para “redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida”.
“No deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança”, acrescentou, destacando que a fé “liberta do pessimismo”.
O Papa falava perante alguns milhares de fiéis e 400 cardeais, arcebispos e bispos, os quais repetiram a procissão na Praça de São Pedro que foi umas das imagens históricas do dia 11 de Outubro de 1962, primeiro do último Concílio.
Bento XVI convidou os presentes a entrarem no “movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II” e disse que há 50 anos se vivia uma “tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé”.
Bento XVI, que participou na maior reunião de bispos da história da Igreja como perito teológico, enquanto jovem padre, convidou a Igreja a regressar à “«letra» do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu verdadeiro espírito”.
“A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrónicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade”.
Em relação ao Ano da Fé, o Papa disse que os católicos devem transmitir a sua mensagem “sem sacrificá-la frente às exigências do presente nem mantê-la presa ao passado”.
“Na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não volta a repetir-se”.
Depois do Ano da Fé convocado por Paulo VI em 1967 e do Grande Jubileu proclamado por João Paulo II em 2000, o actual Papa convida a uma nova iniciativa mundial, para reafirmar que “Jesus é o centro da fé cristã”.
O Papa defendeu, por isso, que a Igreja deve empreender também “uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial”, ou seja, “o evangelho e a fé”.


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