Nuno Serras Pereira
No último Consistório o Santo Padre Francisco convidou, a
sabendas, o cardeal W. Kasper para dissertar sobre um tema todo ele dirigido a
uma conclusão frontalmente oposta à Sagrada Escritura, à Tradição da Igreja e,
em particular, ao Magistério do Papa Bento XVI e ao de S. João Paulo II. Na
senda desta palestra de duas horas, ou mais, foi estampada em livro,
publicitado por Francisco.
Agora a maioria dos bispos germânicos, liderados pelo
cardeal Marx, presidente da conferencia episcopal alemã, assinaram um documento
apoiando as mesmas teses. Entretanto, o cardeal Kasper, perante a discordância
das suas opiniões, manifestada por cinco cardeais de vários continentes,
acusa-os publicamente de guerrearem o Papa, uma vez que, segundo ele, sua Santidade
lhe manifestara, por duas vezes, a concordância com as suas teses.
Sandro Magister, um vaticanista influente e reconhecido
internacionalmente, garante que um número significativo de sacerdotes, de
Buenos Aires, afirmam que o então cardeal Bergoglio os aconselhava a dar a
Sagrada Comunhão aos adúlteros (a expressão é minha, ou melhor é da Igreja de
sempre), casados validamente pela Igreja, que se tinham divorciado civilmente e
contraído um «casamento» civil (aquilo a que impropria e perigosamente se chama
«divorciados recasados»).
Tudo isto, a ser verdade, é dito e feito em nome da
pastoral misericordiosa que, segundo eles, pelos vistos, é incompatível com a
Doutrina, isto é, com a Verdade; como se a pastoral não fosse consequência da
Doutrina e com ela coerente, ou como se a Misericórdia não fizesse parte da
Doutrina, mas, pelo contrário lhe fosse contraposta.
Eu não sei se é verdade que há padres, em Buenos Aires,
que garantem fundamentadamente que o seu arcebispo, Jorge Bergoglio, os
aconselhava a dar a Comunhão a adúlteros, mas posso adiantar que caso o fizesse
incorria em pecado grave induzindo outros ao sacrilégio. O mesmo sucederia, na
hipótese publicitada, de ter, enquanto Papa Francisco, aconselhado,
telefonicamente, uma argentina civilmente «casada» a comungar livremente.
Volto a afirmar que não posso saber se estas coisas são
verdadeiras ou se, pelo contrário, são falsos testemunhos. Mas sempre posso
asserir que a infabilidade pontifícia nada tem a a ver com uma garantia de
impecabilidade. De resto, que ao longo da história houve Papas que pecaram
muito e muito gravemente, não é novidade, julgo eu, para ninguém. Acresce que a
infabilidade pontifícia também não significa infabilidade governativa, pois os
Papas podem errar nas decisões que dizem respeito ao governo da Igreja. Não é
verdade que eminentes historiadores da Igreja, fidelíssimos à mesma, entre os
quais não poucos jesuítas, fazem críticas, por vezes severas, a diversos
Pontífices? Sirva como exemplo o Papa Clemente XIV, franciscano conventual, que
extinguiu a Companhia de Jesus (Jesuítas) e encarcerou o seu Geral. Mas se se
pode criticar um pontificado passado, não se poderá criticar um presente? E
será porventura possível que, v. g., o Papa Clemente XIV venha a ser
reabilitado e, pelo contrário, um pontificado de um Papa jesuíta possa vir a
ser duramente ajuizado – caso, sei lá, surjam novos dados – ? Não faço a mínima
ideia, se há coisa que não sou é futurologista.
S. João Paulo II, que afirmou de si próprio ser o Papa da
vida[1] e
também o da família, aprofundou, em plena coerência, com a Tradição e a Sagrada
Escritura, os temas da sexualidade, do casamento e da família. No dia em que ia
estabelecer o Instituto João Paulo II para estudos sobre o matrimónio e a
família, o Maligno quis impedi-lo matando-o por mão do terrorista que disparou
sobre ele na praça de S. Pedro, a 13 de Maio. Salvando-o Nossa Senhora, parece
que queria salvar também o Instituto. Nestes trinta anos, notáveis teólogos de
várias partes do mundo têm produzido (a par de duas universidades) esplêndidas
obras, singularmente inspiradas, que têm mergulhado ainda mais nos tesouros do
Evangelho do casamento e da família, a partir do Magistério de S. João Paulo
II.
Nos Sínodos dos Bispos costumam participar, entre outros,
os chamados peritos. Pois, ficam os leitores a saber que o Cardeal Baldisseri,
nomeado pelo Papa Francisco para o efeito, responsável pela escolha dos ditos
peritos, não convidou nenhum, mesmo nenhum, entre aqueles pertencentes ao
referido Instituto e às universidades a que aludi. Não admira pois que ande por
aí a dizer, para quem o queira ouvir, que «detesta» o Instituto e seus
teólogos; e ainda que se «nos textos (do Sínodo) vai ficar tudo na mesma, ...
na prática tudo vai mudar» – são várias as fontes, que considero autorizadas e
fidedignas, que mo reportaram. Pelos vistos, S. João Paulo II é descartável...
Para quem tenha dúvidas, caso alguém as tenha, reitero a
minha fidelidade, assim Deus me ajude, ao Magistério do Papa Francisco,
enquanto for Papa. E, pela Graça de Deus permaneço fiel, e espero sê-lo até à
morte, ao Magistério de S. João Paulo II.
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