sexta-feira, 17 de outubro de 2014


Lapso meu. Erro de tradução?, e mais


Nuno Serras Pereira, 16. 10. 2014

No início do texto intitulado «A Inacreditável Discriminação no Sínodo!», que vos enviei no dia 14 do corrente, escrevi erradamente que o Santo Padre tinha nomeado mais seis relatores para a redação do «relatório intercalar», quando na verdade os designou para «ajudarem» o Cardeal Erdó, tido como fiel à Tradição e Magistério da Igreja, para redigirem o relatório final[1] (um dia saber-se-á, sei-o de fonte segura, as coisas que o Cardeal Baldisseri obrigou Erdó a escrever). Provocou grande estranheza que nessa inopinada decisão o Papa não tivesse designado nenhum Cardeal ou Bispo africano. O Cardeal Kasper encarregou-se de «explicar» o porquê, mas o teor das suas declarações foi de tal modo escandaloso[2], se não mesmo racista, que, inesperadamente, Francisco I lá acabou por escolher também um africano.

Entretanto, neste mar revolto e tempestuoso que, segundo todos dizem, foi querido pelo Papa, representante e Vigário d’Aquele Cristo que na Terra serenava as tormentas, a sala de imprensa da Santa Sé, tendo em conta as reacções ao «relatório intercalar», veio esclarecer que a tradução inglesa, não oficial, que tinha distribuído à comunicação social padecia de um erro, pois tinha traduzido mal, o italiano valutare (avaliar, ter em consideração) por valuing (valorizar). Mas será mesmo assim? Confesso que me cheirou a esturro enxofrado (já sei que isto é mania minha, uma vez que também me cheirou a esturro uma iniciativa legislativa que a par do direito a nascer inclui também o direito a matar, através de consultas obrigatórias de «saúde reproductiva», a que os Bispos portugueses aderiram alegremente) e fui rever a gravação televisiva em que um repórter interroga directamente, citando à letra o texto inglês distribuído, o redactor, o Arcebispo Bruno Forte. Este Bispo é um filósofo e teólogo famoso, muito ligado aos jesuítas, que mede cada palavra e está tão à vontade no inglês como no italiano (excepto na pronúncia...), de modo que, parece-me evidente, se a tradução do texto estivesse errada logo o notaria e corrigiria, o que não fez como mostra a reportagem da ChurchMilitant.TV, de dia 14 do corrente entre os minutos 3. 42 a 6. 16. De resto nem responde à pergunta, recorrendo àquela linguagem viscosa que Robert Royal denuncia no seu boletim de hoje.[3] Acresce que valutare pode de facto traduzir-se como valorizar, reconhecer o valor, estimando as suas qualidades: Tenere qualcuno, qualcosa in buona considerazione, stimandone il pregio e le qualità: i suoi meriti non sono stati giustamente valutatilo hanno sempre valutato meno di zerol'hai valutato troppo‖ SIN. apprezzare.[4]

É próprio dos dissidentes recorrer a uma linguagem ambígua, que dizendo finge que não diz, podendo assim desculpar-se afirmando que foram mal entendidos. Mas o veneno já foi inoculado, e como bem observou o Cardeal Napier, esse grande franciscano africano, o Sínodo está agora «working from a position that is virtually irredeemable.» «The message has gone out that this is what the Synod is saying, this is what the Catholic Church is saying, and it’s not what we are saying at all,» he said. «No matter how we try correcting that ... there's no way of retrieving it.»[5]

Mas mesmo que a tradução fosse incorrecta a maneira perniciosamente inovadora como aborda em geral o tema da «homossexualidade» não faz mais do que favorecer a ideologia «gay» como bem o entendeu um dos maiores activista desse bando que louva o relatório intercalar por causa da mudança na terminologia: «uma mudança na linguagem provoca uma reacção em cadeia; originará uma mudança na prática pastoral e isso causará uma mudança no ensino [da doutrina da Igreja].»[6]  Não admira pois que um especialista italiano, nestes temas, tenha denunciado a deriva antiMagistério empuxada por alguns poderosos e influentes no Sínodo.

Ademais, como afirma um investigador reconhecido, Paul Cameron, existem provas: «that wherever social and political attitudes towards homosexuality are more positive, sex crimes against minors with a homosexual element are more numerous.».[7]

Se há inimigos jurados do casamento e da família eles são os activistas lgbtqi e se o Sínodo quer falar deles devia denunciá-los como tais. E não me venham com o «quem sou eu para julgar?» porque a isso respondo com as palavras de Jesus: «Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo?» (Luc 12, 57).

Também em relacção às situações irregulares e situações problemáticas o «relatório preliminar» está prenhe de cedências a uma mentalidade em parte protestante e em parte mundana – parece que não aprenderam nada com a armadilha em que caiu a igreja anglicana em 1930. E chega ao cúmulo de recorrer à expressão «lei da gradualidade» da Familiaris Consortio de S. João Paulo II para a manipular, como bem notou Phil Lawler.

Num texto notável, Ricardo Cascioli, hoje, no diário online que dirige, diagnostica com impressionante precisão o porquê de o Sínodo estar a correr mal, como podem ler aqui.

Felizmente, o Espírito Santo soprou incutindo fortaleza, audácia e franqueza a muitos que nos grupos de trabalho, hoje concluídos, apresentaram centenas de emendas e propostas que vão no sentido contrário ao do «relatório intercalar».



[1] http://www.catholicculture.org/news/headlines/index.cfm?storyid=22910

[2] https://www.lifesitenews.com/news/breaking-cardinal-kasper-denies-making-comments-about-african-bishops-repor

[3] http://www.thecatholicthing.org/synod_report/synod_report/synod-day-10-a-ton-of-vaseline.html

[4] http://www.grandidizionari.it/dizionario-italiano/parola/v/valutare.aspx?query=valutare

[5] https://www.lifesitenews.com/news/cardinal-pell-after-tendentious-and-incomplete-synod-report-church-must-rea

[6] http://www.religionenlibertad.com/catolico-exgay-explica-como-la-relatio-dana-a-los-homosexuales-al-38168.htm

[7] https://www.lifesitenews.com/news/positive-correlation-between-homosexual-sex-abuse-and-acceptance-of-homosex






Sem comentários: