Plinio Corrêa de Oliveira
Se moderno é sinónimo de materialista, revolucionário, pagão, somos contra o moderno. Se quer dizer hodierno, distinguimos: somos pelo hodierno sadio e honesto, contra o hodierno pagão.
Insistimos na ideia expressa em números anteriores. Se por «moderno» se entende tudo quanto é contemporâneo, só um estúpido pode condenar em bloco as coisas modernas só porque modernas. Mas se por «moderno» entendemos as manifestações incontáveis e triunfantes de certo espírito materialista, nivelador e pagão que chegou hoje ao seu paroxismo, então somos contra tudo quanto é moderno, em bloco e por princípio.
Não nos retardemos na questão de palavras, que consistiria em saber se moderno é sinónimo de hodierno, ou se indica apenas uma faceta – a faceta materialista e revolucionária – do contemporâneo. É melhor ir directamente aos exemplos, que elucidam a distinção entre o bom e o mau moderno, entre o hodierno e o moderno.
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O desporto
está profundamente radicado nos costumes actuais. Somos a favor dele, ou contra
ele?
Cumpre
distinguir. Ninguém pode ser contra o exercício físico enquanto tal, isto é,
enquanto meio de conservar a saúde, e honesta distracção.
Porém,
daí até certo desportivismo
dos
nossos dias, que diferença! O ambiente desportivo
tomou – muito frequentemente
– aspectos francamente condenáveis. Em primeiro lugar, porque dá pretexto a
toda a espécie de
exibições nudistas. Em segundo lugar, porque degenerou numa idolatria
do corpo, com inteiro desprezo da virtude, da inteligência, da cultura, que são
as riquezas da alma. Em terceiro lugar, porque nesta idolatria do corpo o desportismo actual não ficou no nível
dos clássicos, mas degradou-se até ao culto do murro e do pontapé, da brutalidade
enfim, com inteiro desprezo da nobreza do corpo humano. Típico disto é o
tratamento que o homem sofre na cabeça, a parte mais nobre do seu corpo, no jogo de
boxe. Em quarto lugar, o ambiente desportivo tomou algo de delirante e brutal, com as suas «claques» exageradas, a
trivialidade degradante das maneiras e dos trajes ditos «desportivos», etc., etc.
* * *
Mas há
desportos e desportos.
Considere-se
o estado da face do boxeur cuja fotografia aqui estampamos. É licito, é justo,
é digno pôr-se em tais condições um rosto humano, só para divertir uma
multidão? Se um servo da Idade Média tivesse sido posto neste estado num jogo,
para divertir algum senhor feudal, quanta declamação lacrimejante daí se
originaria. Este boxeur, com o fito de ganhar a vida e fazer carreira,
sujeitou-se a ficar assim para divertir o grande senhor dos nossos dias, que é a
multidão. E quase ninguém vê nisto algo de censurável.
* * *
Neste pobre boxeur,
dir-se-ia que a força bruta reduziu ao mínimo as manifestações da alma, a
matéria comprime, oprime, deprime o espírito.
Considere-se por outro lado
o alpinismo, desporto também hoje apreciado. O corpo trabalha intensamente. Não
menos, porém, a alma. Há riscos a correr, que exigem coragem; há ocasiões em
que não basta a força, mas é necessária a agilidade. E situações em que a escalada
só não redunda num desastre devido à presença de espírito, à fortaleza de
ânimo, ao engenho e à capacidade inventiva dos alpinistas. Vendo-os pois, como
no cliché, no alto de um píncaro que pareceria inacessível, triunfando por
todos os obstáculos da natureza, tem-se muito acentuadamente a sensação da
vitória do espírito sobre a matéria. Pois se o homem, fisicamente tão frágil
mesmo quando corpulento, domina a rudeza dos penhascos, não é bem verdade que o
deve sobretudo ao facto de ter audácia, espírito de iniciativa e capacidade
inventiva?
* * *
De tudo isto, o
nosso
terceiro cliché dá uma demonstração quase
emocionante. Na Alemanha, são numerosos os mutilados de guerra que praticam desporto
na
neve. Suprindo pelo vigor da alma as deficiências dos
seus corpos estropiados, deslizam céleres pelas superfícies geladas e vencem precipícios. Quem
não sente respeito diante de tal força de ânimo e simpatia por um exercício
físico tão dignificante?
Somos
pelo desporto ou contra o desporto? Pelo moderno ou contra o moderno? Questões
confusas e capciosas.
Se
moderno é sinónimo de materialista, revolucionário, pagão, somos contra o
moderno. Se quer dizer hodierno, distinguimos: somos pelo hodierno sadio e
honesto, contra o hodierno pagão.
E mutatis mutandis o mesmo dizemos do desporto. Se por desporto se
entende todo o exercício físico, distinguimos: há desportos bons e maus, há até
maneiras boas e más de praticar os desportos bons. A natação, por exemplo, é em
si um desporto bom. Mas numa piscina mista é mau. Se porém o desporto autêntico
e por antonomásia é o desporto embrutecedor, aviltante, sensual, demagógico,
vulgarizador, e se o resto são formas antiquadas de desporto, em vias de
desaparecimento, dizemos com coragem que o antiquado é bom e o novo é mau.
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