sexta-feira, 23 de setembro de 2016


A cruz e a laicidade do Estado


José Maria Sardinha

Em recente entrevista do D.r Vera Jardim ao Diário de Notícias, foi referida a possibilidade de eliminar das escolas públicas o mais simples de todos os símbolos da religião cristã: a cruz.


Parece desconhecer-se que esse símbolo representa também uma sociedade e mesmo uma civilização que floresce há cerca de dois milénios. Aceita-se no entanto que um sistema político que estabelece a laicidade do Estado queira eliminar todos os vestígios de qualquer subordinação ou simplesmente discreta benevolência com algum credo, mesmo quando ele é seguido e venerado por uma expressiva parte da população de Portugal. Nesta perspectiva, a pequena cruz  pendurada na parede de uma sala de aula não tem sentido até porque poderá ofender a sensibilidade de um agnóstico ou a crença de um muçulmano. Mas este afã de respeitar intransigentemente o carácter laico do Estado deverá ser complementado por medidas mais enérgicas que levem a eliminar todos os sinais directamente relacionados com a religião cristã.


Assim, como medida de aplicação imediata, o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) deverá ordenar a retirada da cruz de Cristo das opulentas velas do navio-escola Sagres, que tão brilhantemente tem representado Portugal em muitos mares por onde tem navegado. De igual forma e pelas mesmas razões, o Chefe do Estado-Maior da FAP deverá mandar retirar com uns bons litros de aguarrás a cruz de Cristo pintada nas asas de todos os aviões da nossa força aérea.

Mas estas medidas não chegarão para atestar, sem sombra de dúvida, o absoluto carácter de um Portugal laico. Haverá que ir mais longe. Terá sentido que um cidadão agnóstico procure o alívio dos seus males num hospital com um nome de tão profunda reminiscência cristã como São José, São João, Santa Maria, São Bernardo, São Francisco, Santo André, Santo António e tantos outros espalhados por cidades portuguesas?

Será portanto necessário proceder à substituição do nome de dezenas de hospitais, por respeito aos melhores princípios da laicidade do Estado.

Estas medidas não se esgotam porém com as acções que se apontam. Há que ir mais longe alterando radicalmente o nome de dezenas de freguesias identificadas com um nome inscrito nos registos dos canonizados da Igreja: Santa Luzia, Santa Isabel, Santo António, Santo Estêvão, São Mateus, etc.


Haverá que fazer uma profunda alteração da toponímia de muitas aldeias, vilas e cidades portuguesas, eliminando todos os sinais, símbolos e invocações das nossas raízes cristãs. Será talvez oportuno inscrever no OGE para 2017 uma avantajada verba para realizar a revolução toponímica que venha a garantir assim a laicidade do Estado. Na óptica estreita dos governantes da Nação, isto será talvez mais importante do que promover o desenvolvimento económico do País e preservar as suas raízes culturais.





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