Giulio
Meotti, Gatestone, 16 de Fevereiro de 2017
Quebec,
assim como todo o Ocidente está enfrentando uma crise existencial,
religiosa e demográfica.
- A
escalada de óbitos em Quebec está inequivocamente ligada aos apelos para o
aumento da imigração. O primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau, que
pôs um fim à campanha militar contra o Estado islâmico, simplesmente
convidou migrantes muçulmanos a virem para o seu país.
- A
resistência ao dramático colapso do cristianismo no Quebec não requer
necessariamente um novo abraço ao velho catolicismo, mas com certeza necessita
de uma redescoberta racional sobre o que a democracia ocidental deveria
ser. O que inclui a apreciação da identidade ocidental e dos valores
judaico-cristãos – tudo o que o governo de Trudeau e grande parte da
Europa, ao que tudo indica, se recusam a aceitar.
Bem-vindo ao Quebec, com
o seu sabor de uma antiga província francesa, com as suas belas paisagens, onde
as ruas levam o nome de santos católicos e onde um atirador acaba de assassinar seis pessoas numa mesquita.
A violência pode ser a
consequência de convulsões sociais, como no massacre na ilha de Utoya na Noruega em
2011, um país que se orgulhava ser ultrasecularizado, parte da «boa sociedade»
global. O Quebec também, assim como todo o Ocidente está enfrentando uma crise
existencial, religiosa e demográfica.
George Weigel escreveu
recentemente um artigo na revista norte-americana Firts Things chamando Quebec de «bairro livre do
catolicismo». «Não existe um lugar mais árido em termos religiosos»,
destacando: «provavelmente não há um lugar mais árido, em termos religiosos no
planeta entre o Polo Norte e a Tierra del Fuego».
Sandro Magister, um dos
mais proeminentes jornalistas de Itália em assuntos católicos salientou: «enquanto se conversa em Roma, o Quebec já
está perdido».
As edificações católicas
no Quebec estão vazias, o clero está a envelhecer. Hoje em dia no interior
da Igreja de Saint-Jude em Montreal os instrutores de fitness tomaram o lugar dos padres católicos.
O Théatre Paradoxe em Montreal agora encontra-se onde
estava anteriormente a igreja de Notre-Dame-du-Perpétuel-Secours antes de
fechar. A antiga nave cristã agora é usada para concertos e conferências, aos
domingos os hinos cristãos foram substituídos por shows de discoteca.
A Diocese de Montreal vendeu 50 igrejas e outros edifícios
religiosos nos últimos 15 anos. Em 24 de Maio de 2015 foi celebrada a última
missa na famosa Igreja de São João Baptista, dedicada ao padroeiro
dos franco-canadenses. O Bispo Auxiliar do Quebec Gaetan Proulx disse que a «metade das igrejas de
Quebec» irão fechar nos próximos dez anos.
No filme «The Barbarian Invasions (As Invasões dos
Bárbaros)» de Denys Arcand, «há uma cena em que um padre católico analisa peças
de arte religiosa sem muito valor, que abarrotam a sua diocese, para mostrar a
sua irrelevância. O velho padre diz:
«O Quebec costumava ser
tão católico quanto a Espanha ou a Irlanda, todos eram religiosos. Num
determinado momento nos idos do ano de 1966, a bem da verdade, as igrejas de
repente, em questão de meses, ficaram vazias, Um fenómeno estranho que ninguém
jamais foi capaz de explicar».
«O homem sem história,
sem cultura, sem país, sem família e sem civilização não é livre: está nu
e condenado ao desespero», torna saliente o filósofo de Quebec Mathieu Bock-Côté.
O estado em que se
encontra hoje o catolicismo no Quebec é realmente desesperador. Em 1966
havia 8 800 padres, hoje há 2 600, cuja maioria é idosa, muitos
já residem em lares para idosos. Em 1945 a missa semanal contava com a
participação de 90% da população católica, hoje são 4%. Centenas de comunidades
católicas simplesmente desapareceram.
O Conselho do Quebec do
Património Religioso referiu que em 2014 um número recorde de 72
igrejas foram fechadas. A situação é ainda pior na Arquidiocese de Montreal.
Das 257 paróquias em 1966, havia 250 em 2000 e em 2013 apenas 169 paróquias. O
cristianismo parecia estar em risco de extinção. O Arcebispo de Montreal
Christian Lépine impôs uma moratória sobre a venda de igrejas.
À medida que as autoridades
do Quebec impunham um secularismo agressivo como ferramenta para promover o
multiculturalismo, o Quebec testemunhava um aumento dramático no número de
jovens muçulmanos que se juntaram ao Estado Islâmico. − Foram cometidos
ataques terroristas por convertidos ao Islão – pessoas que rejeitaram o
relativismo canadense para abraçar o fanatismo islamista. «O fundamentalismo
secularista do Quebec chegou ao extremo de impor a todas as escolas públicas e
privadas – a primeira instância dessa natureza em todo o mundo – um curso
obrigatório sobre ética e cultura religiosa» salientou Sandro
Magister.
Um relatório académico concluiu:
«Dados do censo
canadense mostram que o Islão é a religião que mais cresce no país e que embora
a maior parte do crescimento da população muçulmana esteja relacionada com as
taxas de natalidade dos muçulmanos e migração, desde 2001 a população muçulmana
também aumentou em consequência das conversões religiosas dos canadenses não
muçulmanos».
O declínio demográfico do Quebec também
é revelador. A taxa de natalidade despencou de uma média de quatro filhos por
casal para apenas 1,6 – bem abaixo do que os demógrafos chamam de «taxa de
substituição populacional». O Quebec é um caso singular em comparação aos
países desenvolvidos no tocante à intensidade e velocidade com que as taxas de
fertilidade total despencaram.
A escalada de óbitos no
Quebec está inequivocamente ligada aos apelos para o aumento da imigração. O
primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau, que pôs um fim à campanha militar
contra o Estado islâmico, simplesmente convidou os migrantes muçulmanos a
virem para o seu país.
Segundo os demógrafos, somente a província do Quebec precisa de 70
000 a 80 000 imigrantes por ano para compensar a sua baixa taxa de natalidade.
Mas o que acontece quando um dos mais famosos territórios católicos do mundo
passa por uma revolução desta natureza cultural e religiosa, para compensar a
queda demográfica?
A resistência ao
dramático colapso do Quebec não requer necessariamente um novo abraço ao velho
catolicismo, mas com certeza necessita de uma redescoberta racional sobre o que
a democracia ocidental deveria ser. O que também inclui a apreciação da
identidade ocidental e dos valores judaico-cristãos – tudo o que o governo de Trudeau e grande parte da Europa, ao que tudo
indica, se recusam a aceitar. Metade dos ministros de Trudeau não foram
empossados com um juramento religioso. Recusaram-se até a dizer «com a ajuda de Deus».
O lema de Quebec é: «je
me souviens»: Eu me lembro. Mas do que, exactamente? No «bairro livre do
catolicismo» o vencedor será o Islão?
e escritor italiano.
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