sexta-feira, 20 de março de 2015


Alguns tópicos para meditação

sobre a misericórdia


Nuno Serras Pereira

1. Deus é rico em misericórdia; é infinitamente misericordioso.

2. Jesus deixou-nos o Mandamento de sermos misericordiosos como o Pai do Céu o é.

3. Só nos é possível conhecer a misericórdia do Pai, conhecendo a Jesus Cristo, pois Ele é a Imagem Perfeita do Pai. Ele e o Pai são um só. Por isso, Jesus Cristo é a Misericórdia feita carne, feita homem.

4. Só é possível ser misericordioso como Deus o é, acolhendo Jesus Cristo, deixando-nos transformar, transfigurar pelo Espírito da misericórdia, o Espírito Santo, que o Pai e Ele nos enviam.

5. A misericórdia de Deus é a fonte de todas as Suas obras ad extra. A raiz da Caridade de Deus para comnosco é a Sua misericórdia.

6. Sendo Cristo a misericórdia de Deus no meio de nós, ou melhor o Deus Misericordioso no meio de nós, Ele é o exemplo e o modelo a seguir, e também o critério para discernir o que é verdadeira ou falsa misericórdia. Pois a Misericórdia e a Verdade, são a mesma Pessoa Divina.

7. A imitação de Cristo é fruto da Sua Graça e da nossa cooperação com ela. É Ele, como diz S. Paulo, que opera em nós o querer e o agir.

8. O único Misericordioso, só Ele o é perfeita e totalmente, é Deus, Deus para nós, Deus Redentor e Salvador, isto é, Jesus Cristo, cujo Coração, à imagem das entranhas do Pai, se compadeceu das nossas misérias (misericórdia = miséria+coração «corde») e, por isso, lhes veio dar remédio. Misericordioso é aquele que comovido (sensível ou espiritualmente) das misérias alheias (sendo que a principal é a do pecado) vem ao nosso encontro para delas nos livrar.

9. Bruto, mentiroso e cruel é todo aquele que «racionaliza» as nossa misérias confirmando-nos nelas, intensificando-as e multiplicando-as ao «justificá-las».

10. O Misericordioso, a Misericórdia de Deus em Pessoa, a Verdade, declarou peremptoriamente: «Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem casa com uma mulher repudiada, comete adultério» (Lc 16, 18); «aquele que repudiar sua mulher – excepto em caso de união ilegítima (porneia) – expõe-na a adultério, e quem casar com a repudiada comete adultério» (Mt 5, 32); « ... já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem» (Mt 19, 6) – S. Paulo reafirma o mesmo ensinamento: « ... mando aos casados – não eu, mas o Senhor – que a mulher não se separe do marido. Se, porém se separar, que não torne a casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não repudie a mulher» (1 Cor. 7,);

11). A Misericórdia que não Se engana nem nos engana, sabe muito bem o que é bom para nós. Quem diz que é um insulto afirmar, que vive em estado de adultério todo aquele que validamente casado pela Igreja, se divorcia pelo civil e, civilmente, se «recasa», faz de Deus um mentiroso.

Perante a reacção dos Apóstolos que exclamam: se isso é assim então « ... não é conveniente casar-se»!; Jesus, imediatamente, portanto nesse contexto, ensina que «Há eunucos (castrados) que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela intervenção dos homens, e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos por amor do Reino dos Céus.» (Mt 19, 12).

A interpretação mais conhecida desta passagem vê nela um convite ou um conselho de Jesus a segui-Lo mais de perto, renunciando ao casamento, numa vida a Ele inteiramente consagrada. No entanto, uma outra explicação, que não contradiz a anterior, antes a completa, diz que Jesus se está a referir, em primeiro lugar, a todo aquele ou aquela que repudiado/a ou abandonado/a pelo cônjuge se mantém fiel (não se «recasando», vivendo em continência) por amor ao Reino dos Céus (de Deus), isto é, por amor a Jesus Cristo (como o Papa Bento XVI ensinou Jesus é o Reino dos Céus), e consequentemente à Sua misericórdia e ao Seu amor para com todos. Permanecer fiel ao esposo/a traidor significa oferecer, com amor misericordioso, as suas orações e sacrifícios pela conversão e salvação do injusto prevaricador.

12. Jesus Cristo, precisamente por ser infinitamente misericordioso, exige, para nos salvar das abjecções miseráveis que nos trazem escravizados, que Lhe demos preferência e prioridade absoluta sobre tudo e sobre todos: «Se alguém vem a Mim e não me tem mais amor que ao pai, à mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à sua própria vida, não pode ser Meu discípulo. E quem não carrega a sua cruz e Me segue, não pode ser meu discipulo.» (Lc 14, 26-27).

Esta renúncia aos que nos são mais queridos e preciosos, é absolutamente necessária, para nosso bem (Salvação) e o daqueles de quem nos desprendemos, quando o apego nos estorva a disposição e a disponibilidade para nos entregar-mos sem reservas ao Misericordioso e aos Seus Mandamentos: «Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda (pratica), esse é que Me ama ... Quem Me não ama não guarda as Minhas palavras;»(Jo 14, 21. 24). «Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor ... Vós sereis Meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando.»
(Jo 15, 10. 14).

13. A proibição do adultério («não cometerás adultério» Lc 19, 18) é um absoluto moral que, por isso, vincula sempre, em qualquer circunstância e sem excepção alguma. É parte integrante da lei moral natural, inscrita por Deus no coração de todas as pessoas humanas; confirmada pela Revelação Sobrenatural, os 10 mandamentos; e solenemente reafirmada pelo Infinitamente Misericordioso, Jesus Cristo, nosso Bem e nossa Saúde (Salvação):

«Os preceitos negativos da lei natural são universalmente válidos: obrigam a todos e cada um, sempre e em qualquer circunstância. Trata-se, com efeito, de proibições que vetam uma determinada acção semper et pro semper, sem excepções, porque a escolha de um tal comportamento nunca é compatível com a bondade da vontade da pessoa que age, com a sua vocação para a vida com Deus e para a comunhão com o próximo. É proibido a cada um e sempre infringir preceitos que vinculam, todos e a qualquer preço, a não ofender em ninguém e, antes de mais, em si próprio, a dignidade pessoal e comum a todos.» (S. João Paulo II, O Esplendor da Verdade, 52).

«O mandamento de Deus nunca está separado do seu amor: é sempre um dom para o crescimento e a alegria do homem. Como tal, constitui um aspecto essencial e um elemento inalienável do Evangelho, mais, o próprio mandamento se configura como ‘evangelho’, ou seja, uma boa e feliz notícia.» (S. João Paulo II, O Evangelho da vida, 52).

14. Não há nenhuma situação moral (ou imoral) irreversível até à morte. Também não há nenhuma tentação nem nenhum pecado que não possa ser vencido, suposta a Graça de Deus: «Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças. Pelo contrário, junto com a tentação, também vos dará meios para suportá-la, para que assim possais resistir-lhe.» (S. Paulo, 1 Cor 10, 13). O Misericordioso Omnipotente «... pelo poder que exerce em nós, é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo quanto possamos pedir ou imaginar ... ». (S. Paulo, Efésios, 3, 20).

À Honra e Glória de Cristo. Ámen.





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