sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Da desonestidade intelectual à pulhice intelectual
— ou à palermice doutoral


Heduíno Gomes

Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa resolveu, à luz de Tocqueville, promover uma «celebração» da «liberdade e democracia» (20 de Fevereiro de 2014).

Tratando-se de uma universidade dita católica, imaginaríamos que daí saísse a doutrina cristã e o ponto de vista cristão sobre a sociedade, além de, naturalmente, seriedade histórica. Mas não. No caso, a doutrina é o mais descabelado liberalismo, um dos deuses é Tocqueville (vários deuses porque o liberalismo é politeísta) e o papa é o João Carlos Espada. Já para não falar dos «cardeais» e «bispos» (corpo docente e palestrantes convidados pelo Instituto), onde a maçonaria marca a sua forte presença. Para universidade católica não está nada mal, não senhor. E depois, além da doutrina, temos a seriedade das análises, a objectividade dos relatos.



E quando o Espada diz «celebrando a liberdade e a democracia», que factos vai ele celebrar? São dois em um os que ele apresenta como dignos de serem celebrados em honra da democracia: «40 Anos – 25 de Abril de 1974» e «25 Anos – Queda do Muro de Berlim 1989».

Ficamos assim a saber deste senhor professor doutor sábio de ciência política e seus pares que, em matéria de liberdade – já nem falamos no resto! – as coisas se equivalem: a II República Portuguesa e o bloco soviético. Não está explicitamente dito no cartaz da «celebração» mas está implícito, claramente sugerido. Muito objectivo, muito científico, muito honesto, não haja dúvida.

Normalmente, um udp-zito persistente dos anos 70 não diria esta enormidade, pelo simples facto desta estirpe não ver na União Soviética qualquer sintoma de falta de liberdade. Aliás, por cá, se o PCP dizia «mata-se o reaccionário!», os udp-zitos diziam «esfola-se já!».

Entretanto, o Espada terá deixado de ser udp-zito e terá aprendido umas coisas sobre a liberdade e a democracia. Mas parece, na cura, ter levado uma tal dose de cavalo que a sua fraca estatura intelectual não aguentou. Agora, em senhor professor doutor sábio de ciência política, ele é mais livre do que a liberdade e mais democrata do que a democracia.

Vá lá, para ele, agora, a União Soviética já não era democracia quando ele era udp-zito. Só que o malvado Estado Novo é (visto ainda agora) equiparável à União Soviética (vista agora)!

Entre a vulgar desonestidade intelectual e a pulhice intelectual, onde estará a fronteira? E tratar-se-á de uma destas alternativas ou simplesmente de palermice doutoral? Onde se situarão o complexado udp-zito Espada e os outros da sua igreja liberal?




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