D. Walmor Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
03.03.13 |
O
agradecimento reverente projecta luzes sobre um ministério exercido com extrema
lealdade, humildade edificante, cultivado a partir de uma sabedoria temperada,
admirável envergadura intelectual aliada a uma espiritualidade reveladora de
uma profunda intimidade com Deus. Estas qualidades de Bento XVI, para além das
vicissitudes humanas enfrentadas nas instituições, produzindo desafios
relacionais e existenciais, traçaram para a Igreja horizontes que a capacitaram
ainda mais no enfrentamento das questões fundamentais da fé no seu diálogo
imprescindível com a razão.
Um caminho
exigente, na contramão de uma religiosidade entendida e vivida como mágica
milagreira ou como lugar da conquista e de exercícios inadequados do poder que
seduz, desfigura e distancia-se da condição de todos como servos da vinha do
Senhor. Há-de-se recordar que Bento XVI, em 2005, dirigindo-se pela primeira
vez à multidão presente na Praça de São Pedro, delineia a consciência clara do
seu entendimento sobre a sua pessoa e sobre o seu ministério iniciante como
sucessor de Pedro. Ele apresenta-se – como não podia deixar de ser a
apresentação dos discípulos de Jesus, sejam quais forem as circunstâncias,
cargos, ofícios e responsabilidades – como simples servo da vinha do Senhor,
chamado naquele momento ao exigente serviço como Papa.
Esse simples
servo, com envergadura moral, intelectual e espiritual de gigante na fé,
dialogou com o seu Deus, com confiança amorosa, para decidir, por iluminação
própria da fé e da inteligência, que era um bem maior concluir a sua tarefa no
ministério petrino. A sua renúncia causou, naturalmente, comoção e reacções de
grande surpresa. Ninguém destes tempos vivera uma situação semelhante. O
inusitado da renúncia de um Papa, na realidade dos tempos actuais, considerando-se
os enormes desafios vividos pela Igreja Católica, no enfrentamento de questões
espinhosas, como a chaga da pedofilia, ou no diálogo com o mundo, quando se
pensa a secularização e o relativismo ético, projectou um oceano de conjecturas
e suposições.
Houve quem
tivesse avançado a hipótese de uma «descida da cruz». Bento XVI, sabiamente e
de modo sereno, ajusta a possível incompreensão, ponderando que não desceu da
cruz, mas está aos pés do crucificado. Sublinha a sua condição de discípulo e
servo, jamais de Senhor e Salvador. A lição é desconcertante e interpelante.
Não simplesmente porque é inusitado um Papa renunciar, mas, sobretudo, porque
remete ao mais genuíno sentido de humildade e desapego para ajudar a humanidade
e, particularmente, a Igreja no exercício mais essencial do seu peregrinar,
aquele de fixar mais, acima de tudo, o seu olhar em Jesus, o Salvador.
Este é o ensinamento que Bento XVI nos oferece como testemunho de fé, de sábia localização da condição humana nas mãos e no coração de Deus. Uma lição simples e profunda. Deus fez de Bento XVI um instrumento para indicar ao mundo contemporâneo e à sua Igreja que o terror da falta de sentido, os absurdos das lutas pelo poder, a desqualificação humana produzida pela maledicência e pelas arbitrariedades só têm cura quando se elege este lugar de simples servo da vinha para viver e para ser. Esta lição, aprendida e vivida, dará rumo novo à sociedade e à Igreja. Estamos agradecidos, Bento XVI.
Este é o ensinamento que Bento XVI nos oferece como testemunho de fé, de sábia localização da condição humana nas mãos e no coração de Deus. Uma lição simples e profunda. Deus fez de Bento XVI um instrumento para indicar ao mundo contemporâneo e à sua Igreja que o terror da falta de sentido, os absurdos das lutas pelo poder, a desqualificação humana produzida pela maledicência e pelas arbitrariedades só têm cura quando se elege este lugar de simples servo da vinha para viver e para ser. Esta lição, aprendida e vivida, dará rumo novo à sociedade e à Igreja. Estamos agradecidos, Bento XVI.
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