Nuno Serras Pereira
Nesta
nação em que nos foi dado nascer e viver a maioria da sociedade, que se
confessa católica, está inteiramente desnorteada pela propaganda quotidiana do
que lhe é incutido pela maior parte dos políticos, de grande parte da
comunicação social e a espaços por não poucos prelados. De facto, todo o mundo
está persuadido de que o maior problema do nosso país, e quiçá do mundo, é a
crise económico-financeira. Sem negar, de modo algum, a seriedade desta e a
urgência de a ultrapassar deve-se, no entanto, afirmar que há assuntos bem mais
graves, que passam ao lado daqueles que controlam o que devemos saber, os
assuntos em que devemos pensar, as conversas que devemos ter.
Há
aí alguém que tenha consciência de que no mundo de hoje, de cinco em cinco
minutos, se assassina um cristão por causa da sua Fé? Quem se
detém em noticiar e aprofundar a matança de cento e cinco mil cristãos
exterminados, por causa da sua Fé, só no ano passado? E, todavia,
sabemos que se tratasse de um punhado de irmãos judeus, ou muçulmanos, ou,
mesmo, de um só «gay» (ou lgbt) o alarido seria interminável, com declarações
solenes de repúdio, ao mais alto nível, com movimentações e manifestações de
rua, «debates» unanimemente escandalizados nas televisões e nas rádios,
comunicados e abaixo-assinados por tudo quanto é redes sociais e inter-rede,
enfim, um clamor estriduloso.
Claro
que empedernidos num egoísmo indiferente podemos ignorar, em contradição
flagrante com a nossa Fé – que opera pela Caridade –, e mesmo a simples
solidariedade humana, os sofrimentos e as injustiças que padecem esses nossos
irmãos, cuidando que estamos a salvo numa pacífica segurança norte-ocidental.
A
verdade porém é que se algum cristão ou qualquer outra pessoa de boa vontade se
julga seguro, ou é ignorante, ou é ingénuo, ou é lorpa. A enorme insensatez ou
cegueira da maioria dos cristãos e dos católicos, incluindo altos prelados, tem
consistido em não quererem ver, ou então em cumpliciarem-se com uma minoria
extremamente activa que de ano para ano, imparável, determinada, persistente,
imbatível, tem vindo a conquistar as mentalidades, a sugar as almas, a inverter
a moral, a corroer o bem comum, a cancerar a subsidiariedade, a derrancar a
solidariedade, a torpedear a eminente dignidade transcendente de cada pessoa
humana, a minar as instituições, a dominar a comunicação social, a controlar a
justiça, a manipular a política, a ludibriar os Pastores.
A
decisão obstinada de muitos prelados em «trabalhar» nos «bastidores» com as
autoridades tem, ao contrário de tantos outros países, deixado o povo de Deus
ignaro da Doutrina, privado de defesas, rendido à mentalidade dominante,
incapaz de resistência, entorpecido numa modorra, entibiado por uma identidade
desmaiada, se não mesmo moribunda, inábil para o combate espiritual, seguidor
de lobos vorazes, abandonado aos predadores.
Contra
os falsos profetas de um optimismo vão, tantas vezes desmascarado nas Sagradas
Escrituras, é imprescindível tomar consciência da realidade, dos factos, para
que cooperando com a Graça de Deus se dê lugar à Esperança verdadeira.
Se
não despertarmos e não «combatermos o bom combate» seremos cruelmente
perseguidos, impiedosamente lançados às enxovias, obscenamente abusados,
implacavelmente entregues ao matadouro.
É
inteiramente verdade que Nosso Senhor Jesus Cristo nos avisou das perseguições
e da Cruz, em especial aos primeiros cristãos, que, sendo uma minoria
minúscula, tinham de conquistar a imensa massa de povos idólatras. Mas o Senhor
não disse que fossemos esparvoados, imbecis, cobardes, indiferentes,
atoleimados, que nos deixássemos enredar pelas subtilezas astuciosas do
Inimigo. Não nos mandou que fossemos passivos diante da injustiça, da mentira,
da manipulação, do desamor. Pelo contrário, imperou-nos que amássemos
radicalmente guerreando o mal e o pecado com a fortaleza que nos comunica pelo
Seu Espírito. Se os cristãos, em particular os católicos, assim o tivessem
feito aquando dos repetidos alertas de Pio IX, de Leão XIII, de Bento XIV, de
Pio X, de Pio XI, de Pio XII, teriam impedido as monstruosas tragédias do
comunismo, do nazismo, do fascismo. Quanta catástrofe, quanta hecatombe, quanto
flagelo, quanta calamidade, quanta assolação, quanta violentíssima crueldade se
teria evitado; quantas vidas poupadas, quantas almas salvadas, quantas famílias
mantidas, quantas cidades inteiras, quantas nações em pacífica harmonia!
A alucinação geral
contemporânea em que estamos mergulhados leva muitos a suporem que nos dias de
hoje não existem, nem de longe nem de perto, perigos, mais ou menos,
semelhantes. Esta enorme ilusão é já, evidentemente, uma consequência da
programada mesmerização colectiva a que temos vindo a ser submetidos. Os
alertas, então, do Bem-aventurado João Paulo II e os, agora, do Papa Bento XVI
foram e são frequentes. Quereremos nós imitar a irresponsabilidade ou a
insensatez das gerações que nos precederam deixando que as minorias malignas
provoquem novas calamidades?
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