segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os velhos

Cláudio Anaia


“Quando te tornares senil, não o saberás"
                                                 Bill Cosby


Há já algum tempo que visito Lares de idosos, para acompanhar a realidade dos nossos idosos. É com amargura que sou defrontado, regularmente, com muitos casos em que o idoso é abandonado na sua casa pela família, largado à sua própria sorte ou, então, num lar onde espera uma morte vigiada.

Foi numa dessas visitas que conheci o Sr. Joaquim. Olhar cansado, sempre rente ao chão, sentado numa poltrona. Sem qualquer aspiração esperava, sentado, pelo melhor remédio contra a velhice abandonada.

Conversávamos longas horas dos mais variados assuntos, transmitia-me a sua experiência de vida. Para mim, velhice significa conhecimento, por isso, considerava o Sr. Joaquim uma “ biblioteca ambulante.”

Pesavam-lhes os anos e a ingratidão. Acabou sozinho, esquecido pela família. Vivia na expectativa do dia em que o telefone tocasse e fosse uma voz amiga do outro lado da linha ou, quando se atrevia a sonhar mais alto, que a porta se abrisse e recebesse um sorriso conhecido.

Sinto-me feliz e orgulhoso por ter feito parte da sua vida por lhe ter dado o abraço merecido e arrependo-me dos dias que não desfrutei da sua companhia.

Miguel Torga um dia disse: “ A velhice é isto ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez” O Sr. Joaquim lamentava-se mas já não chorava. Sentado no sofá esperava ,um dia atrás do outro, que já não tivesse que abrir os olhos para vislumbrar a sua solidão. E assim foi.

Recentemente ao dirigir-me à instituição onde permanecia, para apreciar mais uma vez um pouco da sua companhia, disseram-me que tinha falecido. Quando perguntei se tinha conseguido contactar os seus familiares a resposta veio baixinho, em tom envergonhado: “quando dei a noticia responderam-me : mas ele ainda estava vivo?!! ”.

Senti-me revoltado, O que levará um filho, um irmão, um neto, a esquecer quem um dia já lhe deu, pão ? Tratar um ser humano como um objecto inútil, sem serventia, porque está desgastado pelo tempo é, para mim, crime perverso. Ou então, quem faz isto, talvez queira fugir do seu próprio destino, a velhice, como diz uma canção de Mafalda Veiga .

Defendo que as famílias, as instituições vocacionadas para a problemática da terceira idade e, sobretudo, cada cidadão, deverá dar o seu contributo para evitar a exclusão do idoso. Pois, na verdade, o envelhecimento é inevitável chegando um dia destes a todos nós .









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