Republicanos comemoram a vitória de Donald Trump |
Credo
Chile, 14 de
Novembro de 2016
O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma
reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política
norte-americana nos últimos anos.
As consequências das eleições norte-americanas podem de
tal modo significar uma grande reviravolta na situação do mundo, que seria
completamente sem sentido uma «análise da semana» que não se referisse ao
triunfo de Trump.
Abordamos a questão do ponto de vista estritamente
apolítico e dos interesses da civilização cristã, que são as perspectivas
do Credo Chile.
O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma
reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política
norte-americana nos últimos anos. E o que nela houve de substancial confirma-se
no amplo apoio obtido pelos candidatos republicanos em ambas as Câmaras.
Tudo isso indica uma recusa da opinião pública
norte-americana àquela corrente de pensamento predominante entre os democratas,
conhecida como «politicamente correcta», isto é, ao establishment.
Não obstante essa reacção anti-establishment seja
profundamente saudável, ela não deixa ao mesmo tempo de projectar algumas
sombras inquietantes.
Vejamos sumariamente ambas as perspectivas que se abrem
com a nova presidência de Trump.
O saudável dessa reacção é tão evidente, que salta à
vista. Se havia uma candidata «politicamente correcta», esta era Hillary
Clinton. Ela representava todas as «conquistas sociais», a liberdade completa
em matéria de costumes morais, aborto, uniões homossexuais, identidade de
género etc. De onde a sua profunda hostilidade à religião, em especial à
católica, e a tudo que fosse conservador.
Nem precisa dizer que, a julgar pela fisionomia do casal Clinton, trata-se da foto do momento em que Hillary reconheceu a sua derrota nas recentes eleições |
A derrota eleitoral desse paradigma não pode deixar de
ser vista com enorme alívio, e com simpatia e esperança o triunfo do candidato
opositor.
Com o triunfo dos conservadores na pessoa de Trump surge
sem embargo uma preocupação, cuja importância internacional não havia tido até
aqui todo o seu destaque. É que, juntamente com os aspectos «conservadores»
daqueles que sustentam posições «politicamente correctas» — como a defesa das
identidades nacionais, da família, da religião etc. —, projectam-se algumas
dúvidas, consistentes em saber até onde chegará o «incorrecto», ou, mais
precisamente, quem guiará a «incorrecção» dessas políticas.
Um exemplo nos permitirá aquilatar essa preocupação. O
actual presidente da Rússia.
Como se sabe, a propaganda russa apresenta um Putin [foto] que estaria
liderando há vários anos uma política interior no bom sentido do
«incorrecto». Na última semana, por exemplo, inaugurou uma enorme estátua
de 25 metros de altura, de São Wladimir (o seu próprio nome…), o fundador da
Rússia cristã.
No entanto, simultaneamente, quase como outro braço do
mesmo corpo, está promovendo a expansão das suas fronteiras à custa dos países
libertados do jugo da ex-URSS, e ameaça aumentar ainda mais a dita expansão.
Faz parte da sua posição não excluir nem condenar os
períodos de Lénin e de Stalin, e menos ainda a influência ideológica e
territorial da ex-URSS sobre o mundo inteiro. Esses tentáculos russos
ex-soviéticos celebraram nas últimas semanas acordos com a Venezuela de Maduro
e a ditadura de Ortega na Nicarágua, não obstante, ou precisamente por isso,
ambos não esconderem a sua filiação marxista.
Ou seja, as simpatias despertadas por Putin pela
propaganda que o apresenta como favorável à família e contra o aborto (apesar
de nada ter feito de substancial nesse sentido) diluem-se quando vistas sob o
prisma do seu ânimo expansionista e favorável à época soviética.
No caso do Presidente eleito Trump, inquietam as suas
declarações destemperadas como candidato; as suas promessas isolacionistas; a
sua intenção de deixar a OTAN e a Coreia do Sul cuidarem das suas próprias
defesas; os apoios internacionais suscitados numa vasta rede de partidos
«populistas» em crescimento na Europa; a falta de referências morais e religiosas
desses populismos; os vínculos com a Rússia de Putin; as diferentes
posições assumidas ao longo da sua carreira etc. Todo esse conjunto de
factores não pode deixar de projectar uma pesada sombra no porvir.
Resumamos o dilema
Quando o «politicamente incorrecto» constitui a oposição
e a parte débil do panorama, as suas posições em geral são boas, pois
definem-se como contrárias a todo o mal do «politicamente correcto». Mas como
se comportará essa política «incorrecta» quando passa a ser governo e
representa a parte forte? Se ela se deixar levar somente pelos caprichos do
«populismo», o futuro não será tão promissor, pois dos temores populistas
puderam sair o nazismo, o socialismo, o peronismo, e muitos outros «ismos» de
nefastas consequências para a civilização cristã.
Ainda é cedo para dizer se essas sombras darão origem a
chuvas benéficas ou a tempestades devastadoras. Mas seria ingénuo abster-se de
levantar o problema e somente festejar, fechando os olhos para os aspectos
sombrios do panorama.
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