segunda-feira, 1 de agosto de 2016


Os primeiros mártires do Islão na Europa


Roberto de Mattei

O altar da política é diferente da mesa sagrada sobre a qual se celebra o sacrifício incruento de Cristo, e a esse sacrifício o padre Jacques Hamel teve a graça de unir-se em 26 de Julho, oferecendo o próprio sangue

O primeiro mártir do Islão em terra da Europa tem um nome. É o padre Jacques Hamel [foto], assassinado enquanto celebrava a Santa Missa no dia 26 de Julho, na Igreja paroquial de Saint-Etienne-du-Rouvray, na Normandia. Dois muçulmanos exaltando o Islão invadiram a igreja, e depois de tomar alguns fiéis como reféns, degolaram o celebrante e feriram gravemente outro fiel. Sobre a identidade dos agressores e o ódio anticristão que os moveu não pairam dúvidas. Na sua agência de notícias Amaq, o Estado Islâmico definiu os dois assaltantes de «nossos soldados».


O nome de Jacques Hamel soma-se ao de milhares de cristãos que todos os dias são queimados, crucificados, decapitados em ódio à sua fé. Mas o massacre de 26 de Julho marca uma guinada, porque é a primeira vez que isto acontece na Europa, lançando uma sombra de medo e consternação nos cristãos do nosso continente.

Obviamente não é possível proteger 50 000 edifícios religiosos em França, e um análogo número de igrejas, paróquias e santuários em Itália e noutros países. Cada sacerdote é objecto de eventuais ataques, destinados a  multiplicarem-se, sobretudo após o efeito emulativo engendrado por esses crimes.

«Quantas mortes são necessárias, quantas cabeças decepadas, para que os governos europeus compreendam a situação em que se encontra o Ocidente?» – perguntou o cardeal Robert Sarah. O que precisa acontecer, podemos acrescentar, para que os confrades do cardeal Sarah no Colégio Cardinalício, a começar pelo seu líder supremo, que é o Papa, compreendam a terrível situação em que se encontra hoje não só o Ocidente, mas a Igreja universal?

O que torna esta situação terrível é a política de boas-intenções e de falsa misericórdia em relação ao Islão e a todos os inimigos da Igreja. Os católicos devem naturalmente rezar pelos seus inimigos, mas devem também estar cônscios de que não basta limitarem-se a rezar, pois têm também o dever de combatê-los. É o que ensina o Catecismo da Igreja Católica no n.° 2265, quando diz que a legítima defesa pode ser um dever grave para o responsável pela vida de outrem: «Defender o bem comum implica colocar o agressor injusto na impossibilidade de fazer mal».

O Papa Francisco disse-se «especialmente chocado por este acto de violência acontecido numa igreja, durante uma missa, acção litúrgica que implora de Deus a sua paz para o mundo», renunciando mais uma vez a chamar os assassinos pelo nome. O silêncio do Papa Bergoglio é paralelo ao dos muçulmanos de todo o mundo que não denunciam com voz alta, em uníssono e colectivamente, os crimes cometidos em nome de Alá pelos seus correligionários. No entanto, até mesmo o presidente francês François Hollande, no seu discurso à nação na noite de terça-feira, falou de uma guerra aberta da França contra o Estado Islâmico.

Durante o seu pontificado, o Papa beatificou com procedimentos super-rápidos algumas personalidades do século XX, como Oscar Arnulfo Romero e Don Pino Puglisi, que certamente não foram mortos com ódio à Fé católica. Mas, em 12 de Maio de 2013, também canonizou na Praça de São Pedro os oitocentos mártires de Otranto, massacrados em 11 de Agosto de 1480 pelos turcos, por se recusarem a renegar a sua Fé. Se o Papa Francisco anunciasse o início de um processo de beatificação do padre Hamel, daria ao mundo um sinal pacífico, mas forte e eloquente, da vontade da Igreja de defender a sua própria identidade. Se, no entanto, continuar a iludir-se com a possibilidade de um acordo ecuménico com o Islão, repetir-se-ão os erros daquela desastrosa política que sacrificou as vítimas da perseguição comunista nos altares da Ostpolitik.

Mas o altar da política é diferente da mesa sagrada sobre a qual se celebra o sacrifício incruento de Cristo, e a esse sacrifício o padre Jacques Hamel teve a graça de unir-se em 26 de Julho, oferecendo o próprio sangue.

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(*) Fonte: «Il Tempo», Roma, 27-7-16. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.






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