Inês Teotónio Pereira, Diário
de Notícias, 30 de Julho de 2016
Alguns dos meus filhos estão a ficar gente: têm
opiniões. Estão a entrar naquela idade em que já não perguntam, debitam o que
lhes vai na alma. Não sabem muita coisa sobre quase nada por falta de tempo,
mas falam de tudo. Têm opinião sobre terrorismo, religião, esquerda e direita,
sobre profissões, música, o que está bem e mal em casa, no país ou no Médio
Oriente. E têm a certeza absoluta. São opinativos fundamentalistas. Funcionam
com base no «porque sim» ou porque viram no YouTube. E não há
teoria, realidade ou factos que os afastem da sua verdade.
Pais e mães mais
experientes já me tinham avisado de que esta fase iria chegar e que, segundo
eles, «era muita giro». Pois não é. Passar por isto é o mesmo que ouvir os
profissionais do comentário na televisão e não poder mudar de canal. É
irritante. É o mesmo que jantar com a SIC Notícias em bloco. Com todos ao mesmo
tempo e todos os dias. E o pior é que não os podemos insultar como fazemos com
os profissionais a sério antes de carregarmos no botão que os faz desaparecer.
Não, com os meus filhos tenho mesmo de ficar a ouvir e, diz o bom senso,
deixá-los exprimir a sua opinião. Bolas, nunca pensei que deixar alguém
exprimir a sua opinião fosse tão doloroso. Mas eu deixo, juro. Só que sinto que
estou claramente em desvantagem. Enquanto eu, para fazer valer o meu ponto de
vista, tenho de dar lições de história, citar autores, falar de números e de
filosofia, já eles respondem com o YouTube, repetem o que um amigo
lhes disse ou citam uma coisa que ouviram «já não me lembro onde». Impossível
rebater. São evidências que lhes fazem sentido enquanto as minhas só lhes dão
trabalho. Sou eu contra todas as redes sociais do mundo, os canais de notícias
e as maiores palermices que se dizem por aí. Giro? Pois, experimentem explicar
a um adolescente, que tem como sonho ir tirar fotografias para a Austrália e
como ídolos John Lennon e o Papa Francisco, qual é a ligação entre o terrorismo
e o Islão e depois digam-me se é giro. Não é. É doloroso e difícil respeitar a
opinião e conversar seriamente com alguém que fala do Iraque sem nunca ter
visto e ouvido Artur Albarran em directo de Bagdad. É por isso que gosto muito
mais de jantar com os meus outros filhos que só me fazem perguntas. São de longe os mais
sensatos.
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