terça-feira, 7 de abril de 2015
Da inconveniêcia das palmas
na Santa Missa
Dom Roberto Francisco Ferrería Paz
Bispo Auxiliar de Niterói
Em primeiro lugar porque não existe o gesto litúrgico de bater palmas.
Porque não se adequa à teologia da Missa, que, conforme a Carta Apostólica Domenica Caena de João Paulo II do 24/02/1980, exige respeito a sacralidade e sacrificialidade do mistério eucarístico: «0 mistério eucarístico disjunto da própria natureza sacrifical e sacramental deixa simplesmente de ser tal». Superando as visões secularistas que reduzem a eucaristia a uma ceia fraterna ou uma festa profana... Nossa Senhora e São João ao pé da cruz, no Calvário, certamente não estavam batendo palmas.
Porque bater palmas é um gesto que dispersa e distrai das finalidades da missa, gerando um clima emocional que faz passar a assembleia de povo sacerdotal orante a massa de adeptos, inviabilizando o recolhimento interior.
Porque o gesto de bater palmas esquece duas importantes observações do então Cardeal Joseph Ratzinger sobre os desvios da Liturgia : «A liturgia não é um show, um espectáculo que necessite de directores geniais e de actores de talento. A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a actualidade e o seu efémero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram e disseram que a Liturgia deve ser feita por toda a comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espectacular, de entretenimento. Desse modo, porém, terminou por dispersar o propium litúrgico que não deriva daquilo que nós fazemos, mas, do facto que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum, fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se: o que nela se manifesta é o absolutamente Outro que, através da comunidade chega até nós. Isto é, surgiu a impressão de que só haveria uma participação activa onde houvesse uma actividade externa verificável: discursos, palavras, cantos, homilias, leituras, apertos de mão .... Mas ficou no esquecimento que o Concílio inclui na actuosa participatio também o silêncio, que permite uma participação realmente profunda, pessoal, possibilitando a escuta interior da Palavra do Senhor. Ora desse silêncio, em certos ritos, não sobrou nenhum vestígio».
Finalmente porque, sendo a Liturgia um Bem de todos, temos o direito de encontrar Deus nela, o direito a uma celebração harmoniosa, equilibrada e sóbria, que nos revele a beleza eterna do Deus Santo, superando tentativas de reduzi-Ia a banalidade e a mediocridade de eventos de auditório.
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