Agostino Nobile
Este sistema era baseado na competição não regulada entre as empresas e as nações, no pressuposto de que tudo seria ajustado pelo mercado. Na verdade, não foi assim que aconteceu, porque o sistema Atlântico, exportado para todo o Ocidente, ao fim e ao cabo criou a crise actual. Incompetência? Parece que sim. O sistema Atlântico é baseado na desregulamentação, ou seja, numa economia que se opõe às regras e onde o Estado (os governos) só pode assistir como um mero espectador. Esta fórmula falhou por duas razões: a falta de ética económica criou monstros financeiros; o mercado, ao contrário de como o achavam os defensores do sistema Atlântico, não só não tem «ajustado» a financia, mas tornou-se uma selva financeira. O resultado temo-lo à frente dos olhos: aumentos de impostos e empobrecimento dos cidadãos para encher os cofres dos bancos. Mas afinal, porque é que os poderes da finança Atlântica se preocuparam tanto com o sucesso italiano a ponto de o definir como «milagre económico»? (como se fosse um milagre e não uma escolha económica vencedora). Tal explica-o Ettore Bernabei no livro-entrevista A Itália do milagre e do futuro (livro já mencionado no meu artigo anterior). «Nos círculos ocidentais, desde há muito tempo, não se suportava mais que a Itália, um país liderado por um partido de inspiração cristã, se tornasse o quarto entre os sete países mais industrializados do mundo. Esse dado estatístico fez parecer quanto eram infundadas as acusações, de matriz protestante-maçónica, desde há várias décadas dirigidas aos católicos de serem incapazes de assegurar o bem-estar e liberdade dos seus povos. O «milagre italiano» tinha porém desmentido todos esses preconceitos».
Porque era o sistema económico italiano tão odiado pelos poderes do sistema Atlântico? Por ser o mais democrático, o mais lógico e, em última análise, o mais cristão, pois baseava-se na distribuição equitativa de rendas e riquezas pelas várias classes sociais. O modelo económico italiano inspirava-se na Doutrina Social da Igreja, que tem as suas raízes na encíclica Rerum Novarum (15 de Maio de 1891 – portanto, 26 anos antes da Revolução Bolchevique) do Papa Leão XIII. «O sucessor de Pedro – escreve-se na introdução do livro – deseja direccionar o pensamento dos católicos na economia (...) para defendê-los das ideologias ateístas que circulam na Europa». Assim o sucesso da política económica italiana teve que ser eliminado de todas as maneiras, caso contrário teria sido capaz de expandir-se noutros países, retirando o poder económico preponderante ao sistema Atlântico. Como muitas vezes acontece na história, o primeiro passo era destruir internamente o equilíbrio social. A quinta coluna, ou os idiotas úteis, dependendo do ponto de vista de cada um, foram os meios de comunicação e os intelectuais de esquerda, que nos anos 60/70 deram início a uma campanha difamatória contra o governo democrata-cristão. Desde os anos 70, as Brigadas Vermelhas ensanguentaram a Itália durante 25 anos. O seu trabalho criminoso, que teve como objectivo o abate dos democratas-cristãos, terminou com o sequestro e assassinato do presidente da Democrazia Cristiana Aldo Moro. Os meios de comunicação descreveram as Brigadas Vermelhas, de matriz marxista-leninista, mais ou menos como heróis que lutavam a favor do proletariado. Na verdade, os juízes que processaram os líderes das Brigadas Vermelhas não tinham quaisquer dúvidas. As Brigada Vermelhas, como sublinha Bernabei, eram «conduzidas pela agência Hyperion, que tinha a sua sede em Paris, sob a fachada de uma escola de línguas, agindo em conexão com a organização terrorista alemã da R.A.F.A agência Hyperion (...) sendo-lhes fornecidas armas, provenientes principalmente do Líbano. O objectivo principal do terrorismo em Itália – continua Bernabei – foi sempre o de criar dificuldades à Igreja Católica».
Em 2007, o norte-americano Steve Pieczenic no livro-entrevista Matámos Aldo Moro. A Verdadeira História do sequestro de Moro, Ed.Cooper, afirmou: «Eu esperei 30 anos para revelar esta história. Espero que isso venha a ser útil. Sinto muito pela morte de Aldo Moro, peço perdão à sua família e lamento muito por ele. Acho que eu e Moro iríamos ficar de acordo, mas tivemos que instrumentalizar as Brigadas Vermelhas para matá-lo».
Até hoje as palavras do senhor Pieczenic não foram desmentidas. Moro foi assassinado por interesses políticos, porque os americanos e os soviéticos eram contrários à abertura que Moro deu ao partido comunista italiano, para formar um governo de coligação, definido como «compromisso histórico». Aos motivos económicos somavam-se assim os geopolíticos. Bernabei, que conhece os documentos dos processos, sublinha: «Foi calculado que um brigadista vermelho ganhava vários milhões de liras de salário por mês (uns milhões de liras corresponde a 1000 euros actuais), além de alojamento e alimentação, com muitos extras para a ‘dolce vita’».
No início dos anos 90 na RAI (Rádio Televisão Italiana) foram demitidas 1 200 pessoas da liderança médio alta. «Destes – lembra Bernabei, que de 1960 a 1974 foi director geral da RAI – cerca de 1 000 eram católicos (...). Era então considerado um ‘pecado’ ser católico. Foi um verdadeira operação de ‘limpeza étnica’». Dois anos depois, com a operação «Mãos Limpas», alguns juízes de esquerda, através de processos sumários que levaram ao suicídio de alguns empresários, eliminaram definitivamente o Partido Democrata Cristão. A partir dos anos 90 até hoje, muitas indústrias e empresas italianas caíram nas mãos de holdings estrangeiras, que se apropriaram também da maioria do artesanato, enfraquecendo as raízes económicas italianas.
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