sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Teologia da Evolução: Teilhard de Chardin
e o darwinismo teológico

Um dos acontecimentos religiosos que mais despertaram o interesse dos teólogos no final da década de cinqüenta foi a popularidade póstuma do cientista e místico jesuíta Pedro Teilhard de Chardin (1881-1955), fundador de um sistema teológico que ficou conhecido como teologia da evolução.
 
Durante a sua vida, este teólogo foi impedido de publicar os seus livros, considerados pela igreja católica como sendo nocivos e de conteúdo herético. Porém, quinze anos depois da sua morte, esses livros suprimidos durante toda a sua vida começaram a aparecer.
 
Embora tenha sido um teólogo católico, alguns dos seus comentaristas mais apaixonados são cientistas e teólogos protestantes. A sua influência pode ser percebida até nos países que compõem o nosso terceiro mundo. Francisco Bravo, estudioso equatoriano, publicou uma obra meticulosa sobre Teilhard. As suas ideias conseguiram arrancar elogios de Dom Hélder Câmara, arcebispo do Recife.
 
Muitos factores ajudam a explicar a repentina popularidade que alcançou a teologia de Teilhard. A sua destacada personalidade e o seu carácter humanitário podem ser percebidos por qualquer pessoa que o tenha conhecido ou lido algo acerca da vida deste destacado sacerdote católico, que apesar das restrições que o Vaticano impôs aos seus livros, permaneceu fiel à sua ordem durante toda a vida. Os seus conhecimentos de geólogo e paleontólogo são grandes atractivos para o mundo científico.

12.1 – Conhecendo a proposta teológica de Teilhard de Chardin.

O ponto de partida do pensamento teológico de Telhard é a evolução, à qual ele chama «luz que ilumina todos os factos, curva a que devem seguir todas as linhas». A terra, segundo ele, foi formada há cinco ou dez milhões de anos e desde então vem desenvolvendo-se através da evolução. Este processo evolutivo avança segundo o que Teilhard chama de «lei da consciência e da complexidade», com o qual ele alude que na evolução existe uma tendência por parte da matéria, que a faz tornar-se cada vez mais complexa. O processo, segundo ele, pode ser resumido como consta no seguinte esquema: Partículas elementares (chamadas de Ponto Alfa) => Átomos => Moléculas => Células Vivas => Organismos Pluricelulares. Ele admite que a terra existe por meio de um processo lento, que pode ser descrito na seguinte ordem: Barisfera (época da «terra derretida») => Formação da crosta => Formação da água e do ar => Formação da atmosfera. Nesta fase da história evolutiva da terra aparece a vida biológica ou biosfera. Para descrever a etapa seguinte, em 1920, Chardin criou o termo noosfera, que significa a «camada mental» da terra. Essa noosfera nada mais é do que o surgimento do homem pensante sobre a terra.Esta é a etapa mais importante na história do mundo, e também é chamada de hominização. Nesta fase, o processo evolutivo adquire consciência de si mesmo.
 
Nesta etapa da sua teoria evolutiva, Teilhard começa a apoiar-se na teologia para predizer o futuro da evolução. Ele vê todo o processo evolutivo que começa com as partículas, o ponto Alfa; e converge no que ele chama de Ponto Ômega, ou seja, a união sobrenatural de todas as coisas em Deus. Assim sendo, Deus vem a ser a causa final, mais que a causa eficiente do universo, dando a perfeição a todas as coisas. Nesta etapa, Deus será tudo em todos (1Coríntios 15.28), numa forma superior de panteísmo, a expectativa da unidade perfeita, na qual cada um dos elementos alcançará a sua consumação, ao mesmo tempo que o universo.
 
Na teologia darwiniana de Teilhard, Cristo é o centro do processo evolutivo e o seu princípio básico. O Cristo de Teilhard é o reflexo no coração do processo do ponto Ômega, e encontra-se no final do processo. Por meio de um acto pessoal de comunhão, Cristo incorpora em si o «psiquismo» total da terra, e o universo se auto-realiza em Cristo. Esse movimento para o centro, para Teilhard, é o processo do amor. O amor, segundo ele, não é exclusividade humana, e sim propriedade geral de toda a vida, sendo ele a afinidade do «ser» com o «ser». Movidos pelas forças do amor, os fragmentos do mundo buscam-se para que o mundo possa chegar a «ser».

12.2- Principais objecções à teologia evolucionista de Chardin.

Os princípios de Teilhard de Chardin apresentam várias dificuldades para o crente ortodoxo. A sua linguagem é oblíqua e o seu esforço hercúleo para fazer de Cristo o centro da evolução é desonesto e contraditório. A sua teologia é o reflexo do pensamento naturalista do seu tempo. A sua ênfase na personalidade autónoma que, desde Kant aparece e reaparece na teologia contemporânea, é também contrária à Bíblia.
 
Dessa síntese filosófico/naturalista procedem as demais divergências de Teilhard com a teologia ortodoxa. Assim como as teorias evolutivas seculares, a teologia evolucionista deste teólogo descaracteriza a criação, tal como aparece na Bíblia. Há muitos teólogos contemporâneos que concordam com a teoria da antiguidade da terra, e com a evolução das espécies a partir das espécies criadas por Deus (Génesis 1.21-25), fazendo diferenciação entre microevolução e macroevolução. Microevolução é a mutação que ocorre dentro das espécies e seria o factor responsável pelas diferentes raças de cães, diferentes tons de pele, etc., mas nenhuma dessas concessões desabilita o esquema de criação conforme narrado no Génesis. Ao contrário disso, a teoria de Teilhard é macroevolucionista e negligencia completamente o ponto mais básico da criação que é Deus fazendo todas as coisas do nada pela sua palavra, e criando cada ser em conformidade com a sua espécie. Assim como todas as teorias evolucionistas seculares, a teologia de Teilhard Chardin parte do pressuposto de que o homem alcança a sua verdadeira dignidade e plenitude espiritual por meio do processo evolutivo. Isso também é contrário à doutrina da graça, segundo a qual o aperfeiçoamento advém da comunhão com Cristo Jesus.
 
Como todas as teorias evolucionistas, a teologia da evolução de Teilhard é demasiado optimista. Ele divaga pela senda do universalismo e do panteísmo, prometendo um final feliz para todos, sem fazer nenhuma alusão à graça de Deus. Talvez essa seja uma das razões da sua difusão rápida. O homem moderno está disposto a aceitar qualquer tipo de droga entorpecente que se apresente sob o pseudónimo de ciência.
 
A teologia de Chardin não permite que a graça seja graça e nem permite que o pecado seja pecado. A proclamação da evolução constante por parte de Chardin nunca se vê alterada pela realidade bíblica do pecado no homem. Por essa mesma razão, a doutrina bíblica do juízo quase não se vê na obra de Teilhard. O mal, para ele, é uma superabundância da estrutura de um mundo em evolução, que se manifesta em planos diferentes, através da desordem material, morte, solidão e angústia.
 
A ideia de Teilhard de união do universo com Cristo, sendo que o universo representa o corpo orgânico de Cristo ainda em evolução, apresenta dois grandes inconvenientes: Primeiro, tal união tem como conseqüência lógica a deificação da criação (panteísmo). Em segundo lugar, a cristologia de Chardin transforma o Cristo da Bíblia num Cristo cósmico. Em última análise, o resultado de tal união é a perda tanto do mundo, como de Cristo.
 
A teologia da evolução, bem como as teorias evolucionistas seculares, são antagónicas à Bíblia. Não há como sustentar esse sistema teológico sem perder a identidade cristã. Teilhard foi um homem totalmente deslumbrado com as teorias científicas do seu tempo, chegando ao ponto de afirmar que a evolução é «o sucesso mais prodigioso que a história jamais se referiu». Ele  emociona-se tanto com a evolução que esquece-se que, segundo a fé cristã, o maior sucesso da história é a vinda de Cristo, e não a teoria da evolução.
 

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