quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Será legítimo baptizar as crianças?

Bento XVI

No final permanece a questão — apenas uma breve palavra — do Baptismo das crianças. É justo fazê-lo, ou seria mais necessário percorrer primeiro o caminho catecumenal para alcançar um Baptismo autenticamente realizado? E outra pergunta que se apresenta sempre é a seguinte: «Mas podemos impor a uma criança qual religião ela quer viver ou não? Não devemos deixar àquela criança a escolha?». Estas perguntas demonstram que já não vemos na fé cristã a vida nova, a vida verdadeira, mas vemos uma escolha entre outras, e também um peso que não se deveria impor sem obter o assentimento da parte do sujeito. A realidade é diferente. A própria vida é-nos doada sem que nós possamos escolher se queremos viver ou não; a ninguém pode ser perguntado: «Queres nascer ou não?». A própria vida é-nos doada necessariamente sem consentimento prévio, nos é concedida assim e não podemos decidir antes «sim ou não, quero viver ou não». E, na realidade, a pergunta verdadeira é: «É justo doar a vida neste mundo, sem ter recebido o consentimento — queres viver ou não? Pode-se realmente antecipar a vida, doar a vida sem que o sujeito tenha tido a possibilidade de decidir?». Eu diria: só é possível e justo se, com a vida, podemos oferecer também a garantia de que a vida, com todos os problemas do mundo, é boa, que é bom viver, que existe uma garantia de que esta vida é boa, é protegida por Deus e que é um dom autêntico. Só a antecipação do sentido justifica a antecipação da vida. E por isso o Baptismo como garantia do bem de Deus, como antecipação do sentido, do «sim» de Deus que protege esta vida, justifica também a antecipação da vida. Por conseguinte, o Baptismo das crianças não é contrário à liberdade; é precisamente necessário oferecê-lo, para justificar também o dom — diversamente questionável — da vida. Só a vida que está nas mãos de Deus, nas mãos de Cristo, imersa no nome do Deus trinitário, é certamente um bem que se pode oferecer sem escrúpulos. E assim estamos gratos a Deus que nos concedeu esta dádiva, que se doou a Si mesmo a nós. E o nosso desafio consiste em viver este dom, em vivê-lo realmente, num caminho pós-baptismal, tanto as renúncias como o «sim», sempre no grande «sim» de Deus, e deste modo viver bem.
 

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