«A fé pode ser vivida em qualquer parte do
mundo, desde que essa seja uma convicção», começou por afirmar. «Para mim a fé
é, essencialmente, uma forma de estar na vida».
«Devemos transmitir a fé na vivência do dia a
dia, e é isso que eu procuro fazer, com naturalidade, sempre que me é permitido
e dada a oportunidade de a proclamar bem alto, obviamente que o faço porque
acho que esse é um dever do cristão».
«Não sou um ciclista não pedalante», sublinhou
o selecionador da Grécia, acrescentando que na sua profissão «há várias opções
religiosas, pelo que é preciso respeitar as outras, sem deixar de afirmar as
nossas convicções».
Fernando Santos recordou a sua «travessia no
escuro», desde os nove anos, quando recebeu o sacramento do Crisma, até aos 35.
«Nasci numa família cristã, tradicional, nada
assídua às celebrações, mas que por princípio me levou ao baptismo».
«Entre os nove e os 10 anos fui-me afastando
lentamente. Nunca me separei totalmente porque eu, desde que me lembro, sempre
rezei à noite. Até porque quem recebe a graça do baptismo dificilmente se pode
afastar da fé, porque ela está cá dentro –- pode germinar ou não; comigo teve
alguma dificuldade em crescer...».
Os anos passavam e Fernando Santos lembra-se
que quando tinha de ir à igreja fazia-o «sem grande convicção».
Um dia, ao dar boleia a um padre, as
inquietações regressaram: «Começou a assaltar-me a vontade de dizer qualquer
coisa; quando cheguei à porta, perguntei-lhe se não poderíamos marcar um
almoço».
Já à volta da mesa o sacerdote ofereceu-lhe o
livro «A fé explicada», que viria a tornar-se «muito importante» para
o engenheiro. Passou a ir à missa, em Cascais, ao princípio «por amizade». A
mulher também ia, embora «não percebesse nada» do que estava a ser celebrado.
O «primeiro passo» de reaproximação
concluiu-se com a confissão, que o levou ao sacramento da Eucaristia.
Até que um dia participou num cursilho de
cristandade, depois de alguma resistência. «Esse foi o momento determinante da
minha vida. Foi então que saí do buraco escuro. Aí encontrei Cristo
ressuscitado. Essa é que foi a grande descoberta que fiz, o momento da viragem
total».
«Desde então fiz um compromisso com Cristo,
que procuro cumprir todos os dias, pedindo-lhe que aumente a minha fé, que é
muito curta».
Sente-se próximo dos cristãos ortodoxos,
maioritários na Grécia, país onde trabalha desde 2001. «Nunca te esqueças que
somos irmãos na fé», disse-lhe um sacerdote.
Não mistura o futebol com a fé porque o jogo é
mais uma «’fezada’ do que fé». Mas não esquece o testemunho.
Quando havia jogos no Norte, o autocarro fazia
uma paragem a meio do percurso para o café. Um dia pediu ao motorista para que
a pausa fosse em Fátima. «Fui à Capelinha das Aparições e os jogadores ficaram
de fora. Nas viagens seguintes passaram a ir alguns ao santuário, e foram sendo
cada vez mais, até que por fim iam quase todos. Não por eu alguma vez lhes ter
dito para irem. E esta é também uma forma de dar testemunho».
«Não mudei muito com a fé. Sou Santos mas não sou
santo. Continuo a ter o meu feitio, continuo a rir pouco e a ter as minhas
dificuldades. Mas procurei mudar a minha vida e a mim próprio», conversão que
«passa essencialmente pela relação com quem está próximo».
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