quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fernando Santos e a fé cristã


O treinador de futebol Fernando Santos participou esta terça-feira à noite no encontro «Fé: o grande método da razão», onde expôs o seu percurso crente e as suas convicções perante centenas de pessoas reunidas na arena do Campo Pequeno, em Lisboa.
 
«A fé pode ser vivida em qualquer parte do mundo, desde que essa seja uma convicção», começou por afirmar. «Para mim a fé é, essencialmente, uma forma de estar na vida».
 
«Devemos transmitir a fé na vivência do dia a dia, e é isso que eu procuro fazer, com naturalidade, sempre que me é permitido e dada a oportunidade de a proclamar bem alto, obviamente que o faço porque acho que esse é um dever do cristão».
 
«Não sou um ciclista não pedalante», sublinhou o selecionador da Grécia, acrescentando que na sua profissão «há várias opções religiosas, pelo que é preciso respeitar as outras, sem deixar de afirmar as nossas convicções».
 
Fernando Santos recordou a sua «travessia no escuro», desde os nove anos, quando recebeu o sacramento do Crisma, até aos 35.
 
«Nasci numa família cristã, tradicional, nada assídua às celebrações, mas que por princípio me levou ao baptismo».
 
«Entre os nove e os 10 anos fui-me afastando lentamente. Nunca me separei totalmente porque eu, desde que me lembro, sempre rezei à noite. Até porque quem recebe a graça do baptismo dificilmente se pode afastar da fé, porque ela está cá dentro –- pode germinar ou não; comigo teve alguma dificuldade em crescer...».
 
Os anos passavam e Fernando Santos lembra-se que quando tinha de ir à igreja fazia-o «sem grande convicção».
 
Um dia, ao dar boleia a um padre, as inquietações regressaram: «Começou a assaltar-me a vontade de dizer qualquer coisa; quando cheguei à porta, perguntei-lhe se não poderíamos marcar um almoço».
 
Já à volta da mesa o sacerdote ofereceu-lhe o livro «A fé explicada», que viria a tornar-se «muito importante» para o engenheiro. Passou a ir à missa, em Cascais, ao princípio «por amizade». A mulher também ia, embora «não percebesse nada» do que estava a ser celebrado.
 
O «primeiro passo» de reaproximação concluiu-se com a confissão, que o levou ao sacramento da Eucaristia.
 
Até que um dia participou num cursilho de cristandade, depois de alguma resistência. «Esse foi o momento determinante da minha vida. Foi então que saí do buraco escuro. Aí encontrei Cristo ressuscitado. Essa é que foi a grande descoberta que fiz, o momento da viragem total».
 
«Desde então fiz um compromisso com Cristo, que procuro cumprir todos os dias, pedindo-lhe que aumente a minha fé, que é muito curta».
 
Sente-se próximo dos cristãos ortodoxos, maioritários na Grécia, país onde trabalha desde 2001. «Nunca te esqueças que somos irmãos na fé», disse-lhe um sacerdote.
 
Não mistura o futebol com a fé porque o jogo é mais uma «’fezada’ do que fé». Mas não esquece o testemunho.
 
Quando havia jogos no Norte, o autocarro fazia uma paragem a meio do percurso para o café. Um dia pediu ao motorista para que a pausa fosse em Fátima. «Fui à Capelinha das Aparições e os jogadores ficaram de fora. Nas viagens seguintes passaram a ir alguns ao santuário, e foram sendo cada vez mais, até que por fim iam quase todos. Não por eu alguma vez lhes ter dito para irem. E esta é também uma forma de dar testemunho».
 
«Não mudei muito com a fé. Sou Santos mas não sou santo. Continuo a ter o meu feitio, continuo a rir pouco e a ter as minhas dificuldades. Mas procurei mudar a minha vida e a mim próprio», conversão que «passa essencialmente pela relação com quem está próximo».
 

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